APLICABILIDADES NA SUPLEMENTAÇÃO DE ARGININA E ASSOCIAÇÕES

Arginina é um aminoácido condicionalmente essencial, ou seja, o corpo é capaz de produzir, mas em determinados pacientes, conforme a necessidade metabólica, é preciso oferecer fonte exógena deste nutriente para suprir a demanda. O consumo estimado de arginina é da ordem de 3g a 6g/dia. (Shao A et al, 2008).

Em termos bioquímicos, a função mais conhecida da arginina é sua capacidade em ser convertida em Óxido Nítrico, um gás produzido nas células endoteliais responsável pela vasodilatação e toda saúde vascular. Entretanto, arginina é necessária para síntese de colágeno (via prolina), creatina, agmatina, poliaminas, manutenção do ciclo da uréia e liberação de hormônios (figura 1). Estudos apresentados na última década relatam ações da arginina nas áreas imunológica, gastrointestinal, estética, reprodutiva, gestacional e endocrinológica.

Figura 1

Funções metabólicas da arginina
Fonte: Holecek M, 2016

Em relação à produção de óxido nítrico e capacidade vasodilatadora, Chen J (1999) testou a suplementação diária de 5g de arginina em homens com disfunção erétil, por 6 semanas, e demonstrou melhora da função sexual.

Outra propriedade importante da arginina via produção de óxido nítrico, é sua capacidade de promover biogênese mitocondrial, reduzindo cansaço e fadiga nos pacientes, bem como ajudando na oxidação de gordura e redução do peso corporal. Além disso, o óxido nítrico é um potente agente estimulante da fosforilação da enzima Adenosina Monofosfato Kinase (AMPK), que induz a translocação de GLUT4, ajudando a reduzir a glicemia de pacientes diabéticos, como também melhorando a sensibilidade a insulina. (figura 2) (Ueda K, 2017; Hu S, 2017).

Figura 2

Modulação do metabolismo da glicose e dos lipídios a partir da arginina
Fonte: Hu S et al, 2017

Arginina é um aminoácido que pode ser prescrito via suplementação também no período gestacional pois está associado a melhora do desenvolvimento e crescimento intrauterino do feto. (Tenório MB et al, 2018) Neste aspecto poder-se-ia indicar a sua suplementação associada a taurina (doses de 3g a 6g tanto de arginina quanto de taurina), já que esta também é bastante efetiva na prevenção do diabetes gestacional e pre-eclampsia, assim como no estimulo ao crescimento intrauterino do feto. (Thaeomor A, wang Y, Roysommuti S, Barker RG) Além disso, o sinergismo destes dois aminoácidos já foi testado em ratos e demonstrado sua eficácia quanto a redução da resistência a insulina, da glicemia e da pressão arterial após 4 semanas ( Feng Y 2013), como também da melhora da massa óssea. (Choi MJ et al 2013).

Um achado importante da arginina é sua capacidade de promover reconstrução e cicatrização de tecido, seja para feridas, escaras, pacientes queimados, pós-radioterapia ou mesmo para reduzir permeabilidade intestinal, além da melhora da imunidade intestinal (Naderpour M, 2008; Pinto FC, 2016; Kong S, 2018). Estudo realizado em camundongos demonstrou que a suplementação de arginina foi capaz de prevenir o aumento da permeabilidade intestinal e da translocação bacteriana nos animais submetidos ao exercício físico sob estresse térmico ambiental. (Costa KA et al, 2014).

Visto que alguns trabalhos mostram a capacidade da arginina em promover cicatrização e ter ação analgésica, seu uso pode ser indicado para praticantes de atividade física possivelmente associado a glutamina e taurina, visando recuperação da permeabilidade intestinal e recuperação da dor pós treino, melhora da distribuição de oxigênio e nutrientes pela vasodilatação, até a melhora da glicemia, pressão arterial e redução de peso.

Neste aspecto, o profissional prescritor pode fazer uso da suplementação para alcançar os objetivos traçados com seu cliente, com doses entre 3g a 6g/dia, com ação ainda mais efetiva quando associada a suplementação de taurina e glutamina, especialmente em pacientes gestantes, obesos, hipertensos, diabéticos, atletas, em risco de osteoporose, com disfunção erétil, apresentando cansaço crônico, imunodeprimidos e hiperalgésicos.

Referências Bibliográficas:

Barker RG, Horvath D, van  der Poel C Benefits of Prenatal Taurine Supplementation in Preventing the Onset of Acute Damage in the Mdx Mouse. PLoS Curr. 2017 Sep 22;9. / Chen J, Wollman Y, Chernichovsky T et al Effect of oral administration of high-dose nitric oxide donor L-arginine in men with organic erectile dysfunction: results of a double-blind, randomized, placebo-controlled study. BJU Int. 1999 Feb;83(3):269-73. / Choi MJ, Chang KJ Effect of dietary taurine and arginine supplementation on bone mineral density in growing female rats. Adv Exp Med Biol. 2013;776:335-45. / Costa KA, Soares AD, Wanner SP et al. L-arginine supplementation prevents increases in intestinal permeability and bacterial translocation in male Swiss mice subjected to physical exercise under environmental heat stress. J Nutr. 2014 Feb;144(2):218-23. / Feng Y, Li J, Yang J et al Synergistic effects of taurine and L-arginine on attenuating insulin resistance hypertension. Adv Exp Med Biol. 2013;775:427-35. / Holecek M, Sispera L. Effects of Arginine Supplementation on Amino Acid Profiles in Blood and Tissues in Fed and Overnight-Fasted Rats. Nutrients. 2016 Apr 8;8(4):206. / Hu S, Han M, Rezaei A et al L-Arginine Modulates Glucose and Lipid Metabolism in Obesity and Diabetes. Curr Protein Pept Sci. 2017;18(6):599-608. / Kong S, Zhang YH, Zhang W. Regulation of Intestinal Epithelial Cells Properties and Functions by Amino Acids. Biomed Res Int. 2018 May 9;2018:2819154. / Naderpour M, Rad JS, Ayat E, et al. Dietary L-arginine and cutaneous wound healing. Ital J Anat Embryol. 2008 Jul-Sep;113(3):135-42. / Pinto FC, Campos-Silva P, Souza DB et al. Nutritional supplementation with arginine protects radiation-induced effects. An experimental study. Acta Cir Bras. 2016 Oct;31(10):650-654. / Roysommuti S, Wyss JM. Perinatal taurine exposure affects adult arterial pressure control. Amino Acids. 2014 Jan;46(1):57-72. / Shao A, Hathcock JN. Risk assessment for the amino acids taurine, L-glutamine and L-arginine. Regul Toxicol Pharmacol. 2008 Apr;50(3):376-99. / Tenório MB, Ferreira RC, Moura FA et al Oral antioxidant therapy for prevention and treatment of preeclampsia: Meta-analysis of randomized controlled trials. Nutr Metab Cardiovasc Dis. 2018 Sep;28(9):865-876. / Thaeomor A, Teangphuck P, Chaisakul J et al. / Perinatal Taurine Supplementation Prevents Metabolic and Cardiovascular Effects of Maternal Diabetes in Adult Rat Offspring. Adv Exp Med Biol. 2017;975:295-305. / Ueda K, Sanbongi C, Takai S. Combination of aerobic exercise and an arginine, alanine, and phenylalanine mixture increases fat mobilization and ketone body synthesis. Biosci Biotechnol Biochem. 2017 Jul;81(7):1417-1424. / Wang Y, Li XW, Liu J, Fu W. Antenatal taurine supplementation in fetal rats with growth restriction improves neural stem cell proliferation by inhibiting the activities of Rho family factors. J Matern Fetal Neonatal Med. 2018 Jun;31(11):1454-1461.

