Outubro Rosa: ativos naturais para o cuidado com câncer de mama

outubro rosa

O câncer de mama é um problema de saúde pública. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) afirma que a incidência desse tipo de câncer, para o ano de 2019, será de 59.700 casos novos, representando 29,5% dos tipos que afetam o público feminino.

O mês de outubro é caracterizado pelo movimento de conscientização para o controle do câncer de mama: Outubro Rosa. Criado na década de 1990, o conceito da campanha é compartilhar informações relevantes e importantes sobre a doença, a fim de proporcionar acesso a serviços de diagnóstico e cuidados preventivos.

Os parâmetros epidemiológicos relacionados às taxas de incidência, mortalidade e prognóstico do câncer de mama divergem entre regiões e países. São diversos os fatores de risco associados ao seu desenvolvimento, entre eles, os hábitos de saúde e o estilo de vida, a exposição ambiental, o histórico familiar e os aspectos genéticos. O estilo de vida, incluindo a alimentação, apresenta influência significativa nos mecanismos fisiopatológicos do desenvolvimento do câncer de mama, especialmente em relação a níveis hormonais alterados pelo excesso de peso corporal e sedentarismo.

Estudos reforçam que o excesso de peso e uma dieta rica em gordura estão associados à resistência à insulina e ao aumento da atividade androgênica, sobretudo, dos níveis de testosterona e IGF-1. A insulina é o hormônio responsável por estimular a síntese de andrógenos no ovário e a expressão dos receptores do hormônio do crescimento (GH) e aumentar a biodisponibilidade de hormônios sexuais e IGF-1 em razão da inibição da produção hepática de globulina ligadora de hormônios. A associação das concentrações de estrogênios com o câncer acontece pela potencialização da estimulação hormonal e proliferação de células mamárias com maior propensão a mutações, iniciando, assim, processos mutagênicos de DNA. Portanto, o controle da adiposidade e do o dismetabolismo é essencial para reduzir estágios avançados de câncer de mama e melhorar o prognóstico.

Estratégias terapêuticas à base de ativos e extratos naturais no tratamento do câncer são pontuadas em diferentes estudos científicos como promissoras para um melhor prognóstico da doença. Alguns chás à base de ervas aromáticas, extratos de alho e gengibre e, principalmente, o fitoativo curcumina, presente na cúrcuma, ou açafrão-da-terra merecem destaque na intervenção nutricional do paciente com a doença, independentemente do estágio.

Nutrição integrada e o papel de extratos naturais no tratamento do câncer!

A curcumina apresenta efeitos significativos na antiproliferação de células cancerígenas, indução da apoptose celular, antiangiogênese e modulação antioxidante e anti-inflamatória. Sua utilização, como agente terapêutico para manejo do câncer, é indicada no tratamento coadjuvante da doença junto a outras modificações alimentares e suplementações eficientes.

Uma questão importante a ser destacada em relação às terapias convencionais utilizadas para tratar o câncer é o fenômeno da resistência a múltiplas drogas quimioterápicas, que pode surgir em 30 a 80% dos pacientes que se submetem à quimioterapia como principal intervenção. Entretanto, de forma positiva, ressalta-se que a maioria dos produtos naturais resistiu a esse fenômeno, com destaque à curcumina. Veja o vídeo a seguir sobre o papel principal desse princípio ativo no tratamento da doença.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou que 80% das pessoas em todo o mundo fazem uso de componentes naturais da medicina tradicional de plantas, ou conhecida como medicina tradicional chinesa, nos cuidados de saúde, sobretudo, quanto ao câncer.

Diferentes produtos compostos por extratos de plantas apresentam potencial anticancerígeno. São 30 anos de pesquisas que detectaram a eficácia de 80% de drogas anticâncer isoladas diretamente de plantas, contra 20% daquelas sintetizadas em laboratórios.

Um recente estudo de revisão (2018) avaliou o papel da curcumina na regulação do gene p53. Qualquer mutação em p53 pode desencadear uma ação oncogênica, que tem associação com a perda de funções do tecido atingido.  Esse gene apresenta um papel significativo no processo de ativação da apoptose celular e redução da proliferação celular cancerígena. A deficiência nos níveis de p53 pode comprometer o tratamento oncológico por aumentar a resistência a drogas contra o câncer. Ou seja, as células tumorais com p53 anormal podem ser resistentes à quimioterapia e radioterapia. Os pesquisadores revelaram dados que comprovam a eficácia da suplementação de curcumina no tratamento de células cancerosas com característica de um p53 anormal, regulando tal mutação neste gene.

cúrcuma pode ser prescrita na rotina alimentar de pacientes com câncer de mama, após uma avaliação individualizada. 

