Nanotecnologia em alimentos

A nanociência e a nanotecnologia são as novas fronteiras deste século. A nanotecnologia é uma ciência recente que permite aos cientistas medir, controlar e manipular os materiais com dimensões de nanômetros, com a finalidade de alterar suas propriedades e funções. Na indústria alimentícia, as pesquisas acerca da nanotecnologia apontam para uma revolução tecnológica importante, alterando a forma como o alimento é produzido, processado, embalado, transportado e consumido. Assim, as nanotecnologias são aplicadas de diversas formas, como no encapsulamento de compostos bioativos, no controle de qualidade, no empacotamento de alimentos e em biossensores. Uma vez que a sociedade moderna enxerga os alimentos não só como fonte de nutrientes, mas também como promotores da saúde, tal ciência emerge como um advento, permitido que vitaminas, minerais, nutrientes e fitoquímicos apresentem maior biodisponibilidade, garantindo maior segurança alimentar, menor uso de pesticidas em plantações, dentre outros. Entretanto, pouco se sabe sobre a toxicidade desses compostos e suas possíveis interações com os sistemas biológicos e o meio ambiente.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional

Ano 12 – Edição 53 – Setembro de 2012

Taurina no esporte

A taurina é um composto final do metabolismo dos aminoácidos sulfurados (metionina e cisteína) que se encontra conjugada com ácidos biliares de sódio e potássio. Sua síntese ocorre a partir desses aminoácidos, por meio de uma série de reações enzimáticas que requerem a participação da vitamina B6 como cofator. Após exercícios exaustivos, observa-se depleção de taurina nas células musculares e elevação dos seus níveis no plasma. Supõe-se que a elevação de taurina no plasma exerça efeito ergogênico, aumentando a glicólise e modulando a entrada e saída de cálcio na célula, promovendo elevação do glicogênio hepático. O exercício físico, em função do maior consumo de oxigênio, pode promover aumento na produção de EROs, permitindo assim, modificar o estado redox da célula. As concentrações mitocondriais de taurina ainda não foram descritas, porém suas altas concentrações celulares e suas propriedades sugerem-na uma função antioxidante e de scavenger, provavelmente protegendo esta organela do estresse oxidativo. Estudos sugerem que o efeito protetor da taurina é devido suas atividades antioxidantes, através da sua habilidade em neutralizar o ácido hipocloroso (HOCl), uma substancia pró-oxidante potente.A taurina parece ter efeito de aumento da resistência em praticantes de atividade física e oferece combustível para contração do músculo esquelético, aumentando a quantidade de cálcio liberada e faz com que as células mais sensíveis ao cálcio aumentem ainda mais a sua contratilidade. Em estudos com humanos utilizaram-se preparados líquidos contendo combinação de vários nutrientes, dificultando o entendimento do real efeito da suplementação de taurina no exercício físico. é necessária a realização de estudos que avaliem os feitos isolados da taurina no exercício físico e no aumento da resistência física, quanto ao aumento do desempenho.