Fonte: Vitafor

Aplicações clínicas e esportivas da suplementação de glutamina

A glutamina é um aminoácido condicionalmente essencial, ou seja, o corpo é capaz de produzi-lo, porém em situações de alta demanda metabólica ou privações alimentares, existe a necessidade de oferta extra por via dietética (alimentar/suplementar). Estes requerimentos aumentados se fazem justificar também por ser a glutamina o aminoácido mais abundante do corpo e com maior número de funções metabólicas. Até o presente momento não há evidências de que suplementar glutamina reduza a sua síntese endógena (1,2,3).

No metabolismo humano a glutamina pode exercer funções diretas como estimulante da liberação de insulina ou ser transformada em glutamato, e a partir deste novo aminoácido, ser deslocada para diversas funções bioquímicas, entre elas: neurotransmissor excitatório,  carboxilação da vitamina K para garantir a mineralização óssea, formar glutationa (poder antioxidante e detoxificante), formar prolina (formação de colágeno), redução da amônia circulante e equilíbrio do pH, transaminação e formação de cetoácidos e novos aminoácidos com consequente síntese proteica e estímulo do ciclo de Krebs, gerando energia especialmente para células intestinais, renais e imunológicas (3).

A utilização de glutamina para praticantes de atividade física tem indicação visando melhorar a hidratação celular e redução do dano muscular. Segundo Koo GH et al, 2014,  a suplementação de glutamina em atletas juvenis de remo reduziu os níveis de CK (creatina kinase), provavelmente em virtude da entrada de glutamina para a célula ser dependente de sódio, melhorando a hidratação e o volume celular, melhorando a resistência da célula contra lesões, o que reduz a liberação de CK da célula muscular.

Ainda no campo do exercício físico, muitos profissionais têm prescrito dietas para praticantes de atividade física com restrição moderada ou severa de carboidratos visando o melhor controle glicêmico ou mesmo redução de gordura corporal. Entretanto, restringir carboidratos pode favorecer a perda da integridade da mucosa intestinal, o que pode ser compensado com a suplementação de glutamina.

No estudo de Waldron M et al, 2018,  23 homens em exercício excêntrico foram divididos em 3 grupos de suplementação: um grupo recebendo apenas leucina (0,087 g/kg; n = 8), outro grupo leucina + glutamina (0,087 g/kg + glutamina 0,3 g/kg; n = 8) e o último placebo (0,3 g/kg maltodextrina; n = 7). Foi possível observar aumento significativo da força isométrica em relação ao placebo com o grupo suplementado de glutamina com leucina. Segundo os autores, a glutamina facilita a entrada da leucina nas células e melhora a sua utilização pelo músculo (5).

Na prática clínica, a indicação mais clássica da suplementação de glutamina é para melhora das funções de células intestinais. Neste aspecto, estudo foi desenvolvido com praticantes de atividade física que se submeteram a treinamento em condições de forte calor (30ºC) visando reduzir a permeabilidade intestinal. Os grupos receberam 3 doses diferentes de glutamina, sendo 0,25, 0,5 e 0,9 g/Kg de massa magra (MLG) consumida 2h antes das sessões de treino. Foi possível observar redução da permeabilidade intestinal já na dose mais baixa, com manutenção da integridade da mucosa, importante por exemplo para garantir mais absorção de nutrientes no pós-treino (6).

Importante salientar que muitos atletas cursam com diarreia em virtude de fatores estressores como ansiedade, além do uso de medicamentos, como antiinflamatórios, e da prática de exercício com forte calor e baixa umidade, que tendem a piorar a permeabilidade intestinal, se tornando uma indicação de uso da glutamina na forma suplementar caso estas condições se apresentem (7). Neste aspecto, estudo científico submeteu homens e mulheres a situação de muito calor (38ºC) e baixa umidade (35%), bastante comum em várias cidades brasileiras por um bom período do ano, simulando um combate a incêndio florestal. Os participantes receberam suplementação de glutamina antes e após a atividade indicada, e no grupo suplementado, a percepção de fadiga subjetiva ao esforço e os danos gastrointestinais foram significativamente menores. Os autores sugerem que isto se devem ao aumento das proteínas de choque térmico HSP70 que, dentre outras funções, conseguem exercer ação anti-inflamatória (8).

Ainda mantendo a discussão quanto a ação local intestinal da glutamina e da sua ação sistêmica, é importante relatar que quando a glutamina é suplementada na forma isolada, a maior parte é utilizada no próprio enterócito, e apenas uma pequena parte é absorvida. Entretanto, quando ofertada numa mesma refeição com outros aminoácidos (prioritariamente alanina, glicina, arginina, mesmo que livre e não quelatos), a maior parte da glutamina é absorvida, sendo direcionada para células imunes no sangue e para os órgãos-alvo (3).

No que tange às indicações clínicas da suplementação de glutamina, já é consenso a sua utilização em doentes altamente metabólicos, catabólicos, imunossuprimidos, com diarreia e infecções. Uma revisão de estudos recente encontrou evidências moderadas de que a suplementação de glutamina reduziu a taxa de infecção e os dias em ventilação mecânica, e pequenas evidências de que a suplementação de glutamina reduziu o tempo de internação em pacientes criticamente doentes ou cirúrgicos (9).

Nestas situações clínicas supra citadas, como cirurgias, síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA), câncer, queimaduras, colites e outros patologias que cursam com a Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS), a sugestão é suplementar glutamina associada a outros fatores imunomoduladores, como fibras prebióticas (eventualmente a depender do caso com outros aminoácidos e/ou peptídeos, probióticos e micronutrientes, como vitamina C, vitamina A, vitamina D, zinco e selênio)(10,11). Abe T et al, 2018,  testaram a suplementação de glutamina e fibras prebióticas antes (5 dias) e após (iniciada 4h após a cirurgia, permanecendo por 14 dias) procedimento de esofagectomia com pacientes com câncer  e observaram redução significativa da inflamação medida pela Proteína C-reativa (PCR) e recuperação da razão linfócito/neutrófilo, demonstrando recuperação imunológica e tendência de melhora no prognóstico final (12).

