ANTIOXIDANTES NO PEQUI E EFEITOS NA ATIVIDADE FÍSICA

O Pequi
O Caryocar brasiliense Camb., popularmente conhecido com Pequi, é uma árvore típica do cerrado brasileiro, cujo fruto é usado na culinária regional e na medicina popular, devido ao seu alto valor nutritivo. O óleo contido na polpa do fruto do pequizeiro contém diversos carotenoides, tais como caroteno, licopeno, criptoxantina, zeaxantina, luteína e neoxantina1-4.

O pequizeiro é nativo do cerrado brasileiro, incluindo os estados do Pará, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e os estados nordestinos do Piauí, Ceará e Maranhão. A palavra pequi, na língua indígena, significa “casca espinhosa”, porém o fruto também é conhecido por diversos nomes como piqui, pequiá, amêndoa de espinho, grão de cavalo ou amêndoa do Brasil. Sua frutificação ocorre principalmente entre os meses de janeiro e março5.

O fruto é constituído pelo exocarpo ou pericarpo, de coloração esverdeada ou marrom-esverdeada, mesocarpo externo, polpa branca com coloração pardo-acinzentada e mesocarpo interno, que constitui a porção comestível, que apresenta coloração amarelada. O endocarpo, que é espinhoso, protege a semente ou amêndoa, que é revestida por um tegumento fino e marrom, sendo também uma porção comestível6.

Composição química do pequi e sua capacidade antioxidante
Em 2007, um grupo de pesquisadores analisou a composição química e os compostos bioativos presentes na polpa e na amêndoa do pequi. Nesse trabalho foi observado que a polpa do fruto de pequi é rica em lipídios (33,4%). Além disso, é considerada uma fonte interessante de fibras, apresentando 10,02%, correspondendo a 40% das necessidades diárias de fibras alimentares. Observou-se também que a fração proteica corresponde a 3% do fruto4.

Ao analisarem os componentes da amêndoa do pequi, os pesquisadores constataram que 51,51% do conteúdo corresponde a lipídios, enquanto as proteínas correspondem a 25, 27%. Já em relação aos carboidratos, a amêndoa apresenta 8,33% e 2,2% de fibras. Verificou-se um baixo teor de umidade e um teor elevado de minerais, representado pelas cinzas. Esse fruto apresentou concentrações predominantes de ácidos graxos insaturados.

A polpa apresenta 61,35% e a amêndoa apresenta 52,17% de ácidos graxos insaturados. O ácido oleico está presente em maior concentração na polpa, com 55,87%, sendo seguido pelo ácido palmítico, que corresponde a 35,17%. Na amêndoa do pequi, predominam os ácidos palmítico e oleico em quantidades praticamente iguais, 43,76% e 43,59%, respectivamente. Também estão presentes o ácido linoleico, com 5,51%; esteárico, com 2,04% e palmitoleico, com 1,23%.

É possível observar que tanto a polpa como a amêndoa do pequi possuem ácidos graxos importantes para compor uma dieta saudável. Por ser um fruto encontrado em regiões onde as árvores recebem alta incidência de raios solares, ocorre um favorecimento da formação de radicais livres. Essas condições favorecem a biossíntese de compostos secundários com propriedades antioxidantes (compostos fenólicos e carotenoides totais), como é apresentado na Tabela 1 4.

Tabela 1.
Teores de fenólicos totais e carotenoides totais em mg/100g, na polpa e amêndoa de pequi
(valores expressos como média +/- desvio-padrão).
Fonte: adaptado de Lima et al., 20074.

Na avaliação da atividade antioxidante do extrato aquoso e das frações de ácidos fenólicos da polpa do pequi há evidências de proteção contra os danos oxidativos, comparados ao padrão comercial butilidroxitolueno (BHT). Esses resultados indicam que a polpa do pequi é um alimento com elevada capacidade antioxidante, demonstrando a correlação existente entre a quantidade de fenólicos totais e a proteção antioxidante 7,8.