Referências

TALIB, W. et al. Role of curcumin in regulating p53 in breast cancer: an overview of the mechanism of action. Breast Cancer (Dove Med Press), v. 10, p. 207-217, 2018.

LOPES, C. et al. Phytotherapy and Nutritional Supplements on Breast Cancer. Biomed Res Int., v. 2017, 2017.

TAHA, Z.; ELTOM, S. The Role of Diet and Lifestyle in Women with Breast Cancer: An Update Review of Related Research in the Middle East. Biores Open Access., v. 7, n. 1, p. 73-80, 2018.

LIMON-MIRO, A. et al. Dietary Guidelines for Breast Cancer Patients: A Critical Review. Adv Nutr., v. 14, n. 8, p. 613-623, jul. 2017.

SHAPIRA, N. The potential contribution of dietary factors to breast cancer prevention. European Journal of Cancer Prevention, v. 26, n. 5, p. 385-395, 2017.

SEILER, A. Obesity, Dietary Factors, Nutrition, and Breast Cancer Risk. Curr Breast Cancer Rep., v. 10, n. 1, p. 14-27, mar. 2018.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. A situação do câncer de mama no Brasil: Síntese de dados dos sistemas de informação. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), 2019. Disponível em: <https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//a_situacao_ca_mama_brasil_2019.pdf>. Acesso em: 08 ago. 2019.

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Nutrição e endurance: atualizações na prática clínica

endurance

O número de praticante de modalidades de endurance (corrida, triatlon, ciclismo) cresce substancialmente a cada ano. No ano de 2015, nos Estados Unidos, o número de praticantes de triatlon era estimado em 2,5 milhões e, no mundo, em 3,5 milhões. Certamente, nos dias de hoje esse número é significativamente superior. Junto com a prática, cresce o número de evidências científicas acerca das estratégias nutricionais e de suplementação para estas modalidades. Tal crescimento também é justificado pela evolução do esporte dentro do cenário do alto rendimento esportivo. No ano de 2018, o queniano e campeão olímpico Eliud Kipchoge obteve o recorde mundial de maratona ao completar a prova em Berlim com o tempo de 2:01:39, algo que no passado era considerado sub-humano.

Sabemos que um ciclo de preparação para uma prova de longa duração é determinado pelas fases de treinamento. Para compreensão do profissional nutricionista (de forma simples e não técnica), a periodização se inicia no período de base/fundação, onde não há aumento substancial do volume de treino o que permite que a composição corporal seja alvo primário de atenção. Em seguida, inicia-se o aumento do volume de treino semana a semana. Nessa fase a dieta deve acompanhar esse aumento de volume para que a evolução e adaptação aos treinos ocorram. Ou seja, é a fase onde não se deve fase restrição calórica, mas periodizar a dieta em função dos estímulos mecânicos diários. A fase de volume termina no ˜pico de treino˜, onde as maiores distâncias são percorridas e a estratégia nutricional de prova deve ser testada e ajustada toda semana. Por fim, o polimento é a fase que antecede a prova e, nesse período, deve-se minimizar ao máximo a carga de estresse e favorecer a recuperação dos estoques de energia para prova. O conhecimento destas fases de treino e as respectivas condutas, permite que o profissional nutricionista possa periodizar a dieta ao longo do ciclo de acordo com o objetivo do treinamento.

Recentemente, alguns estudos sobre suplementação no âmbito do endurance foram publicados. Kato et al. (2018) avaliaram maratonistas (média de 26 anos) que passaram por 2 dias de adaptação: no primeiro dia, correram 10 km e no segundo 5 km. Durante esses dias, consumiram uma dieta com 8g de CHO/kg de peso corporal/dia e 1,4g/ de PTN/kg de peso corporal/dia. No terceiro dia, realizaram um treino longo de 20 km onde consumiram alguma das seguintes dietas:

1) 9g de CHO/kg de peso corporal/dia e 0,8g/ de PTN/kg de peso corporal/dia;

2) 8g de CHO/kg de peso corporal/dia e 1,75g/ de PTN/kg de peso corporal/dia;

3) 9g de CHO/kg de peso corporal/dia e 0,8g/ de PTN/kg de peso corporal/dia + BCAAs;

3) 9g de CHO/kg de peso corporal/dia e 0,8g/ de PTN/kg de peso corporal/dia + EAAs (aminoácidos essenciais).

