Saiba como manter o fígado saudável

O fígado é um importante órgão que desempenha funções fundamentais para a saúde e que contribui para o funcionamento de todo o sistema, o que necessita de um cuidado especial para que ele não seja sobrecarregado e possa funcionar de forma adequada.

Qual a função do fígado no organismo?

O fígado é o segundo maior órgão do corpo humano, tendo importância para diferentes funções em todo o corpo.

Dentre essas funções, a mais conhecida é a detoxificação, que consiste na filtragem e metabolização de toxinas, onde tudo o que é ingerido, sejam alimentos, bebidas ou medicamentos, após serem digeridos e  absorvidos no intestino são filtrados e metabolizados pelo fígado. Esse processo faz com que sejam separados os nutrientes que precisam permanecer no corpo para serem absorvidos das toxinas que necessitam ser excretadas para fora, fazendo a desintoxicação.

Em decorrência desse processo, o fígado também está envolvido em outras funções importantes que impactam o funcionamento do organismo, como:

  • Secretar a bile: a bile é a secreção responsável por ajudar na digestão de gorduras no organismo. Ela é produzida totalmente pelo fígado e armazenada na vesícula biliar. 
  • Armazenar e distribuir glicose: através dos alimentos que ingerimos, a glicose é extraída e armazenada no fígado que, diante da necessidade de energia do organismo, vai liberando essa glicose na corrente sanguínea, fornecendo energia.
  • Produzir substâncias essenciais: o fígado é responsável pela produção de proteínas plasmáticas, como albumina, globulinas e fibrinogênio, e fatores de coagulação.
  • Defesa contra micro-organismos: no fígado existem estruturas e células especializadas que servem para combater a disseminação de bactérias e outros micro-organismos que transmitem infecções, impedindo que se espalhem pelo organismo, deixando o sistema mais fortalecido.
  • Sintetizar o colesterol e metabolizar vitaminas lipossolúveis: o fígado realiza a síntese do colesterol e é responsável pela liberação das vitaminas lipossolúveis no organismo. Elas são armazenadas e liberadas gradativamente pelo sistema hepático.

O que pode prejudicar o funcionamento do fígado?

Tudo o que ingerimos, após o processo da digestão, automaticamente passa pelo fígado, já que esse é o principal órgão envolvido na filtragem e metabolização das toxinas. Sendo assim, os maus hábitos alimentares e o consumo excessivo de álcool podem ser os principais fatores de risco para a degradação da saúde hepática, além das doenças relacionadas que podem surgir de forma hereditária ou através de inflamações e vírus.

Álcool em excesso

O consumo de álcool, seja em consequência de um volume excessivo ou do consumo recorrente por tempo prolongado, pode prejudicar as funções que o fígado exerce no organismo.

Em condições normais, o álcool (etanol) é metabolizado em acetaldeído e, posteriormente, transformado em acetato. Esse processo é realizado nas mitocôndrias, principalmente na região central do lóbulo hepático.

Quando há excesso de álcool, esse processo poderá ultrapassar a capacidade de metabolização nessa região, podendo acarretar em falta de oxigênio nas células (hipóxia), danos mitocondriais e estresse oxidativo. 
Essas consequências podem afetar a oxidação de ácidos graxos (uma das funções do fígado), levando a esteatose e ao acúmulo de gordura no fígado.

Além disso, o álcool aumenta a permeabilidade intestinal, ampliando a absorção de toxinas bacterianas que induzem e perpetuam a inflamação.

Em uma situação mais crítica, esse consumo exagerado de bebidas alcoólicas pode acabar causando o surgimento de doenças hepáticas crônicas como a hepatite alcoólica e a cirrose.

Alimentação com baixo valor nutricional

A ingestão exagerada de alimentos gordurosos, com muito sal, açúcar e gorduras saturadas, como os alimentos ultraprocessados ou embutidos, pode afetar a possibilidade de um fígado saudável.

Esses alimentos, que são pobres em nutrientes, podem proporcionar um nível elevado de toxinas a serem filtradas, gerando uma sobrecarga, além de contribuírem para o aumento da gordura na região, podendo favorecer o aparecimento de doenças hepáticas.

O que pode deixar o fígado inflamado?

O fígado inflamado pode ter diversas causas. As mais comuns são relacionadas à infecção viral pelas hepatites (A,B,C e D) e à esteatose hepática, doença crônica definida pela infiltração gordurosa no fígado, que gera um processo inflamatório nessa região.

Além disso, o abuso de bebidas alcoólicas e o consumo demasiado de alimentos gordurosos e ricos em carboidratos simples podem ajudar a desencadear esse quadro de inflamação ou, também, gerar uma piora nos casos de doenças já diagnosticadas.

Principais doenças que afetam o fígado

Esteatose hepática

Popularmente conhecida como gordura no fígado, a Esteatose hepática é uma doença que se caracteriza justamente pelo acúmulo de gordura dentro das células hepáticas. Aproximadamente, até 5% do peso do fígado é composto por gordura, e quando essa porcentagem aumenta, seja por hábitos alimentares com alto consumo calórico ou por ingestão inadequada de bebidas alcoólicas, pode acabar desencadeando a doença.

Hepatites virais

As hepatites virais são separadas pelos tipos A, B, C, D e E, sendo os tipos D e E os menos comuns no Brasil. Essas condições se caracterizam pela inflamação do fígado através do processo infeccioso causado por vírus. Todas podem ser tratadas, porém, as hepatites B e C podem apresentar formas mais agressivas e evoluir para doença crônica.

Hepatite alcoólica

Como o próprio nome já diz, a hepatite alcoólica é uma doença causada pelo excesso de álcool que está sendo ingerido por um tempo prolongado. Assim como no caso das hepatites virais, ela também causa a inflamação do fígado, prejudicando o seu funcionamento.

Cirrose

A cirrose é uma doença crônica do fígado que se caracteriza pela formação de tecidos fibrosos e lesões que distorcem a arquitetura hepática e prejudicam a circulação sanguínea. Essa condição pode ser causada pelo abuso do álcool, ou se desenvolver através de uma piora nos quadros de hepatite B e C. É uma condição que geralmente afeta homens a partir de 45 anos e pode resultar em insuficiência hepática.

Dicas e tratamentos para manter o fígado saudável

Devido às diversas funções que esse órgão promove no organismo, manter o seu funcionamento adequado é fundamental. E para isso, algumas ações podem auxiliar a manter o fígado saudável.

Dieta com baixo índice glicêmico

Como se pode perceber, a alimentação é um fator que está totalmente ligado à manutenção da saúde hepática, ajudando até mesmo a prevenir o aparecimento de algumas condições relacionadas ao fígado. 
Optar por uma alimentação rica em nutrientes, como vitaminas, fibras e minerais e antioxidantes, é essencial para ter um fígado saudável. Por ser o principal órgão envolvido na desintoxicação do organismo, é necessário ingerir alimentos que auxiliem em suas funções no processo de metabolização de toxinas, evitando a sobrecarga.

Com uma dieta com baixo índice glicêmico é possível evitar a resistência insulínica e a possibilidade do desenvolvimento de esteatose hepática.