Na tabela 2, podemos observar uma comparação entre os teores fenólicos de polpas de frutas consideradas extensivamente antioxidantes. O pequi apresenta 209 mg de fenólicos em 100 gramas de polpa, ou seja, tem uma elevada capacidade antioxidante. Na polpa e na amêndoa do pequi, os lipídios são os constituintes predominantes, prevalecendo nestes os ácidos graxos oleico e palmítico.

Tabela 2. Tabela comparativa dos teores de fenólicos totais em 100g de polpa.
Fonte: adaptado de Lima et al., 20074.

Estresse oxidativo induzido por atividade física intensa
O metabolismo humano produz continuamente espécies reativas de oxigênio (EROs), como resultado do metabolismo oxidativo mitocondrial normal – ou seja, processos oxidativos são constantes no organismo.9

Em situações normais, os produtos dos processos oxidativos são neutralizados por um sistema de defesa antioxidante, que consiste de enzimas, como a catalase (CAT), superóxido dismutase (SOD), glutationa peroxidase (GPX) e diversos antioxidantes não enzimáticos10. A atividade física regular é considerada essencial para promover saúde e prevenção de diversas doenças – porém, a partir do momento em que essa atividade é excessiva pode promover danos, ao invés de trazer benefícios. A prática de exercícios físicos de forma extenuante aumenta o consumo de oxigênio e pode promover um desequilíbrio entre as EROs e os antioxidantes, promovendo estresse oxidativo. Trabalhos mostram que a atividade exaustiva aumenta a geração de espécies reativas de oxigênio, promovendo danos no DNA e nos tecidos. 11

A prática de exercícios físicos extenuantes pode promover o estresse oxidativo. Isso resulta em aumento nos níveis sanguíneos de malondialdeído (MDA), que serve como indicador indireto da peroxidação lipídica e pode ser mensurado pelas TBARS, substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico. Além disso, ele pode iniciar reações que se assemelham à fase aguda de uma resposta imune como uma infecção com aumento de PCR (proteína C reativa) 10. Nesse contexto, o consumo dietético de antioxidantes pode ajudar a prevenir o estresse oxidativo e lesões teciduais.

O pequi e a prevenção do estresse oxidativo induzido por atividade física 

Muitos estudos têm investigado o impacto do status antioxidante nos prejuízos gerados pelo exercício12,14,16.. Com esse propósito, a maioria das intervenções dietéticas tem como foco os fatores nutricionais, como as vitaminas e compostos antioxidantes que neutralizam o estresse oxidativo induzido pela atividade física.

Os compostos fitoquímicos bioativos podem apresentar um papel vital na proteção de células submetidas ao estresse oxidativo induzido pelo exercício16. Trabalhos mostram que os compostos bioativos são capazes de prevenir os danos oxidativos em atletas de endurance que esgotaram sua capacidade endógena antioxidante, devido aos treinos intensos e frequentes. Além disso, a composição rica em ácidos graxos insaturados do óleo de pequi está envolvida na modulação das taxas pós-prandiais de triglicerídeos e colesterol18. Estudos mostram que o óleo de pequi é eficiente na redução de danos ao DNA e nos tecidos13. Além disso, de acordo com estudos, os óleos da polpa de outra espécie de pequi, o C. coriaceum, apresenta efeitos anti-inflamatórios significativos. Pesquisadores alegam que o óleo de pequi poderia reduzir eficientemente a inflamação induzida pela atividade física, podendo inclusive modular os níveis de lipídios pós-prandiais de corredores.

Conclusão 
O pequi apresenta compostos fenólicos e carotenoides totais, os quais estão associados à prevenção de processos oxidativos. Diante das questões aqui discutidas, é possível observar que o consumo da polpa de pequi poderá trazer benefícios à saúde da população; além disso, devido à sua ampla capacidade antioxidante, seu consumo pode ser interessante para praticantes de atividade física. A atividade física apresenta benefícios já bem descritos na literatura, porém essa prática promove aumento da produção de EROs. Quando o organismo é submetido à atividade extenuante, há um aumento do estresse oxidativo, com possível redução da sua capacidade antioxidante.