Anuário de Nutrição Esportiva Funcional

Fevereiro de 2010

Disbiose

Mais do que nutrir as células através da Nutrição, devemos estar atentos a um mundo a parte, que não enxergamos a olho nu e, por vezes, esquecemos de sua importância: a flora intestinal. No  total, convivemos com aproximadamente 100 trilhões de bactérias que vivem ecologicamente em equilíbrio, exercendo funções importantes, como digestão, síntese de vitaminas essenciais e proteção da mucosa.
O intestino é o órgão relacionado com a função imune mais importante do organismo: aproximadamente 60% das células imunológicas do organismo estão presentes na mucosa intestinal.
O desequilíbrio do microbioma pode resultar na proliferação de patógenos, com consequente infecção bacteriana, que invariavelmente leva a uma desordem de permeabilidade e a ativação de carcinógenos.
Dentre as causas da disbiose estão: antibioticoterapia indiscriminada, anti-inflamatórios esteroidais e não-esteroidais (AINEs), laxantes e purgativos, disfunções hepatopancreáticas, exposição excessiva de toxinas ambientais, doenças consumptivas, como câncer e síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS), e dieta (alto consumo de alimentos processados e ricos em carboidratos simples, em detrimento de alimentos crus e naturais) e a má digestão.Bactérias probióticas são microorganismos que exercem efeitos benéficos sobre nossa saúde, cujos benefícios são: antagonismo a outras bactérias (prevenindo a colonização por patógenos por competição), síntese de vitaminas do complexo B e vitamina K, melhora da função digestória (síntese de enzimas digestivas, regulação do trânsito intestinal e absorção de nutrientes), função metabólica (produzem ácidos graxos de cadeia curta que servem de substrato metabólico para os colonócitos), imunomodulação (essenciais para o desenvolvimento e maturação do sistema imune) e estimula produção de anticorpos, tem papel na normalização do colesterol e triglicerídeos plasmáticos. Prebióticos são ingredientes não digeríveis que estimulam seletivamente o crescimento e/ou atividade de bactérias intestinais, e conseguem aumentar significativamente o número de bifidobactérias no cólon e reduzir a população de bactérias patogênicas, assim, a combinação com probióticos é bem vinda. A Glutamina é um aminoácido não-essencial (porém, em situações de estresse, é considerado essencial)  e sua ação trófica na mucosa do intestino já é bastante conhecida. É a fonte energética mais importante para enterócitos e colonócitos. A Arginina é um aminoácido que melhora a retenção hidrogenada, promove funções e reparos intestinais, dentre outros benefícios. O Alecrim (Rosmarinus officinalis L.) é uma erva que favorece a expulsão de gases do aparelho digestório, e a digestão, especialmente de lipídeos, diminuindo a distensão abdominal, a flatulência e as dores. Seus derivados são mais efetivos na prevenção de lesões gástricas do que o medicamento lansoprazol, além de apresentar baixa toxicidade. Dente-de-leão (Taraxacum officinalis) é um fitoterápico que tem ação prebiótica, dentre outros benefícios. A Espinheira Santa (Maytenus officinalis) também tem seu papel na digestão por ajudar a reduzir distensão abdominal, flatulência e dores, esofagite de refluxo e hérnia de hiato, etc.

Deficiência de estrogênio e controle da massa corpórea: o papel da atividade física