Controle de peso

Manter um peso saudável pode trazer benefícios para a saúde do fígado. Para quem está acima do peso, a perda de 6 a 10% de peso corporal pode proporcionar bons resultados, auxiliando na diminuição do excesso de gordura no fígado e promovendo uma melhora em doenças hepáticas. No entanto, é fundamental o acompanhamento e orientação de um profissional para alcançar esse objetivo com saúde e segurança.

Hidratação adequada

Quando o fígado realiza o processo de filtragem, as toxinas são liberadas para serem excretadas do organismo. O consumo adequado de água auxilia nesse processo, favorecendo a eliminação das toxinas através da urina, sendo fundamental para manter o fígado saudável.

Redução de toxinas

Devido a importante ação do fígado na metabolização de toxinas, uma das alternativas para mantê-lo saudável é evitar a exposição às substâncias tóxicas. Algumas alternativas que podem auxiliar, são:

  • Preferir alimentos orgânicos;
  • Consumir água filtrada;
  • Evitar o uso de panelas com superfície antiaderente;
  • Utilizar cosméticos livres de carga tóxica.

Atividade física

Através da prática de exercícios, principalmente os aeróbicos, acontece a queima de gordura, que pode ajudar a eliminar, ou prevenir, a gordura excessiva do fígado, melhorando as condições de saúde relativas a esse quadro. 

Além disso, através do fortalecimento muscular que a prática de atividades físicas proporciona, é possível reduzir os níveis de insulina, o que também é um fator importante para estimular a queima do estoque de gordura na região, prevenindo o seu acúmulo em excesso. 

É através da atividade física, também, que se torna possível induzir a alteração no metabolismo do fígado, reduzindo os níveis de triglicerídeos e colesterol LDL (ruim), aumentando consequentemente os níveis de colesterol HDL (bom).

Ativos que auxiliam na saúde hepática

Existem alguns ativos de uso oral que podem auxiliar na prevenção ou no tratamento de condições relacionadas à saúde do fígado. São eles:

  • Silimarina: fitoterápico mais pesquisado por sua importante ação antioxidante, auxiliando na preservação do fígado diante de possíveis substâncias tóxicas que possam afetar a sua saúde.
  • Licorice: possui ação anti-inflamatória que pode ajudar na redução da intensidade das hepatites.
  • Curcumina: também tem propriedades anti-inflamatórias que podem ajudar a reduzir a replicação viral, possuindo ação hepatoprotetora. 
  • Fosfatidilcolina: constituída por um grupo de ácido graxo, fosfato e colina, o ativo fosfatidilcolina auxilia na recuperação dos hepatócitos quando danificados pela exposição ao álcool, reforçando a função protetora do fígado.

Produtos complementares

Uma das alternativas que pode ajudar a manter o fígado saudável, é optar por suplementos com fórmulas que favoreçam a saúde como um todo, potencializando a hidratação, favorecendo o consumo de fibras, proporcionando a ingestão de vitaminas essenciais para o organismo e favorecendo a imunidade.

Fonte: Essential Nutrition

COMPOSTOS BIOATIVOS: OS BENEFÍCIOS DO CONSUMO DE CHÁS

O chá é a segunda bebida mais consumida no mundo, depois da água. Muitos países ao redor do mundo são conhecidos por apreciarem os mais diversos tipos de chás, como a China, Japão, Reino Unido e Turquia. Nesses locais o chá é um elemento cultural muito forte. Algumas dessas populações mostram um perfil epidemiológico diferente de outras que não tem hábito de consumir a bebida. Esse perfil despertou (e desperta) em diversos pesquisadores a curiosidade de investigar as propriedades benéficas dessa bebida.

A seguir conheceremos algumas dessas propriedades e quais são os alvos de interesse para manutenção da saúde.

Chá Verde (Camellia sinensis)

Esta bebida perfumada se originou na China em 2.737 AC. Segundo o mito, um imperador chinês estava sentado sob uma árvore Camellia sinensis enquanto seu servo fervia água potável. O vento jogou algumas folhas da árvore na água e o imperador resolveu experimentar a bebida que seu servo criou por acaso. Dessa forma a cultura do chá verde foi estabelecida na China por vários séculos antes de chegar ao Ocidente – isso se deve às suas propriedades e sabor. Cerca de três bilhões de quilos de chá verde são produzidos e consumidos anualmente. O chá verde é fabricado por meio da secagem de folhas de Cemellia sinensis frescas. Contém compostos polifenólicos característicos: (-)-epigalocatequina-3-galato (EGCG), 3(-)-epigalocatequina (EGC), (-)-epicatequina-3-galato (ECG) e (-)-epicatequina (EC). Esses compostos são comumente conhecidos como catequinas. Uma bebida de chá típica, preparada na proporção de 1g de folha para 100mL de água em uma infusão de 3 minutos, geralmente contém de 250 a 350mg de sólidos de chá, compostos por 30 a 42% de catequinas e 3 a 6% de cafeína. A EGCG é a catequina mais abundante e tem recebido um maior enfoque.

As propriedades mais amplamente reconhecidas dos polifenóis do chá são suas atividades antioxidantes, decorrentes de sua capacidade de eliminar espécies reativas de oxigênio. Os polifenóis do chá também se ligam aos íons metálicos, impedindo-os de participar das reações peroxidativas. Foi demonstrado que o chá verde e preto e os polifenóis isolados do chá eliminam as espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, reduzindo seus danos às membranas lipídicas, proteínas e ácidos nucléicos em células.

Essas propriedades auxiliam em diversos aspectos, são eles: câncer, doenças cardiovasculares, obesidade, esteatose hepática, termogênese do tecido adiposo marrom e aumento da taxa metabólica basal.

Bitter Orange (Citrus aurantium)

O extrato de Citrus aurantium é amplamente conhecido como extrato de laranja amarga, um produto que é derivado dos frutos imaturos (verdes) da laranja. Também é conhecido como “Zhi Qiao” na medicina tradicional chinesa e é muito utilizado para promover a digestão e diurese.

O extrato de Citrus aurantium e seu principal constituinte protoalcalóide p-sinefrina estão amplamente presentes em produtos de controle de peso e como agentes termogênicos. Eles também são usados em produtos de desempenho esportivo para aumentar a resistência. O extrato de laranja amarga é usado em produtos para controle de peso devido aos seus efeitos nos processos metabólicos, incluindo um aumento na taxa metabólica basal e lipólise, bem como supressão moderada do apetite.

Gengibre (Zingiber officinale)

O gengibre, que pertence à família Zingiberaceae e ao gênero Zingiber, é comumente consumido como tempero e um medicamento fitoterápico há muito tempo. A raiz de gengibre é usada para atenuar e tratar várias doenças comuns, como dores de cabeça, resfriados, náuseas e vômitos.

Muitos compostos bioativos no gengibre foram identificados, como compostos fenólicos e terpênicos.

Os compostos fenólicos são principalmente gingeróis, shogaols e paradols, que são responsáveis ??pelas várias bioatividades do gengibre. Nos últimos anos, descobriu-se que o gengibre possui atividades biológicas, como: atividades antioxidantes, anti-inflamatórias, antimicrobianas e anticâncer.