Nesse sentido, torna-se essencial que praticantes de atividade física tenham um consumo elevado de alimentos antioxidantes. O pequi apresenta compostos bioativos em sua composição e lipídios insaturados que, ao serem introduzidos no planejamento alimentar do indivíduo, poderão facilitar o equilíbrio do organismo. O uso do óleo de pequi, como um suplemento para atletas, também pode ser interessante. Para essa confirmação, ainda são necessários mais estudos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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*Texto elaborado pelo Departamento Científico da VP Consultoria Nutricional.

RESÍDUOS ANTIBIÓTICOS EM ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL

Mundialmente, a produção global de carne triplicou desde 1970 e subiu em 20% desde 2000, com o consumo aumentando significativamente mais rápido do que a população global. No Brasil, a introdução e o consumo de produtos cárneos na dieta das famílias tende a aumentar de maneira uniforme, de acordo com o nível de rendimentos familiares, uma vez que é o grupo alimentar com o maior impacto econômico sobre o orçamento das famílias brasileiras 1,2.

Apesar do consumo de carnes ser bem diversificado entre as regiões, a ingestão per capita de carne bovina no Brasil é de 36,6 kg/ano, seguida do frango com 26 kg/ano e suínos com 12,8 kg/ano. Em se tratando de laticínios, a ingestão per capita varia de 29 kg/ano na região Nordeste, até 71 kg/ano na região Sul 1,3.

Uma vez que a produção animal é uma das atividades mais expressivas do agronegócio brasileiro e para que os produtos consigam suprir a demanda do mercado, faz-se necessário que o tempo entre o nascimento e o abate do animal diminua. A fim de assegurar a produtividade e a competitividade do setor, a utilização de medicamentos com fins terapêuticos e de profilaxia é uma prática bastante comum. Dos medicamentos utilizados, os agentes antibióticos correspondem a uma das classes mais prescritas4.

Assim sendo, a monitoração de resíduos de antibióticos em alimentos é uma área de preocupação crescente e muito importante, devido ao seu potencial impacto na saúde humana. Os antibióticos são administrados nos animais não só no tratamento de doenças, mas também subterapêuticamente para manter a saúde, evitar infecções, melhorar o desempenho no cruzamento, promover o crescimento de massa muscular, melhorar a eficiência ou utilização alimentar, sincronizar ou controlar o ciclo reprodutivo e aumentar a aceitação do consumidor ao produto final5,6.

Uma larga variedade de antimicrobianos está disponível para uso na medicina veterinária e aquicultura, entre esses, os antimicrobianos das classes dos betalactâmicos (penicilinas e cefalosporinas), sulfonamidas, tetraciclinas, aminoglicosídeos (estreptomicina e gentamicina), macrolídeos (eritrimicinas), quinolonas e anfenicóis (cloranfenicol e análogos) e rifamicinas7.

O uso de antibióticos não autorizados ou o não cumprimento das orientações de administração dos antibióticos autorizados pode resultar na presença de níveis elevados de resíduos de antibióticos nos produtos alimentares. Por este motivo, o controle de resíduos de antibióticos em alimentos deve constituir um programa de vigilância e o conhecimento da dimensão da exposição da população a esses compostos é de fundamental importância para nortear as ações de controle, visando à proteção do consumidor 5,7.

Resíduos antibióticos em leite e derivados
O uso difundido de antibióticos pelos produtores e médicos veterinários no tratamento de doenças infecciosas de vacas leiteiras, principalmente nas mastites, e a utilização de drogas na alimentação animal, como suplemento de dietas, têm contribuído para a presença de resíduos de antimicrobianos no leite. Outras condições que podem determinar a presença de tais resíduos no leite são a higienização de equipamentos e utensílios da indústria e/ou a adição proposital de drogas para encobrir a deficiência na qualidade higiênica do leite e aumentar seu tempo de vida útil8.

