Segurança da suplementação de EPA e DHA

Recentemente, o Painel dos Produtos Dietéticos, Nutrição e Alergias1 da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar publicou um parecer científico sobre o nível de ingestão tolerável (UL) dos ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (LCPUFAs) ?-3: ácido eicosapentaenoico (EPA), ácido docosahexaenoico (DHA) e ácido docosapentaenoico (DPA).

Os LCPUFAs ?-3 são importantes componentes estruturais das membranas celulares,contribuindo para a sua fluidez e permeabilidade, a atividade de enzimas ligadas e dos receptores, a transdução de sinal e a regulação da expressão dos genes1.

O DHA é um componente de lipídios de membranas estruturais, especialmente de fosfolipídios no tecido nervoso e na retina. O EPA pode ser transformado em eicosanoides (prostaglandinas, prostaciclinas, tromboxanos, leucotrienos e prostanoides), que participam na regulação da pressão arterial, da função renal, coagulação sanguínea, reações inflamatórias e imunológicas, entre outras funções em tecidos. Outros metabólitos de EPA e DHA (resolvinas, protectinas) estão envolvidos na resolução da resposta inflamatória1.

Embora o DPA possa ser retroconvertido minimamente em EPA e DHA, pouco se sabe sobre seus efeitos biológicos in vivo2. Os efeitos de EPA, DHA e DPA na atividade enzimática, na expressão do gene e na agregação de plaquetas foram descritos in vitro2,3.

O peixe é uma fonte rica em LCPUFAs n-3 de forma exclusiva1. A tabela 1 apresenta a composição em porcentagem de ácidos graxos EPA e DHA de diferentes espécies de peixes marinhos da costa brasileira4. Outras fontes naturais de LCPUFAs n-3 são o leite humano, algas marinhas cultivadas, mamíferos marinhos e krill (crustáceo semelhante ao camarão). O EPA, o DHA e o DPA podem também ser fornecidos por alimentos e suplementos enriquecidos com LCPUFAs n-3. As proporções de EPA: DHA: DPA diferem entre as várias fontes de LCPUFAs n-3, embora DPA seja geralmente um componente de menor quantidade em comparação com EPA e DHA. Os suplementos alimentares que contêm principalmente EPA, ou principalmente DHA (isolado a partir de microalgas), também estão disponíveis. O DPA puro não é comercializado para o consumo humano1.


Fonte: Visentainer et al4.

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não são significativamente diferentes (p=0,05). Dp=desvio padrão
O Painel observou o consumo médio de LCPUFA n-3 em adultos: os mais altos percentuais de ingestão foram geralmente <1200 mg/dia a partir de fontes dietéticas (em mulheres de 18 a 39 anos na Bélgica), e <1300 mg/dia em suplementos alimentares (pessoas de 51 a 64 anos na Irlanda). A maior ingestão foi <2,7 g/dia, quando considerado o alto consumo de peixes e suplementação em conjunto (homens de 16 a 79 anos na Noruega)1. Não foram encontrados estudos que avaliassem o consumo de LCPUFA n-3 na população brasileira.

A maioria dos estudos de intervenção em humanos que investigaram os efeitos do LCPUFA n-3 usou óleo de peixe contendo quantidades conhecidas de EPA e DHA, combinados ou isolados, e quantidades geralmente desconhecidas (mas relativamente baixas) do DPA. Poucos estudos estão disponíveis usando óleo de krill como fonte de EPA e DHA e não foram realizados estudos com fontes contendo principalmente DPA ou com DPA isolado1.
O Painel considerou que a produção endógena de EPA, DPA e DHA, a partir de ALA, pode ser insignificante em comparação com as doses utilizadas nos estudos analisados para avaliação da segurança destes LCPUFAs n-31.

Indicação dos LCPUFAs n-3 para diferentes condições clínicas

Os pareceres científicos da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos sobre a fundamentação das alegações de saúde relacionadas com EPA e DHA propuseram a ingestão de EPA e DHA em cerca de 2-4 g/dia, a fim de obter os efeitos5,6,7.
As recomendações dietéticas de organismos internacionais para ?-3 (principalmente EPA e DHA) variam de 200 mg a >600 mg/dia para adultos e de 40 mg a 250 mg/dia para lactentes com mais de 6 meses, para crianças e adolescentes. Estas recomendações têm sido estabelecidas com base na relação inversa entre o consumo desses LCPUFAs n-3 (principalmente a partir de óleos de peixe e peixe) e um menor risco de doença arterial coronariana1.

As recomendações específicas de DHA foram também estabelecidas para bebês e crianças pequenas (6 a 24 meses de idade), que variam de 70-100 mg/dia com base em seu acúmulo no sistema nervoso central e os seus efeitos sobre a função visual durante o período de alimentação complementar; assim como também para o DHA adicional (100-200 mg/dia) para mulheres grávidas e em lactação, a fim de compensar as perdas oxidativas de DHA na dieta materna e acúmulo de DHA em gordura corporal do feto/criança1. As mais altas recomendações dietéticas para EPA e DHA (principalmente EPA e DHA combinados ou somente DHA) para diferentes subgrupos populacionais são 610 mg/dia (Austrália)1.
A revisão de Lavie et al.8 resumiu os dados científicos sobre os efeitos da dosagem dos LCPUFA ?-3 na prevenção primária e secundária de distúrbios cardiovasculares (Figura 1).