Além disso, estudos acumulados têm demonstrado que o gengibre possui potencial para prevenir e controlar várias doenças, como doenças neurodegenerativas, doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes mellitus, náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia e distúrbios respiratórios.

Em um estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, a ingestão de gengibre diminuiu os níveis de insulina, colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-C) e TG; diminuiu o HOMA; e aumentou a sensibilidade à insulina em pacientes com DM2. Além de tratar, outras pesquisas mostram que o gengibre e seus compostos bioativos podem ter um efeito preventivo: proteger contra o desenvolvimento do diabetes mellitus e suas complicações, provavelmente diminuindo o nível de insulina produzido, mas aumentando a sensibilidade a ela.

Cúrcuma (Curcuma longa)

Os curcuminóides são compostos fenólicos derivados do ácido ferúlico. A curcumina é um membro dessa família e contém duas moléculas de ácido ferúlico ligadas por um metileno, com uma estrutura h-dicetona em um sistema altamente conjugado.

Os curcuminóides não são usados apenas como medicamentos tradicionais chineses, mas também como especiarias comuns ou corantes naturais.

Esses compostos fenólicos têm sido bem estudados especialmente por suas propriedades antioxidantes potentes: possuem ação anticâncer, anticarcinogênica e antimutagênica.

Canela (Cinnamomum cassia)

Cinnamomum cassia é uma espécie arbórea aromática pertencente à família Lauraceae. Ela está distribuída na China, Índia, Vietnã, Indonésia e outros países. Da casca de seus ramos jovens se obtém a canela, amplamente utilizada em todo o mundo por sua fragrância e sabor picante.

Pode ser usada não apenas como condimento diário, mas também como matéria-prima para produtos médicos.

No ocidente é frequentemente usada como tempero, como um suplemento alimentar – especialmente por ser fonte de cumarina. Na Ásia, a canela é geralmente usada como medicamento.

Na China, desde 1963, a canela está listada na Farmacopeia nacional e existem mais de 500 fórmulas contendo esse ingrediente – muitas fórmulas com foco para tratar várias doenças endocrinológicas e metabólicas, cardiovasculares, gastrointestinais crônicas, ginecológicas e inflamatórias.

Atualmente, muitos estudos têm sido feitos nas áreas de farmacologia e fito química e mais de 160 compostos foram identificados na canela. Esses estudos confirmam que ela tem uma ampla gama de aplicações farmacológicas, incluindo ações antitumorais, anti-inflamatórias e analgésicas, antidiabéticas e antiobesidade, antibacterianas e antivirais, protetora cardiovascular, citoprotetoras, neuroprotetoras e imunorreguladoras.

Em termos de gerenciamento do peso e melhora do metabolismo energético, a canela parece aumentar a captação de glicose e a oxidação da glicose, bem como a síntese de glicogênio e a fosforilação do receptor de insulina – por isso ela é muito utilizada por pacientes diabéticos.

Em suma, todos os efeitos protetores naturais podem resultar da ação de substâncias complexas, desconhecidas ou menos conhecidas e até mesmo de um efeito combinado desse coquetel de antioxidantes presentes nas plantas – sejam de uso dietético ou medicinais.

Referências Bibliográficas

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Fonte: Vitafor

SEPSE: QUAL PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL E EIXO INTESTINO-FÍGADO?

Os efeitos da doença crítica/aguda na microbiota humana já são bem conhecidos, visto a necessidade – em muitos casos – do uso de antibióticos de largo espectro. Ainda, alterações fisiológicas como o jejum e estresse, bem como intervenções terapêuticas, das quais fazem parte inibidores da bomba de prótons e a mudança associada no pH, influenciam fortemente o microbioma humano em pacientes internados nas UTI.

A comunicação entre intestino e fígado é essencial para a digestão, metabolismo dos nutrientes e liberação de produtos destes processos. Com isso, é comum que em doenças hepáticas haja um desbalanço da microbiota intestinal, levado ao quadro de disbiose, devido às alterações nas funções normais do fígado.

Um estudo de Ma e colaboradores (2018) evidenciou que espécies comensais de Clostridrium impedem uma resposta imune eficaz contra tumores hepáticos primários e metástases hepáticas, não por seus próprios metabólitos, mas por modificação microbiana dos ácidos biliares produzidos pelo hospedeiro.

Variados efeitos do microbioma intestinal nas funções metabólicas do fígado já foram postulados, mostrando que uma alimentação rica em lipídeos leva ao supercrescimento bacteriano no intestino, ocasionando a disbiose. Com isso, há elevação do pH intestinal, ocasionando deficiência em colina, contribuindo para o desenvolvimento de doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD, em inglês, non-alcoholic fatty liver disease) e esteatose hepática.

Ainda, o hábito etilista exacerbado também se correlaciona com a disbiose intestinal, pela redução de espécies de lactobacilos e aumento na produção de etanol e acetaldeído pelas bactérias. Esses metabólitos podem aumentar a permeabilidade intestinal e, associado ao transporte de produtos microbianos para o fígado, que induzem um processo inflamatório resposta, podendo causar doença hepática alcoólica.

Com o demonstrado acima – e em mais diversos estudos – há evidências que suportam um papel das alterações no microbioma intestinal em desencadear insuficiência hepática crônica aguda e admissão de pacientes com doença hepática crônica na UTI. Ademais, outros relatos indicam que tais alterações se traduzem em biomarcadores associados com acute on chronic liver failure ACLF e maior mortalidade de pacientes hospitalizados.

A comunicação entre hormônios derivados da microbiota intestinal e sinalização neuronal, bem como o gradiente de nutrientes e substratos do fígado, alteram a área das funções metabólicas, incluindo a produção de bile, sinalizando o eixo intestino-fígado um alvo vulnerável devido a regulação recíproca do metabolismo e da microbiota.

Por isso, o uso de antibióticos de largo espectro, por seus efeitos “off-target” na microbiota deve ser motivo óbvio de preocupação dos profissionais da saúde, quando no cuidado dos pacientes sépticos.

Tais alterações de microbiota afetam profundamente o “segundo genoma” dos indivíduos (conjunto de genomas transportados pela microbiota), levando a efeitos substanciais no metabolismo do hospedeiro.

Abordagens para corrigir a microbiota do hospedeiro são de grande interesse para o desenvolvimento de tratamentos, com a descontaminação seletiva do aparelho digestivo sendo o exemplo mais estudado para uma intervenção mais ampla. Esse procedimento visa remover micro-organismos potencialmente patogênicos, resultando em modificações na resistência antimicrobiana, mas, ainda é alvo de discussões e resultados controversos.

Como alternativa, a administração de bactérias benéficas ao organismo, através da indicação de uso de probióticos orais – ou, ainda, com o transplante fecal – tem sido estudado, mesmo que com dados, ainda ambivalentes.

De modo geral, os impactos negativos ocasionados pelo uso de antibióticos dentro da UTI ainda não recebem a atenção necessária pelos profissionais de saúde. Ainda mais que, os estudos iniciais do uso de antibióticos dentro da terapia intensiva levavam em consideração hospedeiros saudáveis como sendo os que eram desprovidos de quaisquer organismos patogênicos.