Mulheres na pós-menopausa possuem tendência a ganhar massa corpórea. Durante essa fase da vida, há diminuição nos níveis de atividade física, levando à redução do gasto energético, o que acarreta aumento de adiposidade abdominal e pode agravar as complicações metabólicas da obesidade. Porém, não se sabe exatamente como a menopausa contribui para a diminuição do nível de atividade física. Apenas metade das mulheres com idade entre 50 e 64 anos fazem alguma atividade física regular, e apenas um quarto relatam a prática de exercícios de alta intensidade. Assim, a diminuição da atividade física pode ser um importante fator para o ganho de massa corpórea após a menopausa. Os componentes do gasto energético possuem um importante papel no aumento da adiposidade central e de todo o corpo que acontece em mulheres após a menopausa. Como demonstrado em estudo de Poehlman, Toth e Gardner, mulheres que entram na menopausa apresentam maiores reduções da TMB (aproximadamente 100 kcal/dia) comparadas às que não estão na menopausa. Os níveis de atividade física também são menores em mulheres na menopausa (aproximadamente 127 kcal/dia). As reduções da TMB e dos níveis de atividade física podem estar relacionadas, pelo menos em parte, à diminuição da massa magra. O gasto energético reduzido associado a nenhuma mudança ou ao aumento da ingestão alimentar gera um balanço energético positivo, fato que favorece o aumento da gordura corpórea total e, possivelmente, da adiposidade central.  O climatério é um período durante o qual o gasto energético e a utilização dos substratos energéticos estão desregulados, com menor oxidação de gordura. Isso pode ser devido a alterações nos níveis de estrogênio e/ou androgênio, na massa livre de gordura reduzida e mudanças na ingestão alimentar induzidas pela deficiência de estrogênio. No estudo de Kohrt, Ehsani e Birge, foram investigadas mudanças na composição corporal e na distribuição de gordura corporal em resposta ao exercício físico, à terapia de reposição hormonal (estrógenos conjugados e medroxiprogesterona) isolados, e à terapia aliada ao exercício físico. O estudo consistiu em um período de tratamento de 11 meses com avaliações antes do tratamento, ao final do tratamento e seis meses após seu término. As mulheres que participaram somente do programa de exercício e as que fizeram tratamento hormonal em conjunto com o exercício físico tiveram reduções na circunferência do quadril após 12 meses, porém, as mulheres que aliaram tratamento hormonal ao exercício físico tiveram menores circunferências de quadril após seis meses do término do tratamento comparadas às mulheres que somente se exercitaram. Isso sugere que a reposição hormonal pode ser usada em conjunto com o exercício físico para prevenir mudanças na distribuição de gordura que acompanham a menopausa.  Muitos hormônios e neuropeptídeos que afetam o apetite também modulam a atividade física, incluindo neuromedina U e orexina, e a obesidade pode representar uma condição associada ao decréscimo da sensibilidade central a esses neuropeptídeos, os quais são  responsáveis por aumentar a atividade física e, consequentemente, o gasto energético. Embora a terapia de reposição hormonal seja amplamente utilizada para reduzir o risco de doença cardiovascular durante a menopausa, seu uso como um agente para regular o fenótipo na pós-obesidade começou a ser investigado apenas recentemente. Evidências preliminares sugerem que o exercício físico e/ou intervenções farmacológicas para compensar os prejuízos metabólicos e os riscos de doença cardíaca no período de transição para a menopausa ou após a menopausa são interessantes.

Treinamento Físico em Longo Prazo

O treinamento físico em longo prazo compreende, da fase inicial de treinamento à longevidade esportiva, todas as modificações e adaptações orgânicas por que o organismo passa durante esses anos. Em pessoas sedentárias, o exercício aeróbio regular resulta na melhora da capacidade cardiorespiratória e no potencial de desenvolver trabalho muscular. O desenvolvimento do pico de performance física até o nível de um atleta competitivo depende de meses a anos de treinamento, principalmente para endurance. Para se tornar um atleta de elite são necessários anos de treinamento intenso, com o objetivo de alcançar a melhor adaptação metabólica que o atleta possa suportar. é caracterizado pelo excesso de treinamento que resulta em efeitos adversos relacionados com adaptação neuro-endócrino-imune e bioquímica ao exercício e essa condição pode ser tratada e/ ou prevenida. O objetivo da alimentação funcional, nesse momento de overtraining é quebrar o ciclo de ativação do sistema imunológico e de fadiga. Em alguns casos, suplementação com elementos específicos como arginina, glutamina, ácidos graxos ômega-3 e antioxidantes pode facilitar o sistema imunológico e compensar a depleção de nutrientes essenciais. O destreinamento pode ser definido como uma perda parcial ou completa das adaptações induzidas pelo exercício, em resposta a um estímulo insuficiente de treinamento, seja por repouso em cama por tempo prolongado devido a patologia, inatividade por lesão ou redução de treinamento por envelhecimento. é uma situação muito comum na longevidade esportiva. Em atletas de elite, um treinamento insuficiente reduz as dimensões cardíacas, assim como a ventilação, há declínio do bombeamento e no volume de sangue. Todas essas mudanças iniciam a partir de 10 dias da parada do treinamento. Sabendo que a nutrição se faz presente e necessária da bioquímica celular até o funcionamento perfeito dos sistemas cardio-neuro-endócrino-imune, o equilíbrio desses mecanismos, para o atleta, constitui sua adaptação e o ganho na performance. O importante na nutrição é ofertar para o músculo os nutrientes corretos em cada fase do treinamento, favorecendo a sinergia dos sistemas no trabalho muscular e na performance. Além disso, cada atleta deve ser analisado de maneira individual, avaliando função intestinal e absortiva, função hepática de metabolização de todos os nutrientes e compostos bioativos da alimentação e dos hormônios de estresse produzidos pelo exercício, sendo que a alimentação saudável garante o estado de saúde, e a visão nutricional funcional diferencia a performance.