Figura 1. Dosagem de óleo de peixe e o efeito cardiovascular


Fonte: adaptado de Lavie et al.8
* EPA= ácido eicosapentaenoico; DHA= ácido docosahexaenoico.

Observando a figura 1, podemos concluir que as doses de aproximadamente 700-1000 mg apresentam efeito antiarritmia e redutor da frequência cardíaca e da pressão arterial. No entanto, na hipertrigliceridemia, o efeito é proporcional a dose. Na dose em que há o benefício cardiovascular, não há risco antitrombótico. A atividade antitrombótica (antiagregante plaquetária) aumenta com dose = 2000 mg.

O óleo de peixe também foi apontado por seus efeitos benéficos no diabetes tipo 2, em doenças renais e inflamatórias, na saúde materna e infantil, na função do sistema nervoso central, em idosos, em transtornos psiquiátricos e em vários tipos de câncer9.

Efeitos adversos

Estudos de intervenção em humanos, em longo prazo, que investigaram os efeitos de doses suplementares de EPA e DHA, isolados ou combinados, em doses de até 1 g/dia aproximadamente, geralmente não relataram efeitos adversos em relação ao consumo de EPA ou DHA. No entanto, alguns efeitos adversos descritos em associação com doses elevadas de EPA e DHA incluem: episódios de hemorragia, supressão da função imunitária, peroxidação lipídica aumentada e metabolismo de lipídios e glicose prejudicados1.

Segurança da suplementação

Nenhum nível de ingestão tolerável (UL) para EPA, DHA e DPA foi definido por qualquer órgão competente1. O Instituto de Medicina dos EUA10 concluiu que os dados disponíveis são insuficientes para definir uma UL para EPA e DHA, embora os indivíduos com intolerância à glicose ou diabetes tipo 2 e indivíduos com hipercolesterolemia familiar em uso de anticoagulantes devam ser suplementados com cautela.

A Agência Alemã de Avaliação de Risco Federal Alemã estabeleceu o nível de consumo máximo recomendado para LCPUFA ?-3 de 1,5 g/dia. O Food and Drug Administration (FDA)12 recomendou não exceder a ingestão de 3 g/dia de EPA e DHA, para evitar possíveis efeitos adversos.

Em 2011, o Comitê Científico Norueguês para a Segurança dos Alimentos3 realizou uma avaliação de segurança de LCPUFA ?-3 de todas as fontes. Nenhum efeito colateral foi claramente associado com EPA e DHA com ingestão de até 6,9 g/dia e nenhuma UL pôde ser estabelecida.

O parecer científico sobre o nível de ingestão tolerável (UL) dos LCPUFAs ?-3 realizado pelo Painel dos Produtos Dietéticos, Nutrição e Alergias1, publicado neste ano, fez considerações sobre a dose-resposta de efeitos adversos com base nos estudos realizados em humanos. As mesmas estão expostas a seguir.

Considerações do Painel em relação às condições avaliadas1

O Painel considerou que a suplementação de EPA e DHA combinados com doses até 5 g/dia, ou de EPA isolado até 1,8 g/dia ou de DHA isolado até 1 g/dia, não suscitam preocupações de segurança para a população. No entanto, segundo o Painel, os dados disponíveis foram insuficientes para estabelecer uma UL para LCPUFA ?-3 (individualmente ou combinadas) para qualquer grupo populacional.

O Painel considerou que a avaliação da segurança das doses de LCPUFA ?-3 deve ser baseada em estudos disponíveis em humanos. O quadro 1 apresenta as dosagens consideradas seguras pelo Painel, para evitar os efeitos adversos, baseadas nesse tipo de intervenção.

Quadro 1. Dosagem segura para evitar efeitos adversos


Fonte: adaptado de Painel dos Produtos Dietéticos, Nutrição e Alergias1.

*dados disponíveis são insuficientes para concluir se as mesmas doses administradas, principalmente como EPA ou principalmente como DHA, têm efeitos diferentes sobre esse resultado.

Como complicações hemorrágicas, foi considerado o aumento do risco de episódios de sangramento espontâneo ou complicações hemorrágicas, mesmo em indivíduos com alto risco de sangramento (por exemplo, a ingestão de ácido acetilsalicílico ou anticoagulantes).

Em tempo de sangramento, foi considerado o aumento dos efeitos dos medicamentos antiplaquetários ou antitrombóticos sobre o tempo de sangramento. As mudanças nos tempos de sangramento, observadas em alguns estudos de intervenção, estavam dentro do intervalo normal e não associadas ao aumento do risco de complicações clínicas (por exemplo, hemorragia espontânea).

As alterações na função das plaquetas observadas com doses suplementares de EPA e DHA (isolados ou em combinação), até cerca de 4 g/dia, não foram consideradas negativas, uma vez que não foram associadas com um risco aumentado de complicações clínicas (hemorragia espontânea, por exemplo).

Para homeostase da glicose, o Painel considerou a necessidade de insulina, o aumento dos níveis de hemoglobina glicosilada (HbA1c) e o aumento da glicemia em jejum e pós-prandial, em pacientes com diabetes tipo 1 e tipo 2. Os estudos de intervenção em humanos, na maior parte, não controlados, descreveram os efeitos adversos da suplementação de ?-3 LCPUFA (10 g/dia)13.