O período de carência de um antimicrobiano é o prazo de eliminação deste no leite, após sua última aplicação. Esse período de eliminação da substância administrada deve ser respeitado para prevenir resíduos de drogas e aditivos alimentares nos alimentos provenientes dos animais tratados, que durante esse período não devem ser utilizados para consumo humano8.

O leite contaminado por resíduos de antibióticos pode criar, ainda, prejuízos para a indústria de laticínios, interferindo principalmente nos processos de fermentação, nos quais utilizam-se culturas acidoláticas na produção de queijos, iogurtes e manteiga. Os antibióticos interferem no crescimento dos cultivos iniciadores durante a elaboração de produtos lácteos9.

Em relação ao consumidor, o leite com antimicrobianos pode provocar reações alérgicas, como urticárias, dermatites ou rinites e asma brônquica, além de risco de choque anafilático em indivíduos sensíveis, teratogenia e desequilíbrio da microbiota intestinal. Tais reações são relacionadas principalmente às penicilinas, mas tetraciclina, estreptomicina e sulfonamidas também podem causar esse tipo de reação6,10,11.

Outro risco a ser considerado é o consumo de leite com altos níveis de resíduos de antimicrobianos por gestantes, tendo em vista que alguns antimicrobianos possuem potencial teratogênico. Além de reações alérgicas e de indução de quadros patológicos como, por exemplo, a anemia aplástica, os resíduos de antimicrobianos possibilitam o risco de indução de resistência bacteriana e, posteriormente, a transferência de multiresistência entre os microrganismos através de plasmídios12.

Em um estudo realizado em Piracicaba, São Paulo, foram detectadas concentrações de até 0,002 UI/mL de penicilina. A variação das concentrações de penicilina variou de 0,013 a 0,94 UI/mL, contendo índices superiores ao recomendado (máximo 0,05 UI/mL). Destaca-se a importância de se determinar níveis reduzidos de penicilina no leite, pelo fato de ser discutível qual a faixa de concentração que pode trazer riscos para o consumidor13.

Resíduos antibióticos em carnes
O aumento da produção, as condições higiênico-sanitárias precárias e a superpopulação de animais tornam as granjas e abatedouros verdadeiros incubadores de bactérias, o que pode levar ao desenvolvimento de enfermidades. Para o controle das mesmas, opta-se pelo uso de antibióticos. O problema surge quando o produtor utiliza o antibiótico em níveis maiores do que o permitido para promover o crescimento do animal em menor espaço de tempo14.

Com isso, surgem as bactérias resistentes aos antibióticos, trazendo grandes preocupações para o consumo humano, acarretando em falhas no tratamento, aumento nos custos dos mesmos e aumento nas taxas de morbidade e mortalidade da população humana. O resultado seria a necessidade de doses mais elevadas de medicamentos antibióticos para tratar infecções, devido ao consumo de carnes, leite ou ovos contaminados15,16.

Os principais antibióticos utilizados em produtos cárneos são: tetraciclina, penicilinas, estreptomicinas, eritromicina, nistatina, tilosina, virginiamicina, sulfonamidas, entre outros17.

Para contornar tal situação, os aditivos fitogênicos, extratos herbais e vegetais, fazem parte de uma classe de produtos que poderá substituir os agentes antimicrobianos. Como opção, destaca-se o extrato de orégano, por ser composto de dois principais fenóis com propriedades antimicrobianas: o carvacrol e o thymol, que agem sobre a membrana celular bacteriana, impedindo sua divisão mitótica, causando desidratação nas células e impedindo a sobrevivência de bactérias patogênicas, apresentando grande efeito como agente antimicrobiano. Tais aditivos podem ser adicionados à ração dos animais. Adicionalmente, o uso de probióticos como agente promotor de crescimento tem mostrado bons resultados, resultando em maior ganho de peso pelo animal, melhor palatabilidade da carne, entre outros benefícios16,18.

