APLICAÇÕES DA CAFEÍNA NO ESPORTE

Sabe-se que a cafeína é um dos recursos ergogênicos nutricionais mais utilizados no mundo e encontrada em uma diversidade de produtos nutricionais e alguns alimentos, sendo seu consumo muito difundido em atletas e praticantes de atividade física, em níveis de moderadas a elevadas doses durante as competições.

Seu uso como agente potencializador de performance já está bem definido com elevado grau de evidência científica e suas aplicabilidades seguem no sentido de reduzir a percepção subjetiva de esforço, no aumento da liberação de catecolaminas, aumento do recrutamento de unidades motoras devido ao aumento nas concentrações de cálcio intracelular, ação analgésica melhorando a eficiência na recuperação muscular com os mais diversos impactos fisiológicos que vão desde o aumento no consumo de oxigênio (VO2) à reações químicas controladas pelo sistema nervoso e que promovem a ativação de vias metabólicas específicas. Sabe-se também do impacto da utilização de cafeína na liberação hormonal, aumento da taxa metabólica basal, promovendo maior gasto energético (GE), consequentemente maior mobilização de gordura corporal e preservação do glicogênio muscular usados como substratos para suportar esse maior gasto.

A cafeína é um dos agentes estimulantes mais consumidos em todo o mundo, sendo o seu uso assegurado e estabelecido como pacífico por várias instituições como por exemplo o Comitê Olímpico Internacional (COI).

Pesquisas sugerem que os efeitos da cafeína no sistema nervoso central (SNC) são atribuídos à minimização da percepção subjetiva de esforço e fadiga através da estimulação do SNC agindo como um antagonista da adenosina, uma substância neuro-moduladora endógena que exerce efeito inibitório na excitabilidade central.

Com relação ao seu impacto no gasto calórico, pesquisas científicas sugerem que a cafeína possa facilitar a perda e a manutenção do peso corpóreo pelo aumento da termogênese, induzindo maior mobilização e oxidação de gordura corporal. Esse impacto pode ser atribuído ao aumento da secreção da enzima lipase, uma lipoproteína que mobiliza os depósitos de gordura para utilizá-los como fonte de energia em substituição ao glicogênio muscular, tornando o corpo mais resistente à fadiga e também à inibição da enzima fosfodiesterase, que é responsável pela degradação do mediador químico intracelular adenosina monofosfato cíclico (AMPc), convertendo-o em adenosina, aumentando dessa forma sua meia-vida e levando a um aumento da lipólise.

Estudos de meta-análise mostraram que a ingestão aguda de cafeína pode melhorar tanto resistência aeróbica quanto a anaeróbica, com impacto na força máxima e resistência muscular, velocidade de execução do movimento em exercícios resistidos, desempenho de sprint e agilidade.

Dor muscular de início tardio, citada na literatura como “DOMS”, caracteriza-se como um sintoma de percepção de dor severa e desconforto muscular que está relacionada ao dano muscular induzido pelo exercício que ocorre entre 24 e 72 horas após realização de movimentos de contração não habituais e/ou de alta intensidade. Sugere-se que esse sintoma seja atribuído ao processo inflamatório causado nas fibras musculares e é comumente acompanhado de liberação na corrente sanguínea de substâncias como a de creatina-quinase. Vale destacar que essas alterações podem comprometer transitoriamente a plena funcionalidade muscular, reduzindo a força, amplitude, dentre outros parâmetros no desempenho físico.

Nesse sentido, um estudo duplo-cego randomizado placebo-controlado realizado com atletas de elite (10 homens e 10 mulheres), demonstrou que a suplementação de 6mg/Kg de cafeína (setas vermelhas) reduziu a manifestação desses sintomas de forma significativa, diante de um desenho experimental (esquema abaixo) para induzir DOMS (gráfico) e alteração de marcadores inflamatórios.

Fonte: Chen et al., 2019

Em outro estudo randomizado duplo-cego placebo controlado, com objetivo de avaliar os efeitos da ingestão de cafeína (3mg/Kg) na percepção de DOMS em atletas de endurance após submetidos a uma prova de ciclismo de resistência (164 km). Nos resultados encontrados, o grupo de cafeína tendeu a ter menor DOMS quando comparado com ao placebo. Provavelmente devido à grande variabilidade do seu impacto como ergogênico nutricional no organismo humano, pouca atenção veio até então sendo dispendida quanto aos seus efeitos colaterais indesejáveis, principalmente entre atletas.

Dentre os principais efeitos colaterais indesejáveis podemos citar a taquicardia, alteração no padrão de ritmo/qualidade do sono (insônia), dor de cabeça, desconforto gastrointestinal, nervosismo e tremores. Tais efeitos tem referência de ocorrência na literatura quando sua utilização se dá acima das concentrações mínimas propostas nas diretrizes para prescrição da substância.

Atualmente encontramos na literatura importantes evidências da sua suplementação, cuja proposta de dosagem para melhores efeitos fique próximo à 3mg/Kg, onde seus efeitos são mais evidentes e amplos nas diferentes aplicabilidades.

Referências Bibliográficas:

1. Maughan RJ, Burke LM, Dvorak J, et al. IOC consensus statement: dietary supplements and the high-performance athlete Br J Sports Med 2018;0:1–17, doi:10.1136/ 2. BURKE, Louise M. Practical issues in evidence-based use of performance supplements: supplement interactions, repeated use and individual responses. Sports Medicine, v. 47, n. 1, p. 79-100, 2017./ 3. SALINERO, Juan José et al. Effects of acute ingestion of caffeine on team sports performance: A systematic review and meta-analysis. Research in Sports Medicine, v. 27, n. 2, p. 238-256, 2019. / 4. CHEN, Hou-Yu et al. Effects of caffeine and sex on muscle performance and delayed-onset muscle soreness after exercise-induced muscle damage: a double-blind randomized trial. Journal of Applied Physiology, v. 127, n. 3, p. 798-805, 2019./ 5. GRGIC, Jozo. Exploring the minimum ergogenic dose of caffeine on resistance exercise performance: a meta-analytical approach. Nutrition, p. 111604, 2022./ 6. MALJADI, Janisa Andrea et al. Effect of caffeine on delayed-onset muscle soreness: a meta-analysis of RCT. Bulletin of the National Research Centre, v. 45, n. 1, p. 1-11, 2021./ 7. Reza Tabrizi, et al; The effects of caffeine intake on weight loss: a systematic review and dos-response metaanalysis of randomized controlled trials, Critical Reviews in Food Science and Nutrition, 2018./ 8. Sidney J. Stohs et al. A Review of Natural Stimulant and Non-stimulant Thermogenic Agents; Phytother. Res. 30: 732–740. 2016./ 9. ESTEVAN NAVARRO, Pedro et al. Caffeine Health Claims on Sports Supplement Labeling. Analytical Assessment According to EFSA Scientific Opinion and International Evidence and Criteria. Molecules, v. 26, n. 7, p. 2095, 2021./ 10. GUEST, Nanci S. et al. International society of sports nutrition position stand: caffeine and exercise performance. Journal of the International Society of Sports Nutrition, v. 18, n. 1, p. 1-37, 2021.

Fonte: Vitafor

Deixe uma resposta