O objetivo do estudo foi de avaliar qual a melhor conduta para recuperação muscular pós-esforço. Conforme apresentado na figura abaixo, o resultado demonstrou que as dietas 2 e 3 foram equivalentes em reduzir a oxidação proteica após o exercício, indicando que há uma maior necessidade de ingestão proteica que, se não for cumprida deve ser complementada com a suplementação de BCAAs.

grafico nutricao e endurance

Wall et al. (2011) submeteram 14 triatletas com média de 25 anos a suplementação de L-carnitina por 24 semanas afim de verificar os efeitos da suplementação sobre o desempenho esportivo em intensidade moderada (50% VO2 máx) e alta (80% VO2 máxi). O protocolo de suplementação foi composto de 80g de carboidratos + 2g de L-carnitina, 2 vezes ao dia. Ao final de 6 meses, os autores observaram que, em atividade moderada, o delta de glicogênio (utilização) foi menor frente a suplementação de L-carnitina. Já em alta intensidade, o delta de lactato (produção) foi menor no grupo suplementado em comparação ao placebo.

Por fim, de modo mais recente, têm-se discutido o “treinamento intestinal” dentro da prática de endurance com o objetivo de minimizar os possíveis desconfortos gastrointestinais e até mesmo fortalecer a microbiota para manutenção da imunidade. Neste contexto, os estudos com uso de probióticos associado a suplementação de L-glutamina tem demonstrado resultados promissores. A literatura acerca da suplementação de probióticos e endurance tem crescido substancialmente (Leite et al, 2018; Pyne et al, 2014; West et al, 2009). De modo complementar, a figura abaixo (extraída de Coqueiro et al, 2019) resume as principais funções da L-glutamina além do trato intestinal:

nutricao e endurance

Embora não seja consenso da literatura, há evidências indicando que a glutamina pode aumentar a síntese de glicogênio muscular e reduzir o acúmulo de amônia induzido pelo exercício. A suplementação também pode atenuar marcadores de dano muscular e, consequentemente diminuir a sensação de dor muscular tardia, especialmente em indivíduos engajados em protocolos de treinamento de exaustão e/ou exercícios prolongados. Embora os efeitos acima descritos sejam evidentes no contexto do exercício, poucos resultados sobre desempenho esportivo foram observados na literatura.

Referências bibliográficas:

Coqueiro AY, Rogero MM, Tirapegui J. Glutamine as an Anti-Fatigue Amino Acid in Sports Nutrition. Nutrients. 2019 Apr 17;11(4).

Kato H, Suzuki K, Bannai M, Moore DR. Branched-Chain Amino Acids Are the Primary Limiting Amino Acids in the Diets of Endurance-Trained Men after a Bout of Prolonged Exercise. J Nutr. 2018 Jun 1;148(6):925-931.

Leite GSF, Resende Master Student AS, West NP, Lancha AH Jr. Probiotics and sports: A new magic bullet? Nutrition. 2019 Apr;60:152-160.

Pyne DB1, West NP, Cox AJ, Cripps AW. Probiotics supplementation for athletes – clinical and physiological effects. Eur J Sport Sci. 2015;15(1):63-72.

Wall BT, Stephens FB, Constantin-Teodosiu D, Marimuthu K, Macdonald IA, Greenhaff PL. Chronic oral ingestion of L-carnitine and carbohydrate increases muscle carnitine content and alters muscle fuel metabolism during exercise in humans. J Physiol. 2011 Feb 15;589(Pt 4):963-73.

West NP, Pyne DB, Peake JM, Cripps AW. Probiotics, immunity and exercise: a review. Exerc Immunol Rev. 2009;15:107-26.

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Curcuma longa na prevenção e tratamento do paciente oncológico

curcuma-longa

Dados do Instituto Nacional do Câncer mostram que, em 2018, houve 300.140 novos casos de câncer em homens no Brasil, e 282.450 novos casos de câncer em mulheres, sendo o de próstata o mais prevalente em homens com 31,7% dos casos, e o de mama o mais prevalente em mulheres com 29,5% dos casos (desconsiderando Ca de pele não melanoma) (Inca, 2018).