A suplementação de glutamina pode trazer benefícios para pacientes altamente estressados com depressão glutamatérgica, em virtude deste aminoácido ser formador deste neurotransmissor (13).

Outra indicação de grande benefício com a suplementação de glutamina é na redução de mucosite em pacientes com câncer, como testado por Pachón Ibáñez J et al,2018, na dose de 10g a cada 8 horas ou 30g/dia (14).

Importante salientar que a suplementação de glutamina é segura em indivíduos saudáveis, praticantes de atividade física, ou mesmo em situações patológicas, sem risco de efeitos adversos, sem alterações renais, em doses agudas em curto prazo (20-30g/dia) ou a longo prazo até 0,3 g/kg/dia (adultos) e 0,1g/Kg/dia (crianças e adolescentes) em doses fracionadas ao longo do dia (15,16,17). A utilização conjunta com arginina, creatina, fibras prebióticas pode trazer ainda mais benefícios.

Referências Bibliográficas:

1 – Curi, R.; Lagranha, C.J.; Doi, S.Q.; Molecular mechanisms of glutamine action. J. Cell. Physiol. 2005, 204, 392–401. / 2 – Curi, R.; Newsholme, P.; Marzuca-Nassr, G.N. et al. Regulatory principles in metabolism-then and now. Biochem. J. 2016, 473, 1845–1857. / 3 – Cruzat V, Macedo Rogero M, Noel Keane K, et al. Glutamine: Metabolism and Immune Function, Supplementation and Clinical Translation. Nutrients. 2018 Oct 23;10(11). / 4 – Koo GH, Woo J, Shin KO, Kang S. Effects of supplementation with BCAA and L-glutamine on blood fatigue factors and cytokines in juvenile athletes submitted to maximal intensity rowing performance. J Phys Ther Sci 2014;26: 1241e6. / 5 – Waldron M, Ralph C, Jeffries O, et al. The effects of acute leucine or leucine-glutamine co-ingestion on recovery from eccentrically biased exercise. Amino Acids. 2018 May 16. [Epub ahead of print]. / 6 – Pugh JN, Sage S, Hutson M et al. Glutamine supplementation reduces markers of intestinal permeability during running in the heat in a dose-dependent manner. Eur J Appl Physiol. 2017 Dec;117(12):2569-2577. / 7 – Guy JH, Vincent GE. Nutrition and Supplementation Considerations to Limit Endotoxemia When Exercising in the Heat. Sports (Basel). 2018 Feb 6;6(1). / 8 – Nava RC, Zuhl MN, Moriarty TA, et al. The Effect of Acute Glutamine Supplementation on Markers of Inflammation and Fatigue During Consecutive Days of Simulated Wildland Firefighting. J Occup Environ Med. 2018 Nov 26. doi: 10.1097/JOM.0000000000001507. [Epub ahead of print]. / 9 – Tao KM, Li XQ, Yang LQ et al. Glutamine supplementation for critically ill adults. Cochrane Database Syst Rev. 2014 Sep 9;(9):CD010050. / 10 – Kong S, Zhang YH, Zhang W. Regulation of Intestinal Epithelial Cells Properties and Functions by Amino Acids. Biomed Res Int. 2018 May 9;2018:2819154. doi: 10.1155/2018/2819154. eCollection 2018. / 11 – Roy A, Lee D. Dietary Creatine as a Possible Novel Treatment for Crohn’s Ileitis. ACG Case Rep J. 2016 Dec 7;3(4):e173. / 12 – Abe T, Hosoi T, Kawai R et al. Perioperative enteral supplementation with glutamine, fiber, and oligosaccharide reduces early postoperative surgical stress following esophagectomy for esophageal cancer. Esophagus. 2018 Jul 20. doi: 10.1007/s10388-018-0630-z. [Epub ahead of print]. / 13 – Son H, Baek JH, Go BS et al. Glutamine has antidepressive effects through increments of glutamate and glutamine levels and glutamatergic activity in the medial prefrontal cortex. Neuropharmacology. 2018 Dec;143:143-152. / 14 – Pachón Ibáñez J, Pereira Cunill JL, Osorio Gómez GF. Prevention of oral mucositis secondary to antineoplastic treatments in head and neck cancer by supplementation with oral glutamine. Nutr Hosp. 2018 Feb 27;35(2):428-433. / 15 – Ziegler TR, Benfell K, Smith RJ. Safety and metabolic effects of L-glutamine administration in humans. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 1990 Jul-Aug;14(4 Suppl):137S-146S. / 16 – Shao A, Hathcock JN. Risk assessment for the amino acids taurine, L-glutamine and L-arginine. Regul Toxicol Pharmacol. 2008 Apr;50(3):376-99. / 17 – Davani-Davari D, Karimzadeh I, Sagheb MM, et al. The Renal Safety of L-Carnitine, L-Arginine, and Glutamine in Athletes and Bodybuilders. J Ren Nutr. 2018 Oct 16. pii: S1051-2276(18)30197-3. doi: 10.1053/j.jrn.2018.08.014. [Epub ahead of print].

Fonte: Vitafor

Suplementação de carboidratos durante o exercício

Atletas frequentemente são aconselhados a ingerir uma dieta rica em carboidratos e garantir sua ingestão antes e durante as sessões de treinamento e reabastecer as reservas de glicogênio o mais breve possível após o exercício. De acordo com o Comitê Olímpico Internacional (COI): “Uma dieta rica em carboidratos nos dias anteriores a competição pode auxiliar na melhora do desempenho esportivo, particularmente quando o exercício durar mais do que 60 minutos” e “ Atletas devem atingir a ingestão de carboidratos visando atender a demanda energética dos programas de treinamento e repor adequadamente as reservas de glicogênio nos períodos de recuperação e entre as sessões de treinamento. Isso pode ser alcançado por meio do consumo de refeições ricas em carboidratos e que forneçam boas fontes de proteínas e outros nutrientes”. Essas recomendações também foram discutidas e corroboradas junto ao Colégio Americano de Medicina Esportiva, Associação Dietética Americana e da Associação Dietética Canadense em consenso para o desempenho esportivo (THOMAS et al, 2016).

