Candidíase e Infecções Fúngicas

A Candida Albicans reside como patógeno oportunista nas cavidades muco-cutâneas da vagina, pele e intestino nos seres humanos. Como este fungo está bem adaptado ao corpo humano, pode colonizá-lo sem produzir sinais de doença (colonização assintomática) em condições fisiológicas normais.

As infecções fúngicas ocorrem em condições fisiológicas alteradas do pH ácido e baixa imunidade, como infância, gestação, diabetes, AIDS e durante administração prolongada (e indiscriminado) de antibióticos de largo espectro, quimioterápicos, corticóides e contraceptivos orais, além de dieta  de carga muito ácida, com consumo regular de açúcar refinado, lactose, carboidratos refinados, álcool, embutidos, cafeína e produtos industrializados.

Além de mudanças dietéticas, alguns princípios ativos são muito estudados e utilizados por seus poderes antifúngicos, como o ácido láurico, biotina, lactobacilos e o alho.

Referência Bibliográfica:
1. Paschoal, V. et al. Nutrição Clínica Funcional. Volume II. São Paulo: Valéria Paschoal Editora, 
2012. (Coleção Nutrição Clínica Funcional).
2. Chronic vaginal candidiasis responsive to biotin therapy in a Carrier of biotinidiase deficiency. Obstet Gynecol; 92: 644-646, 2006.
3. Lucyana de J.H.Kalluf. Fitoterapia Funcional: dos Princípios Ativos à Prescrição de Fitoterápicos – Parte 1—São Paulo: VP Edit.Ltda., 2008. – (Coleção Nutrição Clínica Funcional).

O tratamento funcional de atletas em overtraining

Atualmente, a busca pelo máximo desempenho entre atletas de elite vem contribuindo para o aumento na prevalência da síndrome de overtraining. Tal síndrome caracteriza-se pela redução no desempenho, acompanhada de diversos outros sintomas de cunho fisiológico, imunológico, psicológico e bioquímico, como fadiga, depressão, infecção do trato respiratório, distúrbios do sono, dores musculares, aumento do cortisol, entre outros. O diagnóstico do overtraining é muito difícil, pois os sintomas se confundem com os do pré-overtraining e com os do treinamento normal, sendo necessário a avaliação do desempenho do atleta no esporte através de teste específicos. Existem diversas hipóteses sobre a possível causa e mudanças fisiopatológicas do overtraining, como aumento de citocinas e desequilíbrio neuroendócrino, redução dos estoques de glicogênio, hipótese da fadiga central e diminuição da glutamina, porém nenhuma delas é conclusiva. Com relação ao aporte nutricional, verificou-se uma importância na adequação do aporte proteico na dieta do atleta para a prevenção de sintomas observados na síndrome de overtraining, bem como o impacto positivo da administração de aminoácidos de cadeia ramificada (AACR), glutamina, probióticos e ômega-3 na modulação do sistema imunológico, redução da fadiga e modulação do humor. Porém, ainda há necessidade da realização de mais estudos bem conduzidos que comprovem tais atividades em atletas.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional – janeiro 2013

Contribuição da creatina para homeostase proteica em atletas após corrida de sprint e endurance

Poucos estudos têm avaliado as mudanças metabólicas induzidas pela suplementação de creatina. Desta forma, a presente investigação objetivou-se a avaliar os efeitos da suplementação de creatina sobre alterações plasmáticas e urinárias de atletas após corrida de sprint endurance. Doze atletas do sexo masculino (média de idade 20,3 ± 1,4 anos) performaram dois exercícios idênticos (frequência cardíaca máxima 65-70%) de corrida de 60 minutos (ensaio de endurance) antes e depois da suplementação de creatina (12 g de creatina monohidratada/ dia por 15 dias), acompanhado por um período de washout de 5 dias. Subsequentemente, foram performados dois exercícios idênticos de 100 m de corrida de sprint (ensaio de força), antes e após a suplementação de creatina por 15 dias, de acordo com o protocolo de suplementação do ensaio de endurance. Mensurações da composição corporal foram realizadas durante todo estudo. Amostras plasmáticas foram examinadas para as concentrações de glicose, lactato, aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA), triptofano livre (TRIP), glutamina, alanina, hipoxantina e ácido úrico. Amostras urinárias foram examinadas para as concentrações de hidroxiprolina, 3-metilhistidina, ureia nitrogenada e creatinina. Como resultado, foi encontrado que a suplementação de creatina aumentou significantemente o peso corporal dos atletas participantes do ensaio de endurance.  A concentração de lactato plasmático e a taxa de TRIP/ BCAA após a recuperação da prática da corrida de endurance foi significantemente reduzido com a suplementação de creatina. As concentrações de metabólitos de purinas (soma da hipoxantina e ácido úrico), glutamina, 3-metilhistidina urinário e ureia nitrogenada tenderam a diminuir antes da corrida nos ensaios, com a suplementação de creatina. Após a corrida, a concentração urinária de hidroxiprolina aumentou significantemente no ensaio de força com a administração de creatina. Os achados deste estudo sugerem que a suplementação de creatina levou a diminuição da degradação de proteínas e do glicogênio muscular, especialmente após o exercício de endurance. Todavia, a suplementação de creatina pode induzir a proteólise de colágeno em atletas após corrida de sprint.