Estimativas globais mostram que de 30 a 50% dos casos de câncer podem ser prevenidos com hábitos saudáveis de vida, incluindo as escolhas alimentares, nutrientes e compostos bioativos que optamos em oferecer pro nosso organismo (WCRF, 2018). Neste aspecto, o texto a seguir tem como objetivo promover uma revisão das diversas aplicabilidades do uso da Curcuma longa L (C. longa) na prevenção e/ou tratamento de pacientes com diferentes tipos de câncer.

Em recente revisão publicada por Mokbel e cols (2019), os autores descrevem o papel de vários micronutrientes e compostos bioativos na prevenção e tratamento do paciente com câncer de mama, destacando-se a curcumina, principal componente da planta Curcuma longa, seja como quimiopreventivo terapêutico, ou para evitar a reincidiva tumoral.

Wang et al (2019) descreve a curcumina como agente potencial preventivo de câncer, especialmente pela sua capacidade em organizar e equilibrar a expressão e a atividade de microRNAs oncogênicos e supressores de tumor. O autor reforça a importância da ingestão habitual de curcumina, que não apresenta efeitos adversos.

Uma revisão recente apresenta dados em que a curcumina foi administrada concomitantemente com medicamentos quimioterápicos, aumentando a eficácia do tratamento e/ou reduzindo efeitos colaterais e/ou aumentando a qualidade de vida dos pacientes. Segundo os autores, a curcumina poderia ser utilizada associada com paclitaxel, docetaxel, doxorubicina, cisplatina, metformina, gencitabina, celecoxibe e 5-fluorouracil, e parece indicar eficácia para tumores como próstata, hepatocelular, gástrico, linfoma de Hodgkin, bexiga, pâncreas, leucemia e câncer coloretal. As doses sugeridas ainda não são conclusivas, mas variam de 500mg/dia até 8g/dia (Tan, 2019).

O principal fator para que o suplemento de curcuma longa e seus curcuminoides tenha eficiência terapêutica é a sua baixa absorção. Desta forma, os estudos são bastante eficazes em demonstrar que a biodisponibilidade da curcumina melhora na presença de piperina, composto bioativo da pimenta do reino (Salehi B et al, 2019), bem como na presença de gordura, especificamente de fosfolipídios, tanto na formulação quanto na refeição.

Gupta (2011) demonstrou que quando a curcumina é complexada com fosfatidilcolina, sua absorção é superior quando comparada na forma isolada, além da ação protetora hepática também ser mais eficaz. Estudo realizado por Liu Y et al (2019) em ratos demonstrou que este complexo melhora a absorção do quimioterápico, reduzindo as metástases pulmonares de Ca de mama primário.

Panahi (2014) demonstrou que uma dose baixa de 180mg/dia de curcuminoides de alta absorção (curcuminoides com fosfatidilcolina), além de reduzir marcadores inflamatórios como a proteína C-reativa (PCR), promove menos efeitos colaterais e aumenta a qualidade de vida dos pacientes em quimioterapia com diferentes medicamentos e diferentes tipos de tumor.

Um dado curioso é que a curcumina parece aumentar a biodisponibilidade da epigalocatequina 3-galato, composto bioativo principal do chá verde (camellia sinesis), o que poderia gerar indicação da suplementação de extrato de chá verde associada a curcuma (Pandit et al 2019).

Nesta mesma linha, Montgomery (2016) testou os efeitos antiproliferativos da curcumina isolada, da silimarina isolada e da combinação de curcumina e silimarina usando linhagens celulares de câncer de cólon. Os autores demonstraram que a curcumina sensibiliza as células de Ca de cólon para a silimarina, o que aumenta a eficácia anticâncer quando os dois compostos bioativos são utilizados conjuntamente.

A silimarina corresponde a um conjunto de compostos bioativos encontrados na planta Cardo Mariano, especialmente a flavonolignana silibina e, em diferentes doenças oncológicas, como o Ca cervical, de próstata, bexiga, hepatocelular e pulmão, a silimarina diminui a replicação e a vitalidade das células tumorais (Haddad, 2011).

