EFEITOS DA CÚRCUMA LONGA SOB A DISFUNÇÃO ENDOTELIAL EM DIABETES MELLITUS TIPO 2.

Segundo a International Diabetes Federation (2019), dentre os dez principais países ou territórios com maior número de adultos diabéticos, na faixa etária entre 20 e 79 anos, a quinta posição está ocupada pelo Brasil com as seguintes estimativas para os anos de 2019, 2030 e 2045: 16,8 milhões, 21,5 milhões e 26 milhões, respectivamente. O aumento nos casos possui associação com diversos fatores, como: rápida urbanização, transição epidemiológica e nutricional, sedentarismo, excesso de peso, aumento da expectativa de vida e de sobrevida dos indivíduos diabéticos (SBD, 2019).

No DMT2 o estado de hiperglicemia crônica pode levar à níveis aumentados de produtos finais de glicação avançada (AGEs) que atuam diretamente nas células, causando efeitos pró-inflamatórios e estresse oxidativo. O mecanismo envolvido está relacionado a ativação da proteína quinase C que altera o metabolismo dos eicosanoides, pode levar a indução de auto oxidação da glicose resultando em espécies reativas de oxigênio (EROs). Muito agravos podem ser ocasionados pelas EROs no quadro de diabetes devido diminuição dos canais de transporte de glicose e da secreção de insulina, fragmentação e oxidação de proteínas, danos ao DNA, formação de ácidos graxos livres e aumento da permeabilidade vascular, além de contribuir para o aumento na formação de AGEs, disfunção endotelial e desenvolvimento de complicações microvasculares e macrovasculares (Marton, Pescinini-e-Salzedas, Camargo, Barbalho, Haber, Sinatora et al, 2021).

Curcuma longa L. (açafrão da terra) é uma espécie vegetal da família Zingiberaceae originária do sudeste da Ásia, sendo a parte utilizada para fins medicinais e culinários, o rizoma. Os principais compostos fenólicos encontrados são os curcuminóides: curcumina, bisdemetóxicurcumina e demetóxicurcumina, que apresentam moderada solubilidade em ambiente aquoso, sendo este um empasse para sua biodisponibilidade que pode ser melhorada quando associados à Piper nigrum (pimenta preta) ou gorduras (Brad e Dallas, 2015; Brasil, 2015).

Para a Curcuma longa são atribuídos benefícios no DMT2 devido sua ação antioxidante, anti-inflamatória, relatos de sua capacidade em reduzir níveis glicêmicos, marcadores de disfunção endotelial, e melhorar o perfil lipídico (Marton, Pescinini-e-Salzedas, Camargo, Barbalho, Haber, Sinatora et al, 2021). A curcumina apresenta atividade antioxidante capaz de eliminar EROs, controlar danos ao DNA, redução da peroxidação lipídica mediada por radicais livres, aumento de glutationa e superóxido dismutase (El-Bahr, 2013; Rahmani, Alsahli, Aly, Khan, Aldebasi, 2018). A curcumina se mostra efetiva na prevenção do processo inflamatório via inibição de várias vias moleculares à exemplo da ciclooxigenase (COX), fator de necrose tumoral alfa (TNF-?), fator nuclear ?b (NF- ?b) e interleucina 6 (IL-6) (Rahmani, Alsahli, Aly, Khan, Aldebasi, 2018).

Devido ao exposto, o aumento da rigidez arterial central e endotelial é característico em quadro de diabetes. Um ensaio clinico randomizado controlado por placebo, com o objetivo de avaliar a intervenção com 400 mg de Curcuma longa na rigidez arterial e endotelial, em 114 pacientes com DMT2, pelo período de 3 meses, encontrou que o grupo intervenção reduziu significativamente, comparado à linha de base, a velocidade da onda de pulso carotídeo-femoral (p = 0,002), velocidade da onda de pulso braquial-tornozelo esquerdo (p = 0,001), aumento da pressão da aorta (p = 0,007), índice de aumento da aorta (p = 0,007) em comparação com o grupo de placebo, concluindo que três meses de tratamento com o fitoterápico diminuiu significativamente a rigidez arterial em comparação com placebo, se apresentando como seguro e sem efeitos adversos importantes relatados nesta pesquisa (Srinivasan, Selvarajan, Kamalanathan, Kadhiravan, Lakshmi, Adithan, 2019).