Referência bibliográfica:

TANG, F.C.; CHAN, C.C.; KUO, P.L. Contribution of creatine to protein homeostasis in athletes after endurance and sprint running. Eur J Clin Nutr; 2013.

Aumento da Permeabilidade Intestinal em Atletas

O exercício físico intenso e prolongado tem sido associado com alterações no trato gastrintestinal. Estudos verificam que grande porcentagem de atletas de endurance apresenta sintomas gastrintestinais relativos ao exercício, sendo as mulheres mais suscetíveis que os homens. O status do treinamento, o tipo, a intensidade e a alimentação antes e durante o exercício representam um papel importante na etiologia do dano gastrintestinal. O estímulo mecânico da mucosa intestinal, e a redução do fluxo sanguíneo pancreático causados pelo treinamento podem prejudicar a permeabilidade intestinal, provocando diarréia. O exercício pode causar também a elevação dos hormônios como a gastrina, motilina, somatostatina, glucagon, além de peptídeos pancreáticos, que podem produzir sintomas gastrintestinais por diferentes mecanismos. O estímulo mecânico e o estiramento da musculatura lisa liberam prostaglandinas, que acelera o trânsito intestinal e inibição da contração colônica. O aumento da permeabilidade intestinal é definido como a entrada por difusão não-mediada de moléculas de tamanho superior a 150 Da em direção ao espaço intersticial, permitindo o fluxo de agentes do lúmen para a mucosa, resultando em inflamação tecidual com redução da função da barreira gastrintestinal. Estudos têm relacionado ainda a relação entre a desidratação e a disfunção gastrintestinal, sendo que o exercício leva a perda de fluidos e eletrólitos na forma de suor, e a redução do volume sanguíneo agrava o reduzido fluxo sanguíneo do TGI, e o ajuste circulatório para o controle do débito sanguíneo resulta em hipóxia e produção de radicais livres, depleção de ATP, acidose e disfunção celular. A exposição a alérgenos alimentares provoca o aumento da permeabilidade intestinal, provavelmente devido à liberação das citocinas inflamatórias. Estudos indicam ainda que o uso de aspirina e antiinflamatórios não-esteroidais promove aumento significativo da permeabilidade intestinal, facilitando a absorção de alérgenos. Esta passagem de agentes agressivos ao lúmen pode gerar uma resposta imune local que envolve a liberação de radicais livres e enzimas, contribuindo para o desenvolvimento de doenças gastrintestinais. Os principais nutrientes envolvidos na recuperação, crescimento e diferenciação celular, proporcionando saúde e integridade da mucosa são: a glutamina, ácidos graxos essenciais, zinco, ácido pantotênico, ácido ascórbico, e probióticos. O estudo concluiu que se faz necessário identificar as causas e conseqüências do aumento da permeabilidade intestinal nos atletas, para controle e prevenção, melhorando seu desempenho e garantindo a saúde do atleta. Sendo assim, deve ser aplicado o programa 4R da Nutrição Funcional, que se baseia em remover ou reduzir fatores estressantes da mucosa, repor fatores digestivos e reinocular o trato digestório.

Anuário Nutrição Esportiva Funcional – Janeiro de 2007

Segurança da suplementação de EPA e DHA

Recentemente, o Painel dos Produtos Dietéticos, Nutrição e Alergias1 da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar publicou um parecer científico sobre o nível de ingestão tolerável (UL) dos ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (LCPUFAs) ?-3: ácido eicosapentaenoico (EPA), ácido docosahexaenoico (DHA) e ácido docosapentaenoico (DPA).

Os LCPUFAs ?-3 são importantes componentes estruturais das membranas celulares,contribuindo para a sua fluidez e permeabilidade, a atividade de enzimas ligadas e dos receptores, a transdução de sinal e a regulação da expressão dos genes1.

O DHA é um componente de lipídios de membranas estruturais, especialmente de fosfolipídios no tecido nervoso e na retina. O EPA pode ser transformado em eicosanoides (prostaglandinas, prostaciclinas, tromboxanos, leucotrienos e prostanoides), que participam na regulação da pressão arterial, da função renal, coagulação sanguínea, reações inflamatórias e imunológicas, entre outras funções em tecidos. Outros metabólitos de EPA e DHA (resolvinas, protectinas) estão envolvidos na resolução da resposta inflamatória1.

Embora o DPA possa ser retroconvertido minimamente em EPA e DHA, pouco se sabe sobre seus efeitos biológicos in vivo2. Os efeitos de EPA, DHA e DPA na atividade enzimática, na expressão do gene e na agregação de plaquetas foram descritos in vitro2,3.