Nesse sentido, considerar a utilização de probióticos e prebióticos podem ser estratégias adjuvantes para a reabilitação da microbiota intestinal nesses pacientes.

 

Referências:

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Fonte: Vitafor

EVIDÊNCIAS DO COLOSTRO BOVINO PARA SAÚDE INTESTINAL E PERFORMANCE

Em qualquer circunstância, o entendimento da homeostase orgânica, gerada em função de demandas e ofertas, é de fundamental importância para que haja raciocínio lógico acerca das possíveis condutas nutricionais. Estresse oxidativo, balaço inflamatório, mudança de microbiota são exemplos de respostas adaptativas ou patológicas que podem ser moduladas em função do estado nutricional, suplementação etc. Frente ao exercício, indivíduos sedentários (portanto, inativos) não apresentam as mesmas respostas adaptativas em comparação a pessoas fisicamente ativas. Logo, não há necessidade de buscar adaptações imunológicas e/ou de rendimento, da mesma maneira. O mesmo vale para atletas de alto rendimento amadores e profissionais que, por sua vez, tendem a entrar em curva de “desadaptação” em resposta as altas demandas de treinamento (Drager et al, 2014).

                Porém, para qualquer situação em que se busca resposta adaptativa através da via oral (suplementação), é condição sine qua non que haja uma boa saúde do trato gastrointestinal afim de suportar as demandas a nível de digestão e absorção. Uma vez que o intestino tem se mostrado um órgão “plástico” e adaptável ao exercício e treinamento (Jeukendrup et al, 2017), a busca por estratégias nutricionais que hajam como ergogênicas em tais situações têm sido constante pela literatura e, dentre estas, o colostro bovino vem recebendo atenção há alguns anos.

                Por definição, o colostro bovino também é conhecido como “o primeiro leite”, secretado pelas glândulas mamárias durante as primeiras 24 a 72 horas após o parto, apresentando-se como um líquido espesso, pegajoso e gelatinoso (Bagwe et al, 2015).

Rak e Bronkowska (2014) definem o colostro bovino como um dos imunoestimulantes naturais mais ricos. É composto por fatores de crescimento, imunoglobulinas, citocinas, lactoferrina, lisozima e hormônio do crescimento (Shing et al, 2019). Em termos quantitativos em comparação ao leite de vaca comum, o colostro possui 40 vezes mais o número de compostos bioativos, 100 vezes mais imunoglobulina A (Bagwe et al, 2015), 10 vezes mais lactoferrina e tem o IGF-1 como principal fator de crescimento (Francis et al, 1988).

                As tabelas 1 e 2 resumem os principais componentes e possíveis ações biológicas do colostro bovino, respectivamente.

              

Como descrito na tabela 2, acredita-se que os compostos bioativos presentes no colostro bovino melhoram a integridade da parede celular intestinal, bem como a tolerância à hipóxia, estresse térmico e oxidativo (Marchbank et al, 2011). In vitro, a suplementação de colostro protege contra aumento de apoptose induzido pela temperatura e indução da expressão de proteína de choque térmico em células intestinais humanas (Davison et al, 2016; Marchbank et al, 2011). O calor, além do exercício, amplifica a hipóxia esplênica redistribuindo o sangue para a pele, contribuindo possivelmente para danos adicionais às células endoteliais (Costa et al, 2020). Isso foi demonstrado com concentrações de proteínas intestinais inflamatórias significativamente mais altas pós-exercício em ambientes aquecidos em comparação com ambientes termoneutros (Chantler et al, 2020).

Os estudos que investigaram a suplementação de colostro bovino incluíram colostro sozinho e em combinação com zinco e carnosina. O tempo médio dos estudos varia de 2 a 14 dias. Estudos de dosagem pareada (20 g/dia) avaliando dano endotelial mostraram um efeito positivo do colostro após o exercício a 22°C (March et al, 2017) e 30°C (March et al, 2019), mas não a 40°C (McKenna et al, 2017).

Figura 1 – Concentração de proteína inflamatória intestinal antes e após o exercício, com e sem a suplementação de colostro. Extraído de March et al. (2017).

Figura 2 – Concentração de proteína inflamatória intestinal antes e após o exercício, com e sem a suplementação de colostro. Extraído de March et al. (2019).

Apenas 1 estudo considerou a comparação entre indivíduos treinados e não treinados, mostrando que o nível de treinamento não alterou a resposta à suplementação de colostro bovino em comparação com a condição placebo. Os autores notaram uma maior concentração de proteínas inflamatórias intestinas pós-exercício nos participantes treinados em comparação com os não treinados, mas isso foi independente da suplementação de colostro. Este estudo utilizou uma alta dosagem de colostro bovino (126 a 140g·dia, com base na massa corporal média) sem efeitos negativos relatados (Morrison et al, 2014).

Uma razão que pode justificar a falta de resultados positivos em alguns estudos pode estar na diferença nos componentes bioativos do próprio colostro bovino. Halasa et al. (2020), investigaram o impacto do atraso na ordenha pós-parto na capacidade do colostro bovino de reduzir os marcadores de permeabilidade em atletas amadores. Os autores observaram que o colostro bovino obtido 72 horas após o parto foi menos eficaz do que o colostro de 2 e 24 horas após o parto. Ou seja, a diferença na eficácia pode ser da mudança natural nos compostos bioativos pós-parto. Esta informação também foi confirmada por estudos laboratoriais (Playford et al, 2020).

Referências

1. Bagwe et al, 2015 / 2. Chantler S, Griffiths A, Matu J, Davison G, Jones B, Deighton K. The effects of exercise on indirect markers of gut damage and permeability: a systematic review and meta-analysis. Sport Med. 2020. / 3. Costa RJS, Gaskell SK, McCubbin AJ, Snipe RMJ. Exertional-heat stress-associated gastrointestinal perturbations during Olympic sports: Management strategies for athletes preparing and competing in the 2020 Tokyo Olympic Games. Temperature. 2020;7: 58–88. / 4. Davison G, Marchbank T, March DS, Thatcher R, Playford RJ. Zinc carnosine works with bovine colostrum in truncating heavy exercise-induced increase in gut permeability in healthy volunteers. Am J Clin Nutr. 2016;104: 526–536. / 5. Dreager et al. J Int Soc Sports Nutr (2014) / 6. Francis et al, 1988 / 7. Jeukendrup et al, 2017/ 8. March DS, Jones AW, Thatcher R, Davison G. The effect of bovine colostrum supplementation on intestinal injury and circulating intestinal bacterial DNA following exercise in the heat. Eur J Nutr. 2019;58: 1441–1451. / 9. March DS, Marchbank T, Playford RJ, Jones AW, Thatcher R, Davison G. Intestinal fatty acid-binding protein and gut permeability responses to exercise. Eur J Appl Physiol. 2017;117: 931–941. / 10. Marchbank T, Davison G, Oakes JR, Ghatei MA, Patterson M, Moyer MP, et al. The nutriceutical bovine colostrum truncates the increase in gut permeability caused by heavy exercise in athletes. Am J Physiol—Gastrointest Liver Physiol. 2011;300: 477–484. / 11. McKenna Z, Berkemeier Q, Naylor A, Kleint A, Gorini F, Ng J, et al. Bovine colostrum supplementation does not affect plasma I-FABP concentrations following exercise in a hot and humid environment. Eur J Appl Physiol. 2017;117: 2561–2567. / 12. Morrison SA, Cheung SS, Cotter JD. Bovine colostrum, training status, and gastrointestinal permeability during exercise in the heat: A placebo-controlled double-blind study. Appl Physiol Nutr Metab. 2014;39: 1070–1082. / 13. Playford RJ, Cattell M, Marchbank T. Marked variability in bioactivity between commercially available bovine colostrum for human use; implications for clinical trials. PLoS One. 2020;15: 1–16. / 14. Shing et al, 2019

Fonte: Vitafor

EFEITOS DA CÚRCUMA LONGA SOB A DISFUNÇÃO ENDOTELIAL EM DIABETES MELLITUS TIPO 2.

