Curcuma longa na prevenção e tratamento do paciente oncológico

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Dados do Instituto Nacional do Câncer mostram que, em 2018, houve 300.140 novos casos de câncer em homens no Brasil, e 282.450 novos casos de câncer em mulheres, sendo o de próstata o mais prevalente em homens com 31,7% dos casos, e o de mama o mais prevalente em mulheres com 29,5% dos casos (desconsiderando Ca de pele não melanoma) (Inca, 2018).

Estimativas globais mostram que de 30 a 50% dos casos de câncer podem ser prevenidos com hábitos saudáveis de vida, incluindo as escolhas alimentares, nutrientes e compostos bioativos que optamos em oferecer pro nosso organismo (WCRF, 2018). Neste aspecto, o texto a seguir tem como objetivo promover uma revisão das diversas aplicabilidades do uso da Curcuma longa L (C. longa) na prevenção e/ou tratamento de pacientes com diferentes tipos de câncer.

Em recente revisão publicada por Mokbel e cols (2019), os autores descrevem o papel de vários micronutrientes e compostos bioativos na prevenção e tratamento do paciente com câncer de mama, destacando-se a curcumina, principal componente da planta Curcuma longa, seja como quimiopreventivo terapêutico, ou para evitar a reincidiva tumoral.

Wang et al (2019) descreve a curcumina como agente potencial preventivo de câncer, especialmente pela sua capacidade em organizar e equilibrar a expressão e a atividade de microRNAs oncogênicos e supressores de tumor. O autor reforça a importância da ingestão habitual de curcumina, que não apresenta efeitos adversos.

Uma revisão recente apresenta dados em que a curcumina foi administrada concomitantemente com medicamentos quimioterápicos, aumentando a eficácia do tratamento e/ou reduzindo efeitos colaterais e/ou aumentando a qualidade de vida dos pacientes. Segundo os autores, a curcumina poderia ser utilizada associada com paclitaxel, docetaxel, doxorubicina, cisplatina, metformina, gencitabina, celecoxibe e 5-fluorouracil, e parece indicar eficácia para tumores como próstata, hepatocelular, gástrico, linfoma de Hodgkin, bexiga, pâncreas, leucemia e câncer coloretal. As doses sugeridas ainda não são conclusivas, mas variam de 500mg/dia até 8g/dia (Tan, 2019).

O principal fator para que o suplemento de curcuma longa e seus curcuminoides tenha eficiência terapêutica é a sua baixa absorção. Desta forma, os estudos são bastante eficazes em demonstrar que a biodisponibilidade da curcumina melhora na presença de piperina, composto bioativo da pimenta do reino (Salehi B et al, 2019), bem como na presença de gordura, especificamente de fosfolipídios, tanto na formulação quanto na refeição.

Gupta (2011) demonstrou que quando a curcumina é complexada com fosfatidilcolina, sua absorção é superior quando comparada na forma isolada, além da ação protetora hepática também ser mais eficaz. Estudo realizado por Liu Y et al (2019) em ratos demonstrou que este complexo melhora a absorção do quimioterápico, reduzindo as metástases pulmonares de Ca de mama primário.

Panahi (2014) demonstrou que uma dose baixa de 180mg/dia de curcuminoides de alta absorção (curcuminoides com fosfatidilcolina), além de reduzir marcadores inflamatórios como a proteína C-reativa (PCR), promove menos efeitos colaterais e aumenta a qualidade de vida dos pacientes em quimioterapia com diferentes medicamentos e diferentes tipos de tumor.

Um dado curioso é que a curcumina parece aumentar a biodisponibilidade da epigalocatequina 3-galato, composto bioativo principal do chá verde (camellia sinesis), o que poderia gerar indicação da suplementação de extrato de chá verde associada a curcuma (Pandit et al 2019).

Nesta mesma linha, Montgomery (2016) testou os efeitos antiproliferativos da curcumina isolada, da silimarina isolada e da combinação de curcumina e silimarina usando linhagens celulares de câncer de cólon. Os autores demonstraram que a curcumina sensibiliza as células de Ca de cólon para a silimarina, o que aumenta a eficácia anticâncer quando os dois compostos bioativos são utilizados conjuntamente.

A silimarina corresponde a um conjunto de compostos bioativos encontrados na planta Cardo Mariano, especialmente a flavonolignana silibina e, em diferentes doenças oncológicas, como o Ca cervical, de próstata, bexiga, hepatocelular e pulmão, a silimarina diminui a replicação e a vitalidade das células tumorais (Haddad, 2011).

Elyasi S et al (2016) testaram a dose de 420mg de silimarina, dividida em 3 doses ao dia, e demonstraram que a administração profilática de silimarina pode reduzir significativamente a gravidade da mucosite induzida por radioterapia e atrasar sua ocorrência em pacientes com câncer de cabeça e pescoço.