Em relação à concentração de colesterol LDL no sangue, o Painel considerou que o pequeno aumento nos níveis de colesterol LDL (aproximadamente 3%), vinculado ao EPA e DHA (de 2-6 g/dia) ou somente DHA (2-4 g/dia) podem não ser adversos em relação ao risco de DCVs. Esse aumento foi acompanhado por uma diminuição em triglicérides, sem alterações na concentração do colesterol total (ou não HDL). As doses de EPA, até 4 g/dia, não tiveram efeito significativo nos níveis de colesterol LDL.

As doses consideradas seguras para peroxidação lipídica foram encontradas em estudos com diferentes marcadores: F2-isoprostanos (EPA e DHA, isolados ou combinados, até 4 g/dia por 6 semanas); oxidação das partículas de LDL (EPA e DHA, combinados, até 5 g/dia por até 16 semanas); substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS), de malondialdeído (MDA), dienos conjugados e hidroperóxidos lipídicos (EPA e DHA, até 4,5 g/dia)3. As primeiras observações que ligam o consumo de DHA com o aumento de peroxidação lipídica e dano oxidativo nas células e moléculas em animais de laboratório, podem ter sido afetadas pela presença de produtos de oxidação primária e secundária em suplementos sem antioxidantes. Esse efeito foi, de fato, revertido quando o DHA foi administrado com a suplementação de vitamina E3,10. No entanto, a adição de antioxidantes aos suplementos alimentares que contenham LCPUFA ?-3 para garantir a estabilidade do produto, parece ser opcional14.

O Painel também considerou a susceptibilidade de indução de alterações nas funções imunes, que podem levantar preocupações em relação ao risco de infecções ou de ativação inapropriada de respostas inflamatórias (aumento de PCR-us, citocinas, ICAM-1, VCAM-1 e selectina-E)1.

Considerações finais

O painel considerou que a suplementação de EPA e DHA, combinados com doses até 5 g/dia, parece não aumentar o risco de episódios de sangramento espontâneo ou complicações hemorrágicas ou afetar a função imune, a homeostase da glicose ou a peroxidação lipídica, desde que a estabilidade oxidativa dos LCPUFAs ?-3 seja garantida. A ingestão de suplementação de EPA isolado até 1,8 g/dia também não suscita preocupações de segurança para a população adulta e a de DHA isolado até 1 g/dia é segura para a população em geral. Não há dados disponíveis para o DPA, quando consumido sozinho. O Painel observou que, na maioria dos estudos com humanos considerados, o óleo de peixe foi a fonte de EPA e DHA e também continha DPA em quantidades geralmente desconhecidas (mas relativamente baixas)1.

Apesar de serem estabelecidas algumas considerações em relação às dosagens consideradas seguras, não foi determinada a UL. Além disso, a individualidade bioquímica deve ser respeitada. Algumas pessoas podem ser hipersensíveis e apresentar efeitos adversos em uma dosagem mais baixa que as estabelecidas.

Os peixes estão expostos a contaminantes ambientais, tais como arsênico, metilmercúrio e poluentes orgânicos persistentes, que podem desencadear ou agravar determinadas doenças. Portanto, é importante o conhecimento de laudos que comprovem a purificação dos suplementos15.