Nas últimas décadas, diversos estudos forneceram evidências acerca do efeito ergogênico da ingestão de carboidratos durante o exercício e, lentamente, essa prática tornou-se um hábito em muitos esportes, especialmente em modalidades de longa duração como, por exemplo, maratona, ciclismo e triatlon. Como exemplo prático, foi na década de 1980 que as chamadas bebidas esportivas se tornaram comercialmente disponíveis. Nos dias atuais, estas bebidas e produtos como os géis de carboidratos estão culturalmente enraizados nos esportes de longa duração. Apesar da aceitação geral dos efeitos ergogênicos da suplementação de carboidratos durante o exercício, é fundamental avaliar criticamente as evidências existentes, uma vez que existem diversos protocolos de suplementação que foram validados e comparados de diversas formas. Adicionalmente, sabemos que a tolerância, individualidade e logística da suplementação influenciam diretamente na escolha do protocolo não somente em termos de quantidade, mas na forma de administração dos carboidratos.

É importante ressaltar que, embora os estudos iniciais tenham investigado os efeitos da ingestão de carboidratos durante exercícios de longa duração (2 horas ou mais), também há evidências demonstrando efeitos positivos da ingestão durante exercícios de alta intensidade (? 75% do consumo máximo de oxigênio) com duração de aproximadamente 1 hora. Jeukendrup et al. (JEUKENDRUP et al, 1997) investigaram os efeitos da ingestão de carboidratos durante o equivalente a uma prova de ciclismo de 40 km em indivíduos treinados e observaram melhora 2,3% no desempenho esportivo. Outros estudos também relataram resultados semelhantes (ANANTARAMAN et al, 1995; BELOW et al, 1995; CARTER et al, 2003). Embora haja dados que contestem a efetividade destes dados, é digno de nota ressaltar que o controle de variáveis externas como dieta, condições durante os ensaios experimentais e motivação dos voluntários também difere entre os estudos. Esses fatores desempenham um papel determinante na interpretação dos resultados uma vez que são pilares da performance esportiva. Outros argumentam que a razão para a ausência de efeitos ergogênicos da ingestão de carboidrato durante o exercício pode estar relacionada as variáveis do treinamento. Mais especificamente, protocolos de curta distância e/ou de baixa intensidade podem não promover depleção de glicogênio muscular ou a quantidade de carboidrato ingerida pode ter sido insuficiente. Contudo, de modo geral, o balanço dos estudos disponíveis é favorável aos efeitos ergogênicos da ingestão de carboidratos durante o exercício.

A forma em que o carboidrato é consumido durante o exercício (sólido ou líquido) não afeta o potencial ergogênico. Hargreaves et al. (1984) avaliaram os efeitos da ingestão de uma barra de chocolate (43 g de carboidrato, 9 g de gordura e 3 g de proteína) e observaram aumento de 46% na capacidade anaeróbia após 4 horas de exercício comparado a ingestão de placebo. Outros estudos confirmaram esses dados e reportaram melhora de desempenho em magnitude semelhante frente a ingestão de carboidrato líquido e sólido (Lugo et al, 1993; Neufer et al, 1986). Murdoch et al. (1993) investigaram os efeitos do consumo de pasta de banana (similar a um gel de carboidratos ou de bananas sólidas e observaram melhora no desempenho após 3 horas de exercício a 70% do VO2 máximo com as duas intervenções.

Desconfortos gastrointestinais são muito comuns entre atletas. Cerca 30% a 50% de podem apresentar sintomas regularmente. As causas não são totalmente elucidadas, porém, parecem ser parcialmente genéticas e individuais. Ainda, os mecanismos que justificam desconfortos no trato gastrointestinal superior, não necessariamente é o mesmo do inferior e os principais fatores causais que podem potencializá-los são as condições climáticas e o estado de hidratação (de OLIVEIRA et al, 2014). Embora nem sempre seja encontrada uma relação com a suplementação, certas condutas podem potencializar a incidência de problemas gastrointestinais: o consumo de fibras. a ingestão de gordura e de soluções altamente concentradas em carboidratos parecem aumentar a incidência dos desconfortos. Em termos práticos, o sinais e sintomas mais observados nessas situações são a sensação de inchaço abdominal, a redução do esvaziamento gástrico, a episódios de diarreia (como resultado de alterações osmóticas) durante o exercício. Acredita-se que o treinamento do intestino possa atenuar esses sintomas, por meio da melhora do esvaziamento gástrico e da maior percepção de plenitude (inchaço reduzido). Com isso, o atleta passa a tolerar volumes maiores de ingestão por conta do aumento da velocidade de absorção, causando menor volume residual e poucas alterações osmóticas.

As diretrizes atuais recomendam a ingestão de até 60 g de carboidratos para exercícios com duração de até 2 horas. Quando a duração é superior a 2 horas, recomenda-se o consumo de até 90 g/h. Porém, esses carboidratos devem consistir de uma mistura afim de mobilizar múltiplos transportadores intestinais. Por exemplo, glicose e frutose ou maltodextrina e frutose. (Jeukendrup, 2013; Jeukendrup, 2014). Uma vez que o intestino é um órgão adaptável, é necessário incluir a suplementação durante os treinamentos, ou seja, na rotina semanal e de forma regular. Com isso, o intestino passa a absorver e oxidar mais carboidratos que, por sua vez, resultar menor desconforto gastrointestinal e melhor desempenho esportivo.

Fonte: Vitafor

BENEFÍCIOS DA SUPLEMENTAÇÃO DE L-CARNITINA EM PATOLOGIAS E ATIVIDADE FÍSICA

A carnitina é um dipeptídio formador de enzimas associadas à captação e queima de gordura (Carnitina Palmitoil Transferase 1 e 2 – CPT 1 e CPT2 respectivamente), com melhora da função mitocondrial e indicada no tratamento da obesidade e doenças neurológicas (1,2,3).

A carnitina também apresenta propriedades antioxidantes, com ação redutora de amônia muscular inclusive (4,5,6,7). Sua suplementação tem sido associada a redução de danos musculares na atividade física, importante para pacientes diabéticos tipo 2 (melhorando a sensibilidade a insulina) e para pacientes com doenças cardiovasculares (redução de 65% em arritmias ventriculares, redução de 40% nos sintomas de angina com 27% de redução na mortalidade por todas as causas) (8,9,10).

Estudo recente mostrou que a suplementação de 2g/dia de L-carnitina em homens submetidos a treinamento físico resistido por período de 9 semanas, é capaz de aumentar significativamente a força, com redução dos níveis séricos de lactato e melhor no perfil antioxidante (11).

A suplementação de carnitina pode ter efeito ainda melhor quando administrada conjuntamente com creatina (0,3g/Kg/dia) e ômega-3 (2g a 5g / dia) especialmente na melhora de pacientes com miopatias. Importante frisar que o consumo de carnitina a partir da dieta varia de 20mg a 300mg / dia na população, portanto para exercer ação terapêutica, é necessária a suplementação de 1g a 3g / dia (12).