Nutrição Esportiva Funcional – Fevereiro de 2008

Exposição Tóxica e Destoxificação em Atletas

Alguns trabalhos evidenciam que a inalação de poluentes do ar pode causar efeitos indesejáveis durante o exercício. A intensidade e volume de exercício, e o grau de condicionamento do atleta consistem em importantes determinantes da quantidade de poluentes inalados durante o esforço físico. A exposição a poluentes causa diversos prejuízos à saúde do atleta, como doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, além do estresse oxidativo, e a normalização das funções orgânicas depende do aumento das defesas antioxidantes. A glutationa exerce papel importante na proteção contra o estresse oxidativo, sendo sua captação aumentada pelos tecidos durante o exercício. Além disso, atua nas reações de conjugação mediadas pelas enzimas glutationa-S-transferases, uma importante via de destoxificação de poluentes do ar. Porém, o exercício físico prolongado resulta na diminuição da disponibilidade de glutationa, comprometendo a capacidade de metabolização de toxinas. A metabolização e conversão de toxinas exógenas e endógenas em formas excretáveis, é dependente da disponibilidade de fatores nutricionais e não nutricionais, indispensáveis para as reações de Fase I e de Fase II. Além disso, o treinamento físico pode levar a adaptações que conferem proteção contra o estresse do exercício e favorecem a destoxificação de xenobióticos. A dieta de destoxificação inclui 3 procedimentos básicos, como a remoção de alimentos que contém toxinas e alérgenos, o suprimento dos requerimentos básico de nutrientes e de fitoquímicos com propriedades moduladoras, e a hidratação abundante. A implementação da dieta deverá ocorrer de forma progressiva, com a retirada gradual dos alimentos potencialmente tóxicos. Apesar das dificuldades na realização da dieta de destoxificação durante os períodos preparatórios, é desejável que a alimentação do atleta tenha um caráter destoxificante em geral, contendo uma variedade de alimentos funcionais, fontes de fitoquímicos moduladores, e que influenciem na economia, síntese e regeneração de glutationa. Deve-se também ter atenção especial aos suplementos esportivos, que podem representar uma real fonte de compostos xenobióticos, por conterem diversos aditivos alimentares. O artigo conclui que os atletas, que principalmente se exercitam ao ar livre, são expostos a uma variedade de poluentes. Portanto, é de grande importância a implementação da Nutrição Esportiva Funcional aos atletas, para proporcionar ótima performance, além de harmonizar a interação dos sistemas corporais responsáveis pelos processos básicos de saúde integral.

Anuário Nutrição Esportiva Funcional
Janeiro de 2007

Desequilíbrios nutricionais e distúrbios do sono

            Os distúrbios do sono são cada vez mais frequentes na sociedade moderna e suas alterações metabólicas estão sendo cada vez mais relacionadas ao desenvolvimento de doenças crônicas como obesidade, diabetes, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares. Neste contexto, a intervenção nutricional é de suma relevância e terá como foco modular as alterações metabólicas desencadeadas por estes distúrbios bem como prevenir o desenvolvimento de doenças crônicas mais graves. A alimentação deve ser rica em compostos anti-inflamatórios, antioxidantes além de alguns nutrientes essenciais para a adequada produção de melatonina e serotonina, como triptofano, piridoxina, ácido fólico, cobalamina, niacina e ômega-3. Diante da influência dos distúrbios do sono na saúde e qualidade de vida da população justifica-se a relevância desta revisão bibliográfica cujo principal objetivo é descrever as alterações metabólicas desencadeadas pelos distúrbios do sono bem como o papel da nutrição no tratamento dos mesmos.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional 