Referências Bibliográficas:
1. EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
2. KAUR, G.; CAMERON-SMITH, D; GARG, M.; et al. Docosapentaenoic acid (22:5n-3): a review of its biological effects. Progress in Lipid Research; 50:28-34, 2011. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
3. VKM (Norwegian Scientific Committee for Food Safety). Opinion of the Steering Committee of the Norwegian Scientific Committee for Food Safety: Evaluation of negative and positive health effects of n-3 fatty acids as constituents of food supplements and fortified foods. Doc. no.: 08-707-final, 88 pp, 2011. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
4. VISENTAINER, J.V.; CARVALHO, P.O.; IKEGAKI, M.; ET al. Concentração de ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA) em peixes marinhos da costa brasileira. Ciênc Tecnol Aliment; 20(1):90-3, 2000.
5. EFSA Panel on Dietetic Products Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the substantiation of health claims related to EPA, DHA, DPA and maintenance of normal blood pressure (ID 502), maintenance of normal HDL-cholesterol concentrations (ID 515), maintenance of normal (fasting) blood concentrations of triglycerides (ID 517), maintenance of normal LDL-cholesterol concentrations (ID 528, 698) and maintenance of joints (ID 503, 505, 507, 511, 518, 524, 526, 535, 537) pursuant to Article 13(1) of Regulation (EC) No 1924/2006 on request from the European Commission. EFSA Journal; 7(9):1263, 26 pp, 2009. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
6. EFSA Panel on Dietetic Products Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the substantiation of claims related to docosahexaenoic acid (DHA) and maintenance of normal (fasting) blood concentrations of triglycerides (ID 533, 691, 3150), protection of blood lipids from oxidative damage (ID 630), contribution to the maintenance or achievement of a normal body weight (ID 629), brain, eye and nerve development (ID 627, 689, 704, 742, 3151), maintenance of normal brain function (ID 627, 632, 743, 3149) and maintenance of normal spermatozoa motility (ID 628) pursuant to Article 13 (1) of Regulation (EC) No 1924/2006. EFSA Journal, 8(10):1734, 2010. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
7. EFSA Panel on Dietetic Products Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the substantiation of health claims related to eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA), docosapentaenoic acid (DPA) and maintenance of normal cardiac function (ID 504, 506, 516, 527, 538, 703, 1128, 1317, 1324, 1325), maintenance of normal blood glucose concentrations (ID 566), maintenance of normal blood pressure (ID 506, 516, 703, 1317, 1324), maintenance of normal blood HDL-cholesterol concentrations (ID 506), maintenance of normal (fasting) blood concentrations of triglycerides (ID 506, 527, 538, 1317, 1324, 1325), maintenance of normal blood LDL-cholesterol concentrations (ID 527, 538, 1317, 1325, 4689), protection of the skin from photo-oxidative (UV-induced) damage (ID 530), improved absorption of EPA and DHA (ID 522, 523), contribution to the normal function of the immune system by decreasing the levels of eicosanoids, arachidonic acid-derived mediators and pro-inflammatory cytokines (ID 520, 2914), and “immunomodulating agent” (4690) pursuant to Article 13(1) of Regulation (EC) No 1924/2006. EFSA Journal 2010; 8(10):1796. [32 pp.]. EFSA Journal; 8(10):1796, 2010. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
8. LAVIE, C.J.; MILANI, R.V.; MEHRA, M.R.; et al. Omega-3 Polyunsaturated Fatty Acids and Cardiovascular Diseases. J Am Coll Cardiol; 54:585–94, 2009.
9. TUR, J.A.; BIBILONI, M.M.; SUREDA, A.; et al. Dietary sources of omega 3 fatty acids: public health risks and benefits. British Journal of Nutrition; 107(S2):S23-S52, 2012.
10. IOM, 2005. Institute of Medicine: Dietary reference intakes for energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol, protein, and amino acids. National Academies Press, Washington DC. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
11. BfR (Bundesinstitut fur Risikobewertung). Fur die Anreicherung von Lebensmitteln mit Omega-3-Fettsauren empfiehlt das BfR dia Festsetzung von Hochstmengen. Stellungnahme Nr. 030/2009, 10 pp., 2009. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
12. FDA (Food and Drug Administration). Federal Register. Volume 62, Issue 108 62 FR 30751, 6 pp, 1997. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
13. DE CATERINA, R.; MADONNA, R.; BERTOLOTTO, A. N-3 fatty acids in the treatment of diabetic patients: biological rationale and clinical data. Diabetes Care; 30, 1012-26, 2007. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
14. GOED (Global Organisation for EPA and DHA Omega-3s). Hazard characterization of the long-chain polyunsaturated n-3 fatty acids, DHA, EPA and DPA. Prepared for and on behalf of the GOED membership by Spherix Consulting, Inc., 177 pp., 2012. Apud: EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the Tolerable Upper Intake Level of eicosapentaenoic acid (EPA), docosahexaenoic acid (DHA) and docosapentaenoic acid (DPA). EFSA Journal; 10(7):2815, 2012.
15. SIROT, V.; LEBLANC, J.C.; MARGARITIS, I. A risk–benefit analysis approach to seafood intake to determine optimal consumption. Br J Nutr; 107(12):1812- 22, 2012.

Nanotecnologia em alimentos

A nanociência e a nanotecnologia são as novas fronteiras deste século. A nanotecnologia é uma ciência recente que permite aos cientistas medir, controlar e manipular os materiais com dimensões de nanômetros, com a finalidade de alterar suas propriedades e funções. Na indústria alimentícia, as pesquisas acerca da nanotecnologia apontam para uma revolução tecnológica importante, alterando a forma como o alimento é produzido, processado, embalado, transportado e consumido. Assim, as nanotecnologias são aplicadas de diversas formas, como no encapsulamento de compostos bioativos, no controle de qualidade, no empacotamento de alimentos e em biossensores. Uma vez que a sociedade moderna enxerga os alimentos não só como fonte de nutrientes, mas também como promotores da saúde, tal ciência emerge como um advento, permitido que vitaminas, minerais, nutrientes e fitoquímicos apresentem maior biodisponibilidade, garantindo maior segurança alimentar, menor uso de pesticidas em plantações, dentre outros. Entretanto, pouco se sabe sobre a toxicidade desses compostos e suas possíveis interações com os sistemas biológicos e o meio ambiente.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional

Ano 12 – Edição 53 – Setembro de 2012

Taurina no esporte

A taurina é um composto final do metabolismo dos aminoácidos sulfurados (metionina e cisteína) que se encontra conjugada com ácidos biliares de sódio e potássio. Sua síntese ocorre a partir desses aminoácidos, por meio de uma série de reações enzimáticas que requerem a participação da vitamina B6 como cofator. Após exercícios exaustivos, observa-se depleção de taurina nas células musculares e elevação dos seus níveis no plasma. Supõe-se que a elevação de taurina no plasma exerça efeito ergogênico, aumentando a glicólise e modulando a entrada e saída de cálcio na célula, promovendo elevação do glicogênio hepático. O exercício físico, em função do maior consumo de oxigênio, pode promover aumento na produção de EROs, permitindo assim, modificar o estado redox da célula. As concentrações mitocondriais de taurina ainda não foram descritas, porém suas altas concentrações celulares e suas propriedades sugerem-na uma função antioxidante e de scavenger, provavelmente protegendo esta organela do estresse oxidativo. Estudos sugerem que o efeito protetor da taurina é devido suas atividades antioxidantes, através da sua habilidade em neutralizar o ácido hipocloroso (HOCl), uma substancia pró-oxidante potente.A taurina parece ter efeito de aumento da resistência em praticantes de atividade física e oferece combustível para contração do músculo esquelético, aumentando a quantidade de cálcio liberada e faz com que as células mais sensíveis ao cálcio aumentem ainda mais a sua contratilidade. Em estudos com humanos utilizaram-se preparados líquidos contendo combinação de vários nutrientes, dificultando o entendimento do real efeito da suplementação de taurina no exercício físico. é necessária a realização de estudos que avaliem os feitos isolados da taurina no exercício físico e no aumento da resistência física, quanto ao aumento do desempenho.