O peixe é uma fonte rica em LCPUFAs n-3 de forma exclusiva1. A tabela 1 apresenta a composição em porcentagem de ácidos graxos EPA e DHA de diferentes espécies de peixes marinhos da costa brasileira4. Outras fontes naturais de LCPUFAs n-3 são o leite humano, algas marinhas cultivadas, mamíferos marinhos e krill (crustáceo semelhante ao camarão). O EPA, o DHA e o DPA podem também ser fornecidos por alimentos e suplementos enriquecidos com LCPUFAs n-3. As proporções de EPA: DHA: DPA diferem entre as várias fontes de LCPUFAs n-3, embora DPA seja geralmente um componente de menor quantidade em comparação com EPA e DHA. Os suplementos alimentares que contêm principalmente EPA, ou principalmente DHA (isolado a partir de microalgas), também estão disponíveis. O DPA puro não é comercializado para o consumo humano1.


Fonte: Visentainer et al4.

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não são significativamente diferentes (p=0,05). Dp=desvio padrão
O Painel observou o consumo médio de LCPUFA n-3 em adultos: os mais altos percentuais de ingestão foram geralmente <1200 mg/dia a partir de fontes dietéticas (em mulheres de 18 a 39 anos na Bélgica), e <1300 mg/dia em suplementos alimentares (pessoas de 51 a 64 anos na Irlanda). A maior ingestão foi <2,7 g/dia, quando considerado o alto consumo de peixes e suplementação em conjunto (homens de 16 a 79 anos na Noruega)1. Não foram encontrados estudos que avaliassem o consumo de LCPUFA n-3 na população brasileira.

A maioria dos estudos de intervenção em humanos que investigaram os efeitos do LCPUFA n-3 usou óleo de peixe contendo quantidades conhecidas de EPA e DHA, combinados ou isolados, e quantidades geralmente desconhecidas (mas relativamente baixas) do DPA. Poucos estudos estão disponíveis usando óleo de krill como fonte de EPA e DHA e não foram realizados estudos com fontes contendo principalmente DPA ou com DPA isolado1.
O Painel considerou que a produção endógena de EPA, DPA e DHA, a partir de ALA, pode ser insignificante em comparação com as doses utilizadas nos estudos analisados para avaliação da segurança destes LCPUFAs n-31.

Indicação dos LCPUFAs n-3 para diferentes condições clínicas

Os pareceres científicos da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos sobre a fundamentação das alegações de saúde relacionadas com EPA e DHA propuseram a ingestão de EPA e DHA em cerca de 2-4 g/dia, a fim de obter os efeitos5,6,7.
As recomendações dietéticas de organismos internacionais para ?-3 (principalmente EPA e DHA) variam de 200 mg a >600 mg/dia para adultos e de 40 mg a 250 mg/dia para lactentes com mais de 6 meses, para crianças e adolescentes. Estas recomendações têm sido estabelecidas com base na relação inversa entre o consumo desses LCPUFAs n-3 (principalmente a partir de óleos de peixe e peixe) e um menor risco de doença arterial coronariana1.

As recomendações específicas de DHA foram também estabelecidas para bebês e crianças pequenas (6 a 24 meses de idade), que variam de 70-100 mg/dia com base em seu acúmulo no sistema nervoso central e os seus efeitos sobre a função visual durante o período de alimentação complementar; assim como também para o DHA adicional (100-200 mg/dia) para mulheres grávidas e em lactação, a fim de compensar as perdas oxidativas de DHA na dieta materna e acúmulo de DHA em gordura corporal do feto/criança1. As mais altas recomendações dietéticas para EPA e DHA (principalmente EPA e DHA combinados ou somente DHA) para diferentes subgrupos populacionais são 610 mg/dia (Austrália)1.
A revisão de Lavie et al.8 resumiu os dados científicos sobre os efeitos da dosagem dos LCPUFA ?-3 na prevenção primária e secundária de distúrbios cardiovasculares (Figura 1).

Figura 1. Dosagem de óleo de peixe e o efeito cardiovascular


Fonte: adaptado de Lavie et al.8
* EPA= ácido eicosapentaenoico; DHA= ácido docosahexaenoico.

Observando a figura 1, podemos concluir que as doses de aproximadamente 700-1000 mg apresentam efeito antiarritmia e redutor da frequência cardíaca e da pressão arterial. No entanto, na hipertrigliceridemia, o efeito é proporcional a dose. Na dose em que há o benefício cardiovascular, não há risco antitrombótico. A atividade antitrombótica (antiagregante plaquetária) aumenta com dose = 2000 mg.

O óleo de peixe também foi apontado por seus efeitos benéficos no diabetes tipo 2, em doenças renais e inflamatórias, na saúde materna e infantil, na função do sistema nervoso central, em idosos, em transtornos psiquiátricos e em vários tipos de câncer9.

