Alguns trabalhos evidenciam que a inalação de poluentes do ar pode causar efeitos indesejáveis durante o exercício. A intensidade e volume de exercício, e o grau de condicionamento do atleta consistem em importantes determinantes da quantidade de poluentes inalados durante o esforço físico. A exposição a poluentes causa diversos prejuízos à saúde do atleta, como doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, além do estresse oxidativo, e a normalização das funções orgânicas depende do aumento das defesas antioxidantes. A glutationa exerce papel importante na proteção contra o estresse oxidativo, sendo sua captação aumentada pelos tecidos durante o exercício. Além disso, atua nas reações de conjugação mediadas pelas enzimas glutationa-S-transferases, uma importante via de destoxificação de poluentes do ar. Porém, o exercício físico prolongado resulta na diminuição da disponibilidade de glutationa, comprometendo a capacidade de metabolização de toxinas. A metabolização e conversão de toxinas exógenas e endógenas em formas excretáveis, é dependente da disponibilidade de fatores nutricionais e não nutricionais, indispensáveis para as reações de Fase I e de Fase II. Além disso, o treinamento físico pode levar a adaptações que conferem proteção contra o estresse do exercício e favorecem a destoxificação de xenobióticos. A dieta de destoxificação inclui 3 procedimentos básicos, como a remoção de alimentos que contém toxinas e alérgenos, o suprimento dos requerimentos básico de nutrientes e de fitoquímicos com propriedades moduladoras, e a hidratação abundante. A implementação da dieta deverá ocorrer de forma progressiva, com a retirada gradual dos alimentos potencialmente tóxicos. Apesar das dificuldades na realização da dieta de destoxificação durante os períodos preparatórios, é desejável que a alimentação do atleta tenha um caráter destoxificante em geral, contendo uma variedade de alimentos funcionais, fontes de fitoquímicos moduladores, e que influenciem na economia, síntese e regeneração de glutationa. Deve-se também ter atenção especial aos suplementos esportivos, que podem representar uma real fonte de compostos xenobióticos, por conterem diversos aditivos alimentares. O artigo conclui que os atletas, que principalmente se exercitam ao ar livre, são expostos a uma variedade de poluentes. Portanto, é de grande importância a implementação da Nutrição Esportiva Funcional aos atletas, para proporcionar ótima performance, além de harmonizar a interação dos sistemas corporais responsáveis pelos processos básicos de saúde integral.
Anuário Nutrição Esportiva Funcional Janeiro de 2007Arquivos da Categoria: Nutrição Esportiva
L-arginina alfa cetoglutarato – AAKG
A AAKG (L-Arginina-alfa-cetoglutarato) é um percursor da síntese Óxido Nítrico (NO), sendo este um potente vasodilatador, promotor de uma melhor irrigação sanguínea (transporte de oxigênio e nutrientes) em nível muscular. Promove assim o aumento da massa muscular, melhorando todo o metabolismo muscular e a regeneração do músculo durante e após o exercício.
O Óxido Nítrico tem uma potente ação vasodilatadora no organismo, promovendo uma melhor irrigação sanguínea dos tecidos, nomeadamente do tecido muscular. Uma maior irrigação promove um maior transporte muscular de nutrientes, oxigênio, mensageiros químicos, entre outros, e uma rápida eliminação das substâncias tóxicas acumuladas,como ácido láctico, amônia, etc. Desta forma, todos os processos metabólicos relacionados, nomeadamente, com a atividade física, são melhorados e potenciados.
O AAKG também é usado como um suplemento nutritivo a imunidade de auxílio, para ajudar no metabolismo ácido amino e na disfunção erétil.
Indicação:
– Estimular a vasodilatação e oxigenação muscular;
– Máximo desempenho desportivo e sexual;
– Máxima resistência;
– Máxima definição muscular;
– Máximos ganhos de massa muscular;
– Máxima ereção.
Contra-indicações:
Este medicamento não deve ser tomado por pessoas com glaucoma ou herpes vulgar, a não ser que seja prescrito por um médico. Não deve também ser tomado, por pessoas que tenham sofrido enfarto do miocárdio ou com doença da artéria coronária estabelecida e pessoas com hipotensão arterial.
Interações Medicamentosas:
Potencia os efeitos dos Hipotensores.