Resíduos antibióticos em ovos
Em se tratando de ovos, há a possibilidade da produção dos mesmos contendo resíduos, em função da exposição das aves a diversos contaminantes. Muitos dos resíduos são preferencialmente depositados na gema, devido à sua composição química característica, como a presença de maior fração lipídica19.

Os antibióticos mais comuns utilizados em frangos são as penicilinas, estreptomicinas, diidroestreptomicinas, neomicinas e tetraciclinas. Já em ovos, os mais comuns são a oxitetraciclina e a espectinomicina. Uma vez que resíduos de antibióticos ofertados às aves conseguem ser transferidos às gemas, torna-se fundamental manter-se vigilante quanto a todos os tipos de medicamentos veiculados. No entanto, muitos dos níveis de tolerância ou o Limite Máximo de Resíduos em ovos não são conhecidos/regulamentados para os antibióticos que são comumente utilizados na avicultura comercial17,19.

Os efeitos colaterais à saúde humana são os mesmos observados com o consumo de leite e carnes contaminados por antibióticos.

Conclusão
O uso de antibióticos como promotores de crescimento foi banido por países da Comunidade Europeia. Apresentando-se como um dos maiores produtores e exportadores mundiais de carnes, o Brasil precisa estar preparado para atender às exigências de exportações, desenvolvendo novas tecnologias e pesquisas que possibilitem alternativas para a substituição dos antibióticos18.

Embora o uso excessivo de antibióticos na medicina humana seja a principal causa da crise atual da resistência a antibióticos, especialistas em saúde pública concordam que o uso excessivo e o mau uso destas substâncias na produção animal intensiva são também fatores importantes, uma vez que cerca de metade da produção de antibiótico do mundo é direcionada para animais de fazenda20.

Assim sendo, os medicamentos veterinários aplicados aos animais devem ser somente aqueles adequados e apenas o estritamente necessário para os efeitos terapêuticos ou profiláticos desejados, em relação aos quais deve-se sempre respeitar o intervalo de segurança prescrito, de forma a evitar a presença de resíduos de medicamentos veterinários e salvaguardar a segurança alimentar e a saúde pública21.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Utilização de antioxidantes na prática esportiva

O estresse oxidativo resulta de um desequilíbrio entre a produção e a neutralização de radicais livres e espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. O exercício físico leva a um aumento transitório do estresse oxidativo, podendo ocasionar lesões celulares e redução do rendimento esportivo. Os antioxidantes estão entre os suplementos mais utilizados por atletas e praticantes de atividade física e têm sido muito estudados como um possível meio de reduzir a injúria e melhorar o rendimento. Entretanto, os dados da literatura são controversos, e há trabalhos mostrando que a suplementação de antioxidantes pode reduzir, não interferir ou até mesmo aumentar marcadores de estresse oxidativo. Adicionalmente, trabalhos mais recentes sugerem que o estresse oxidativo induzido pelo exercício possui um papel essencial na resposta adaptativa ao organismo, sendo, portanto, necessário para que o exercício exerça seus efeitos benéficos. Desse modo, até que existam mais dados na literatura, parece mais seguro recomendar que indivíduos fisicamente ativos ingiram uma dieta rica em antioxidantes ao invés de suplementá-los isoladamente.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional – Abril 2011

Nutrição e Ciclo circadiano: conceitos e perspectivas

As células, tecidos e órgãos estão sob o comando do sistema circadiano, cuja arquitetura extremamente complexa é capaz de sincronizar o funcionamento do organismo em todos esses níveis em função da integração de sinais ambientais e endógenos, com o objetivo de otimizar a fisiologia celular. O interesse da Nutrição Funcional pelo conhecimento do sistema circadiano se justifica por alguns motivos: o ciclo circadiano influencia o ritmo endócrino de secreção de alguns hormônios; alguns nutrientes participam direta ou indiretamente nos mecanismos regulatórios desse sistema; a alimentação funciona como zeitgeber (time giver ou sinal do tempo) para a sincronização de relógios periféricos com o relógio central; a destoxificação de xenobióticos estar sob modulação circadiana; e os estudos de cronofarmacologia podem contribuir para futuras discussões e estudos na área de suplementação nutricional. O objetivo desta revisão é discutir algumas abordagens nutricionais como restrição calórica, fracionamento e composição das refeições e suplementação, considerando o ritmo circadiano. Os estudos em modelos animais de deleção (knockout) ou mutação de clock genes indicam que as funções do sistema circadiano têm grande impacto na função metabólica, e o inverso também é verdadeiro. Quando pensamos na nutrição sob a ótica circadiana, talvez haja mais perguntas do que respostas. O entendimento do ritmo circadiano complementa o direcionamento de delineamentos de estudos futuros na área de Nutrição.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional – Junho 2011