Efeitos adversos

Estudos de intervenção em humanos, em longo prazo, que investigaram os efeitos de doses suplementares de EPA e DHA, isolados ou combinados, em doses de até 1 g/dia aproximadamente, geralmente não relataram efeitos adversos em relação ao consumo de EPA ou DHA. No entanto, alguns efeitos adversos descritos em associação com doses elevadas de EPA e DHA incluem: episódios de hemorragia, supressão da função imunitária, peroxidação lipídica aumentada e metabolismo de lipídios e glicose prejudicados1.

Segurança da suplementação

Nenhum nível de ingestão tolerável (UL) para EPA, DHA e DPA foi definido por qualquer órgão competente1. O Instituto de Medicina dos EUA10 concluiu que os dados disponíveis são insuficientes para definir uma UL para EPA e DHA, embora os indivíduos com intolerância à glicose ou diabetes tipo 2 e indivíduos com hipercolesterolemia familiar em uso de anticoagulantes devam ser suplementados com cautela.

A Agência Alemã de Avaliação de Risco Federal Alemã estabeleceu o nível de consumo máximo recomendado para LCPUFA ?-3 de 1,5 g/dia. O Food and Drug Administration (FDA)12 recomendou não exceder a ingestão de 3 g/dia de EPA e DHA, para evitar possíveis efeitos adversos.

Em 2011, o Comitê Científico Norueguês para a Segurança dos Alimentos3 realizou uma avaliação de segurança de LCPUFA ?-3 de todas as fontes. Nenhum efeito colateral foi claramente associado com EPA e DHA com ingestão de até 6,9 g/dia e nenhuma UL pôde ser estabelecida.

O parecer científico sobre o nível de ingestão tolerável (UL) dos LCPUFAs ?-3 realizado pelo Painel dos Produtos Dietéticos, Nutrição e Alergias1, publicado neste ano, fez considerações sobre a dose-resposta de efeitos adversos com base nos estudos realizados em humanos. As mesmas estão expostas a seguir.

Considerações do Painel em relação às condições avaliadas1

O Painel considerou que a suplementação de EPA e DHA combinados com doses até 5 g/dia, ou de EPA isolado até 1,8 g/dia ou de DHA isolado até 1 g/dia, não suscitam preocupações de segurança para a população. No entanto, segundo o Painel, os dados disponíveis foram insuficientes para estabelecer uma UL para LCPUFA ?-3 (individualmente ou combinadas) para qualquer grupo populacional.

O Painel considerou que a avaliação da segurança das doses de LCPUFA ?-3 deve ser baseada em estudos disponíveis em humanos. O quadro 1 apresenta as dosagens consideradas seguras pelo Painel, para evitar os efeitos adversos, baseadas nesse tipo de intervenção.

Quadro 1. Dosagem segura para evitar efeitos adversos


Fonte: adaptado de Painel dos Produtos Dietéticos, Nutrição e Alergias1.

*dados disponíveis são insuficientes para concluir se as mesmas doses administradas, principalmente como EPA ou principalmente como DHA, têm efeitos diferentes sobre esse resultado.

Como complicações hemorrágicas, foi considerado o aumento do risco de episódios de sangramento espontâneo ou complicações hemorrágicas, mesmo em indivíduos com alto risco de sangramento (por exemplo, a ingestão de ácido acetilsalicílico ou anticoagulantes).

Em tempo de sangramento, foi considerado o aumento dos efeitos dos medicamentos antiplaquetários ou antitrombóticos sobre o tempo de sangramento. As mudanças nos tempos de sangramento, observadas em alguns estudos de intervenção, estavam dentro do intervalo normal e não associadas ao aumento do risco de complicações clínicas (por exemplo, hemorragia espontânea).

As alterações na função das plaquetas observadas com doses suplementares de EPA e DHA (isolados ou em combinação), até cerca de 4 g/dia, não foram consideradas negativas, uma vez que não foram associadas com um risco aumentado de complicações clínicas (hemorragia espontânea, por exemplo).

Para homeostase da glicose, o Painel considerou a necessidade de insulina, o aumento dos níveis de hemoglobina glicosilada (HbA1c) e o aumento da glicemia em jejum e pós-prandial, em pacientes com diabetes tipo 1 e tipo 2. Os estudos de intervenção em humanos, na maior parte, não controlados, descreveram os efeitos adversos da suplementação de ?-3 LCPUFA (10 g/dia)13.

Em relação à concentração de colesterol LDL no sangue, o Painel considerou que o pequeno aumento nos níveis de colesterol LDL (aproximadamente 3%), vinculado ao EPA e DHA (de 2-6 g/dia) ou somente DHA (2-4 g/dia) podem não ser adversos em relação ao risco de DCVs. Esse aumento foi acompanhado por uma diminuição em triglicérides, sem alterações na concentração do colesterol total (ou não HDL). As doses de EPA, até 4 g/dia, não tiveram efeito significativo nos níveis de colesterol LDL.

