COMPOSTOS BIOATIVOS: OS BENEFÍCIOS DO CONSUMO DE CHÁS

O chá é a segunda bebida mais consumida no mundo, depois da água. Muitos países ao redor do mundo são conhecidos por apreciarem os mais diversos tipos de chás, como a China, Japão, Reino Unido e Turquia. Nesses locais o chá é um elemento cultural muito forte. Algumas dessas populações mostram um perfil epidemiológico diferente de outras que não tem hábito de consumir a bebida. Esse perfil despertou (e desperta) em diversos pesquisadores a curiosidade de investigar as propriedades benéficas dessa bebida.

A seguir conheceremos algumas dessas propriedades e quais são os alvos de interesse para manutenção da saúde.

Chá Verde (Camellia sinensis)

Esta bebida perfumada se originou na China em 2.737 AC. Segundo o mito, um imperador chinês estava sentado sob uma árvore Camellia sinensis enquanto seu servo fervia água potável. O vento jogou algumas folhas da árvore na água e o imperador resolveu experimentar a bebida que seu servo criou por acaso. Dessa forma a cultura do chá verde foi estabelecida na China por vários séculos antes de chegar ao Ocidente – isso se deve às suas propriedades e sabor. Cerca de três bilhões de quilos de chá verde são produzidos e consumidos anualmente. O chá verde é fabricado por meio da secagem de folhas de Cemellia sinensis frescas. Contém compostos polifenólicos característicos: (-)-epigalocatequina-3-galato (EGCG), 3(-)-epigalocatequina (EGC), (-)-epicatequina-3-galato (ECG) e (-)-epicatequina (EC). Esses compostos são comumente conhecidos como catequinas. Uma bebida de chá típica, preparada na proporção de 1g de folha para 100mL de água em uma infusão de 3 minutos, geralmente contém de 250 a 350mg de sólidos de chá, compostos por 30 a 42% de catequinas e 3 a 6% de cafeína. A EGCG é a catequina mais abundante e tem recebido um maior enfoque.

As propriedades mais amplamente reconhecidas dos polifenóis do chá são suas atividades antioxidantes, decorrentes de sua capacidade de eliminar espécies reativas de oxigênio. Os polifenóis do chá também se ligam aos íons metálicos, impedindo-os de participar das reações peroxidativas. Foi demonstrado que o chá verde e preto e os polifenóis isolados do chá eliminam as espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, reduzindo seus danos às membranas lipídicas, proteínas e ácidos nucléicos em células.

Essas propriedades auxiliam em diversos aspectos, são eles: câncer, doenças cardiovasculares, obesidade, esteatose hepática, termogênese do tecido adiposo marrom e aumento da taxa metabólica basal.

Bitter Orange (Citrus aurantium)

O extrato de Citrus aurantium é amplamente conhecido como extrato de laranja amarga, um produto que é derivado dos frutos imaturos (verdes) da laranja. Também é conhecido como “Zhi Qiao” na medicina tradicional chinesa e é muito utilizado para promover a digestão e diurese.

O extrato de Citrus aurantium e seu principal constituinte protoalcalóide p-sinefrina estão amplamente presentes em produtos de controle de peso e como agentes termogênicos. Eles também são usados em produtos de desempenho esportivo para aumentar a resistência. O extrato de laranja amarga é usado em produtos para controle de peso devido aos seus efeitos nos processos metabólicos, incluindo um aumento na taxa metabólica basal e lipólise, bem como supressão moderada do apetite.

Gengibre (Zingiber officinale)

O gengibre, que pertence à família Zingiberaceae e ao gênero Zingiber, é comumente consumido como tempero e um medicamento fitoterápico há muito tempo. A raiz de gengibre é usada para atenuar e tratar várias doenças comuns, como dores de cabeça, resfriados, náuseas e vômitos.

Muitos compostos bioativos no gengibre foram identificados, como compostos fenólicos e terpênicos.

Os compostos fenólicos são principalmente gingeróis, shogaols e paradols, que são responsáveis ??pelas várias bioatividades do gengibre. Nos últimos anos, descobriu-se que o gengibre possui atividades biológicas, como: atividades antioxidantes, anti-inflamatórias, antimicrobianas e anticâncer.

Além disso, estudos acumulados têm demonstrado que o gengibre possui potencial para prevenir e controlar várias doenças, como doenças neurodegenerativas, doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes mellitus, náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia e distúrbios respiratórios.