Soleimani et al (2019) descreve a silimarina como agente com potencial ação anticâncer, e que doses de 700mg, 3x ao dia, são consideradas seguras, devendo os pacientes serem reavaliados quanto às funções hepáticas e renais.

Assim como a curcumina, a silimarina exige ativadores ou melhoradores de absorção para garantir sua biodisponibilidade e efeito terapêutico em humanos. Lazzeroni M et al (2016), em estudo de fase 1, conseguiu demonstrar que a silimarina na presença de fosfatidilcolina tem grande absorção e é capaz de atingir o tecido tumoral da mama. Os autores usaram 2,8g/dia do complexo silimarina/fosfatidilcolina por período de 4 semanas, sem apresentar efeitos adversos. Di Costanzo A et al (2019), reforça a importância das fontes lipídicas para garantir absorção e biodisponibilidade da silimarina, e que doses eficazes de 1.500mg/dia ou superiores também são consideradas seguras.

Pode-se concluir que o uso dos curcuminoides da curcuma longa, especialmente a curcumina, podem ser utilizados para prevenção e tratamento de pacientes oncológicos, em doses mínimas fracionadas de 180mg/dia até 8g/dia, e sempre com ativadores e carreadores de alta absorção, como a piperina (pimenta do reino) e os lipossomas de fosfolipídios (fosfatidilcolina).

O uso da curcuma longa associada a outros compostos bioativos deve ser avaliada, como por exemplo com a silimarina para hepatoproteção e redução de efeitos adversos induzidos pelo tratamento quimio/radioterápico, com doses iniciais de 1.200 a 1.400mg diariamente (fracionadas ao longo do dia), e, possivelmente com doses superiores ainda a serem determinadas, com ação apoptótica, antiangiogênica e antiproliferativa tumoral.

Referências bibliográficas:

Di Costanzo A et al. Formulation Strategies for Enhancing the Bioavailability of Silymarin: The State of the Art. Molecules. 2019 Jun 7;24(11).

Elyasi S et al. Effect of Oral Silymarin Administration on Prevention of Radiotherapy Induced Mucositis: A Randomized, Double-Blinded, Placebo-Controlled Clinical Trial. Phytother Res. 2016 Nov;30(11):1879-1885.

Gupta NK et al. Bioavailability enhancement of curcumin by complexation with phosphatidyl choline. J Pharm Sci. 2011 May;100(5):1987-95.

Haddad, Y., Vallerand, D., Brault, A., & Haddad, P. S. (2011). Antioxidant and hepatoprotective effects of silibinin in a rat model of nonalcoholic steatohepatitis. Evidence?Based Complementary and Alternative Medicine, 2011, 1–10. nep164.

Inca, estimativa 2018: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. – Rio de Janeiro: INCA, 2017.

Lazzeroni M et al. A Presurgical Study of Oral Silybin-Phosphatidylcholine in Patients with Early Breast Cancer. Cancer Prev Res (Phila). 2016 Jan;9(1):89-95.

Liu Y et al. Hybrid curcumin-phospholipid complex-near-infrared dye oral drug delivery system to inhibit lung metastasis of breast cancer. Int J Nanomedicine. 2019 May 7;14:3311-3330.

Mokbel K et al. Chemoprevention of Breast Cancer With Vitamins and Micronutrients: A Concise Review. In Vivo. 2019 Jul-Aug;33(4):983-997.

Montgomery A et al. Curcumin Sensitizes Silymarin to Exert Synergistic Anticancer Activity in Colon Cancer Cells. J Cancer. 2016 Jun 23;7(10):1250-7.

Panahi Y et al. Adjuvant therapy with bioavailability-boosted curcuminoids suppresses systemic inflammation and improves quality of life in patients with solid tumors: a randomized double-blind placebo-controlled trial. Phytother Res. 2014 Oct;28(10):1461-7.

Pandit AP et al. Curcumin as a permeability enhancer enhanced the antihyperlipidemic activity of dietary green tea extract. BMC Complement Altern Med. 2019 Jun 13;19(1):129.

Salehi B et al. The therapeutic potential of curcumin: A review of clinical trials. Eur J Med Chem. 2019 Feb 1;163:527-545.

Soleimani V et al. Safety and toxicity of silymarin, the major constituent of milk thistle extract: An updated review. Phytother Res. 2019 Jun;33(6):1627-1638.

Tan BL et al.  Curcumin Combination Chemotherapy: The Implication and Efficacy in Cancer. Molecules. 2019 Jul 10;24(14).

Wang M et al. Potential Mechanisms of Action of Curcumin for Cancer Prevention: Focus on Cellular Signaling Pathways and miRNAs. Int J Biol Sci. 2019 May 7;15(6):1200-1214.

WCRF, World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research. Diet, Nutrition, Physical Activity and Cancer:
a Global Perspective. The Third Expert Report 2018. Available in www.dietandcancerreport.org

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