As doses consideradas seguras para peroxidação lipídica foram encontradas em estudos com diferentes marcadores: F2-isoprostanos (EPA e DHA, isolados ou combinados, até 4 g/dia por 6 semanas); oxidação das partículas de LDL (EPA e DHA, combinados, até 5 g/dia por até 16 semanas); substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS), de malondialdeído (MDA), dienos conjugados e hidroperóxidos lipídicos (EPA e DHA, até 4,5 g/dia)3. As primeiras observações que ligam o consumo de DHA com o aumento de peroxidação lipídica e dano oxidativo nas células e moléculas em animais de laboratório, podem ter sido afetadas pela presença de produtos de oxidação primária e secundária em suplementos sem antioxidantes. Esse efeito foi, de fato, revertido quando o DHA foi administrado com a suplementação de vitamina E3,10. No entanto, a adição de antioxidantes aos suplementos alimentares que contenham LCPUFA ?-3 para garantir a estabilidade do produto, parece ser opcional14.

O Painel também considerou a susceptibilidade de indução de alterações nas funções imunes, que podem levantar preocupações em relação ao risco de infecções ou de ativação inapropriada de respostas inflamatórias (aumento de PCR-us, citocinas, ICAM-1, VCAM-1 e selectina-E)1.

Considerações finais

O painel considerou que a suplementação de EPA e DHA, combinados com doses até 5 g/dia, parece não aumentar o risco de episódios de sangramento espontâneo ou complicações hemorrágicas ou afetar a função imune, a homeostase da glicose ou a peroxidação lipídica, desde que a estabilidade oxidativa dos LCPUFAs ?-3 seja garantida. A ingestão de suplementação de EPA isolado até 1,8 g/dia também não suscita preocupações de segurança para a população adulta e a de DHA isolado até 1 g/dia é segura para a população em geral. Não há dados disponíveis para o DPA, quando consumido sozinho. O Painel observou que, na maioria dos estudos com humanos considerados, o óleo de peixe foi a fonte de EPA e DHA e também continha DPA em quantidades geralmente desconhecidas (mas relativamente baixas)1.

Apesar de serem estabelecidas algumas considerações em relação às dosagens consideradas seguras, não foi determinada a UL. Além disso, a individualidade bioquímica deve ser respeitada. Algumas pessoas podem ser hipersensíveis e apresentar efeitos adversos em uma dosagem mais baixa que as estabelecidas.

Os peixes estão expostos a contaminantes ambientais, tais como arsênico, metilmercúrio e poluentes orgânicos persistentes, que podem desencadear ou agravar determinadas doenças. Portanto, é importante o conhecimento de laudos que comprovem a purificação dos suplementos15.