Referências
1. Cochard A, Guilhermet R, Bonneau M. Plasma growth hormone (GH), insulin and amino acid responses to arginine with or without aspartic acid in pigs. Effect of the dose. Reprod Nutr Dev 1998 May-Jun;38(3):331-43.
2. Jeevanandam M, Petersen SR. Substrate fuel kinetics in enterally fed trauma patients supplemented with Arginine alpha ketoglutarate. Clin Nutr 1999 Aug;18(4):209-17.
Os Efeitos do b-Hidroxi-b-Metilbutirato na Performance Esportiva
O b-hidroxi-b-metilbutirato(HMB) é um metabólito do aminoácido leucina e vem sendo relacionado como a chave da fonte de carbono para a síntese de colesterol em alguns tecidos necessário para manter a função celular. Apesar de não estarem completamente esclarecidos os mecanismos pelos quais o HMB exerce seu papel na síntese protéica, alguns estudos tem demonstrado que sua suplementação está relacionada com o aumento da massa livre de gordura, diminuição do percentual de gordura, ganho de força durante o exercício de resistência muscular e diminuição da degradação protéica em exercícios de endurance.
ANTIOXIDANTES NO PEQUI E EFEITOS NA ATIVIDADE FÍSICA
O Pequi
O Caryocar brasiliense Camb., popularmente conhecido com Pequi, é uma árvore típica do cerrado brasileiro, cujo fruto é usado na culinária regional e na medicina popular, devido ao seu alto valor nutritivo. O óleo contido na polpa do fruto do pequizeiro contém diversos carotenoides, tais como caroteno, licopeno, criptoxantina, zeaxantina, luteína e neoxantina1-4.
O pequizeiro é nativo do cerrado brasileiro, incluindo os estados do Pará, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e os estados nordestinos do Piauí, Ceará e Maranhão. A palavra pequi, na língua indígena, significa “casca espinhosa”, porém o fruto também é conhecido por diversos nomes como piqui, pequiá, amêndoa de espinho, grão de cavalo ou amêndoa do Brasil. Sua frutificação ocorre principalmente entre os meses de janeiro e março5.
O fruto é constituído pelo exocarpo ou pericarpo, de coloração esverdeada ou marrom-esverdeada, mesocarpo externo, polpa branca com coloração pardo-acinzentada e mesocarpo interno, que constitui a porção comestível, que apresenta coloração amarelada. O endocarpo, que é espinhoso, protege a semente ou amêndoa, que é revestida por um tegumento fino e marrom, sendo também uma porção comestível6.
Composição química do pequi e sua capacidade antioxidante
Em 2007, um grupo de pesquisadores analisou a composição química e os compostos bioativos presentes na polpa e na amêndoa do pequi. Nesse trabalho foi observado que a polpa do fruto de pequi é rica em lipídios (33,4%). Além disso, é considerada uma fonte interessante de fibras, apresentando 10,02%, correspondendo a 40% das necessidades diárias de fibras alimentares. Observou-se também que a fração proteica corresponde a 3% do fruto4.
Ao analisarem os componentes da amêndoa do pequi, os pesquisadores constataram que 51,51% do conteúdo corresponde a lipídios, enquanto as proteínas correspondem a 25, 27%. Já em relação aos carboidratos, a amêndoa apresenta 8,33% e 2,2% de fibras. Verificou-se um baixo teor de umidade e um teor elevado de minerais, representado pelas cinzas. Esse fruto apresentou concentrações predominantes de ácidos graxos insaturados.
A polpa apresenta 61,35% e a amêndoa apresenta 52,17% de ácidos graxos insaturados. O ácido oleico está presente em maior concentração na polpa, com 55,87%, sendo seguido pelo ácido palmítico, que corresponde a 35,17%. Na amêndoa do pequi, predominam os ácidos palmítico e oleico em quantidades praticamente iguais, 43,76% e 43,59%, respectivamente. Também estão presentes o ácido linoleico, com 5,51%; esteárico, com 2,04% e palmitoleico, com 1,23%.
É possível observar que tanto a polpa como a amêndoa do pequi possuem ácidos graxos importantes para compor uma dieta saudável. Por ser um fruto encontrado em regiões onde as árvores recebem alta incidência de raios solares, ocorre um favorecimento da formação de radicais livres. Essas condições favorecem a biossíntese de compostos secundários com propriedades antioxidantes (compostos fenólicos e carotenoides totais), como é apresentado na Tabela 1 4.