Referências Bibliográficas:

1- Pooyandjoo M, Nouhi M. The effect of (L-)carnitine on weight loss in adults: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Obes Rev. 2016 Oct;17(10):970-6. / 2- Z. Binienda, B. Przybyla-Zawislak, A. Virmani, and L. Schmued, “L-carnitine and neuroprotection in the animal model of mitochondrial dysfunction,” Annals of the New York Academy of Sciences, vol. 1053, pp. 174–182, 2005. / 3- C. Mancuso, R. Siciliano, E. Barone, and P. Preziosi, “Natural substances and Alzheimer’s disease: from preclinical studies to evidence based medicine,” Biochimica et Biophysica Acta, vol. 1822, no. 5, pp. 616–624, 2012. / 4- I. Gülçin. Antioxidant and antiradical activities of L-carnitine. Life Sciences, vol. 78, no. 8, pp. 803–811, 2006. / 5- R. J. Bloomer and W. A. Smith, “Oxidative stress in response to aerobic and anaerobic power testing: influence of exercise training and carnitine supplementation,” Research in Sports Medicine, vol. 17, no. 1, pp. 1–16, 2009. View at Publisher · View at Google Scholar · View at Scopus. / 6- H. Casas, B. Murtra, M. Casas et al., “Increased blood ammonia in hypoxia during exercise in humans,” Journal of Physiology and Biochemistry, vol. 57, no. 4, pp. 303–312, 2001. View at Publisher · View at Google Scholar · View at Scopus. / 7- M. L. Parolin, L. L. Spriet, E. Hultman, M. G. Hollidge-Horvat, N. L. Jones, and G. J. F. Heigenhauser, “Regulation of glycogen phosphorylase and PDH during exercise in human skeletal muscle during hypoxia,” American Journal of Physiology: Endocrinology and Metabolism, vol. 278, no. 3, pp. E522–E534, 2000. / 8- M. A. / Giamberardino, L. Dragani, R. Valente, F. di Lisa, R. Saggini, and L. Vecchiet, “Effects of prolonged L-carnitine administration on delayed muscle pain and CK release after eccentric effort,” International Journal of Sports Medicine, vol. 17, no. 5, pp. 320–324, 1996. / 9- Ringseis, J. Keller, and K. Eder, “Role of carnitine in the regulation of glucose homeostasis and insulin sensitivity: evidence from in vivo and in vitro studies with carnitine supplementation and carnitine deficiency,” European Journal of Nutrition, vol. 51, no. 1, pp. 1–18, 2012. / 10- J. J. Di Nicolantonio, C. J. Lavie, H. Fares, A. R. Menezes, and J. H. O’Keefe, “L-carnitine in the secondary prevention of cardiovascular disease: systematic review and meta-analysis,” Mayo Clinic Proceedings, vol. 88, no. 6, pp. 544–551, 2013. / 11- Koozehchian MS, Daneshfar A, Fallah E, et al. Effects of nine weeks L-Carnitine supplementation on exercise performance, anaerobic power, and exercise-induced oxidative stress in resistance-trained males. J Exerc Nutrition Biochem. 2018 Dec 31;22(4):7-19. / 12- D’Antona G, Nabavi SM, Micheletti P. Creatine, L-carnitine, and ?3 polyunsaturated fatty acid supplementation from healthy to diseased skeletal muscle. Biomed Res Int. 2014;2014:613890.

Fonte: Vitafor

INTENSO PRÉ-TREINO E DESEMPENHO ESPORTIVO

Uma das classes de suplementos que mais cresce em termos de consumo e inovação são os populares “pré-treino” ou “pre-workouts”. Dentre os objetivos mais comuns para justificar o consumo estão: melhora de cognição (foco, estado de alerta, raciocínio, etc.), emagrecimento/perda de gordura corporal (o tão chamado efeito termogênico) e desempenho esportivo (força, tolerância ao esforço, etc.). Neste contexto, observa-se uma confusão de valores entre o que é de fato um efeito ergogênico (performance) e estético (composição corporal). Embora possa haver relação entre composição corporal e performance, o mais correto seríamos separar o que de fato é um suplemento com composição e finalidade de aumento de capacidade física e cognitiva (pré-treino), e o que é um suplemento termogênico, voltado primariamente para mudança de composição corporal. Além disso, suplementos pré-treino e termogênicos usualmente são blends (misturas) heterogêneos, abrangendo desde estimulantes (por exemplo, a cafeína) até aminoácidos e compostos nitrogenados (BCAAs, creatina, nitrato, etc.). Tal heterogeneidade dificulta a interpretação dos resultados obtidos nos estudos acerca do potencial ergogênico de um determinado ingrediente ou da combinação de ingredientes como um todo. Portanto, é mais factível entendermos os resultados apresentados abaixo como produto final da mistura de componentes.

Podemos dividir as evidências científicas em estudos agudos (1 dose) e crônico (dias ou semanas de suplementação). No tocante aos estudos agudos, Wylie et al. (2013) avaliaram os efeitos de 3 doses de nitrato sobre o desempenho esportivo em ergômetro. Os autores testaram as dosagens de 70, 140 e 280 ml de suco de beterraba (18, 73 e 290 mg de nitrato, respectivamente) 2 horas e meia antes da sessão de exercício realizada até a exaustão. O consumo feito 2 horas e meia antes do exercício tem seu racional fundamentado no fato que este é o tempo necessário para que os metabólitos do óxido nítrico (nitrato e nitrito) atinjam o pico plasmático. Os resultados demonstraram aumento do tempo de exaustão frente ao consumo de 73 mg de nitrato no pré-treino. Em ensaio randomizado, duplo cego, cross-over e controlado por placebo.

Jagim et al. (2015), também de forma randomizada, duplo cega, cross-over e controlada por placebo utilizaram um blend a base de carboidrato, creatina, beta-alanina, betaína e taurina (dentre outros ingredientes) 30 minutos antes de uma sessão de exercício anaeróbio (sprint) em jogadores de futebol americano. Foi observado aumento significativo da potência média gerada dentro da sessão (1397 ± 257 vs 1468 ± 304 W), indicando a eficácia ergogênica da suplementação. O mesmo grupo avaliou posteriormente o impacto desta mistura, na mesma população, sobre o sistema nervoso central e volume de treinamento. Os autores observaram que o tempo de reação dos jogadores de futebol americano diminuiu significativamente após a suplementação. Além disso, o número de repetições executadas no leg press a 75% da força máxima aumentou de modo significativo no grupo suplementado. Juntos, esses dois estudos mostram que a partir de uma combinação de ingredientes, é possível obter efeitos ergogênicos centrais e periféricos otimizando capacidades físicas que são pilares dentro da modalidade. Em estudos agudos, composição corporal não é tratada como desfecho em função da limitação de tempo. Porém, há estudos crônicos que consideram, além do efeito ergogênico, o impacto da suplementação sobre medidas de composição.