Setembro de 2012

L-arginina alfa cetoglutarato – AAKG

A AAKG (L-Arginina-alfa-cetoglutarato) é um percursor da síntese Óxido Nítrico (NO), sendo este um potente vasodilatador, promotor de uma melhor irrigação sanguínea (transporte de oxigênio e nutrientes) em nível muscular. Promove assim o aumento da massa muscular, melhorando todo o metabolismo muscular e a regeneração do músculo durante e após o exercício.

O Óxido Nítrico tem uma potente ação vasodilatadora no organismo, promovendo uma melhor irrigação sanguínea dos tecidos, nomeadamente do tecido muscular. Uma maior irrigação promove um maior transporte muscular de nutrientes, oxigênio, mensageiros químicos, entre outros, e uma rápida eliminação das substâncias tóxicas acumuladas,como ácido láctico, amônia, etc. Desta forma, todos os processos metabólicos relacionados, nomeadamente, com a atividade física, são melhorados e potenciados.

O AAKG também é usado como um suplemento nutritivo a imunidade de auxílio, para ajudar no metabolismo ácido amino e na disfunção erétil.

Indicação:

– Estimular a vasodilatação e oxigenação muscular;
– Máximo desempenho desportivo e sexual;
– Máxima resistência;
– Máxima definição muscular;
– Máximos ganhos de massa muscular;
– Máxima ereção.

Contra-indicações:

Este medicamento não deve ser tomado por pessoas com glaucoma ou herpes vulgar, a não ser que seja prescrito por um médico. Não deve também ser tomado, por pessoas que tenham sofrido enfarto do miocárdio ou com doença da artéria coronária estabelecida e pessoas com hipotensão arterial.

Interações Medicamentosas:

Potencia os efeitos dos Hipotensores.

Referências

1. Cochard A, Guilhermet R, Bonneau M. Plasma growth hormone (GH), insulin and amino acid responses to arginine with or without aspartic acid in pigs. Effect of the dose. Reprod Nutr Dev 1998 May-Jun;38(3):331-43.
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Os Efeitos do b-Hidroxi-b-Metilbutirato na Performance Esportiva

O b-hidroxi-b-metilbutirato(HMB) é um metabólito do aminoácido leucina e vem sendo relacionado como a chave da fonte de carbono para a síntese de colesterol em alguns tecidos necessário para manter a função celular. Apesar de não estarem completamente esclarecidos os mecanismos pelos quais o HMB exerce seu papel na síntese protéica, alguns estudos tem demonstrado que sua suplementação está relacionada com o aumento da massa livre de gordura, diminuição do percentual de gordura, ganho de força durante o exercício de resistência muscular e diminuição da degradação protéica em exercícios de endurance.

ANTIOXIDANTES NO PEQUI E EFEITOS NA ATIVIDADE FÍSICA

O Pequi
O Caryocar brasiliense Camb., popularmente conhecido com Pequi, é uma árvore típica do cerrado brasileiro, cujo fruto é usado na culinária regional e na medicina popular, devido ao seu alto valor nutritivo. O óleo contido na polpa do fruto do pequizeiro contém diversos carotenoides, tais como caroteno, licopeno, criptoxantina, zeaxantina, luteína e neoxantina1-4.

O pequizeiro é nativo do cerrado brasileiro, incluindo os estados do Pará, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e os estados nordestinos do Piauí, Ceará e Maranhão. A palavra pequi, na língua indígena, significa “casca espinhosa”, porém o fruto também é conhecido por diversos nomes como piqui, pequiá, amêndoa de espinho, grão de cavalo ou amêndoa do Brasil. Sua frutificação ocorre principalmente entre os meses de janeiro e março5.