Referências Bibliográficas:
1. EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
2. KAUR, G.; CAMERON-SMITH, D; GARG, M.; et al. Docosapentaenoic acid (22:5n-3): a review of its biological effects. Progress in Lipid Research; 50:28-34, 2011. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
3. VKM (Norwegian Scientific Committee for Food Safety). Opinion of the Steering Committee of the Norwegian Scientific Committee for Food Safety: Evaluation of negative and positive health effects of n-3 fatty acids as constituents of food supplements and fortified foods. Doc. no.: 08-707-final, 88 pp, 2011. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
4. VISENTAINER, J.V.; CARVALHO, P.O.; IKEGAKI, M.; ET al. Concentração de ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA) em peixes marinhos da costa brasileira. Ciênc Tecnol Aliment; 20(1):90-3, 2000.
5. EFSA Panel on Dietetic Products Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the substantiation of health claims related to EPA, DHA, DPA and maintenance of normal blood pressure (ID 502), maintenance of normal HDL-cholesterol concentrations (ID 515), maintenance of normal (fasting) blood concentrations of triglycerides (ID 517), maintenance of normal LDL-cholesterol concentrations (ID 528, 698) and maintenance of joints (ID 503, 505, 507, 511, 518, 524, 526, 535, 537) pursuant to Article 13(1) of Regulation (EC) No 1924/2006 on request from the European Commission. EFSA Journal; 7(9):1263, 26 pp, 2009. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
6. EFSA Panel on Dietetic Products Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the substantiation of claims related to docosahexaenoic acid (DHA) and maintenance of normal (fasting) blood concentrations of triglycerides (ID 533, 691, 3150), protection of blood lipids from oxidative damage (ID 630), contribution to the maintenance or achievement of a normal body weight (ID 629), brain, eye and nerve development (ID 627, 689, 704, 742, 3151), maintenance of normal brain function (ID 627, 632, 743, 3149) and maintenance of normal spermatozoa motility (ID 628) pursuant to Article 13 (1) of Regulation (EC) No 1924/2006. EFSA Journal, 8(10):1734, 2010. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
7. EFSA Panel on Dietetic Products Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the substantiation of health claims related to eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA), docosapentaenoic acid (DPA) and maintenance of normal cardiac function (ID 504, 506, 516, 527, 538, 703, 1128, 1317, 1324, 1325), maintenance of normal blood glucose concentrations (ID 566), maintenance of normal blood pressure (ID 506, 516, 703, 1317, 1324), maintenance of normal blood HDL-cholesterol concentrations (ID 506), maintenance of normal (fasting) blood concentrations of triglycerides (ID 506, 527, 538, 1317, 1324, 1325), maintenance of normal blood LDL-cholesterol concentrations (ID 527, 538, 1317, 1325, 4689), protection of the skin from photo-oxidative (UV-induced) damage (ID 530), improved absorption of EPA and DHA (ID 522, 523), contribution to the normal function of the immune system by decreasing the levels of eicosanoids, arachidonic acid-derived mediators and pro-inflammatory cytokines (ID 520, 2914), and “immunomodulating agent” (4690) pursuant to Article 13(1) of Regulation (EC) No 1924/2006. EFSA Journal 2010; 8(10):1796. [32 pp.]. EFSA Journal; 8(10):1796, 2010. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
8. LAVIE, C.J.; MILANI, R.V.; MEHRA, M.R.; et al. Omega-3 Polyunsaturated Fatty Acids and Cardiovascular Diseases. J Am Coll Cardiol; 54:585–94, 2009.
9. TUR, J.A.; BIBILONI, M.M.; SUREDA, A.; et al. Dietary sources of omega 3 fatty acids: public health risks and benefits. British Journal of Nutrition; 107(S2):S23-S52, 2012.
10. IOM, 2005. Institute of Medicine: Dietary reference intakes for energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol, protein, and amino acids. National Academies Press, Washington DC. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
11. BfR (Bundesinstitut fur Risikobewertung). Fur die Anreicherung von Lebensmitteln mit Omega-3-Fettsauren empfiehlt das BfR dia Festsetzung von Hochstmengen. Stellungnahme Nr. 030/2009, 10 pp., 2009. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
12. FDA (Food and Drug Administration). Federal Register. Volume 62, Issue 108 62 FR 30751, 6 pp, 1997. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
13. DE CATERINA, R.; MADONNA, R.; BERTOLOTTO, A. N-3 fatty acids in the treatment of diabetic patients: biological rationale and clinical data. Diabetes Care; 30, 1012-26, 2007. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
14. GOED (Global Organisation for EPA and DHA Omega-3s). Hazard characterization of the long-chain polyunsaturated n-3 fatty acids, DHA, EPA and DPA. Prepared for and on behalf of the GOED membership by Spherix Consulting, Inc., 177 pp., 2012. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
15. SIROT, V.; LEBLANC, J.C.; MARGARITIS, I. A risk–benefit analysis approach to seafood intake to determine optimal consumption. Br J Nutr; 107(12):1812- 22, 2012.

Nanotecnologia em alimentos

A nanociência e a nanotecnologia são as novas fronteiras deste século. A nanotecnologia é uma ciência recente que permite aos cientistas medir, controlar e manipular os materiais com dimensões de nanômetros, com a finalidade de alterar suas propriedades e funções. Na indústria alimentícia, as pesquisas acerca da nanotecnologia apontam para uma revolução tecnológica importante, alterando a forma como o alimento é produzido, processado, embalado, transportado e consumido. Assim, as nanotecnologias são aplicadas de diversas formas, como no encapsulamento de compostos bioativos, no controle de qualidade, no empacotamento de alimentos e em biossensores. Uma vez que a sociedade moderna enxerga os alimentos não só como fonte de nutrientes, mas também como promotores da saúde, tal ciência emerge como um advento, permitido que vitaminas, minerais, nutrientes e fitoquímicos apresentem maior biodisponibilidade, garantindo maior segurança alimentar, menor uso de pesticidas em plantações, dentre outros. Entretanto, pouco se sabe sobre a toxicidade desses compostos e suas possíveis interações com os sistemas biológicos e o meio ambiente.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional

Ano 12 – Edição 53 – Setembro de 2012

Taurina no esporte

A taurina é um composto final do metabolismo dos aminoácidos sulfurados (metionina e cisteína) que se encontra conjugada com ácidos biliares de sódio e potássio. Sua síntese ocorre a partir desses aminoácidos, por meio de uma série de reações enzimáticas que requerem a participação da vitamina B6 como cofator. Após exercícios exaustivos, observa-se depleção de taurina nas células musculares e elevação dos seus níveis no plasma. Supõe-se que a elevação de taurina no plasma exerça efeito ergogênico, aumentando a glicólise e modulando a entrada e saída de cálcio na célula, promovendo elevação do glicogênio hepático. O exercício físico, em função do maior consumo de oxigênio, pode promover aumento na produção de EROs, permitindo assim, modificar o estado redox da célula. As concentrações mitocondriais de taurina ainda não foram descritas, porém suas altas concentrações celulares e suas propriedades sugerem-na uma função antioxidante e de scavenger, provavelmente protegendo esta organela do estresse oxidativo. Estudos sugerem que o efeito protetor da taurina é devido suas atividades antioxidantes, através da sua habilidade em neutralizar o ácido hipocloroso (HOCl), uma substancia pró-oxidante potente.A taurina parece ter efeito de aumento da resistência em praticantes de atividade física e oferece combustível para contração do músculo esquelético, aumentando a quantidade de cálcio liberada e faz com que as células mais sensíveis ao cálcio aumentem ainda mais a sua contratilidade. Em estudos com humanos utilizaram-se preparados líquidos contendo combinação de vários nutrientes, dificultando o entendimento do real efeito da suplementação de taurina no exercício físico. é necessária a realização de estudos que avaliem os feitos isolados da taurina no exercício físico e no aumento da resistência física, quanto ao aumento do desempenho.