Em um estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, a ingestão de gengibre diminuiu os níveis de insulina, colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-C) e TG; diminuiu o HOMA; e aumentou a sensibilidade à insulina em pacientes com DM2. Além de tratar, outras pesquisas mostram que o gengibre e seus compostos bioativos podem ter um efeito preventivo: proteger contra o desenvolvimento do diabetes mellitus e suas complicações, provavelmente diminuindo o nível de insulina produzido, mas aumentando a sensibilidade a ela.

Cúrcuma (Curcuma longa)

Os curcuminóides são compostos fenólicos derivados do ácido ferúlico. A curcumina é um membro dessa família e contém duas moléculas de ácido ferúlico ligadas por um metileno, com uma estrutura h-dicetona em um sistema altamente conjugado.

Os curcuminóides não são usados apenas como medicamentos tradicionais chineses, mas também como especiarias comuns ou corantes naturais.

Esses compostos fenólicos têm sido bem estudados especialmente por suas propriedades antioxidantes potentes: possuem ação anticâncer, anticarcinogênica e antimutagênica.

Canela (Cinnamomum cassia)

Cinnamomum cassia é uma espécie arbórea aromática pertencente à família Lauraceae. Ela está distribuída na China, Índia, Vietnã, Indonésia e outros países. Da casca de seus ramos jovens se obtém a canela, amplamente utilizada em todo o mundo por sua fragrância e sabor picante.

Pode ser usada não apenas como condimento diário, mas também como matéria-prima para produtos médicos.

No ocidente é frequentemente usada como tempero, como um suplemento alimentar – especialmente por ser fonte de cumarina. Na Ásia, a canela é geralmente usada como medicamento.

Na China, desde 1963, a canela está listada na Farmacopeia nacional e existem mais de 500 fórmulas contendo esse ingrediente – muitas fórmulas com foco para tratar várias doenças endocrinológicas e metabólicas, cardiovasculares, gastrointestinais crônicas, ginecológicas e inflamatórias.

Atualmente, muitos estudos têm sido feitos nas áreas de farmacologia e fito química e mais de 160 compostos foram identificados na canela. Esses estudos confirmam que ela tem uma ampla gama de aplicações farmacológicas, incluindo ações antitumorais, anti-inflamatórias e analgésicas, antidiabéticas e antiobesidade, antibacterianas e antivirais, protetora cardiovascular, citoprotetoras, neuroprotetoras e imunorreguladoras.

Em termos de gerenciamento do peso e melhora do metabolismo energético, a canela parece aumentar a captação de glicose e a oxidação da glicose, bem como a síntese de glicogênio e a fosforilação do receptor de insulina – por isso ela é muito utilizada por pacientes diabéticos.

Em suma, todos os efeitos protetores naturais podem resultar da ação de substâncias complexas, desconhecidas ou menos conhecidas e até mesmo de um efeito combinado desse coquetel de antioxidantes presentes nas plantas – sejam de uso dietético ou medicinais.