Tabela 1.
Teores de fenólicos totais e carotenoides totais em mg/100g, na polpa e amêndoa de pequi
(valores expressos como média +/- desvio-padrão).
Fonte: adaptado de Lima et al., 20074.
Na avaliação da atividade antioxidante do extrato aquoso e das frações de ácidos fenólicos da polpa do pequi há evidências de proteção contra os danos oxidativos, comparados ao padrão comercial butilidroxitolueno (BHT). Esses resultados indicam que a polpa do pequi é um alimento com elevada capacidade antioxidante, demonstrando a correlação existente entre a quantidade de fenólicos totais e a proteção antioxidante 7,8.
Na tabela 2, podemos observar uma comparação entre os teores fenólicos de polpas de frutas consideradas extensivamente antioxidantes. O pequi apresenta 209 mg de fenólicos em 100 gramas de polpa, ou seja, tem uma elevada capacidade antioxidante. Na polpa e na amêndoa do pequi, os lipídios são os constituintes predominantes, prevalecendo nestes os ácidos graxos oleico e palmítico.
Tabela 2. Tabela comparativa dos teores de fenólicos totais em 100g de polpa.
Fonte: adaptado de Lima et al., 20074.
Estresse oxidativo induzido por atividade física intensa
O metabolismo humano produz continuamente espécies reativas de oxigênio (EROs), como resultado do metabolismo oxidativo mitocondrial normal – ou seja, processos oxidativos são constantes no organismo.9
Em situações normais, os produtos dos processos oxidativos são neutralizados por um sistema de defesa antioxidante, que consiste de enzimas, como a catalase (CAT), superóxido dismutase (SOD), glutationa peroxidase (GPX) e diversos antioxidantes não enzimáticos10. A atividade física regular é considerada essencial para promover saúde e prevenção de diversas doenças – porém, a partir do momento em que essa atividade é excessiva pode promover danos, ao invés de trazer benefícios. A prática de exercícios físicos de forma extenuante aumenta o consumo de oxigênio e pode promover um desequilíbrio entre as EROs e os antioxidantes, promovendo estresse oxidativo. Trabalhos mostram que a atividade exaustiva aumenta a geração de espécies reativas de oxigênio, promovendo danos no DNA e nos tecidos. 11
A prática de exercícios físicos extenuantes pode promover o estresse oxidativo. Isso resulta em aumento nos níveis sanguíneos de malondialdeído (MDA), que serve como indicador indireto da peroxidação lipídica e pode ser mensurado pelas TBARS, substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico. Além disso, ele pode iniciar reações que se assemelham à fase aguda de uma resposta imune como uma infecção com aumento de PCR (proteína C reativa) 10. Nesse contexto, o consumo dietético de antioxidantes pode ajudar a prevenir o estresse oxidativo e lesões teciduais.
O pequi e a prevenção do estresse oxidativo induzido por atividade física
Muitos estudos têm investigado o impacto do status antioxidante nos prejuízos gerados pelo exercício12,14,16.. Com esse propósito, a maioria das intervenções dietéticas tem como foco os fatores nutricionais, como as vitaminas e compostos antioxidantes que neutralizam o estresse oxidativo induzido pela atividade física.
Os compostos fitoquímicos bioativos podem apresentar um papel vital na proteção de células submetidas ao estresse oxidativo induzido pelo exercício16. Trabalhos mostram que os compostos bioativos são capazes de prevenir os danos oxidativos em atletas de endurance que esgotaram sua capacidade endógena antioxidante, devido aos treinos intensos e frequentes. Além disso, a composição rica em ácidos graxos insaturados do óleo de pequi está envolvida na modulação das taxas pós-prandiais de triglicerídeos e colesterol18. Estudos mostram que o óleo de pequi é eficiente na redução de danos ao DNA e nos tecidos13. Além disso, de acordo com estudos, os óleos da polpa de outra espécie de pequi, o C. coriaceum, apresenta efeitos anti-inflamatórios significativos. Pesquisadores alegam que o óleo de pequi poderia reduzir eficientemente a inflamação induzida pela atividade física, podendo inclusive modular os níveis de lipídios pós-prandiais de corredores.
