SUPLEMENTAÇÃO DE LEUCINA E ASSOCIAÇÕES

Leucina é um dos aminoácidos de cadeia ramificada (os outros são isoleucina e valina), e se destaca pela capacidade de promover a síntese proteica via estímulo de PI3k/akt/mTOR (sinalizadores intracelulares) para maior incorporação de aminoácidos nas fibras musculares, assim como estímulo de células satélites para garantir não só hipertrofia, mas hiperplasia e regeneração tecidual. (Nie C 2018).

Alguns trabalhos sugerem a suplementação com leucina como forma de terapia importante para promoção do anabolismo e regeneração do tecido muscular lesado, inclusive com a oferta de outros nutrientes que possam exercer ação sinérgica.

Uma preocupação constante em relação a saúde humana é com a perda de massa muscular associada ao envelhecimento. Trabalhos sugerem que indivíduos que ao envelhecerem conseguem manter ou aumentar a massa muscular, tem maior longevidade e melhor qualidade de vida. (Srikanthan P, 2014).

Trabalho recente publicado por Devries MC et al (2018) em mulheres idosas com média de 69 anos submetidas a exercício resistido na perna, promoveu suplementação com whey protein isolado 25g (sendo 3g de leucina presentes na dose de whey) em um grupo, e no outro grupo, 10g de proteína de leite sendo também com 3g de leucina, por 6 dias. Os resultados demonstraram que a síntese proteica miofibrilar foi maior no grupo que tomou 3g de leucina com apenas 10g de proteína do leite, concluindo que o mais importante para evitar a perda de massa muscular e garantir o anabolismo não é o total proteico, mas a oferta dos aminoácidos essenciais e não essenciais e a dose de leucina presente.

Alguns estudos recentes têm reforçado o conceito da suplementação de whey protein associado a uma dose maior de leucina para garantir a síntese proteica e evitar a sarcopenia em idosos praticantes de atividade física. Os autores tem indicado doses de 3 a 5g de leucina. (Kramer et al, 2017; Chanet A et al, 2017).

Pessoas que podem se beneficiar com a suplementação de leucina são pacientes em uso de crônico de corticoides, como os asmáticos, portadores de doenças autoimunes, alérgicos e algumas formas de câncer (ex, leucemias), já que estes são medicamentos capazes de inibir a síntese proteica. A leucina pode evitar a proteólise e a sarcopenia por bloquear a AMPK (adenosina monofosfato kinase) e estimular o mTOR. (figura 1) (Wang XJ et al, 2016).

Figura 1

Modelo proposto dos glicocorticoides (GCs) e ação da leucina na síntese proteica em mioblastos C2C12 (? estimulatório; ? inibitório) (Wang XJ et al, 2016)

Uma associação interessante de ser feita na prática clínica é a suplementação de leucina com glutamina, conforme descrito por Waldron M et al (2018). Os autores testaram a leucina na dose de 0,087g/Kg associado com 0,3g/kg de glutamina, e observaram redução significativa da Creatina Kinase e da dor muscular tardia (DOMS) em relação ao grupo que usou apenas maltodextrina (controle), após exercício excêntrico.

Uma outra possibilidade de utilização da leucina é em dietas cetogênicas visando tratamento de epilepsia ou mesmo perda de gordura corporal para garantir a massa magra. Leucina é um aminoácido cetogênico, porém sua utilização requer cuidado pois sua capacidade de liberação de insulina poderia atrapalhar a cetose fisiológica do jejum ou mesmo induzida pelo consumo de triglicerídeos de cadeia média (TCM). Harvey C et al (2018) descreve em sua revisão que dosagens de até 9g de leucina induzem a cetose, mesmo reduzindo a proporção gordura para proteína de 4:1 para 2,5:1.

Portanto, conclui-se que a suplementação de leucina tem suas indicações para prevenção do catabolismo muscular, especialmente em situações clínicas descritas no texto, devendo ser bastante valorizada para o público idoso, bem como fazer suplementação associada a TCM (pré-treino) ou glutamina, ou mesmo com Whey Protein visando um ganho extra ao anabolismo e a síntese miofibrilar.

Referências Bibliográficas:

Chanet A, Verlaan S, Salles J, et al. Supplementing Breakfast with a Vitamin D and Leucine-Enriched Whey Protein Medical Nutrition Drink Enhances Postprandial Muscle Protein Synthesis and Muscle Mass in Healthy Older Men. J Nutr. 2017 Dec;147(12):2262-2271. / Devries MC, McGlory C, Bolster DR, et al. Leucine, Not Total Protein, Content of a Supplement Is the Primary Determinant of Muscle Protein Anabolic Responses in Healthy Older Women. J Nutr. 2018 Jul 1;148(7):1088-1095. / Harvey CJDC, Schofield GM, Williden M. The use of nutritional supplements to induce ketosis and reduce symptoms associated with keto-induction: a narrative review. PeerJ. 2018 Mar 16;6:e4488. / Kramer IF, Verdijk LB, Hamer HM, et al. Both basal and post-prandial muscle protein synthesis rates, following the ingestion of a leucine-enriched whey protein supplement, are not impaired in sarcopenic older males. Clin Nutr. 2017 Oct;36(5):1440-1449. / Nie C, He T, Zhang W, et al. Branched Chain Amino Acids: Beyond Nutrition Metabolism. Int J Mol Sci. 2018 Mar 23;19(4). / Srikanthan P, Karlamangla AS. Muscle mass index as a predictor of longevity in older adults. Am J Med. 2014 Jun;127(6):547-53. / Wang XJ, Yang X, Wang RX et al. Leucine alleviates dexamethasone-induced suppression of muscle protein synthesis via synergy involvement of mTOR and AMPK pathways. Biosci Rep. 2016 Jun 17;36(3). / Waldron M, Ralph C, Jeffries O, et al. The effects of acute leucine or leucine-glutamine co-ingestion on recovery from eccentrically biased exercise. Amino Acids. 2018 May 16. doi: 10.1007/s00726-018-2565-z. [Epub ahead of print].

Fonte: Vitafor