Elyasi S et al (2016) testaram a dose de 420mg de silimarina, dividida em 3 doses ao dia, e demonstraram que a administração profilática de silimarina pode reduzir significativamente a gravidade da mucosite induzida por radioterapia e atrasar sua ocorrência em pacientes com câncer de cabeça e pescoço.

Soleimani et al (2019) descreve a silimarina como agente com potencial ação anticâncer, e que doses de 700mg, 3x ao dia, são consideradas seguras, devendo os pacientes serem reavaliados quanto às funções hepáticas e renais.

Assim como a curcumina, a silimarina exige ativadores ou melhoradores de absorção para garantir sua biodisponibilidade e efeito terapêutico em humanos. Lazzeroni M et al (2016), em estudo de fase 1, conseguiu demonstrar que a silimarina na presença de fosfatidilcolina tem grande absorção e é capaz de atingir o tecido tumoral da mama. Os autores usaram 2,8g/dia do complexo silimarina/fosfatidilcolina por período de 4 semanas, sem apresentar efeitos adversos. Di Costanzo A et al (2019), reforça a importância das fontes lipídicas para garantir absorção e biodisponibilidade da silimarina, e que doses eficazes de 1.500mg/dia ou superiores também são consideradas seguras.

Pode-se concluir que o uso dos curcuminoides da curcuma longa, especialmente a curcumina, podem ser utilizados para prevenção e tratamento de pacientes oncológicos, em doses mínimas fracionadas de 180mg/dia até 8g/dia, e sempre com ativadores e carreadores de alta absorção, como a piperina (pimenta do reino) e os lipossomas de fosfolipídios (fosfatidilcolina).

O uso da curcuma longa associada a outros compostos bioativos deve ser avaliada, como por exemplo com a silimarina para hepatoproteção e redução de efeitos adversos induzidos pelo tratamento quimio/radioterápico, com doses iniciais de 1.200 a 1.400mg diariamente (fracionadas ao longo do dia), e, possivelmente com doses superiores ainda a serem determinadas, com ação apoptótica, antiangiogênica e antiproliferativa tumoral.

Referências bibliográficas:

Di Costanzo A et al. Formulation Strategies for Enhancing the Bioavailability of Silymarin: The State of the Art. Molecules. 2019 Jun 7;24(11).

Elyasi S et al. Effect of Oral Silymarin Administration on Prevention of Radiotherapy Induced Mucositis: A Randomized, Double-Blinded, Placebo-Controlled Clinical Trial. Phytother Res. 2016 Nov;30(11):1879-1885.

Gupta NK et al. Bioavailability enhancement of curcumin by complexation with phosphatidyl choline. J Pharm Sci. 2011 May;100(5):1987-95.

Haddad, Y., Vallerand, D., Brault, A., & Haddad, P. S. (2011). Antioxidant and hepatoprotective effects of silibinin in a rat model of nonalcoholic steatohepatitis. Evidence?Based Complementary and Alternative Medicine, 2011, 1–10. nep164.

Inca, estimativa 2018: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. – Rio de Janeiro: INCA, 2017.

Lazzeroni M et al. A Presurgical Study of Oral Silybin-Phosphatidylcholine in Patients with Early Breast Cancer. Cancer Prev Res (Phila). 2016 Jan;9(1):89-95.

Liu Y et al. Hybrid curcumin-phospholipid complex-near-infrared dye oral drug delivery system to inhibit lung metastasis of breast cancer. Int J Nanomedicine. 2019 May 7;14:3311-3330.

Mokbel K et al. Chemoprevention of Breast Cancer With Vitamins and Micronutrients: A Concise Review. In Vivo. 2019 Jul-Aug;33(4):983-997.

Montgomery A et al. Curcumin Sensitizes Silymarin to Exert Synergistic Anticancer Activity in Colon Cancer Cells. J Cancer. 2016 Jun 23;7(10):1250-7.

Panahi Y et al. Adjuvant therapy with bioavailability-boosted curcuminoids suppresses systemic inflammation and improves quality of life in patients with solid tumors: a randomized double-blind placebo-controlled trial. Phytother Res. 2014 Oct;28(10):1461-7.

Pandit AP et al. Curcumin as a permeability enhancer enhanced the antihyperlipidemic activity of dietary green tea extract. BMC Complement Altern Med. 2019 Jun 13;19(1):129.

Salehi B et al. The therapeutic potential of curcumin: A review of clinical trials. Eur J Med Chem. 2019 Feb 1;163:527-545.