Conclusão
O pequi apresenta compostos fenólicos e carotenoides totais, os quais estão associados à prevenção de processos oxidativos. Diante das questões aqui discutidas, é possível observar que o consumo da polpa de pequi poderá trazer benefícios à saúde da população; além disso, devido à sua ampla capacidade antioxidante, seu consumo pode ser interessante para praticantes de atividade física. A atividade física apresenta benefícios já bem descritos na literatura, porém essa prática promove aumento da produção de EROs. Quando o organismo é submetido à atividade extenuante, há um aumento do estresse oxidativo, com possível redução da sua capacidade antioxidante.
Nesse sentido, torna-se essencial que praticantes de atividade física tenham um consumo elevado de alimentos antioxidantes. O pequi apresenta compostos bioativos em sua composição e lipídios insaturados que, ao serem introduzidos no planejamento alimentar do indivíduo, poderão facilitar o equilíbrio do organismo. O uso do óleo de pequi, como um suplemento para atletas, também pode ser interessante. Para essa confirmação, ainda são necessários mais estudos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. RAMOS, M.I.L.; UMAKI, M.C.S.; HIANE, P.A.; RAMOS-FILHO, M.M. Efeito do cozimento convencional sobre os carotenoides pró-vitamínicos “A” da polpa de pequi (Caryocarbrasiliense Camb.). Bol Centro Pesq Process Aliment; 19:23-32, 2001.
2. AZEVEDO-MELEIRO, C.H.; RODRIGUEZ-AMAYA, D.B. Confirmation of the identity of the carotenoids of tropical fruits by HPLC-DAD and HPLC-MS. J Food Comp Anal; 17:385-396, 2004.
3. OLIVEIRA, M.N.S.; GUSMÃO, E.; LOPES, P.S.N.; et al. Estágio de maturação dos frutos e fatores relacionados aos aspectos nutritivos e de textura da polpa de pequi (Caryocar brasiliense Camb.). Rev Bras Frutic; 28:380-386, 2006.
4. LIMA, A.; SILVA, A.M.O.; TRINDADE, R.A.; et al. Composição química e compostos bioativos presentes na polpa e na amêndoa do pequi (Caryocar brasiliense Camb.). Rev Bras Frutic; 29:695-698, 2007.
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13. MIRANDA-VILELA, A.L.; AKIMOTO, A.K.; ALVES, P.C.Z.; et al. Dietary carotenoid-rich oil improves plasma lipid peroxidation and damages in runners: evidence for an association with MnSOD genetic variant-Val9Ala. Gen Mol Res; 8(4), 2009.
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*Texto elaborado pelo Departamento Científico da VP Consultoria Nutricional.
Utilização de antioxidantes na prática esportiva
O estresse oxidativo resulta de um desequilíbrio entre a produção e a neutralização de radicais livres e espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. O exercício físico leva a um aumento transitório do estresse oxidativo, podendo ocasionar lesões celulares e redução do rendimento esportivo. Os antioxidantes estão entre os suplementos mais utilizados por atletas e praticantes de atividade física e têm sido muito estudados como um possível meio de reduzir a injúria e melhorar o rendimento. Entretanto, os dados da literatura são controversos, e há trabalhos mostrando que a suplementação de antioxidantes pode reduzir, não interferir ou até mesmo aumentar marcadores de estresse oxidativo. Adicionalmente, trabalhos mais recentes sugerem que o estresse oxidativo induzido pelo exercício possui um papel essencial na resposta adaptativa ao organismo, sendo, portanto, necessário para que o exercício exerça seus efeitos benéficos. Desse modo, até que existam mais dados na literatura, parece mais seguro recomendar que indivíduos fisicamente ativos ingiram uma dieta rica em antioxidantes ao invés de suplementá-los isoladamente.