Anuário de Nutrição Esportiva Funcional

Fevereiro de 2010

Disbiose

Mais do que nutrir as células através da Nutrição, devemos estar atentos a um mundo a parte, que não enxergamos a olho nu e, por vezes, esquecemos de sua importância: a flora intestinal. No  total, convivemos com aproximadamente 100 trilhões de bactérias que vivem ecologicamente em equilíbrio, exercendo funções importantes, como digestão, síntese de vitaminas essenciais e proteção da mucosa.
O intestino é o órgão relacionado com a função imune mais importante do organismo: aproximadamente 60% das células imunológicas do organismo estão presentes na mucosa intestinal.
O desequilíbrio do microbioma pode resultar na proliferação de patógenos, com consequente infecção bacteriana, que invariavelmente leva a uma desordem de permeabilidade e a ativação de carcinógenos.
Dentre as causas da disbiose estão: antibioticoterapia indiscriminada, anti-inflamatórios esteroidais e não-esteroidais (AINEs), laxantes e purgativos, disfunções hepatopancreáticas, exposição excessiva de toxinas ambientais, doenças consumptivas, como câncer e síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS), e dieta (alto consumo de alimentos processados e ricos em carboidratos simples, em detrimento de alimentos crus e naturais) e a má digestão.Bactérias probióticas são microorganismos que exercem efeitos benéficos sobre nossa saúde, cujos benefícios são: antagonismo a outras bactérias (prevenindo a colonização por patógenos por competição), síntese de vitaminas do complexo B e vitamina K, melhora da função digestória (síntese de enzimas digestivas, regulação do trânsito intestinal e absorção de nutrientes), função metabólica (produzem ácidos graxos de cadeia curta que servem de substrato metabólico para os colonócitos), imunomodulação (essenciais para o desenvolvimento e maturação do sistema imune) e estimula produção de anticorpos, tem papel na normalização do colesterol e triglicerídeos plasmáticos. Prebióticos são ingredientes não digeríveis que estimulam seletivamente o crescimento e/ou atividade de bactérias intestinais, e conseguem aumentar significativamente o número de bifidobactérias no cólon e reduzir a população de bactérias patogênicas, assim, a combinação com probióticos é bem vinda. A Glutamina é um aminoácido não-essencial (porém, em situações de estresse, é considerado essencial)  e sua ação trófica na mucosa do intestino já é bastante conhecida. É a fonte energética mais importante para enterócitos e colonócitos. A Arginina é um aminoácido que melhora a retenção hidrogenada, promove funções e reparos intestinais, dentre outros benefícios. O Alecrim (Rosmarinus officinalis L.) é uma erva que favorece a expulsão de gases do aparelho digestório, e a digestão, especialmente de lipídeos, diminuindo a distensão abdominal, a flatulência e as dores. Seus derivados são mais efetivos na prevenção de lesões gástricas do que o medicamento lansoprazol, além de apresentar baixa toxicidade. Dente-de-leão (Taraxacum officinalis) é um fitoterápico que tem ação prebiótica, dentre outros benefícios. A Espinheira Santa (Maytenus officinalis) também tem seu papel na digestão por ajudar a reduzir distensão abdominal, flatulência e dores, esofagite de refluxo e hérnia de hiato, etc.

Treinamento Físico em Longo Prazo

O treinamento físico em longo prazo compreende, da fase inicial de treinamento à longevidade esportiva, todas as modificações e adaptações orgânicas por que o organismo passa durante esses anos. Em pessoas sedentárias, o exercício aeróbio regular resulta na melhora da capacidade cardiorespiratória e no potencial de desenvolver trabalho muscular. O desenvolvimento do pico de performance física até o nível de um atleta competitivo depende de meses a anos de treinamento, principalmente para endurance. Para se tornar um atleta de elite são necessários anos de treinamento intenso, com o objetivo de alcançar a melhor adaptação metabólica que o atleta possa suportar. é caracterizado pelo excesso de treinamento que resulta em efeitos adversos relacionados com adaptação neuro-endócrino-imune e bioquímica ao exercício e essa condição pode ser tratada e/ ou prevenida. O objetivo da alimentação funcional, nesse momento de overtraining é quebrar o ciclo de ativação do sistema imunológico e de fadiga. Em alguns casos, suplementação com elementos específicos como arginina, glutamina, ácidos graxos ômega-3 e antioxidantes pode facilitar o sistema imunológico e compensar a depleção de nutrientes essenciais. O destreinamento pode ser definido como uma perda parcial ou completa das adaptações induzidas pelo exercício, em resposta a um estímulo insuficiente de treinamento, seja por repouso em cama por tempo prolongado devido a patologia, inatividade por lesão ou redução de treinamento por envelhecimento. é uma situação muito comum na longevidade esportiva. Em atletas de elite, um treinamento insuficiente reduz as dimensões cardíacas, assim como a ventilação, há declínio do bombeamento e no volume de sangue. Todas essas mudanças iniciam a partir de 10 dias da parada do treinamento. Sabendo que a nutrição se faz presente e necessária da bioquímica celular até o funcionamento perfeito dos sistemas cardio-neuro-endócrino-imune, o equilíbrio desses mecanismos, para o atleta, constitui sua adaptação e o ganho na performance. O importante na nutrição é ofertar para o músculo os nutrientes corretos em cada fase do treinamento, favorecendo a sinergia dos sistemas no trabalho muscular e na performance. Além disso, cada atleta deve ser analisado de maneira individual, avaliando função intestinal e absortiva, função hepática de metabolização de todos os nutrientes e compostos bioativos da alimentação e dos hormônios de estresse produzidos pelo exercício, sendo que a alimentação saudável garante o estado de saúde, e a visão nutricional funcional diferencia a performance.