Soleimani V et al. Safety and toxicity of silymarin, the major constituent of milk thistle extract: An updated review. Phytother Res. 2019 Jun;33(6):1627-1638.

Tan BL et al.  Curcumin Combination Chemotherapy: The Implication and Efficacy in Cancer. Molecules. 2019 Jul 10;24(14).

Wang M et al. Potential Mechanisms of Action of Curcumin for Cancer Prevention: Focus on Cellular Signaling Pathways and miRNAs. Int J Biol Sci. 2019 May 7;15(6):1200-1214.

WCRF, World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research. Diet, Nutrition, Physical Activity and Cancer:
a Global Perspective. The Third Expert Report 2018. Available in www.dietandcancerreport.org

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Astragalus membranaceus e os seus efeitos no tratamento do câncer

Astragalus Membranaceus

Astragalus Membranaceus (AM) é uma das principais ervas que são mais utilizadas com finalidade terapêutica na medicina tradicional chinesa. O AM possui diversos compostos bioativos, dentre eles estão os flavonoides e as saponinas, sendo o Astragalosídeo IV, uma saponina esteroide, o principal. Em termos gerais, o extrato da raiz do AM quando comparado com o extrato da planta inteira, contém uma maior concentração de Astragalosídeo IV. Alguns estudos têm demonstrado que esse componente é responsável por promover os efeitos benéficos do consumo dessa erva, que vão desde a reposta anti-inflamatória e antioxidante, tratamento de doenças renais, cardioproteção, prevenção dos efeitos colaterais e deletérios da quimioterapia, entre outros. O Astragalosídeo IV possui baixa biodisponibilidade após o ser consumido (via oral), digerido e absorvido pelo trato gastrointestinal (TGI). A baixa biodisponibilidade tem sido uma das principais barreiras que levam aos resultados inconclusivos dos efeitos do AM na saúde humana. Na tentativa de driblar e essa limitação, boa parte dos estudos clínicos com AM, optam por administrá-lo por via oral com doses elevadas diariamente ou por via injetável, tornando assim muitas das vezes essa replicação de conduta irreal com a prática clínica. Outra medida talvez mais real com a prática clínica do nutricionista é ofertar o AM através de suplementos alimentares com uma maior concentração Astragalosídeo (1).

O AM também é considerado como um Immune Booster, por proporcionar um efeito sobre o aumento da estimulação e ativação do sistema imunológico. Em um ensaio clínico randomizado, o consumo oral de AM (cerca de 1,23g) por um período de 7 dias quando comparado com o consumo de Echinacea Purpurea e Glycyrrhiza Glabra, foi mais eficaz em promover um efeito imunomodulador. No grupo que consumiu AM, foi observado um aumento no número de linfócitos das proteínas que são expressas nas células imunológicas, como: CD4, CD8, CD25 e CD69. Esses efeitos imunomoduladores foram observados 24 horas após o consumo de AM (2). Uma metanálise de ensaios clínicos controlados buscou avaliar o efeito da administração de uma injeção de AM no tratamento da leucopenia induzida por quimioterápico e outras causas. Ao todo foram utilizados 13 ensaios clínicos envolvendo 841 indivíduos para a construção da metanálise. Foi observado que os pacientes que receberam a injeção de AM tiveram um melhor efeito na reversão da leucopenia quando comparado com os indivíduos que não receberam a injeção de AM, demonstrando que de fato o AM parece exercer um importante efeito sobre a imunidade (3).

