EFEITO SACIETÓGENO DAS PROTEÍNAS

Proteínas - Bioquímica - InfoEscola

Em condutas dietéticas visando a perda de peso/gordura corporal, uma das condutas mais adotadas dentro do balanço energético negativo é aumentar substancialmente a ingestão de proteínas, pois essa prática tem demonstrado ser benéfica não só para redução da massa gorda, mas também para manter a massa magra corporal (Mettler et al, 2010; Stiegler & Cunliffe, 2006). Embora a ingestão diária recomendada de proteína para adultos saudáveis ??seja de 0,83 g/kg/dia (Rand et al, 2003), a ingestão habitual de proteínas é inevitavelmente maior em torno de 1,2 g/kg/d (Blachier et al, 2019). Além disso, a faixa de consumo de proteína para indivíduos engajados no treinamento de força para elevar a síntese proteica muscular e promover efeitos ergogênicos em termos de desempenho devem ser na ordem de 1,3 a 1,8 g/kg/dia (Phillips & van Loon, 2011; Phillips, 2014). Entretanto, durante o período de déficit energético, a necessidade de proteínas pode ser ainda mais elevada (1,8 a 2,0 g/kg/dia) para atenuar a perda de massa muscular. Há, no entanto, controvérsias sobre se a ingestão de proteínas substancialmente mais alta, variando de 2,3 a 3,1 g/kg/dia, pode de fato produzir resultados mais efetivos (Helms et al, 2014). Adicionalmente, existem evidências de que atletas treinados em força consomem cerca de 4,3 g/kg/dia de proteínas (Spendlove et al, 2015).

O aumento da ingestão de proteínas também pode proporcionar o benefício adicional do aumento da saciedade. Uma meta-análise recente de Dhillon et al. (2016) concluiu que refeições com alto teor de proteínas (variando de 97 a 188 g) aumentavam as taxas de plenitude mais do que refeições com proteínas mais baixas. No entanto, essa meta-análise reuniu apenas estudos agudos (até 10 h) com indivíduos não treinados e, portanto, pode ser que os resultados não sejam necessariamente extrapolados como saciedade de longo prazo (dias /semanas). Ainda, pode haver a possibilidade da pessoa se acostumar a uma alta ingestão de proteínas e que esse aumento adicional da ingestão de proteínas não resulte em saciedade adicional. Esse ponto, em particular, pode ser importante para atletas de força que geralmente consomem dietas ricas em proteínas além dos níveis recomendados (Phillips & van Loon, 2011; Phillips, 2014). Porém, existem estudos sugerindo que o efeito sacietógeno de uma dieta rica em proteínas é relativamente duradouro (Leidy et al, 2007; Moran et al, 2005; Weigle et al, 2005).

Em um estudo agudo, foram avaliadas a saciedade e a taxa metabólica durante um período de 24 horas. Ao longo do dia, a saciedade foi maior no grupo que consumiu maior quantidade de proteína (30% de proteína, 60% de carboidrato e 10% de gordura) em comparação com o grupo que consumiu mais gordura (10% de proteína, 30% de carboidrato e 60% de gordura). Importante ressaltar que esse efeito foi observado durante os períodos pós-prandiais e durante as refeições (Westerterp-Plantenga et al, 1999). Deve-se notar que, neste caso, foi observada uma maior saciedade em resposta a uma carga de ingestão de proteína três vezes maior a condição controle. Corroborando os dados acima, em um estudo de 16 semanas, os indivíduos que consumiram uma dieta rica em proteínas (34%) com baixo teor de gordura (29%) relataram maior saciedade pós-refeição do que os indivíduos que consumiram uma dieta normoproteica (18%) com maior teor de gordura (45%) (Moran et al, 2005).

Há também dados demonstrando que diferentes fontes de proteínas podem afetar a saciedade de modo distinto. Especificamente, foi demonstrado que a ingestão de proteína animal resultou em um gasto energético 2% maior do que a ingestão de uma proteína de soja (Mikkelsen et al, 2000). Além disso, existem evidências de que o esvaziamento gástrico mais rápido e um aumento pós-prandial nas concentrações plasmáticas de aminoácidos após a ingestão de  proteínas (por exemplo, soro de leite versus caseína) (Hall et al, 2003) podem aumentar a saciedade devido a um maior efeito estimulador dos hormônios gastrointestinais, como colecistoquinina e peptídeo 1 do tipo glucagon (Gustafson et al, 2001). No entanto, apesar dos benefícios agudos ou transitórios atribuíveis a algumas proteínas, esse efeito pode ser mascarado pela ingestão concomitante da mistura de proteínas e outros macronutrientes.

Em um resumo, o controle do peso corporal é uma tarefa complexa que envolve a interação de componentes comportamentais com processos hormonais, genéticos e metabólicos. A ingestão de proteínas tem o potencial de desempenhar um papel fundamental em vários aspectos da regulação do peso corporal.

Referências Bibliográficas:

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Fonte: Vitaforscience

EFEITOS FISIOLÓGICOS DO CONSUMO DE TERMOGÊNICOS

termogenicos

Ao longo de anos as substâncias termogênicas vêm sendo utilizadas nas mais diversas condutas nutricionais com o objetivo de controle de massa corporal total, adequação de composição corporal, aumento da taxa de oxidação de gordura corporal, melhora no desempenho físico, dentre outras.

Termogênese pode ser definida como o aumento da produção de calor (Figura 1) através da energia liberada por reações químicas controladas pelo sistema nervoso e que promovem a ativação de vias metabólicas específicas, bem como liberação hormonal, com impacto direto no aumento da taxa metabólica basal, promovendo maior gasto energético (GE) e consequentemente maior mobilização de gordura corporal como substrato para suportar esse maior gasto.