Segundo a International Diabetes Federation (2019), dentre os dez principais países ou territórios com maior número de adultos diabéticos, na faixa etária entre 20 e 79 anos, a quinta posição está ocupada pelo Brasil com as seguintes estimativas para os anos de 2019, 2030 e 2045: 16,8 milhões, 21,5 milhões e 26 milhões, respectivamente. O aumento nos casos possui associação com diversos fatores, como: rápida urbanização, transição epidemiológica e nutricional, sedentarismo, excesso de peso, aumento da expectativa de vida e de sobrevida dos indivíduos diabéticos (SBD, 2019).

No DMT2 o estado de hiperglicemia crônica pode levar à níveis aumentados de produtos finais de glicação avançada (AGEs) que atuam diretamente nas células, causando efeitos pró-inflamatórios e estresse oxidativo. O mecanismo envolvido está relacionado a ativação da proteína quinase C que altera o metabolismo dos eicosanoides, pode levar a indução de auto oxidação da glicose resultando em espécies reativas de oxigênio (EROs). Muito agravos podem ser ocasionados pelas EROs no quadro de diabetes devido diminuição dos canais de transporte de glicose e da secreção de insulina, fragmentação e oxidação de proteínas, danos ao DNA, formação de ácidos graxos livres e aumento da permeabilidade vascular, além de contribuir para o aumento na formação de AGEs, disfunção endotelial e desenvolvimento de complicações microvasculares e macrovasculares (Marton, Pescinini-e-Salzedas, Camargo, Barbalho, Haber, Sinatora et al, 2021).

Curcuma longa L. (açafrão da terra) é uma espécie vegetal da família Zingiberaceae originária do sudeste da Ásia, sendo a parte utilizada para fins medicinais e culinários, o rizoma. Os principais compostos fenólicos encontrados são os curcuminóides: curcumina, bisdemetóxicurcumina e demetóxicurcumina, que apresentam moderada solubilidade em ambiente aquoso, sendo este um empasse para sua biodisponibilidade que pode ser melhorada quando associados à Piper nigrum (pimenta preta) ou gorduras (Brad e Dallas, 2015; Brasil, 2015).

Para a Curcuma longa são atribuídos benefícios no DMT2 devido sua ação antioxidante, anti-inflamatória, relatos de sua capacidade em reduzir níveis glicêmicos, marcadores de disfunção endotelial, e melhorar o perfil lipídico (Marton, Pescinini-e-Salzedas, Camargo, Barbalho, Haber, Sinatora et al, 2021). A curcumina apresenta atividade antioxidante capaz de eliminar EROs, controlar danos ao DNA, redução da peroxidação lipídica mediada por radicais livres, aumento de glutationa e superóxido dismutase (El-Bahr, 2013; Rahmani, Alsahli, Aly, Khan, Aldebasi, 2018). A curcumina se mostra efetiva na prevenção do processo inflamatório via inibição de várias vias moleculares à exemplo da ciclooxigenase (COX), fator de necrose tumoral alfa (TNF-?), fator nuclear ?b (NF- ?b) e interleucina 6 (IL-6) (Rahmani, Alsahli, Aly, Khan, Aldebasi, 2018).

Devido ao exposto, o aumento da rigidez arterial central e endotelial é característico em quadro de diabetes. Um ensaio clinico randomizado controlado por placebo, com o objetivo de avaliar a intervenção com 400 mg de Curcuma longa na rigidez arterial e endotelial, em 114 pacientes com DMT2, pelo período de 3 meses, encontrou que o grupo intervenção reduziu significativamente, comparado à linha de base, a velocidade da onda de pulso carotídeo-femoral (p = 0,002), velocidade da onda de pulso braquial-tornozelo esquerdo (p = 0,001), aumento da pressão da aorta (p = 0,007), índice de aumento da aorta (p = 0,007) em comparação com o grupo de placebo, concluindo que três meses de tratamento com o fitoterápico diminuiu significativamente a rigidez arterial em comparação com placebo, se apresentando como seguro e sem efeitos adversos importantes relatados nesta pesquisa (Srinivasan, Selvarajan, Kamalanathan, Kadhiravan, Lakshmi, Adithan, 2019).

Resultados de outro ensaio clinico randomizado e controlado por placebo, após intervenção com açafrão da terra na dose de 2,1g em 75 pacientes, por oito semanas, indicaram redução significativa do peso corporal, triglicérides, LDL-c, colesterol total, sem mudanças em PCR ultrassensível, no estado glicêmico e capacidade antioxidante total, possivelmente pelo curto tempo de segmento da pesquisa (Adab, Eghtesadi, Vafa, Heydari, Shojaii, Haqqani, Arablou et al, 2019).

Atualmente os estudos conduzidos com Curcuma longa são heterogêneos no tocante a doses, tempo de intervenção e tipo de extrato utilizado que podem impactar nos achados acerca do uso em DMT2. É indiscutível que se apresenta como alternativa segura, com eventos adversos fracos e promissora para esses pacientes, porém mais estudos são necessários.

Referências:

1. Adab Z, Eghtesadi S, Vafa M-R, Heydari I, Shojaii A, Haqqani H, Arablou T, et al. Effect of turmeric on glycemic status, lipid profile, hs?CRP, and total antioxidant capacity in hyperlipidemic type 2 diabetes mellitus patients. Phytotherapy Research. p.1-9, 2019. DOI: 10.1002/ptr.6312. / 2. Brad JD, Dallas L. Beyond yellow curry: Assessing commercial curcumin  absorption technologies. Journal of the American College of Nutrition. v. 34, n. 4, p.347–358, 2015. Doi: 10.1080 / 07315724.2014.950392. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4536942/. Acesso em: 10 de agosto de 2022. / 3. Brasil. Ministério da Saúde. Anvisa. Monografia da espécie Cúrcuma  longa  L.  (CURCUMA). Brasília. 2015. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/22/Monografia-Curcuma-CP-corrigida.pdf. Acesso em: 05 de agosto de 2022. / 4. International Diabetes Federation. IDF Atlas. 9ª ed. Bruxelas: International Diabetes Federation, 2019. Disponível em: https://www.diabetesatlas.org/upload/resources/material/20200302_133351_IDFATLAS9e-final-web.pdf. Acesso em 30 de agosto de 2022. / 5. Marton LT, Pescinini-e-Salzedas LM, Camargo MEC, Barbalho SM, Haber JFdosS, Sinatora RV, et al. The Effects of Curcumin on Diabetes Mellitus: A Systematic Review. Frontiers in Endocrinology.  v.12, 2021. Doi: 10.3389/fendo.2021.669448. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fendo.2021.669448/full. Acesso em: 10 de julho de 2021. / 6. Rahmani AH, Alsahli MA, Aly SM, Khan MA, Aldebasi YH. Role of Curcumin in Disease Prevention and Treatment. Advanced Biomedical Research. p. 7-38, 2018. Doi: 10.4103/abr.abr_147_16. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5852989/. Acesso em: 29 de agosto de 2021. / 7. Sociedade Brasileira de Diabetes. SBD. Diretrizes Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020. São Paulo: Clanad, 2019. Disponível em: https://diabetes.org.br/.  / 8. Srinivasan A, Selvarajan S, Kamalanathan S, Kadhiravan T, Lakshmi NCP, Adithan S. Effect of Curcuma longa on vascular function in native Tamilians with type 2 diabetes mellitus: A randomized, double?blind, parallel arm, placebo?controlled trial. Phytotherapy Research. v.33, p.1898–1911, 2019. DOI: 10.1002/ptr.6381.

Fonte: Vitafor

PROBIÓTICOS: UM OLHAR ANSIOLÍTICO

A microbiota intestinal é correspondida por trilhões de microorganismos hospedados ao longo do trato gastrointestinal sendo eles bactérias, fungos, vírus, protozoários e outros. A proporção dessa disposição em conjunto com diversos outros fatores pode caracterizar um intestino com disbiose, ou seja, desiquilíbrio entre as bactérias constituintes da flora.

O eixo cérebro- intestino diz respeito a sinalização de forma bidirecional que envolve o Sistema Nervoso Entérico (SNE) para modulação dos sistemas mantendo sua homeostase. Estudos demonstram que a combinação de múltiplas cepas probióticas quando utilizadas nos transtornos psicológicos tendem à redução da sintomatologia e isso se dá por diversos mecanismos como efeito anti-inflamatório intestinal, aprimoramento da resposta imunológica, redução de marcadores de inflamação, comunicação por meio do nervo vago, dentre outros.

Em 17 de julho de 2022 a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou sua maior revisão mundial sobre saúde mental do último século em que é enfatizada a necessidade de medidas significativas em direção ao cuidado mental. Também é apresentada no documento que em 2019 aproximadamente um bilhão de pessoas viviam com transtorno mental, além disso, nos últimos tempos é vista uma curva de ascendência aos distúrbios psicológicos como após a pandemia do COVID-19 onde apresentou-se aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão em todo o mundo.

As causas para ansiedade, estresse, depressão e demais distúrbios psicológicos são multifatoriais e com isso, a alimentação bem como suplementação de forma isolada não são apresentadas como “cura”, contudo, advêm como mecanismos de melhora nos quadros bem como fatores preventivos.

Dentre essa perspectiva, vê-se como interessante a utilização de probióticos (microrganismos vivos capazes de gerar efeitos benéficos a saúde) e prebióticos (fibras que tem ação fertilizante e estimulante ao crescimento de bactérias benéficas ao intestino) para melhora do quadro de ansiedade, depressão e demais transtornos. Entretanto, são necessários mais estudos afins de estabelecer protocolos de tratamento.

Referências:

1. Berk, M., Williams, L.J., Jacka, F.N. et al. So depression is an inflammatory disease, but where does the inflammation come from?. BMC Med 11, 200 (2013). https://doi.org/10.1186/1741-7015-11-200. / 2. Goh, KK, Liu, Y.-W., Kuo, P.-H., Chung, Y.-CE, Lu, M.-L., & Chen, C.-H. (2019). Effect of probiotics on depressive symptoms: A meta-analysis of human studies. Psychiatry Research, 112568. doi:10.1016/j.psychres.2019.112568. / 3. OMS- ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. OPAS – Organização Pan- Americana da Saúde. OMS destaca necessidade urgente de transformar saúde mental e atenção. In: OMS destaca necessidade urgente de transformar saúde mental e atenção. ISBN: 9789240049338. ed. [S. l.]: World Health Organization, 2022. / 4. WHO- WORLD HEALTH ORGANIZATION. Mental Health and COVID-19: Early evidence of the pandemic’s impact – Scientific brief, 2022.Disponível em: WHO/2019-nCoV/Sci_Brief/Mental_health/2022.1 / 5. WHO- WORLD HEALTH ORGANIZATION. World mental health report: transforming mental health for all. / 6. Geneva: World Health Organization; 2022. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.

BENEFÍCIOS DO ÔMEGA 3 NA ACNE

A acne é uma doença inflamatória crônica da unidade pilossebácea de etiologia multifatorial (1). É considerada uma das doenças mais frequentes em adolescentes e adultos jovens, acometendo 85% dos indivíduos entre 12 e 24 anos e comprometendo 9,4% da população mundial (2).

Além dos tradicionalmente descritos, as evidências atuais sobre a patogênese da acne mostram que determinados fatores influenciam o desenvolvimento e a exacerbação das lesões, como genética, estresse e, principalmente, dieta (3).

Dietas contêm altos níveis de ácidos graxos poli-insaturados 6 (PUFAs), que são mediadores essenciais da inflamação e impactam positivamente a acne. Alguns estudos mostram que a ingestão regular de peixe pode reduzir a acne, pois contém altos níveis de ácido n-3 eicosapentaenóico (EPA), que atua como um inibidor competitivo da conversão de ácido araquidônico (AA) em mediadores inflamatórios, como a prostaglandina E2 (PGE2) e leucotrieno B4 (LTB4), reduzindo a inflamação associada à acne (4).

Dois estudos examinaram a gravidade da acne em resposta a suplementação de ômega 3. Em um grupo de 45 pacientes com acne leve a moderada, Jung e cols. (5) observaram redução na contagem de lesões inflamatórias após 5 semanas de 2.000mg/dia de EPA + DHA. Da mesma forma, uma melhora significativa na avaliação subjetiva do paciente foi observada após 5 semanas quando comparado ao controle.

Um estudo de coorte prospectivo precoce de 13 pacientes saudáveis ??do sexo masculino com acne inflamatória não tratada foi realizado por Khayef e cols. (6) usando uma dose semelhante de ômega 3 (930mg de EPA e 720mg de DHA). Embora não tenham encontrado estatísticas com relação a contagem de lesões inflamatórias quando em comparação com a linha de base em 12 semanas, quando os pacientes foram estratificados pela gravidade da acne na linha de base, uma melhora significativa foi encontrada naqueles com acne moderada a grave no início do o estudo, com 7 de 8 pacientes melhorando.

Dietas ricas em ácidos graxos saturados aumentam a expressão do receptor TLR2/IL-1B, promovendo a diferenciação das células TH17 e aumentando a secreção de IL-17A. O aumento de IL-1B e IL-17A pode ser encontrado em todas as lesões de acne. A IL-17A contribui para a hiper proliferação dos queratinócitos e diminui a sua diferenciação. Desta forma precisamos também reduzir a ingestão de gordura saturada em pacientes com acne.