Revista Brasileira de Nutrição Funcional – Abril 2011
Modulação nutricional do aumento da massa muscular através de alimentos e fitoterápicos
As taxas de síntese muscular proteica (SMP) são reguladas de acordo com os níveis de atividade física, a disponibilidade de nutrientes e o estado de saúde do indivíduo. O exercício de resistência e a ingestão de proteína são conhecidos estimuladores desse processo em humanos. Dentre os componentes proteicos envolvidos na SMP, os aminoácidos essenciais (AAE) destacam-se por estimular o processo sem afetar a proteólise. A insulina, por sua vez, reduz a degradação proteica com pequeno ou nenhum efeito significativo na SMP. Dentre os AAE, a leucina é o representante mais potente. Fontes dietéticas ricas em leucina (carne, leite, ovos, peixe) são capazes de aumentar a concentração de AAE plasmáticos, provocando uma forte resposta anabólica na SMP. A ação dos aminoácidos se dá, provavelmente, de maneira dose-dependente. Indivíduos com alto consumo de proteínas têm uma eficiência de utilização proteica reduzida. Desta forma, não há benefícios na ingestão de grandes quantidades desse nutriente na tentativa de aumentar o ganho de massa muscular. Diferentes tipos de proteínas (rápidas e lentas) podem modular diferentemente a resposta anabólica. O whey protein é digerido rapidamente e leva a um aumento grande, mas transitório, das proteínas sanguíneas, estimulando a SMP. Por outro lado, a caseína é considerada uma proteína lenta e não estimula a SMP, mas suprime a proteólise. Outros nutrientes como a creatina e o ômega-3 também têm demonstrado efeitos positivos no anabolismo do músculo esquelético. Estudos que confirmam a aplicação de fitoterápicos como o Tribulus terrestris no ganho de massa muscular são escassos ou não comprovam sua utilização.
Fonte: Revista Brasileira de Nutrição Funcional – 2012
Aminoácido de Cadeia Ramificada BCAA
Os aminoácidos de cadeia ramificada conhecidos como BCAA (Branched Chain Amino Acids), compreendem três aminoácidos essenciais: valina, leucina e isoleucina. De todos os aminoácidos isolados consumidos, apenas os aminoácidos essenciais apresentam uma sustentação teórica para a sua administração. Eles não são sintetizados no organismo humano devendo, por isso, ser ingeridos na dieta ou na forma de suplementos dietéticos, os quais são apresentados na forma de cápsulas, comprimidos, pó, tabletes e na forma líquida. Nos alimentos, podem ser encontrados nas carnes e outros produtos de origem animal, ricos em proteínas.
Pouco se sabe a respeito das dosagens diárias recomendadas. Dessa forma, foram encontradas pesquisas envolvendo crianças e adultos que sugerem proporções que vão de 77 a 154 mg/kg/dia, bem como estudos que sugerem a não utilização de suplementação de BCAA para atletas, devido a carência de evidências consistentes a respeito do tema. (Mager, Wykes, Ball, Pencharz, 2003; Kurpad, Regan, Raj, Gnanou, 2006; Kazapi e Tramonte, 2003; Alves, 2005; Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, 2003).
Estudos realizados com indivíduos fisicamente ativos ou não, sugerem que a suplementação com BCAA, antes ou imediatamente após o exercício, pode estimular a síntese proteica e diminuir danos ao tecido muscular, devido ao fato de a suplementação suprir as necessidades dietéticas destes aminoácidos, preservando os estoques musculares. Resultados encontrados permitem supor que a ingestão de BCAA estimularia a liberação de hormônios como a testosterona, o hormônio de crescimento (GH) e a insulina, aumentando, assim, a síntese de proteínas (Bacurau, 2003).
Os BCAA, particularmente a leucina, podem apresentar efeitos anabólicos no metabolismo de proteínas, aumentando significativamente a taxa de síntese e diminuindo a taxa de degradação de proteína na musculatura em repouso, após o exercício. Os BCAA apresentam efeitos anabólicos no músculo humano durante a fase de recuperação, após exercícios de resistência, porém durante os exercícios os respectivos efeitos não são claros.
Os BCAA são desaminados no tecido muscular formando a alanina, que por sua vez, deixa o músculo e vai para o fígado onde é convertida em piruvato e, posteriormente, em glicose (ciclo glicose-alanina) contribuindo para a manutenção da glicemia durante exercícios prolongados. Os BCAA atuam no ciclo da alanina-glicose servindo de substratos para a produção de glicose (Lancha Jr., 1996, Marquezi e Lancha Jr., 1997; Alves, 2005);
Durante exercícios de resistência, há uma diminuição dos níveis plasmáticos de glutamina, cuja função principal é servir de fonte de energia para importantes células do sistema imunológico. Já que os BCAA servem de substrato para a síntese de glutamina, sua administração após o exercício aumentaria as concentrações da mesma, diminuindo assim a incidência de infecções nos atletas (Zamberlan, 2001; Alves 2005);
Sabe-se que os BCAA e o triptofano-livre competem entre si, em situações em que os níveis plasmáticos de BCAA se encontram reduzidos (exercícios prolongados); isto facilitaria a entrada de triptofano-livre no cérebro (SNC), levando à geração de 5 hidroxi-triptamina, precursor da serotonina, que por sua vez é um mediador potencial da fadiga central. Portanto, acredita-se que a suplementação de BCAA poderia reduzir a formação da serotonina, retardando assim a fadiga e conseqüentemente, melhorando o desempenho esportivo (Newsholme e Blomstrand, 2006;
A suplementação com os aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA) observa-se que o consumo pode ser benéfico, ingerido sozinho ou associado a outros nutrientes, se confirmada necessidade e, desde que com acompanhamento do profissional nutricionista.