Distúrbios de atenção e déficit de memória: como melhorar nossa memória nos tempos atuais?

A memória é um processo que naturalmente sofre alterações no decorrer da vida. Fatores como estresse, exposição a metais pesados, como chumbo, arsênio e mercúrio, bifenilas policloradas (PCBs), consumo de ácidos graxos trans e hiperpermeabilidade intestinal, podem prejudicar a memória e cognição. Por outro lado, a saúde intestinal e nutrientes como colina, taurina e compostos bioativos como flavonóides, curcumina, L-teanina e cafeína atuam em processos celulares e mecanismos moleculares, diminuindo os efeitos deletérios causados por fatores ambientais e propensão genética. Assim, uma alimentação equilibrada, rica nesses compostos, e mudanças no estilo de vida de modo a diminuir a exposição aos fatores que prejudicam a memória e a cognição, são medidas eficientes para melhorar o desempenho cognitivo nos tempos atuais.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional – Setembro 2011

A leptina reverte as quedas na sensação de saciedade em humanos obesos que apresentam redução de peso

 

Indivíduos apresentando redução de peso ou deficiência de leptina possuem um menor gasto energético combinado a uma maior sensação de fome e/ ou saciedade atrasada,em comparação com indivíduos sem redução de peso. Devido ao fato de que a leptina exógena inibe a alimentação em humanos com deficiência congênita de leptina, a sinalização reduzida de leptina pode diminuir a expressão do controle da ingestão alimentar em seres humanos. Este estudo objetivou-se a testar a hipótese de que a redução da sinalização da leptina pode reduzir a expressão de saciedade em seres humanos, através da examinação dos efeitos da reposição da leptina sobre o comportamento alimentar após a perda de peso. Assim, dez indivíduos obesos (4 homens, 6 mulheres) participaram deste estudo e, hospitalizados, receberam a administração de uma fórmula líquida para manutenção de peso. A saciedade foi estudada através da mensuração da ingestão e classificações das disposições de apetite, relacionados 3 horas após a ingestão de 300 kcal da fórmula líquida. Os participantes foram estudados em cada um dos períodos de tempo de 3 horas: 1) enquanto mantiveram o seu peso usual (P inicial) e, em seguida, após a redução de peso e estabilização de 10% abaixo do peso inicial e enquanto receberam 5 semanas da fórmula ou placebo; 2) duas vezes ao dia quando receberam a administração de injecções de placebo (Pi-10% para o placebo); ou 3) “doses de reposição” de leptina (Pi-10% de leptina) em um estudo cruzado duplo-cego com um período de 2 semanas entre os tratamentos. O gasto energético também foi medido em cada período de estudo. Foi encontrado que tanto o gasto de energia e a pontuação na escala analógica visual que refletem saciedade foram significantemente menores nos participantes recebendoplacebo Pi-10%, do que aqueles do grupo 1 e 2. Os autores concluem que os resultados são consistentes com a hipótese de que a ausência de sinalização da leptina após a perda de peso podem atenuar a expressão da inibição da alimentação em seres humanos.

Referência bibliográfica:

KISSILEFF, H.R.; THORNTON, J.C.; TORRES, M.I.; et al. Leptin reverses declines in satiation in weight-reduced obese humans. Am J Clin Nutr; 95: 2 309-317, 2012.