Alguns estudos relataram que a baixa ingestão de vegetais e frutas pode agravar a acne. Em contraste, a dieta mediterrânea – rica em vegetais, frutas, antioxidantes, ácidos graxos insaturados e alimentos com baixo índice glicêmico – tem um efeito protetor contra o desenvolvimento dessa condição (7).

Orientações para pacientes com acne:

– Aumentar a ingestão de alimentos fontes de ômega 3

– Suplementação de ômega 3

– Reduzir a ingestão de gordura saturada

– Aumentar o consumo de frutas e verduras

– Dieta com alimentos anti-inflamatórios

Referências Bibliográficas:

1. Thiboutot D, Dréno B, Abanmi A, Alexis AF, Araviiskaia E, Barona Cabal MA, et al. Practical management of acne for clinicians:an international consensus from the Global Alliance to Improve Outcomes in Acne. J Am Acad Dermatol. 2018;78:S1-S23.e1. / 2. Tan JK, Bhate K. A global perspective on the epidemiology of acne. Br J Dermatol. 2015;172:3-12. / 3. Hazarika N. Acne vulgaris:new evidence in pathogenesis and future modalities of treatment. J Dermatolog Treat. 2021;32:277-85. / 4. Jung JY, Yoon MY, Min SU, Hong JS, Choi YS, Suh DH. The influence of dietary patterns on acne vulgaris in Koreans. Eur J Dermatol. 2010;20:768-72. 5. Jung JY, Kwon HH, Hong JS, et al. Effect of dietary supplementation with omega-3 fatty acid and gamma-linolenic acid on acne vulgaris: a randomised, double-blind, controlled trial. Acta Derm Venereol. 2014;94(5):521-525. doi:10.2340/ 00015555-1802 17./ 6. Khayef G, Young J, Burns-Whitmore B, Spalding T. Effects of fish oil supplementation on inflammatory acne. Lipids Health Dis. 2012;11(1):165. doi:10.1186/1476-511X-11-165 / 7. Skroza N, Tolino E, Semyonov L, Proietti I, Bernardini N, Nicolucci F, et  al. Mediterranean diet and familial dysmetabolism as factors influencing the development of acne. Scand J Public Health. 2012;40:466-74.

Fonte: Vitafor

VEGANISMO E PERFORMANCE NO ENDURANCE

O veganismo tem ganhado cada vez mais atenção no campo da nutrição, sobretudo no âmbito da Nutrição Esportiva. Esse estilo de vida – marcado pela ausência de consumo de alimentos e produtos, alimentícios ou não, com origem e teste em animais – e uma das vertentes, o vegetarianismo, desperta muitas dúvidas comuns, como em relação à possibilidade de o adepto manter uma boa performance na prática de endurance, por exemplo.

De acordo com Nebl et. al (2019) a prevalência de corredores vegetarianos e veganos está aumentando, e isso pode ser positivo para esses atletas, visto que é característica dessas dietas ser à base de carboidratos – os quais contribuem com o fornecimento de energia para a prática de tais atividades. Entretanto, ainda segundo os estudiosos, já é sabido que “vegetarianos e especialmente veganos apresentam níveis de ferritina mais baixos, enquanto que os níveis de hemoglobina e a ocorrência de anemia são quase indistinguíveis dos de onívoros” (NEBL et al., 2019, traduzido pelo autor). O mesmo estudo ainda destaca que “a dieta vegana normalmente tem ingestão reduzida de proteínas, creatina e carnitina, o que poderia impactar negativamente a performance” (NEBL et al., 2019, traduzido pelo autor).

Sendo assim, é evidente que a fonte do problema está no desequilíbrio das dietas – veganas ou não – pois, somente assim, elas podem prejudicar o atleta na prática da atividade física, como o endurance. No caso de dietas veganas desequilibradas, há um risco maior para algumas deficiências, tanto de macronutientes, como as proteínas, quanto de micronutrientes, como vitamina B12, vitamina D, e minerais como ferro, zinco, cálcio e iodo (ROGERSON, 2017), de grande importância para uma boa performance.

Todavia, se houver a distribuição adequada de macro e micronutrientes, atingindo a energia necessária de cada atleta individualmente, há estudos, segundo Rogerson (2017), que defendem que essas dietas podem, inclusive, ser benéficas para a perfomance. Isso ocorreria devido a sua caracerística antioxidante, ao maior consumo de alguns micronutrientes – como vitamina C e E – e também à maior ingestão de carboidratos, o que, além dos efeitos positivos na própria prática da atividade, contribui para uma recuperação mais rápida.

Percebe-se então que com os cuidados adequados quanto ao aporte energético e à presença de macro e de micronutrientes em quantidades específicas e suficientes para cada atleta, é possível que atletas sejam veganos e mantenham alto rendimento, desde que seja estabelecida uma boa estratégia de reposição de aminoácidos, com destaque para os BCAA’s – do inglês, Branched-Chain Amino Acids, ou aminoácidos de cadeia ramificada – e vitamina B12, por exemplo, garantindo uma recuperação adequada.

Referências bibliográficas:

1. COUCEIRO, Patricia et al. Padrão alimentar da dieta vegetariana. Einsten, São Paulo, ano 2008, v. 15, p. 365-373, 17 jul. 2018. Disponível em: http://apps.einstein.br/revista/arquivos/PDF/518-v6n3aRW518portp365-73.pdf. / 2. NEBL, Josefine et al. Exercise capacity of vegan, lacto-ovo-vegetarian and omnivorous recreational runners. Journal of the International Society of Sports Nutrition, v. 16, 20 maio 2019. Disponível em: https://jissn.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12970-019-0289-4. / 3. ROGERSON, David. Vegan diets: practical advice for athletes and exercisers. Journal of the International Society of Sports Nutrition, v. 14, 13 set. 2017. Disponível em: https://jissn.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12970-017-0192-9.

Fonte: Vitafor

APLICABILIDADES NA SUPLEMENTAÇÃO DE ARGININA E ASSOCIAÇÕES

Arginina é um aminoácido condicionalmente essencial, ou seja, o corpo é capaz de produzir, mas em determinados pacientes, conforme a necessidade metabólica, é preciso oferecer fonte exógena deste nutriente para suprir a demanda. O consumo estimado de arginina é da ordem de 3g a 6g/dia. (Shao A et al, 2008).

Em termos bioquímicos, a função mais conhecida da arginina é sua capacidade em ser convertida em Óxido Nítrico, um gás produzido nas células endoteliais responsável pela vasodilatação e toda saúde vascular. Entretanto, arginina é necessária para síntese de colágeno (via prolina), creatina, agmatina, poliaminas, manutenção do ciclo da uréia e liberação de hormônios (figura 1). Estudos apresentados na última década relatam ações da arginina nas áreas imunológica, gastrointestinal, estética, reprodutiva, gestacional e endocrinológica.