Estratégias Nutricionais para a Hipertrofia Muscular
A hipertrofia muscular ocorre quando as taxas de síntese proteica são maiores do que as taxas de degradação proteica, fato que depende de um treinamento adequado em volume e freqüência, de períodos de descanso de perfil hormonal favorável e da oferta adequada de nutrientes necessários. As estratégias nutricionais para hipertrofia muscular devem garantir aos indivíduos condições ideais em todas as etapas do processo anabólico.
O exercício contra-resistência é necessário para estimular a remodelação do tecido muscular e aumentar o conteúdo de proteína muscular. A alimentação é necessária para oferecer energia para o exercício, potencializar a liberação de hormônios anabólicos e garantir substrato para a síntese de proteínas e glicogênio.
As necessidades nutricionais de indivíduos que pretendem ganhar massa muscular são maiores do que as dos indivíduos sedentários. A quantidade protéica deve ser oferecida durante todo o dia, fornecendo aminoácidos essenciais, utilizados para o crescimento muscular. É necessário ainda garantir a ingestão energética por meio de carboidratos e lipídios. Deve-se considerar ainda o perfil hormonal anabólico.
A importância do momento da oferta dos nutrientes ao músculo é cientificamente reconhecida. Isso porque durante 24 horas os músculos são submetidos a diferentes fases de um ciclo de crescimento muscular: produção de energia, recuperação e crescimento. Dependendo da necessidade metabólica do músculo, pode ocorrer produção de energia, restabelecimento do glicogênio muscular ou síntese de proteínas, sendo que cada uma dessas situações requer diferentes tipos de nutrientes.
Recentemente foi sugerido um esquema de ofertas de nutrientes para o ganho de massa muscular ? Nutrient Timing System ? composto por três fases: fase energética, fase anabólica e fase de crescimento. Esse novo modelo apresenta, possivelmente, novas perspectivas na alimentação/ suplementação para o atleta que busca a hipertrofia muscular, desde que associado a programas de treinamentos adequados. Ainda são necessárias avaliações científicas de sua real efetividade.
Anuário Nutrição Esportiva
Ano 6 – Edição nº28 – Dezembro de 2005
Prática de Atividade Física e a Formação de Radicais Livres
Muitos estudos demonstraram que o trabalho muscular intenso gera quantidades de espécies reativas de oxigênio. Para prevenir o estresse oxidativo, o organismo apresenta um grande número de antioxidantes enzimáticos e não enzimáticos, que previnem a formação de espécies reativas de oxigênio ou eliminá-las. O estresse oxidativo pode levar à destruição de lipídios, proteínas, ácidos nucléicos, causando diminuição da performance física, fadiga muscular, estresse muscular e overtraining, e o óxido nítrico inibe a contração do músculo esquelético. A contração e o relaxamento muscular produz uma ação concêntrica, e quando o músculo esquelético se estira para produzir força, o resultado é uma ação muscular excêntrica. O gasto de oxigênio é menor para uma ação excêntrica do que para uma ação concêntrica, mas mesmo na ação excêntrica ocorre importante dano muscular, com a diminuição da sensibilidade muscular e aumento da atividade da creatina quinase, indicando a ação da proteína muscular. No exercício excêntrico ocorre maior aumento dos neutrófilos, estes migram para o local da lesão e ocorre a liberação de lisoenzimas e radicais de oxigênio, que aumentam a quebra de proteínas. Os neutrófilos no músculo e nas células mononucleares podem ser fontes de radicais livres, que causam aumento nas lesões. Em adição à capacidade de fagocitar o tecido lesado, os monócitos secretam citocinas como a interleucina-1 e o fator de necrose tumoral, que participam de eventos metabólicos e afetam todos os órgãos e tecidos do organismo. Estudos concluem que o estresse oxidativo é o principal estimulante para a produção de citocinas induzidas pelo exercício, processo que envolve os monócitos. Recentes estudos concluíram também que a suplementação oxidante aumenta a atividade enzimática antioxidante da superóxido dismutase e da catalase nos neutrófilos. Com o avanço da idade, a modulação da redução da contração muscular pode ser alterada por mudanças na razão de produção de espécies reativas de oxigênio e óxido nítrico, e nos níveis endógenos de antioxidantes. O dano intrínseco observado nos indivíduos mais velhos pode ser devido ao acúmulo das formas oxidadas das proteínas, fato que pode indicar que com o avanço da idade o aumento na razão da peroxidação lipídica é maior do que o aumento nas atividades das enzimas antioxidantes. Outros estudos observaram uma resposta dos neutrófilos mais atenuada em homens mais velhos quando os mesmos foram comparados com homens mais jovens. Podemos concluir pelos trabalhos que existe uma clara associação entre estresse muscular induzido pelo exercício, estresse metabólico, hormonal ou inflamatório. É necessário então, maiores estudos sobre os nutrientes antioxidantes para sua utilização na prática clínica.