Nutrição Esportiva Funcional – Fevereiro de 2008

Exposição Tóxica e Destoxificação em Atletas

Alguns trabalhos evidenciam que a inalação de poluentes do ar pode causar efeitos indesejáveis durante o exercício. A intensidade e volume de exercício, e o grau de condicionamento do atleta consistem em importantes determinantes da quantidade de poluentes inalados durante o esforço físico. A exposição a poluentes causa diversos prejuízos à saúde do atleta, como doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, além do estresse oxidativo, e a normalização das funções orgânicas depende do aumento das defesas antioxidantes. A glutationa exerce papel importante na proteção contra o estresse oxidativo, sendo sua captação aumentada pelos tecidos durante o exercício. Além disso, atua nas reações de conjugação mediadas pelas enzimas glutationa-S-transferases, uma importante via de destoxificação de poluentes do ar. Porém, o exercício físico prolongado resulta na diminuição da disponibilidade de glutationa, comprometendo a capacidade de metabolização de toxinas. A metabolização e conversão de toxinas exógenas e endógenas em formas excretáveis, é dependente da disponibilidade de fatores nutricionais e não nutricionais, indispensáveis para as reações de Fase I e de Fase II. Além disso, o treinamento físico pode levar a adaptações que conferem proteção contra o estresse do exercício e favorecem a destoxificação de xenobióticos. A dieta de destoxificação inclui 3 procedimentos básicos, como a remoção de alimentos que contém toxinas e alérgenos, o suprimento dos requerimentos básico de nutrientes e de fitoquímicos com propriedades moduladoras, e a hidratação abundante. A implementação da dieta deverá ocorrer de forma progressiva, com a retirada gradual dos alimentos potencialmente tóxicos. Apesar das dificuldades na realização da dieta de destoxificação durante os períodos preparatórios, é desejável que a alimentação do atleta tenha um caráter destoxificante em geral, contendo uma variedade de alimentos funcionais, fontes de fitoquímicos moduladores, e que influenciem na economia, síntese e regeneração de glutationa. Deve-se também ter atenção especial aos suplementos esportivos, que podem representar uma real fonte de compostos xenobióticos, por conterem diversos aditivos alimentares. O artigo conclui que os atletas, que principalmente se exercitam ao ar livre, são expostos a uma variedade de poluentes. Portanto, é de grande importância a implementação da Nutrição Esportiva Funcional aos atletas, para proporcionar ótima performance, além de harmonizar a interação dos sistemas corporais responsáveis pelos processos básicos de saúde integral.

Anuário Nutrição Esportiva Funcional
Janeiro de 2007

Desequilíbrios nutricionais e distúrbios do sono

            Os distúrbios do sono são cada vez mais frequentes na sociedade moderna e suas alterações metabólicas estão sendo cada vez mais relacionadas ao desenvolvimento de doenças crônicas como obesidade, diabetes, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares. Neste contexto, a intervenção nutricional é de suma relevância e terá como foco modular as alterações metabólicas desencadeadas por estes distúrbios bem como prevenir o desenvolvimento de doenças crônicas mais graves. A alimentação deve ser rica em compostos anti-inflamatórios, antioxidantes além de alguns nutrientes essenciais para a adequada produção de melatonina e serotonina, como triptofano, piridoxina, ácido fólico, cobalamina, niacina e ômega-3. Diante da influência dos distúrbios do sono na saúde e qualidade de vida da população justifica-se a relevância desta revisão bibliográfica cujo principal objetivo é descrever as alterações metabólicas desencadeadas pelos distúrbios do sono bem como o papel da nutrição no tratamento dos mesmos.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional 

Setembro de 2012

ANTIOXIDANTES NO PEQUI E EFEITOS NA ATIVIDADE FÍSICA

O Pequi
O Caryocar brasiliense Camb., popularmente conhecido com Pequi, é uma árvore típica do cerrado brasileiro, cujo fruto é usado na culinária regional e na medicina popular, devido ao seu alto valor nutritivo. O óleo contido na polpa do fruto do pequizeiro contém diversos carotenoides, tais como caroteno, licopeno, criptoxantina, zeaxantina, luteína e neoxantina1-4.

O pequizeiro é nativo do cerrado brasileiro, incluindo os estados do Pará, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e os estados nordestinos do Piauí, Ceará e Maranhão. A palavra pequi, na língua indígena, significa “casca espinhosa”, porém o fruto também é conhecido por diversos nomes como piqui, pequiá, amêndoa de espinho, grão de cavalo ou amêndoa do Brasil. Sua frutificação ocorre principalmente entre os meses de janeiro e março5.

O fruto é constituído pelo exocarpo ou pericarpo, de coloração esverdeada ou marrom-esverdeada, mesocarpo externo, polpa branca com coloração pardo-acinzentada e mesocarpo interno, que constitui a porção comestível, que apresenta coloração amarelada. O endocarpo, que é espinhoso, protege a semente ou amêndoa, que é revestida por um tegumento fino e marrom, sendo também uma porção comestível6.