consumo de astragalus

Em relação ao câncer, especula-se que o AM possa ser um importante agente terapêutico no controle dos efeitos deletérios e colaterais durante o tratamento quimioterápico. Uma recente metanálise construída a partir de 27 ensaios clínicos randomizados totalizando em uma amostra de 1.843 participantes, demonstrou que o consumo de AM reduziu significantemente os sintomas de vômitos e náuseas induzidos por oxaliplatina durante a quimioterapia em pacientes portadores de câncer colorretal metastático (4). Outra metanálise envolvendo 32 ensaios clínicos randomizados e 2.224 pacientes com CCR, demonstrou que o consumo oral de AM sinergicamente com a oxaliplatina, foi eficiente na prevenção da neutropenia induzida por quimioterapia (5). Uma revisão sistemática avaliou o efeito da adição de medicamentos fitoterápicos (entre elas a base de AM) durante a quimioterapia do CCR. Um total de 13 ensaios clínicos randomizados foram incluídos na revisão sistemática. Foi observado que o AM é frequentemente utilizado durante a quimioterapia e que o seu consumo foi capaz de aumentar a taxa de sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes. Além disso, os pacientes que utilizaram o AM, tiveram uma redução dos efeitos deletérios induzidos pela quimioterapia, como vômitos, náuseas, neutropenia e neurotoxicidade, quando comparado com os pacientes que foram apenas submetidos a quimioterapia (6). Outra metanálise construída a partir de 19 ensaios clínicos randomizados, totalizando em uma amostra de 1.635 pacientes, avaliou o efeito da administração injetável de AM combinada com a quimioterapia a base de platina em pacientes com câncer de pulmão. O resultado da metanálise demonstrou que, quando comparado apenas com a quimioterapia isoladamente, a quimioterapia combinada com as injeções de AM teve efeitos positivos sobre o aumento da sobrevida dos pacientes, reduziu a incidência de leucopenia, aumentou a expressão de moléculas CD3, CD4, CD8 e das células natural killer (NK), além de reduzir os efeitos colaterais como vômitos e enjoo. Vale salientar que as células NK são as principais células imunológicas responsáveis pela resposta anti-tumoral (7). Em relação ao câncer de estômago, uma metanálise que incluiu 81 ensaios clínicos randomizados totalizando em uma amostra de 5.978 pacientes com câncer, demonstrou que a combinação da injeção de AM em sinergia com quimioterapia, foram eficientes na prevenção da leucopenia e das reações adversas que acometem o TGI. Outra metanálise envolvendo 3.289 pacientes com câncer de esôfago também demonstrou que a injeção de AM sinergicamente com a quimioterapia, foi capaz de melhorar a qualidade de vida desses pacientes, além de reduzir a incidência da leucopenia e sintomas como náuseas, quando comparado com os pacientes que foram submetidos apenas ao tratamento quimioterápico (8).

Apesar de observamos vários efeitos benéficos do consumo de AM sobre a imunidade e no tratamento dos efeitos colaterais induzidos pela quimioterapia no câncer, mais estudos (em especial em seres humanos) são necessários para uma confirmação mais sólida e concreta de seus efeitos, para que assim sejam criados guidelines seguros e eficazes para indicações de consumo/suplementação de AM no manejo clínico das patologias.

 

Referências bibliográficas:

  • 1. FU, Juan et al. Review of the botanical characteristics, phytochemistry, and pharmacology of Astragalus membranaceus (Huangqi). Phytotherapy Research, v. 28, n. 9, p. 1275-1283, 2014.
  • 2. ZWICKEY, Heather et al. The effect of Echinacea purpurea, Astragalus membranaceus and Glycyrrhiza glabra on CD25 expression in humans: a pilot study. Phytotherapy Research: An International Journal Devoted to Pharmacological and Toxicological Evaluation of Natural Product Derivatives, v. 21, n. 11, p. 1109-1112, 2007.
  • 3. ZHANG, Changsong et al. The clinical value of Huangqi injection in the treatment of leucopenia: a meta-analysis of clinical controlled trials. PloS One, v. 8, n. 12, p. e83123, 2013.
  • 4. CHEN, Meng Hua et al. Integrative medicine for relief of nausea and vomiting in the treatment of colorectal cancer using oxaliplatin?based chemotherapy: A systematic review and meta?Phytotherapy Research, v. 30, n. 5, p. 741-753, 2016.
  • 5. CHEN, Menghua et al. Oxaliplatin-based chemotherapy combined with traditional medicines for neutropenia in colorectal cancer: a meta-analysis of the contributions of specific plants. Critical Reviews in Oncology/Hematology, v. 105, p. 18-34, 2016.
  • 6. CHEN, Menghua et al. FOLFOX 4 combined with herbal medicine for advanced colorectal cancer: a systematic review. Phytotherapy Research, v. 28, n. 7, p. 976-991, 2014.
  • 7. CAO, Ailing et al. Evidence of Astragalus injection combined platinum-based chemotherapy in advanced nonsmall cell lung cancer patients: A systematic review and meta-analysis. Medicine, v. 98, n. 11, 2019.
  • 8. GE, Long et al. Network meta-analysis on selecting Chinese medical injections in radiotherapy for esophageal cancer. 2015.

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