Anuário de Nutrição Esportiva Funcional

Fevereiro de 2010

Disbiose

Mais do que nutrir as células através da Nutrição, devemos estar atentos a um mundo a parte, que não enxergamos a olho nu e, por vezes, esquecemos de sua importância: a flora intestinal. No  total, convivemos com aproximadamente 100 trilhões de bactérias que vivem ecologicamente em equilíbrio, exercendo funções importantes, como digestão, síntese de vitaminas essenciais e proteção da mucosa.
O intestino é o órgão relacionado com a função imune mais importante do organismo: aproximadamente 60% das células imunológicas do organismo estão presentes na mucosa intestinal.
O desequilíbrio do microbioma pode resultar na proliferação de patógenos, com consequente infecção bacteriana, que invariavelmente leva a uma desordem de permeabilidade e a ativação de carcinógenos.
Dentre as causas da disbiose estão: antibioticoterapia indiscriminada, anti-inflamatórios esteroidais e não-esteroidais (AINEs), laxantes e purgativos, disfunções hepatopancreáticas, exposição excessiva de toxinas ambientais, doenças consumptivas, como câncer e síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS), e dieta (alto consumo de alimentos processados e ricos em carboidratos simples, em detrimento de alimentos crus e naturais) e a má digestão.Bactérias probióticas são microorganismos que exercem efeitos benéficos sobre nossa saúde, cujos benefícios são: antagonismo a outras bactérias (prevenindo a colonização por patógenos por competição), síntese de vitaminas do complexo B e vitamina K, melhora da função digestória (síntese de enzimas digestivas, regulação do trânsito intestinal e absorção de nutrientes), função metabólica (produzem ácidos graxos de cadeia curta que servem de substrato metabólico para os colonócitos), imunomodulação (essenciais para o desenvolvimento e maturação do sistema imune) e estimula produção de anticorpos, tem papel na normalização do colesterol e triglicerídeos plasmáticos. Prebióticos são ingredientes não digeríveis que estimulam seletivamente o crescimento e/ou atividade de bactérias intestinais, e conseguem aumentar significativamente o número de bifidobactérias no cólon e reduzir a população de bactérias patogênicas, assim, a combinação com probióticos é bem vinda. A Glutamina é um aminoácido não-essencial (porém, em situações de estresse, é considerado essencial)  e sua ação trófica na mucosa do intestino já é bastante conhecida. É a fonte energética mais importante para enterócitos e colonócitos. A Arginina é um aminoácido que melhora a retenção hidrogenada, promove funções e reparos intestinais, dentre outros benefícios. O Alecrim (Rosmarinus officinalis L.) é uma erva que favorece a expulsão de gases do aparelho digestório, e a digestão, especialmente de lipídeos, diminuindo a distensão abdominal, a flatulência e as dores. Seus derivados são mais efetivos na prevenção de lesões gástricas do que o medicamento lansoprazol, além de apresentar baixa toxicidade. Dente-de-leão (Taraxacum officinalis) é um fitoterápico que tem ação prebiótica, dentre outros benefícios. A Espinheira Santa (Maytenus officinalis) também tem seu papel na digestão por ajudar a reduzir distensão abdominal, flatulência e dores, esofagite de refluxo e hérnia de hiato, etc.

Deficiência de estrogênio e controle da massa corpórea: o papel da atividade física