Composição química do pequi e sua capacidade antioxidante
Em 2007, um grupo de pesquisadores analisou a composição química e os compostos bioativos presentes na polpa e na amêndoa do pequi. Nesse trabalho foi observado que a polpa do fruto de pequi é rica em lipídios (33,4%). Além disso, é considerada uma fonte interessante de fibras, apresentando 10,02%, correspondendo a 40% das necessidades diárias de fibras alimentares. Observou-se também que a fração proteica corresponde a 3% do fruto4.

Ao analisarem os componentes da amêndoa do pequi, os pesquisadores constataram que 51,51% do conteúdo corresponde a lipídios, enquanto as proteínas correspondem a 25, 27%. Já em relação aos carboidratos, a amêndoa apresenta 8,33% e 2,2% de fibras. Verificou-se um baixo teor de umidade e um teor elevado de minerais, representado pelas cinzas. Esse fruto apresentou concentrações predominantes de ácidos graxos insaturados.

A polpa apresenta 61,35% e a amêndoa apresenta 52,17% de ácidos graxos insaturados. O ácido oleico está presente em maior concentração na polpa, com 55,87%, sendo seguido pelo ácido palmítico, que corresponde a 35,17%. Na amêndoa do pequi, predominam os ácidos palmítico e oleico em quantidades praticamente iguais, 43,76% e 43,59%, respectivamente. Também estão presentes o ácido linoleico, com 5,51%; esteárico, com 2,04% e palmitoleico, com 1,23%.

É possível observar que tanto a polpa como a amêndoa do pequi possuem ácidos graxos importantes para compor uma dieta saudável. Por ser um fruto encontrado em regiões onde as árvores recebem alta incidência de raios solares, ocorre um favorecimento da formação de radicais livres. Essas condições favorecem a biossíntese de compostos secundários com propriedades antioxidantes (compostos fenólicos e carotenoides totais), como é apresentado na Tabela 1 4.

Tabela 1.
Teores de fenólicos totais e carotenoides totais em mg/100g, na polpa e amêndoa de pequi
(valores expressos como média +/- desvio-padrão).
Fonte: adaptado de Lima et al., 20074.

Na avaliação da atividade antioxidante do extrato aquoso e das frações de ácidos fenólicos da polpa do pequi há evidências de proteção contra os danos oxidativos, comparados ao padrão comercial butilidroxitolueno (BHT). Esses resultados indicam que a polpa do pequi é um alimento com elevada capacidade antioxidante, demonstrando a correlação existente entre a quantidade de fenólicos totais e a proteção antioxidante 7,8.

Na tabela 2, podemos observar uma comparação entre os teores fenólicos de polpas de frutas consideradas extensivamente antioxidantes. O pequi apresenta 209 mg de fenólicos em 100 gramas de polpa, ou seja, tem uma elevada capacidade antioxidante. Na polpa e na amêndoa do pequi, os lipídios são os constituintes predominantes, prevalecendo nestes os ácidos graxos oleico e palmítico.

Tabela 2. Tabela comparativa dos teores de fenólicos totais em 100g de polpa.
Fonte: adaptado de Lima et al., 20074.

Estresse oxidativo induzido por atividade física intensa
O metabolismo humano produz continuamente espécies reativas de oxigênio (EROs), como resultado do metabolismo oxidativo mitocondrial normal – ou seja, processos oxidativos são constantes no organismo.9

Em situações normais, os produtos dos processos oxidativos são neutralizados por um sistema de defesa antioxidante, que consiste de enzimas, como a catalase (CAT), superóxido dismutase (SOD), glutationa peroxidase (GPX) e diversos antioxidantes não enzimáticos10. A atividade física regular é considerada essencial para promover saúde e prevenção de diversas doenças – porém, a partir do momento em que essa atividade é excessiva pode promover danos, ao invés de trazer benefícios. A prática de exercícios físicos de forma extenuante aumenta o consumo de oxigênio e pode promover um desequilíbrio entre as EROs e os antioxidantes, promovendo estresse oxidativo. Trabalhos mostram que a atividade exaustiva aumenta a geração de espécies reativas de oxigênio, promovendo danos no DNA e nos tecidos. 11

A prática de exercícios físicos extenuantes pode promover o estresse oxidativo. Isso resulta em aumento nos níveis sanguíneos de malondialdeído (MDA), que serve como indicador indireto da peroxidação lipídica e pode ser mensurado pelas TBARS, substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico. Além disso, ele pode iniciar reações que se assemelham à fase aguda de uma resposta imune como uma infecção com aumento de PCR (proteína C reativa) 10. Nesse contexto, o consumo dietético de antioxidantes pode ajudar a prevenir o estresse oxidativo e lesões teciduais.

O pequi e a prevenção do estresse oxidativo induzido por atividade física 

Muitos estudos têm investigado o impacto do status antioxidante nos prejuízos gerados pelo exercício12,14,16.. Com esse propósito, a maioria das intervenções dietéticas tem como foco os fatores nutricionais, como as vitaminas e compostos antioxidantes que neutralizam o estresse oxidativo induzido pela atividade física.