O fruto é constituído pelo exocarpo ou pericarpo, de coloração esverdeada ou marrom-esverdeada, mesocarpo externo, polpa branca com coloração pardo-acinzentada e mesocarpo interno, que constitui a porção comestível, que apresenta coloração amarelada. O endocarpo, que é espinhoso, protege a semente ou amêndoa, que é revestida por um tegumento fino e marrom, sendo também uma porção comestível6.

Composição química do pequi e sua capacidade antioxidante
Em 2007, um grupo de pesquisadores analisou a composição química e os compostos bioativos presentes na polpa e na amêndoa do pequi. Nesse trabalho foi observado que a polpa do fruto de pequi é rica em lipídios (33,4%). Além disso, é considerada uma fonte interessante de fibras, apresentando 10,02%, correspondendo a 40% das necessidades diárias de fibras alimentares. Observou-se também que a fração proteica corresponde a 3% do fruto4.

Ao analisarem os componentes da amêndoa do pequi, os pesquisadores constataram que 51,51% do conteúdo corresponde a lipídios, enquanto as proteínas correspondem a 25, 27%. Já em relação aos carboidratos, a amêndoa apresenta 8,33% e 2,2% de fibras. Verificou-se um baixo teor de umidade e um teor elevado de minerais, representado pelas cinzas. Esse fruto apresentou concentrações predominantes de ácidos graxos insaturados.

A polpa apresenta 61,35% e a amêndoa apresenta 52,17% de ácidos graxos insaturados. O ácido oleico está presente em maior concentração na polpa, com 55,87%, sendo seguido pelo ácido palmítico, que corresponde a 35,17%. Na amêndoa do pequi, predominam os ácidos palmítico e oleico em quantidades praticamente iguais, 43,76% e 43,59%, respectivamente. Também estão presentes o ácido linoleico, com 5,51%; esteárico, com 2,04% e palmitoleico, com 1,23%.

É possível observar que tanto a polpa como a amêndoa do pequi possuem ácidos graxos importantes para compor uma dieta saudável. Por ser um fruto encontrado em regiões onde as árvores recebem alta incidência de raios solares, ocorre um favorecimento da formação de radicais livres. Essas condições favorecem a biossíntese de compostos secundários com propriedades antioxidantes (compostos fenólicos e carotenoides totais), como é apresentado na Tabela 1 4.

Tabela 1.
Teores de fenólicos totais e carotenoides totais em mg/100g, na polpa e amêndoa de pequi
(valores expressos como média +/- desvio-padrão).
Fonte: adaptado de Lima et al., 20074.

Na avaliação da atividade antioxidante do extrato aquoso e das frações de ácidos fenólicos da polpa do pequi há evidências de proteção contra os danos oxidativos, comparados ao padrão comercial butilidroxitolueno (BHT). Esses resultados indicam que a polpa do pequi é um alimento com elevada capacidade antioxidante, demonstrando a correlação existente entre a quantidade de fenólicos totais e a proteção antioxidante 7,8.

Na tabela 2, podemos observar uma comparação entre os teores fenólicos de polpas de frutas consideradas extensivamente antioxidantes. O pequi apresenta 209 mg de fenólicos em 100 gramas de polpa, ou seja, tem uma elevada capacidade antioxidante. Na polpa e na amêndoa do pequi, os lipídios são os constituintes predominantes, prevalecendo nestes os ácidos graxos oleico e palmítico.

Tabela 2. Tabela comparativa dos teores de fenólicos totais em 100g de polpa.
Fonte: adaptado de Lima et al., 20074.