Figura 1

Funções metabólicas da arginina
Fonte: Holecek M, 2016

Em relação à produção de óxido nítrico e capacidade vasodilatadora, Chen J (1999) testou a suplementação diária de 5g de arginina em homens com disfunção erétil, por 6 semanas, e demonstrou melhora da função sexual.

Outra propriedade importante da arginina via produção de óxido nítrico, é sua capacidade de promover biogênese mitocondrial, reduzindo cansaço e fadiga nos pacientes, bem como ajudando na oxidação de gordura e redução do peso corporal. Além disso, o óxido nítrico é um potente agente estimulante da fosforilação da enzima Adenosina Monofosfato Kinase (AMPK), que induz a translocação de GLUT4, ajudando a reduzir a glicemia de pacientes diabéticos, como também melhorando a sensibilidade a insulina. (figura 2) (Ueda K, 2017; Hu S, 2017).

Figura 2

Modulação do metabolismo da glicose e dos lipídios a partir da arginina
Fonte: Hu S et al, 2017

Arginina é um aminoácido que pode ser prescrito via suplementação também no período gestacional pois está associado a melhora do desenvolvimento e crescimento intrauterino do feto. (Tenório MB et al, 2018) Neste aspecto poder-se-ia indicar a sua suplementação associada a taurina (doses de 3g a 6g tanto de arginina quanto de taurina), já que esta também é bastante efetiva na prevenção do diabetes gestacional e pre-eclampsia, assim como no estimulo ao crescimento intrauterino do feto. (Thaeomor A, wang Y, Roysommuti S, Barker RG) Além disso, o sinergismo destes dois aminoácidos já foi testado em ratos e demonstrado sua eficácia quanto a redução da resistência a insulina, da glicemia e da pressão arterial após 4 semanas ( Feng Y 2013), como também da melhora da massa óssea. (Choi MJ et al 2013).

Um achado importante da arginina é sua capacidade de promover reconstrução e cicatrização de tecido, seja para feridas, escaras, pacientes queimados, pós-radioterapia ou mesmo para reduzir permeabilidade intestinal, além da melhora da imunidade intestinal (Naderpour M, 2008; Pinto FC, 2016; Kong S, 2018). Estudo realizado em camundongos demonstrou que a suplementação de arginina foi capaz de prevenir o aumento da permeabilidade intestinal e da translocação bacteriana nos animais submetidos ao exercício físico sob estresse térmico ambiental. (Costa KA et al, 2014).

Visto que alguns trabalhos mostram a capacidade da arginina em promover cicatrização e ter ação analgésica, seu uso pode ser indicado para praticantes de atividade física possivelmente associado a glutamina e taurina, visando recuperação da permeabilidade intestinal e recuperação da dor pós treino, melhora da distribuição de oxigênio e nutrientes pela vasodilatação, até a melhora da glicemia, pressão arterial e redução de peso.

Neste aspecto, o profissional prescritor pode fazer uso da suplementação para alcançar os objetivos traçados com seu cliente, com doses entre 3g a 6g/dia, com ação ainda mais efetiva quando associada a suplementação de taurina e glutamina, especialmente em pacientes gestantes, obesos, hipertensos, diabéticos, atletas, em risco de osteoporose, com disfunção erétil, apresentando cansaço crônico, imunodeprimidos e hiperalgésicos.

Referências Bibliográficas:

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Fonte: Vitafor

COMO OS PROBIÓTICOS PODEM CONTRIBUIR PARA A MODULAÇÃO DO DIABETES MELLITUS?

Estimativas globais pontuam que 382 milhões de pessoas apresentam diabetes mellitus e que esse cenário pode chegar a 592 milhões em 2035, representando 12,9% da população mundial. Em 2013, o Brasil ocupava a quarta posição entre os países com maior número de pessoas diabéticas, condição que representa um problema de saúde pública em âmbito nacional.

O mês de novembro é marcado pelas campanhas de conscientização do diabetes. No Brasil, a Campanha do Dia Mundial do Diabetes é organizada pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), que busca compartilhar e oferecer informações sobre a importância da prevenção e dos cuidados no diagnóstico para melhorar a qualidade de vida do paciente com a doença.

A adoção de medidas de promoção de saúde para controlar os fatores de risco associados ao diabetes é uma forma efetiva de contribuir para a diminuição da incidência da doença e de suas complicações crônicas que comprometem o bem-estar e a qualidade de vida. No Brasil, em 2011, definiu-se um Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), em que o documento prioriza as ações e os investimentos necessários para que o país possa enfrentar o cenário de doenças crônicas na população, especialmente o diabetes. As medidas associadas às mudanças no estilo de vida tornam-se as estratégias primárias para cuidados preventivos e do tratamento. Entre elas, pode-se destacar o equilíbrio nutricional por meio da alimentação com controle do índice e carga glicêmica, alto teor de fibras e baixa em gorduras saturadas, além da suplementação de compostos que melhorem as alterações metabólicas provenientes da doença.

A literatura científica destaca que a suplementação de probióticos pode favorecer o equilíbrio metabólico, principalmente no controle da resistência à insulina, do perfil lipídico, de biomarcadores de inflamação e dano oxidativo. Esses efeitos benéficos podem ser explicados por conta da eliminação de radicais superóxido e hidroxila, diminuição da sinalização inflamatória e diminuição do peso corporal ocasionados pela regulação bacteriana intestinal.

A microbiota intestinal na promoção do equilíbrio glicêmico!

Estudos relatam que a disbiose intestinal exerce influência nas complicações do diabetes, como retinopatia, toxicidade renal e inflamação gerada pelo excesso de metabólitos pró-inflamatórios gerados pelas bactérias patogênicas. Sendo assim, torna-se essencial a adoção de estratégias que modulem essa microbiota, como o uso de probióticos citado anteriormente. Esses são capazes de recuperar a composição bacteriana saudável e regular a função imune e barreira da mucosa do intestino, desse modo, restaurando o equilíbrio e a homeostase metabólica.

Uma revisão sistemática (2016) citou as evidências pontuadas por uma meta-análise de ensaios clínicos com indivíduos que apresentavam diabetes tipo 2 e que consumiram probióticos. Os efeitos observados foram redução na hemoglobina glicada (HbA1c) e nos níveis de glicemia de jejum. Os resultados mais efetivos foram observados em intervenções com duração maior que 8 semanas, com administração de diferentes cepas bacterianas. A terapia nutricional, ainda, pode auxiliar na redução da resistência à insulina e na otimização do metabolismo da glicose.

A composição da microbiota intestinal depende não apenas da suplementação de probióticos, mas também de componentes que são utilizados pelas bactérias para sintetizar metabólitos importantes para o equilíbrio  glicêmico, como os ácidos graxos de cadeia curta. Entre eles, destacam-se as fibras prebióticas (inulina, fruto-oligossacarídeos) capazes de desempenhar um papel fundamental na homeostase da glicose.

Os ácidos graxos de cadeia curta podem diminuir a permeabilidade intestinal e diminuir as endotoxinas circulantes, amenizando a inflamação e o estresse oxidativo, que são condições que desregulam a ação da insulina. Assim, ocorre uma melhora da sensibilidade insulínica via GLUT-4, através da regulação positiva da sinalização da proteína quinase no tecido muscular e hepático.

Fonte: Vitafor