Anuário Nutrição Esportiva 2004
Ano 5 – Edição nº23 – Abril de 2004
Nutrição, Atividade Física e Gestação
Os ajustes fisiológicos que acontecem durante a gestação afetam o metabolismo de todos os nutrientes. A manutenção de uma adequada ingestão nutricional e nível de atividade física é essencial para garantir um adequado crescimento e desenvolvimento fetal. Os ajustes que acontecem no metabolismo dos nutrientes são responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento fetal, enquanto mantêm a homeostase materna e preparam o organismo para a amamentação. O uso dos nutrientes da dieta é alterado, aumentando sua absorção intestinal ou diminuindo a excreção renal ou gastrintestinal. Mudanças na ingestão alimentar e no nível de atividade física durante a gestação podem afetar a quantidade de energia e de nutrientes para o crescimento fetal. O custo energético das atividades que suportam o peso corporal (caminhada, corrida) aumenta durante a gestação por causa do aumento do peso corporal. A gravidez e o exercício alteram o gasto energético assim como a homeostase cardiovascular e respiratória. Durante o exercício submáximo o gasto energético, a ventilação por minuto, o débito cardíaco e a freqüência cardíaca são maiores durante a gravidez. Foram estabelecidas uma série de atividades de baixo risco que podem ser indicadas para gestantes, como caminhada, natação, hidroginástica leve e pedalar na bicicleta ergométrica. As atividades de médio risco são a ginástica aeróbica, musculação e os esportes de raquete. São poucas as informações disponíveis sobre as recomendações nutricionais específicas para as gestantes ativas. Alguns dos mais importantes nutrientes que requerem uma adequada recomendação nesta fase são: proteínas, gorduras e carboidratos, vitaminas A, C, D, E, K, B1, B2, B6, B12, niacina, ácido fólico, ácido pantotênico, cálcio, fósforo, ferro, magnésio, zinco, cobre, selênio, sódio, potássio, cloro e iodo. Pesquisas realizadas mostram que as gestantes ativas necessitam consumir pelo menos 300 calorias por dia a mais do que as 300 já recomendadas para a gestação não ativa. As dietas ricas em carboidratos devem ser priorizadas para repor os estoques de glicogênio. Em relação ao ferro, as necessidades das gestantes ativas são usualmente as mesmas da gestante sedentária. As preocupações de regulação térmica sobre o exercício durante a gestação estão relacionadas às respostas maternas e fetais; a gestante ativa tem maior necessidade de água para atender a expansão de água corporal total e manter a temperatura corporal. O artigo conclui que as gestantes sedentárias que começam a realizar atividades físicas devem ser orientadas, e as gestantes ativas ou atletas devem ser supervisionadas e a intensidade, freqüência e duração das atividades serem ajustados. É importante lembrar que a ingestão alimentar na gestação deve ser segura e adequada, fornecendo nutrientes e energia necessários para alcançar as necessidades da mãe, do feto e do lactente. Deve ser supervisionado o adequado ganho de peso materno e a hidratação é essencial na gestante ativa para evitar a hipertermia e desidratação.
Anuário Nutrição Esportiva 2004
Ano 5 – Edição nº23 – Abril de 2004