Estresse oxidativo induzido por atividade física intensa
O metabolismo humano produz continuamente espécies reativas de oxigênio (EROs), como resultado do metabolismo oxidativo mitocondrial normal – ou seja, processos oxidativos são constantes no organismo.9

Em situações normais, os produtos dos processos oxidativos são neutralizados por um sistema de defesa antioxidante, que consiste de enzimas, como a catalase (CAT), superóxido dismutase (SOD), glutationa peroxidase (GPX) e diversos antioxidantes não enzimáticos10. A atividade física regular é considerada essencial para promover saúde e prevenção de diversas doenças – porém, a partir do momento em que essa atividade é excessiva pode promover danos, ao invés de trazer benefícios. A prática de exercícios físicos de forma extenuante aumenta o consumo de oxigênio e pode promover um desequilíbrio entre as EROs e os antioxidantes, promovendo estresse oxidativo. Trabalhos mostram que a atividade exaustiva aumenta a geração de espécies reativas de oxigênio, promovendo danos no DNA e nos tecidos. 11

A prática de exercícios físicos extenuantes pode promover o estresse oxidativo. Isso resulta em aumento nos níveis sanguíneos de malondialdeído (MDA), que serve como indicador indireto da peroxidação lipídica e pode ser mensurado pelas TBARS, substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico. Além disso, ele pode iniciar reações que se assemelham à fase aguda de uma resposta imune como uma infecção com aumento de PCR (proteína C reativa) 10. Nesse contexto, o consumo dietético de antioxidantes pode ajudar a prevenir o estresse oxidativo e lesões teciduais.

O pequi e a prevenção do estresse oxidativo induzido por atividade física 

Muitos estudos têm investigado o impacto do status antioxidante nos prejuízos gerados pelo exercício12,14,16.. Com esse propósito, a maioria das intervenções dietéticas tem como foco os fatores nutricionais, como as vitaminas e compostos antioxidantes que neutralizam o estresse oxidativo induzido pela atividade física.

Os compostos fitoquímicos bioativos podem apresentar um papel vital na proteção de células submetidas ao estresse oxidativo induzido pelo exercício16. Trabalhos mostram que os compostos bioativos são capazes de prevenir os danos oxidativos em atletas de endurance que esgotaram sua capacidade endógena antioxidante, devido aos treinos intensos e frequentes. Além disso, a composição rica em ácidos graxos insaturados do óleo de pequi está envolvida na modulação das taxas pós-prandiais de triglicerídeos e colesterol18. Estudos mostram que o óleo de pequi é eficiente na redução de danos ao DNA e nos tecidos13. Além disso, de acordo com estudos, os óleos da polpa de outra espécie de pequi, o C. coriaceum, apresenta efeitos anti-inflamatórios significativos. Pesquisadores alegam que o óleo de pequi poderia reduzir eficientemente a inflamação induzida pela atividade física, podendo inclusive modular os níveis de lipídios pós-prandiais de corredores.

Conclusão 
O pequi apresenta compostos fenólicos e carotenoides totais, os quais estão associados à prevenção de processos oxidativos. Diante das questões aqui discutidas, é possível observar que o consumo da polpa de pequi poderá trazer benefícios à saúde da população; além disso, devido à sua ampla capacidade antioxidante, seu consumo pode ser interessante para praticantes de atividade física. A atividade física apresenta benefícios já bem descritos na literatura, porém essa prática promove aumento da produção de EROs. Quando o organismo é submetido à atividade extenuante, há um aumento do estresse oxidativo, com possível redução da sua capacidade antioxidante.

Nesse sentido, torna-se essencial que praticantes de atividade física tenham um consumo elevado de alimentos antioxidantes. O pequi apresenta compostos bioativos em sua composição e lipídios insaturados que, ao serem introduzidos no planejamento alimentar do indivíduo, poderão facilitar o equilíbrio do organismo. O uso do óleo de pequi, como um suplemento para atletas, também pode ser interessante. Para essa confirmação, ainda são necessários mais estudos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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*Texto elaborado pelo Departamento Científico da VP Consultoria Nutricional.