O’Bryan et al. (2019) avaliaram recentemente, de modo meta-analítico e sistemático, 35 ensaios randomizados que utilizaram suplementos com múltiplos ingredientes por pelo menos 6 semanas em associação ao treinamento de força. A intenção dos autores foi avaliar os ganhos em termos de massa e força muscular. A análise de “qualidade de evidência” demonstrou que os resultados dos estudos não foram influenciados por falhas metodológicas. Como conclusão, o consumo crônico de suplementos com múltiplos ingredientes, em associação ao treinamento de força, promove aumento de massa livre de gordura, força muscular e pode auxiliar na redução da perda de quantidade e qualidade muscular em idosos.

Os estudos apresentados servem de embasamento acerca de eficácia e segurança da suplementação e direcionamento para nossas condutas. Como conclusão geral, suplementos pré-treino não são necessariamente termogênicos. Suplementos pré-treino são destinados a aumento de capacidades físicas, principalmente o aumento do volume de treinamento. Portanto, é fundamental que a suplementação seja aplicada naqueles que realizam suas sessões de treinamento com consciência corporal e já possuem certo grau de maturidade muscular e experiência dentro da modalidade esportiva que pratica, uma vez que o efeito do suplemento depende do aumento de volume de treino. Por fim, embora possam ser híbridos, suplementos pré-treino podem não ter ação termogênica, o que não anula sua eficácia e aplicabilidade.

Fonte: Vitafor

VITAMINA C E EXERCÍCIO FÍSICO

O ácido ascórbico, popularmente conhecido como vitamina C, é um composto de seis carbonos com estrutura semelhante à glicose. Existe em duas formas ativas: a forma reduzida conhecida como ácido ascórbico e a forma oxidada, chamada ácido desidroascórbico. O ácido ascórbico é considerado um excelente antioxidante. Quimicamente, o ácido ascórbico exibe características redox como agente redutor e, fisiologicamente, o fornece elétrons para enzimas, compostos químicos oxidantes ou outros aceptores de elétrons (Rumsey et al, 1997).

O ácido ascórbico encontra-se distribuído em concentrações variadas por todos os tecidos (tabela 1) e está envolvido em uma variedade de reações metabólicas comuns ao exercício, como a síntese e a ativação de neuropeptídios, colágeno e L-carnitina e proteção contra os danos oxidantes das espécies oxidantes (Padh, 1990). À luz desse envolvimento, é concebível considerar que o exercício possa interagir com a utilização, metabolismo e excreção do ácido ascórbico, podendo assim modular a necessidade de ingestão deste micronutriente. A primeira evidência de uma possível ligação entre vitamina C e exercício veio inesperadamente da observação de sintomas de escorbuto exibidos por exploradores em expedições polares (Norris, 1983). As dietas consumidas por esses exploradores eram, provavelmente, deficientes de alimentos frescos que continham vitamina C. No entanto, também é plausível que o estresse fisiológico excessivo possa ter exacerbado os efeitos de uma dieta deficiente em vitamina C, de forma que a rotatividade e a necessidade de ácido ascórbico possa ter aumentado. Embora a vitamina C não pareça melhorar o desempenho esportivo (Gester, 1989), atletas podem ter necessidades aumentas em função da demanda metabólica e a suplementação pode ter efeitos importantes que são mais sutis que as melhorias na capacidade aeróbica ou nas métricas de desempenho (Fishbaine & Butterfield, 1975).

Figura 1

Os estudos com suplementação de vitamina C em atletas utilizam doses que variam de 85 a 1.500 mg por períodos de 1 dia a 8 meses. Porém, enquanto houve pouco ou nenhum efeito da suplementação sobre as concentrações plasmáticas de ácido ascórbico em vários estudos, outros demonstraram aumento na concentração de ácido ascórbico no sangue após a suplementação (Ashton et al, 1999; Guilland et al, 1989; Kanter et al, 1993; Maxwell et al, 1993; Nieman et al, 2000; Peters et al, 1993; Peters et al, 2001; Telford et al, 1992; Weight et al, 1988). No entanto, há vários problemas a serem considerados ao interpretar esses resultados. A quantidade de vitamina C no suplemento, a ingestão dietética regular de vitamina C e a concentração de ácido ascórbico no plasma/soro e leucócitos parecem serem fatores determinantes na resposta à suplementação. Levine et al. (1996) demonstraram que as concentrações plasmáticas de ácido ascórbico atingiram platô com doses de vitamina C de 250 mg ou mais por dia, enquanto o conteúdo de ácido ascórbico de neutrófilos, monócitos e linfócitos se estabilizou com doses inferiores a 200 mg por dia. Em outro estudo, foi demonstrado que a capacidade de absorção foi atingida frente a ingestão de 3 mg de vitamina C por quilograma de peso corporal por dia (Rokitzki et al, 1994).

Em um estudo controlado por placebo realizado por Peters et al. (1993), observou-se que a suplementação diária de 600mg  de vitamina C por 3 semanas antes de uma ultramaratona de 90 km reduziu a incidência infecções do trato respiratório (68% comparado a 33%) no período de 2 semana pós-corrida. Em estudo posterior, Peters et al. (1996) randomizaram participantes em uma ultramaratona de 90 km (n=178) e seus controles (n=162) em quatro grupos que receberam 500 mg de vitamina C isolada, 500 mg de vitamina C + 400 UI de vitamina E, 300 mg de vitamina C + 300 UI de vitamina E + 18 mg de vitamina A ou placebo. A ingestão total de vitamina C dos quatro grupos foi de 1004, 893, 665 e 585 mg por dia, respectivamente. O estudo confirmou achados anteriores de menor incidência de sintomas de infecção nos corredores com maior consumo médio diário de vitamina C. Os resultados também indicaram que a combinação de antioxidantes não foi mais eficaz em atenuar o risco de infecção pós-exercício em comparação a vitamina C isolada. Além disso, já foi relatado que a suplementação com vitamina C (800 mg/dia) por 7 dias antes de corrida em esteira, reduziu o aumento nos níveis plasmáticos de IL-6 e no número de células NK induzido pelo exercício em comparação ao grupo placebo (Hurst et al., 2001).

Em conjunto, as observações acima sugerem que a suplementação de vitamina C pode modular alguns dos efeitos imunológicos adversos do exercício de longa duração.

Fonte: Vitafor

LONGEVIDADE CELULAR: A NUTRIÇÃO COMO FATOR ESSENCIAL NO ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL!