Funcionamento da UCP1 nas mitocôndrias. A UCP1 dissipa o gradiente de prótons gerado pela cadeia respiratória durante a oxidação de nutrientes, levando à liberação de energia como calor

Esse processo ocorre principalmente no tecido adiposo, que pode ser classificado em dois principais tipos (Figura 2): o Tecido Adiposo Marrom, composto por adipócitos que são altamente eficazes na transformação de energia química em calor, recebe esse nome devido ao seu alto número de mitocôndrias contendo ferro, são especializados para dissipar energia na forma de calor, um processo chamado termogênese sem tremor. Tecido Adiposo Bege (depósitos de adipócitos brancos), em certas condições, pode adquirir essa mesma ação do tecido adiposo marrom, aumentando o gasto energético de todo o corpo (Jun Wu et al, 2013).

Tipos diferentes de tecido adiposo

Existem diversas substâncias e possibilidades de combinações de ingredientes utilizadas pela indústria que atingem esse objetivo de aumento na termogênese, seja através de uma proposta de ação direta em vias metabólicas (ex.: cafeína, catequinas, …) seja por uma proposta de ação indireta (ex.: tipos específicos de ácidos graxos, polifenóis ou outros compostos ativos). Essas substancias isoladas ou associadas entre si podem tanto potencializar diferentes vias de mobilização e oxidação de gordura corporal quanto atuar em outras vias para aumentar a eficácia na sua ação, com funcionalidades em outras frentes, proporcionando efeito sinérgico e/ou potencializador no processo de adequação e/ou controle de peso e composição corporal via da termogênese.

A cafeína é um dos agentes estimulantes mais consumidos em todo o mundo, sendo o seu uso assegurado e estabelecido como pacífico por várias instituições como por exemplo, o Comité Olímpico Internacional (COI) (Maughan, 2018). Pesquisas científicas sugerem que a cafeína pode facilitar a perda e a manutenção do peso corpóreo pelo aumento da termogênese, oxidação de gordura e lipólise:

  • aumento da secreção da enzima lipase, uma lipoproteína que mobiliza os depósitos de gordura para utilizá-los como fonte de energia em substituição ao glicogênio muscular, tornando o corpo mais resistente à fadiga (GREENWAY, 2001).
  • inibe a enzima fosfodiesterase, que é responsável pela degradação do mediador químico intracelular adenosina monofosfato cíclico (AMPc), convertendo-o em adenosina, aumentando dessa forma sua meia-vida e levando a um aumento da lipólise (Reza Tabrizi, et al., 2018).

Belza et al. (2007) avaliaram durante oito semanas, 80 homens obesos com idade média de 46,2 anos. A amostra foi dividida em dois grupos que consumiriam de forma randomizada um suplemento bioativo com liberação simples ou placebo. O suplemento bioativo foi consumido em forma de comprimidos e tinha cafeína anidra (150 mg) em sua composição. Verificou-se que a redução da massa corporal gorda foi mais expressiva no grupo que consumiu o suplemento em comparação ao placebo.

Compostos fenólicos como as catequinas presentes no óleo de cartamo (Carthamus tintorius) podem agir sinergicamente à cafeína no processo de indução à termogênese (Seok-Yeong, 2013). Mais recentemente, Lynes (2019) demonstrou ainda que o ácido linoleico presente no óleo de cártamo pode ser convertido em uma lipocina (2,13-diHOME), molécula proposta como um importante mediador na oxidação de gorduras no tecido adiposo marrom, funcionando portanto como um agente termogênico.

A combinação dos ingredientes que compõe um produto termogênico é de suma importância para conferir maior eficácia na sua ação. Em publicação recente, Willoughby (2018) cita que o cromo desempenha um papel importante no metabolismo de glicose e lipídios por seus efeitos potencializadores na ação da insulina. Seus efeitos são demonstrados também no controle da ansiedade e compulsão alimentar (DiNicolantonio, 2017). Entretanto, devido à sua ingestão alimentar ser tipicamente baixa via dieta, sua suplementação parece ter impacto direto na taxa de oxidação de gordura e composição corporal. Do mesmo modo, o uso da niacina (vitamina B3), como ressalta Gasperi (2019) em sua publicação, pode potencialmente estimular a atividade e biogênese mitocondrial, local onde ocorre grande parte da termogênese no tecido adiposo marrom.

Outro importante ativo, cujo efeito coadjuvante no processo de controle da gordura corporal, é amplamente conhecido, é o óleo de semente de uva (Grape seed). Em publicação recente, Garavaglia et. al (2016) apresentou as diversas aplicabilidades dos compostos presentes nesse óleo e seus benefícios para a saúde, destacando-se efeitos anti-inflamatórios, cardioprotetor e anticâncer, além de poderem participar de vias celulares e moleculares. Esses efeitos têm sido relacionados aos constituintes do óleo de semente de uva, principalmente polifenis, ácido linolênico e fitoesterois.

Além do resveratrol e da quercetina, polifenois presentes no óleo de semente de uva, podemos dar destaque para as procianidinas, cuja ação na cascata de produção hormonal se destaca como ponto importante na sinergia dos ingredientes com ação termogênica. Como pode ser observado na figura abaixo, a conversão de androstenediona e testosterona, respectivamente em estrona e estrogênio é diretamente dependente da atividade da enzima aromatase. Kijima (2006) demonstrou que as procianidinas tem efeito direto na redução da atividade enzimática, agindo como um inibidor dessa via, facilitando portanto maior ação da 5-alfa-redutase, enzima que catalisa a conversão de testosterona em dihidrotestorsterona.

As substâncias utilizadas são selecionadas para proporcionar sinergismo e eficiência máximos para as mais diversas situações na prática clínica.

Referências Bibliográficas:

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Fonte: Vitaforscience.