Referências Bibliográficas

1. Yang CS, Landau JM. Effects of tea consumption on nutrition and health. The Journal of nutrition. 2000 Oct 1;130(10):2409-12. / 2. Kinlen LJ, Willows AN, Goldblatt P, Yudkin J. Tea consumption and cancer. British journal of cancer. 1988 Sep;58(3):397-401. / 3. Yang YC, Lu FH, Wu JS, Wu CH, Chang CJ. The protective effect of habitual tea consumption on hypertension. Archives of internal medicine. 2004 Jul 26;164(14):1534-40. / 4. Sharma VK, Bhattacharya A, Kumar A, Sharma HK. Health benefits of tea consumption. Tropical Journal of Pharmaceutical Research. 2007;6(3):785-92. / 5. Sanlier N, Gokcen BB, Altu? M. Tea consumption and disease correlations. Trends in Food Science & Technology. 2018 Aug 1;78:95-106. / 6. La Vecchia C, Negri E, Franceschi S, D’Avanzo B, Boyle P. Tea consumption and cancer risk. / 7. Kuriyama S, Hozawa A, Ohmori K, Shimazu T, Matsui T, Ebihara S, Awata S, Nagatomi R, Arai H, Tsuji I. Green tea consumption and cognitive function: a cross-sectional study from the Tsurugaya Project. The American journal of clinical nutrition. 2006 Feb 1;83(2):355-61. / 8. Van Het Hof KH, Wiseman SA, Yang CS, Tijburg LB. Plasma and lipoprotein levels of tea catechins following repeated tea consumption. Proceedings of the Society for Experimental Biology and Medicine. 1999 Apr;220(4):203-9. / 9. Arab L, Khan F, Lam H. Tea consumption and cardiovascular disease risk. The American journal of clinical nutrition. 2013 Dec 1;98(6):1651S-9S. / 10. Yang CS, Wang ZY. Tea and cancer. JNCI: Journal of the National Cancer Institute. 1993 Jul 7;85(13):1038-49. / 11. Kuriyama S, Shimazu T, Ohmori K, Kikuchi N, Nakaya N, Nishino Y, Tsubono Y, Tsuji I. Green tea consumption and mortality due to cardiovascular disease, cancer, and all causes in Japan: the Ohsaki study. Jama. 2006 Sep 13;296(10):1255-65. / 12. Mukamal KJ, Maclure M, Muller JE, Sherwood JB, Mittleman MA. Tea consumption and mortality after acute myocardial infarction. Circulation. 2002 May 28;105(21):2476-81. / 13. Hu G, Bidel S, Jousilahti P, Antikainen R, Tuomilehto J. Coffee and tea consumption and the risk of Parkinson’s disease. Movement disorders: official journal of the Movement Disorder Society. 2007 Nov 15;22(15):2242-8. / 14. Hayat K, Iqbal H, Malik U, Bilal U, Mushtaq S. Tea and its consumption: benefits and risks. Critical reviews in food science and nutrition. 2015 Jun 7;55(7):939-54. / 15. Goldbohm RA, Hertog MG, Brants HA, van Poppel G, van den Brandt PA. Consumption of black tea and cancer risk: a prospective cohort study. JNCI: Journal of the National Cancer Institute. 1996 Jan 17;88(2):93-100. / 16. Yang CS. Tea and health. Nutrition (Burbank, Los Angeles County, Calif.). 1999 Nov 1;15(11-12):946-9. / 17. Stohs SJ, Preuss HG, Shara M. A Review of the Human Clinical Studies Involving Citrus aurantium (Bitter Orange) Extract and its Primary Protoalkaloid p-Synephrine. International Journal of Medical Sciences. 2012;9(7):527-538. doi:10.7150/ijms.4446. / 18. Kaats GR, Miller H, Preuss HG, Stohs SJ. A 60 day double-blind, placebo-controlled safety study involving Citrus aurantium (bitter orange) extract. Food Chem Toxicol. 2013 May;55:358-62. doi: 10.1016/j.fct.2013.01.013. Epub 2013 Jan 25.PMID: 23354394. / 19. Sasazuki S, Komdama H, Yoshimasu K, et al. Relation between green tea consumption and severity of coronary atherosclerosis among Japanese men and women. Ann Epidemiol2000;10:401-8. / 20. Khan N, Mukhtar H. Tea and health: studies in humans. Curr Pharm Des. 2013;19:6141–6147. / 21. Misaka S, Yatabe J, Müller F, Takano K, Kawabe K, Glaeser H, Yatabe MS, Onoue S, Werba JP, Watanabe H, Yamada S, Fromm MF, Kimura J. Green tea ingestion greatly reduces plasma concentrations of nadolol in healthy subjects. Clin Pharmacol Ther. 2014 Apr;95(4):432-8. / 22. Mao QQ, Xu XY, Cao SY, Gan RY, Corke H, Li HB. Bioactive compounds and bioactivities of ginger (Zingiber officinale Roscoe). Foods. 2019 Jun;8(6):185. / 23. Shahrajabian MH, Sun W, Cheng Q. Clinical aspects and health benefits of ginger (Zingiber officinale) in both traditional Chinese medicine and modern industry. Acta agriculturae scandinavica, section b—Soil & Plant Science. 2019 Aug 18;69(6):546-56. / 24. Ammon HP, Wahl MA. Pharmacology of Curcuma longa. Planta medica. 1991 Feb;57(01):1-7. / 25. Araujo CA, Leon LL. Biological activities of Curcuma longa L. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. 2001 Jul;96(5):723-8. / 26. Chainani-Wu N. Safety and anti-inflammatory activity of curcumin: a component of tumeric (Curcuma longa). The Journal of Alternative & Complementary Medicine. 2003 Feb 1;9(1):161-8. / 27. Zhang C, Fan L, Fan S, Wang J, Luo T, Tang Y, Chen Z, Yu L. Cinnamomum cassia Presl: a review of its traditional uses, phytochemistry, pharmacology and toxicology. Molecules. 2019 Jan;24(19):3473. / 28. Lin CC, Wu SJ, Chang CH, Ng LT. Antioxidant activity of Cinnamomum cassia. Phytotherapy Research. 2003 Aug;17(7):726-30. / 29. Verspohl EJ, Bauer K, Neddermann E. Antidiabetic effect of Cinnamomum cassia and Cinnamomum zeylanicum in vivo and in vitro. Phytotherapy Research: An International Journal Devoted to Pharmacological and Toxicological Evaluation of Natural Product Derivatives. 2005 Mar;19(3):203-6.

Fonte: Vitafor