O avanço progressivo da ciência tem gerado um aumento positivo da expectativa de vida em países com maior desenvolvimento. Projeta-se que, em 2050, mais de um terço da população em países de alta renda apresentará idade de 60 anos ou mais. A grande preocupação por parte da saúde pública e dos profissionais envolvidos no atendimento integrado do paciente é o risco elevado de desenvolvimento de doenças crônicas, redução da produtividade e da qualidade de vida, despertando, assim, um alto interesse em iniciativas de prevenção e reversão do processo de envelhecimento funcional.

Diferentes teorias são atribuídas aos mecanismos associados ao envelhecimento, visto que esse processo é objeto de estudo na literatura científica. Ao nível molecular, a primeira teoria do envelhecimento é associada ao encurtamento dos telômeros, extremidades de cromossomos que determinam a expectativa de vida. Outros fatores moleculares como instabilidade genômica e alterações epigenéticas também estão ligados à senescência. Tais aspectos se manifestam ao nível fisiológico, que resulta em inflamação crônica, disfunção de organelas, mudanças no metabolismo corporal e função neuronal.

Uma condição clínica que pode comprometer a qualidade de vida ao longo do envelhecimento é a sarcopenia, caracterizada pelo rápido declínio na massa musculoesquelética e função física, prejudicando processos metabólicos vitais. Os baixos níveis de aptidão física, que pode ocorrer também pela insuficiência da ingestão proteica na alimentação, acarretam distúrbios como fraqueza, incapacidade e aumento da hospitalização nesses pacientes.

Por isso, é essencial destacar o papel da nutrição individualizada em associação a um programa de treinamentos físicos para se alcançar a longevidade de forma saudável. O aporte extraproteico é indispensável na dieta após os 40 anos. Além do processo sarcopênico, a inflamação corporal decorrente de alterações patológicas e na microbiota intestinal, por exemplo, elevam a degradação proteica muscular, gerando um comprometimento físico maior. Por isso, torna-se essencial a suplementação de proteínas de qualidade nessa fase da vida.

O microbioma intestinal como regulador da longevidade celular!

O papel do intestino como órgão regulador da homeostase corporal é comprovado nos estudos da ciência mais recentes. A típica composição bacteriana pode variar de indivíduo para indivíduo, contudo determinados filos constituem, de forma generalizada, 40 a 70% da composição da microbiota humana, com destaque aos Firmicutes.

Com o envelhecimento populacional, a prevalência de doenças metabólicas também se elevou. A disbiose no microbioma intestinal e nos metabólitos microbianos induz modificações na integridade da barreira do intestino, aumentando a passagem de componentes patogênicos para a corrente sanguínea, efeito que desencadeia ativação de processos inflamatórios. Alterações no microbioma intestinal ao longo do envelhecimento também exercem impacto no eixo do intestino-cérebro, dificultando os sinais neurais, endócrinos e imunológicos entre o intestino e o cérebro.

As biomoléculas produzidas endogenamente por micróbios comensais no trato gastrointestinal exercem diferentes funções na homeostase corporal, especialmente com capacidade imunomoduladora. Essas biomoléculas incluem vitaminas, hormônios e produtos de fermentação como ácidos graxos de cadeia curta e exopolissacarídeos. O ácido colânico é um dos exopolissacarídeos secretados extracelularmente por bactérias, assim, sendo capazes de promover a fissão mitocondrial e aumentar a resposta proteica mitocondrial sob condições de estresse, condição que pode favorecer a longevidade.

Uma prática chinesa que vem sendo estudada nos últimos anos, em busca de recuperação da saúde da microbiota do intestino, é o Transplante de Microbiota Fecal (TMF), usado majoritariamente para tratamento de episódios recorrentes e refratários de infecções gastrointestinais. O TMF é feito através da introdução da microbiota de um doador saudável para recuperar a composição bacteriana e melhorar parâmetros imunológicos e metabólicos. Apesar de ser uma intervenção antiga, ainda é preciso de mais trabalhos na literatura científica que comprovem sua real eficácia e viabilidade na prática clínica para ser usada como estratégia futura.

O envelhecimento saudável pode ser alcançado com a modulação da dieta e a suplementação eficiente, que são capazes de regular positivamente o metabolismo e favorecer a saúde da microbiota intestinal.

Fonte: Vitafor

Performance esportiva

A melhora da performance esportiva com auxílio da suplementação inteligente de substâncias naturais.

A qualidade do desempenho físico está associada ao condicionamento e estrutura mental do praticante de atividade física e pode ser influenciada por uma série de substâncias que atuam de diferentes formas no organismo.

Isso porque a performance esportiva desencadeia uma série de reações e substâncias no nosso organismo. Com o entendimento aprofundado dessa dinâmica, é possível identificar e aprimorar processos com o objetivo de otimizar estas reações antes, durante e após a prática de exercícios.

Algumas substâncias podem ter as mais diversificadas finalidades, como:

1. Proteger o corpo do desgaste e estresse oxidativo.
2. Aumentar a velocidade de recuperação dos danos causados pela atividade física.
3. Aumentar o próprio desempenho esportivo.
4. Estimular a produção de energia.
5. Otimizar a termogênese e emagrecimento.

Além de benefícios, é importante também compreender outros efeitos no organismo, como as consequências do estresse oxidativo resultantes da atividade muscular intensa:

 Decréscimo na concentração de vitaminas antioxidantes.
 Ativação da peroxidação lipídica.
 Redução da glutationa e antioxidantes endógenos.
 Aumento do conteúdo de MDA e da xantino-oxidase.
 Fenômeno isquemia/reperfusão.

Por todas estas razões, as suplementações e os antioxidantes podem ser importantes aliados para a performance, e principalmente para a saúde, dos praticantes de atividades físicas.

 Fonte: Essential Nutrition

COMO INDIVIDUALIZAR O ATENDIMENTO DO ATLETA COM BASE NA NUTRIGENÔMICA ESPORTIVA?

A individualização do tratamento nutricional é uma estratégia cada vez mais comprovada como assertiva para qualquer paciente. E isso se expande também aos atletas, uma vez que a performance esportiva depende do funcionamento adequado do organismo e das respostas adaptativas ao esporte.

O desempenho atlético é considerado um fenótipo complexo, multifatorial e influenciado pela nutrição. As variantes genéticas afetam a forma como absorvemos e metabolizamos os nutrientes e compostos ativos, na qual as interações gene-dieta modificam as vias metabólicas relevantes para o rendimento esportivo e a saúde como um todo. Longe de ser um conceito novo, a nutrição personalizada baseada no genótipo individual do atleta é a conduta mais eficiente para trazer resultados positivos na prática esportiva.

A avaliação genética mais fidedigna está relacionada aos efeitos biológicos que determinados genes podem alterar as medidas como massa magra, resistência muscular e densidade óssea, além de minimizar a ocorrência de lesões decorrentes dos treinamentos e competições. Sendo assim, estudos genéticos identificaram alguns genes que contribuem para a modulação esportiva.