Resultados de outro ensaio clinico randomizado e controlado por placebo, após intervenção com açafrão da terra na dose de 2,1g em 75 pacientes, por oito semanas, indicaram redução significativa do peso corporal, triglicérides, LDL-c, colesterol total, sem mudanças em PCR ultrassensível, no estado glicêmico e capacidade antioxidante total, possivelmente pelo curto tempo de segmento da pesquisa (Adab, Eghtesadi, Vafa, Heydari, Shojaii, Haqqani, Arablou et al, 2019).

Atualmente os estudos conduzidos com Curcuma longa são heterogêneos no tocante a doses, tempo de intervenção e tipo de extrato utilizado que podem impactar nos achados acerca do uso em DMT2. É indiscutível que se apresenta como alternativa segura, com eventos adversos fracos e promissora para esses pacientes, porém mais estudos são necessários.

Referências:

1. Adab Z, Eghtesadi S, Vafa M-R, Heydari I, Shojaii A, Haqqani H, Arablou T, et al. Effect of turmeric on glycemic status, lipid profile, hs?CRP, and total antioxidant capacity in hyperlipidemic type 2 diabetes mellitus patients. Phytotherapy Research. p.1-9, 2019. DOI: 10.1002/ptr.6312. / 2. Brad JD, Dallas L. Beyond yellow curry: Assessing commercial curcumin  absorption technologies. Journal of the American College of Nutrition. v. 34, n. 4, p.347–358, 2015. Doi: 10.1080 / 07315724.2014.950392. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4536942/. Acesso em: 10 de agosto de 2022. / 3. Brasil. Ministério da Saúde. Anvisa. Monografia da espécie Cúrcuma  longa  L.  (CURCUMA). Brasília. 2015. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/22/Monografia-Curcuma-CP-corrigida.pdf. Acesso em: 05 de agosto de 2022. / 4. International Diabetes Federation. IDF Atlas. 9ª ed. Bruxelas: International Diabetes Federation, 2019. Disponível em: https://www.diabetesatlas.org/upload/resources/material/20200302_133351_IDFATLAS9e-final-web.pdf. Acesso em 30 de agosto de 2022. / 5. Marton LT, Pescinini-e-Salzedas LM, Camargo MEC, Barbalho SM, Haber JFdosS, Sinatora RV, et al. The Effects of Curcumin on Diabetes Mellitus: A Systematic Review. Frontiers in Endocrinology.  v.12, 2021. Doi: 10.3389/fendo.2021.669448. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fendo.2021.669448/full. Acesso em: 10 de julho de 2021. / 6. Rahmani AH, Alsahli MA, Aly SM, Khan MA, Aldebasi YH. Role of Curcumin in Disease Prevention and Treatment. Advanced Biomedical Research. p. 7-38, 2018. Doi: 10.4103/abr.abr_147_16. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5852989/. Acesso em: 29 de agosto de 2021. / 7. Sociedade Brasileira de Diabetes. SBD. Diretrizes Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020. São Paulo: Clanad, 2019. Disponível em: https://diabetes.org.br/.  / 8. Srinivasan A, Selvarajan S, Kamalanathan S, Kadhiravan T, Lakshmi NCP, Adithan S. Effect of Curcuma longa on vascular function in native Tamilians with type 2 diabetes mellitus: A randomized, double?blind, parallel arm, placebo?controlled trial. Phytotherapy Research. v.33, p.1898–1911, 2019. DOI: 10.1002/ptr.6381.

Fonte: Vitafor