Mulheres na pós-menopausa possuem tendência a ganhar massa corpórea. Durante essa fase da vida, há diminuição nos níveis de atividade física, levando à redução do gasto energético, o que acarreta aumento de adiposidade abdominal e pode agravar as complicações metabólicas da obesidade. Porém, não se sabe exatamente como a menopausa contribui para a diminuição do nível de atividade física. Apenas metade das mulheres com idade entre 50 e 64 anos fazem alguma atividade física regular, e apenas um quarto relatam a prática de exercícios de alta intensidade. Assim, a diminuição da atividade física pode ser um importante fator para o ganho de massa corpórea após a menopausa. Os componentes do gasto energético possuem um importante papel no aumento da adiposidade central e de todo o corpo que acontece em mulheres após a menopausa. Como demonstrado em estudo de Poehlman, Toth e Gardner, mulheres que entram na menopausa apresentam maiores reduções da TMB (aproximadamente 100 kcal/dia) comparadas às que não estão na menopausa. Os níveis de atividade física também são menores em mulheres na menopausa (aproximadamente 127 kcal/dia). As reduções da TMB e dos níveis de atividade física podem estar relacionadas, pelo menos em parte, à diminuição da massa magra. O gasto energético reduzido associado a nenhuma mudança ou ao aumento da ingestão alimentar gera um balanço energético positivo, fato que favorece o aumento da gordura corpórea total e, possivelmente, da adiposidade central.  O climatério é um período durante o qual o gasto energético e a utilização dos substratos energéticos estão desregulados, com menor oxidação de gordura. Isso pode ser devido a alterações nos níveis de estrogênio e/ou androgênio, na massa livre de gordura reduzida e mudanças na ingestão alimentar induzidas pela deficiência de estrogênio. No estudo de Kohrt, Ehsani e Birge, foram investigadas mudanças na composição corporal e na distribuição de gordura corporal em resposta ao exercício físico, à terapia de reposição hormonal (estrógenos conjugados e medroxiprogesterona) isolados, e à terapia aliada ao exercício físico. O estudo consistiu em um período de tratamento de 11 meses com avaliações antes do tratamento, ao final do tratamento e seis meses após seu término. As mulheres que participaram somente do programa de exercício e as que fizeram tratamento hormonal em conjunto com o exercício físico tiveram reduções na circunferência do quadril após 12 meses, porém, as mulheres que aliaram tratamento hormonal ao exercício físico tiveram menores circunferências de quadril após seis meses do término do tratamento comparadas às mulheres que somente se exercitaram. Isso sugere que a reposição hormonal pode ser usada em conjunto com o exercício físico para prevenir mudanças na distribuição de gordura que acompanham a menopausa.  Muitos hormônios e neuropeptídeos que afetam o apetite também modulam a atividade física, incluindo neuromedina U e orexina, e a obesidade pode representar uma condição associada ao decréscimo da sensibilidade central a esses neuropeptídeos, os quais são  responsáveis por aumentar a atividade física e, consequentemente, o gasto energético. Embora a terapia de reposição hormonal seja amplamente utilizada para reduzir o risco de doença cardiovascular durante a menopausa, seu uso como um agente para regular o fenótipo na pós-obesidade começou a ser investigado apenas recentemente. Evidências preliminares sugerem que o exercício físico e/ou intervenções farmacológicas para compensar os prejuízos metabólicos e os riscos de doença cardíaca no período de transição para a menopausa ou após a menopausa são interessantes.

Treinamento Físico em Longo Prazo

O treinamento físico em longo prazo compreende, da fase inicial de treinamento à longevidade esportiva, todas as modificações e adaptações orgânicas por que o organismo passa durante esses anos. Em pessoas sedentárias, o exercício aeróbio regular resulta na melhora da capacidade cardiorespiratória e no potencial de desenvolver trabalho muscular. O desenvolvimento do pico de performance física até o nível de um atleta competitivo depende de meses a anos de treinamento, principalmente para endurance. Para se tornar um atleta de elite são necessários anos de treinamento intenso, com o objetivo de alcançar a melhor adaptação metabólica que o atleta possa suportar. é caracterizado pelo excesso de treinamento que resulta em efeitos adversos relacionados com adaptação neuro-endócrino-imune e bioquímica ao exercício e essa condição pode ser tratada e/ ou prevenida. O objetivo da alimentação funcional, nesse momento de overtraining é quebrar o ciclo de ativação do sistema imunológico e de fadiga. Em alguns casos, suplementação com elementos específicos como arginina, glutamina, ácidos graxos ômega-3 e antioxidantes pode facilitar o sistema imunológico e compensar a depleção de nutrientes essenciais. O destreinamento pode ser definido como uma perda parcial ou completa das adaptações induzidas pelo exercício, em resposta a um estímulo insuficiente de treinamento, seja por repouso em cama por tempo prolongado devido a patologia, inatividade por lesão ou redução de treinamento por envelhecimento. é uma situação muito comum na longevidade esportiva. Em atletas de elite, um treinamento insuficiente reduz as dimensões cardíacas, assim como a ventilação, há declínio do bombeamento e no volume de sangue. Todas essas mudanças iniciam a partir de 10 dias da parada do treinamento. Sabendo que a nutrição se faz presente e necessária da bioquímica celular até o funcionamento perfeito dos sistemas cardio-neuro-endócrino-imune, o equilíbrio desses mecanismos, para o atleta, constitui sua adaptação e o ganho na performance. O importante na nutrição é ofertar para o músculo os nutrientes corretos em cada fase do treinamento, favorecendo a sinergia dos sistemas no trabalho muscular e na performance. Além disso, cada atleta deve ser analisado de maneira individual, avaliando função intestinal e absortiva, função hepática de metabolização de todos os nutrientes e compostos bioativos da alimentação e dos hormônios de estresse produzidos pelo exercício, sendo que a alimentação saudável garante o estado de saúde, e a visão nutricional funcional diferencia a performance.

Nutrição Esportiva Funcional – Fevereiro de 2008