O uso da cafeína como recurso ergogênico é vantajoso para potencializar o desempenho esportivo, mas deve ser incluso na rotina de atletas de acordo com as características individuais e genéticas. Um recente trabalho (2018), feito com 101 atletas masculinos, avaliou os efeitos que a suplementação de cafeína promoveria no desempenho esportivo, de acordo com as variantes genéticas e a resposta do corpo em relação aos genes avaliados e o esporte. Dos participantes, incluíram maratonistas, ciclistas, triatletas, esportes mistos (futebol, basquete e natação), levantamento de peso, entre outros. Em uma intervenção randomizada, os voluntários receberam doses de cafeína (0, 2 e 4 mg/kg) ou placebo submetidos a um teste contrarrelógio de 10km. Os autores avaliaram a presença ou ausência do polimorfismo no gene CYP1A2, com a seguinte classificação: metabolizadores rápidos da cafeína (genótipo AA); metabolizadores lentos heterozigotos (genótipo AC) e metabolizadores lentos homozigotos (genótipo CC).

Ao avaliar de forma isolada, os achados do trabalho demonstraram que metabolizadores rápidos de cafeína (genótipo AA) otimizaram o desempenho em aproximadamente 5% com a menor dose de cafeína, no valor de 2mg/kg e de 6,8% com a dose de 4mg/kg. Já atletas que foram classificados com metabolismo lento (genótipo AC) não obtiveram nenhum benefício ergogênico. Por fim, nos participantes com genótipo AC de metabolização lenta, houve uma diminuição do desempenho em 13%. A suplementação de cafeína, portanto, deve ser avaliada de forma individual na prática esportiva.

Um estudo (2015) investigou o DNA genômico de jogadores de futebol americano e a presença de polimorfismo específico que poderia melhorar ou prejudicar o desempenho atlético. O perfil genético de DNA preditivo para o desempenho foi utilizado com intuito de elaborar programas personalizados de treinamento e nutrição. A importância de se considerar a genética dos atletas foi comprovada no estudo, no qual se apontaram evidências de que é preciso avaliar o perfil genético para maximizar o desempenho dos jogadores.

Em qualquer tipo de atendimento nutricional, seja para atletas ou para pessoas com condições clínicas específicas, um programa dietético bem-estruturado deve considerar o perfil genético a fim de traçar condutas assertivas e promissoras para obter os resultados esperados. Os avanços da ciência e da tecnologia vêm permitindo com mais facilidade esse tipo de avaliação na prática do nutricionista.

Fonte: Vitafor

Entendendo a relação entre atividade física e imunidade

Descubra por que quem se exercita de maneira frequente tende a ter um sistema imunológico mais fortalecido.

A prática regular de atividade física é recomendada para atingir diversos objetivos ligados à saúde. E, ao promover a saúde como um todo, o esporte também está relacionado com nossa capacidade de evitar e combater doenças.

Estudos comprovam que pessoas que praticam atividade física regularmente têm menor incidência de infecções bacterianas e virais, além de outros indicadores de um sistema imunológico forte. Confira neste texto qual é a relação entre a prática esportiva e o sistema imunológico.

O sistema imunológico é uma barreira sofisticada, bastante adaptável. Pode gerar uma variedade enorme de células e moléculas capazes de reconhecer e eliminar uma grande quantidade de micro-organismos invasores. Ele é dividido em sistema imune inato e sistema imune adaptativo.

O sistema imune inato se caracteriza por responder aos estímulos de maneira não específica, atacando as ameaças assim que elas são detectadas pelo organismo. Ele é composto por neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos, células natural killers e enzimas.

A segunda linha de defesa, caracterizada como imunidade adaptativa, é capaz de modular sua estratégia de acordo com as características de cada ameaça. O sistema imune adaptativo é composto por linfócitos T e B e por imunoglobulinas.

Benefícios da atividade física para o sistema imune

Pesquisas mostram que o exercício físico promove uma alteração no equilíbrio (homeostase) do nosso organismo, obrigando a uma reorganização da resposta imune. Quando o exercício físico tem intensidade moderada (que não causa exaustão), há um aumento permanente nas células do sistema imune, tanto no inato quanto no adaptativo.

Como consequência, as pessoas que praticam atividades físicas regulares têm menor
incidência de infecções bacterianas
 – como sinusite, conjuntivite e sífilis, por exemplo – e virais – como gripe, sarampo e hepatite A, por exemplo -, além de menor incidência de neoplasias, que podem dar origem a tumores.

Riscos do excesso de atividade física para o sistema imunológico

Esta melhora geral nos indicadores do sistema imunológico, no entanto, tem um limite. Atividades físicas intensas, que levam o atleta à exaustão todas as vezes, tendem a acabar enfraquecendo o sistema imunológico. Repetitivas infecções no trato respiratório são relativamente comuns em atletas de alta performance e em atletas recreacionais que se submetem a grandes esforços.

Neste cenário, há uma redução expressiva na quantidade de algumas células do sistema imunológico após a atividade.

Estudos mostram que esta diminuição pode deixar o organismo mais suscetível a vírus e bactérias por um período de até 72 horas. Além disso, outros dois fatores são apontados como possíveis causadores do enfraquecimento do sistema imunológico após o exercício extenuante:

  • Glutamina – com a alta na demanda de glutamina para recuperação dos músculos, ela pode entrar em falta no organismo, que a usa também para fortalecer a barreira imunológica intestinal. Além disso, ela é o principal combustível para linfócitos, macrófagos e fibroblastos;

  • Cortisol – o hormônio do estresse, liberado em grandes quantidades durante as atividades físicas intensas, reduz a capacidade de proliferação e ação dos leucócitos.

  • Benefícios da atividade física para o organismo em geral

    Como vimos no começo do texto, a prática esportiva frequente e moderada é capaz de impulsionar o ganho de saúde para o corpo como um todo. Mas quais seriam os outros benefícios, além do sistema imunológico?

    Segundo um relatório especial de saúde da Escola de Medicina de Harvard, há pelo menos cinco outros benefícios:

    • Praticar atividade física regularmente pode minimizar a depressão e problemas emocionais.

    • Melhora a vida sexual, tanto a libido como o desempenho.

    • O exercício promove o bom funcionamento pulmonar e aumenta o fluxo sanguíneo do cérebro, ajudando a manter as funções cerebrais.

    • A prática de atividade física regular proporciona três importantes benefícios para o sono: ajuda a adormecer mais rapidamente, ter um sono profundo mais prolongado e de melhor qualidade e despertar menos durante a noite.

    • Protege a mobilidade e a vitalidade. O exercício retarda o declínio natural do desempenho físico que ocorre com o envelhecimento.

    Fonte: Essential Nutrition