Contribuição da creatina para homeostase proteica em atletas após corrida de sprint e endurance

Poucos estudos têm avaliado as mudanças metabólicas induzidas pela suplementação de creatina. Desta forma, a presente investigação objetivou-se a avaliar os efeitos da suplementação de creatina sobre alterações plasmáticas e urinárias de atletas após corrida de sprint endurance. Doze atletas do sexo masculino (média de idade 20,3 ± 1,4 anos) performaram dois exercícios idênticos (frequência cardíaca máxima 65-70%) de corrida de 60 minutos (ensaio de endurance) antes e depois da suplementação de creatina (12 g de creatina monohidratada/ dia por 15 dias), acompanhado por um período de washout de 5 dias. Subsequentemente, foram performados dois exercícios idênticos de 100 m de corrida de sprint (ensaio de força), antes e após a suplementação de creatina por 15 dias, de acordo com o protocolo de suplementação do ensaio de endurance. Mensurações da composição corporal foram realizadas durante todo estudo. Amostras plasmáticas foram examinadas para as concentrações de glicose, lactato, aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA), triptofano livre (TRIP), glutamina, alanina, hipoxantina e ácido úrico. Amostras urinárias foram examinadas para as concentrações de hidroxiprolina, 3-metilhistidina, ureia nitrogenada e creatinina. Como resultado, foi encontrado que a suplementação de creatina aumentou significantemente o peso corporal dos atletas participantes do ensaio de endurance.  A concentração de lactato plasmático e a taxa de TRIP/ BCAA após a recuperação da prática da corrida de endurance foi significantemente reduzido com a suplementação de creatina. As concentrações de metabólitos de purinas (soma da hipoxantina e ácido úrico), glutamina, 3-metilhistidina urinário e ureia nitrogenada tenderam a diminuir antes da corrida nos ensaios, com a suplementação de creatina. Após a corrida, a concentração urinária de hidroxiprolina aumentou significantemente no ensaio de força com a administração de creatina. Os achados deste estudo sugerem que a suplementação de creatina levou a diminuição da degradação de proteínas e do glicogênio muscular, especialmente após o exercício de endurance. Todavia, a suplementação de creatina pode induzir a proteólise de colágeno em atletas após corrida de sprint.

Referência bibliográfica:

TANG, F.C.; CHAN, C.C.; KUO, P.L. Contribution of creatine to protein homeostasis in athletes after endurance and sprint running. Eur J Clin Nutr; 2013.

Aumento da Permeabilidade Intestinal em Atletas

O exercício físico intenso e prolongado tem sido associado com alterações no trato gastrintestinal. Estudos verificam que grande porcentagem de atletas de endurance apresenta sintomas gastrintestinais relativos ao exercício, sendo as mulheres mais suscetíveis que os homens. O status do treinamento, o tipo, a intensidade e a alimentação antes e durante o exercício representam um papel importante na etiologia do dano gastrintestinal. O estímulo mecânico da mucosa intestinal, e a redução do fluxo sanguíneo pancreático causados pelo treinamento podem prejudicar a permeabilidade intestinal, provocando diarréia. O exercício pode causar também a elevação dos hormônios como a gastrina, motilina, somatostatina, glucagon, além de peptídeos pancreáticos, que podem produzir sintomas gastrintestinais por diferentes mecanismos. O estímulo mecânico e o estiramento da musculatura lisa liberam prostaglandinas, que acelera o trânsito intestinal e inibição da contração colônica. O aumento da permeabilidade intestinal é definido como a entrada por difusão não-mediada de moléculas de tamanho superior a 150 Da em direção ao espaço intersticial, permitindo o fluxo de agentes do lúmen para a mucosa, resultando em inflamação tecidual com redução da função da barreira gastrintestinal. Estudos têm relacionado ainda a relação entre a desidratação e a disfunção gastrintestinal, sendo que o exercício leva a perda de fluidos e eletrólitos na forma de suor, e a redução do volume sanguíneo agrava o reduzido fluxo sanguíneo do TGI, e o ajuste circulatório para o controle do débito sanguíneo resulta em hipóxia e produção de radicais livres, depleção de ATP, acidose e disfunção celular. A exposição a alérgenos alimentares provoca o aumento da permeabilidade intestinal, provavelmente devido à liberação das citocinas inflamatórias. Estudos indicam ainda que o uso de aspirina e antiinflamatórios não-esteroidais promove aumento significativo da permeabilidade intestinal, facilitando a absorção de alérgenos. Esta passagem de agentes agressivos ao lúmen pode gerar uma resposta imune local que envolve a liberação de radicais livres e enzimas, contribuindo para o desenvolvimento de doenças gastrintestinais. Os principais nutrientes envolvidos na recuperação, crescimento e diferenciação celular, proporcionando saúde e integridade da mucosa são: a glutamina, ácidos graxos essenciais, zinco, ácido pantotênico, ácido ascórbico, e probióticos. O estudo concluiu que se faz necessário identificar as causas e conseqüências do aumento da permeabilidade intestinal nos atletas, para controle e prevenção, melhorando seu desempenho e garantindo a saúde do atleta. Sendo assim, deve ser aplicado o programa 4R da Nutrição Funcional, que se baseia em remover ou reduzir fatores estressantes da mucosa, repor fatores digestivos e reinocular o trato digestório.

Anuário Nutrição Esportiva Funcional – Janeiro de 2007