Os compostos fitoquímicos bioativos podem apresentar um papel vital na proteção de células submetidas ao estresse oxidativo induzido pelo exercício16. Trabalhos mostram que os compostos bioativos são capazes de prevenir os danos oxidativos em atletas de endurance que esgotaram sua capacidade endógena antioxidante, devido aos treinos intensos e frequentes. Além disso, a composição rica em ácidos graxos insaturados do óleo de pequi está envolvida na modulação das taxas pós-prandiais de triglicerídeos e colesterol18. Estudos mostram que o óleo de pequi é eficiente na redução de danos ao DNA e nos tecidos13. Além disso, de acordo com estudos, os óleos da polpa de outra espécie de pequi, o C. coriaceum, apresenta efeitos anti-inflamatórios significativos. Pesquisadores alegam que o óleo de pequi poderia reduzir eficientemente a inflamação induzida pela atividade física, podendo inclusive modular os níveis de lipídios pós-prandiais de corredores.

Conclusão 
O pequi apresenta compostos fenólicos e carotenoides totais, os quais estão associados à prevenção de processos oxidativos. Diante das questões aqui discutidas, é possível observar que o consumo da polpa de pequi poderá trazer benefícios à saúde da população; além disso, devido à sua ampla capacidade antioxidante, seu consumo pode ser interessante para praticantes de atividade física. A atividade física apresenta benefícios já bem descritos na literatura, porém essa prática promove aumento da produção de EROs. Quando o organismo é submetido à atividade extenuante, há um aumento do estresse oxidativo, com possível redução da sua capacidade antioxidante.

Nesse sentido, torna-se essencial que praticantes de atividade física tenham um consumo elevado de alimentos antioxidantes. O pequi apresenta compostos bioativos em sua composição e lipídios insaturados que, ao serem introduzidos no planejamento alimentar do indivíduo, poderão facilitar o equilíbrio do organismo. O uso do óleo de pequi, como um suplemento para atletas, também pode ser interessante. Para essa confirmação, ainda são necessários mais estudos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. RAMOS, M.I.L.; UMAKI, M.C.S.; HIANE, P.A.; RAMOS-FILHO, M.M. Efeito do cozimento convencional sobre os carotenoides pró-vitamínicos “A” da polpa de pequi (Caryocarbrasiliense Camb.). Bol Centro Pesq Process Aliment; 19:23-32, 2001.
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3. OLIVEIRA, M.N.S.; GUSMÃO, E.; LOPES, P.S.N.; et al. Estágio de maturação dos frutos e fatores relacionados aos aspectos nutritivos e de textura da polpa de pequi (Caryocar brasiliense Camb.). Rev Bras Frutic; 28:380-386, 2006.
4. LIMA, A.; SILVA, A.M.O.; TRINDADE, R.A.; et al. Composição química e compostos bioativos presentes na polpa e na amêndoa do pequi (Caryocar brasiliense Camb.). Rev Bras Frutic; 29:695-698, 2007.
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19. LECARPENTIER, Y. Physiological role of free radicals in skeletal muscles. J Appl Physiol; 103:1917-8, 2007.
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21. WOODS, J.A.; LU, Q.; LOWDER, T. Exercise-induced modulation of macrophage function. Immunol Cell Biol; 78:545-53. 2000.

*Texto elaborado pelo Departamento Científico da VP Consultoria Nutricional.

Nutrição e Ciclo circadiano: conceitos e perspectivas

As células, tecidos e órgãos estão sob o comando do sistema circadiano, cuja arquitetura extremamente complexa é capaz de sincronizar o funcionamento do organismo em todos esses níveis em função da integração de sinais ambientais e endógenos, com o objetivo de otimizar a fisiologia celular. O interesse da Nutrição Funcional pelo conhecimento do sistema circadiano se justifica por alguns motivos: o ciclo circadiano influencia o ritmo endócrino de secreção de alguns hormônios; alguns nutrientes participam direta ou indiretamente nos mecanismos regulatórios desse sistema; a alimentação funciona como zeitgeber (time giver ou sinal do tempo) para a sincronização de relógios periféricos com o relógio central; a destoxificação de xenobióticos estar sob modulação circadiana; e os estudos de cronofarmacologia podem contribuir para futuras discussões e estudos na área de suplementação nutricional. O objetivo desta revisão é discutir algumas abordagens nutricionais como restrição calórica, fracionamento e composição das refeições e suplementação, considerando o ritmo circadiano. Os estudos em modelos animais de deleção (knockout) ou mutação de clock genes indicam que as funções do sistema circadiano têm grande impacto na função metabólica, e o inverso também é verdadeiro. Quando pensamos na nutrição sob a ótica circadiana, talvez haja mais perguntas do que respostas. O entendimento do ritmo circadiano complementa o direcionamento de delineamentos de estudos futuros na área de Nutrição.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional – Junho 2011

Distúrbios de atenção e déficit de memória: como melhorar nossa memória nos tempos atuais?

A memória é um processo que naturalmente sofre alterações no decorrer da vida. Fatores como estresse, exposição a metais pesados, como chumbo, arsênio e mercúrio, bifenilas policloradas (PCBs), consumo de ácidos graxos trans e hiperpermeabilidade intestinal, podem prejudicar a memória e cognição. Por outro lado, a saúde intestinal e nutrientes como colina, taurina e compostos bioativos como flavonóides, curcumina, L-teanina e cafeína atuam em processos celulares e mecanismos moleculares, diminuindo os efeitos deletérios causados por fatores ambientais e propensão genética. Assim, uma alimentação equilibrada, rica nesses compostos, e mudanças no estilo de vida de modo a diminuir a exposição aos fatores que prejudicam a memória e a cognição, são medidas eficientes para melhorar o desempenho cognitivo nos tempos atuais.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional – Setembro 2011