RESÍDUOS ANTIBIÓTICOS EM ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL

Mundialmente, a produção global de carne triplicou desde 1970 e subiu em 20% desde 2000, com o consumo aumentando significativamente mais rápido do que a população global. No Brasil, a introdução e o consumo de produtos cárneos na dieta das famílias tende a aumentar de maneira uniforme, de acordo com o nível de rendimentos familiares, uma vez que é o grupo alimentar com o maior impacto econômico sobre o orçamento das famílias brasileiras 1,2.

Apesar do consumo de carnes ser bem diversificado entre as regiões, a ingestão per capita de carne bovina no Brasil é de 36,6 kg/ano, seguida do frango com 26 kg/ano e suínos com 12,8 kg/ano. Em se tratando de laticínios, a ingestão per capita varia de 29 kg/ano na região Nordeste, até 71 kg/ano na região Sul 1,3.

Uma vez que a produção animal é uma das atividades mais expressivas do agronegócio brasileiro e para que os produtos consigam suprir a demanda do mercado, faz-se necessário que o tempo entre o nascimento e o abate do animal diminua. A fim de assegurar a produtividade e a competitividade do setor, a utilização de medicamentos com fins terapêuticos e de profilaxia é uma prática bastante comum. Dos medicamentos utilizados, os agentes antibióticos correspondem a uma das classes mais prescritas4.

Assim sendo, a monitoração de resíduos de antibióticos em alimentos é uma área de preocupação crescente e muito importante, devido ao seu potencial impacto na saúde humana. Os antibióticos são administrados nos animais não só no tratamento de doenças, mas também subterapêuticamente para manter a saúde, evitar infecções, melhorar o desempenho no cruzamento, promover o crescimento de massa muscular, melhorar a eficiência ou utilização alimentar, sincronizar ou controlar o ciclo reprodutivo e aumentar a aceitação do consumidor ao produto final5,6.

Uma larga variedade de antimicrobianos está disponível para uso na medicina veterinária e aquicultura, entre esses, os antimicrobianos das classes dos betalactâmicos (penicilinas e cefalosporinas), sulfonamidas, tetraciclinas, aminoglicosídeos (estreptomicina e gentamicina), macrolídeos (eritrimicinas), quinolonas e anfenicóis (cloranfenicol e análogos) e rifamicinas7.

O uso de antibióticos não autorizados ou o não cumprimento das orientações de administração dos antibióticos autorizados pode resultar na presença de níveis elevados de resíduos de antibióticos nos produtos alimentares. Por este motivo, o controle de resíduos de antibióticos em alimentos deve constituir um programa de vigilância e o conhecimento da dimensão da exposição da população a esses compostos é de fundamental importância para nortear as ações de controle, visando à proteção do consumidor 5,7.

Resíduos antibióticos em leite e derivados
O uso difundido de antibióticos pelos produtores e médicos veterinários no tratamento de doenças infecciosas de vacas leiteiras, principalmente nas mastites, e a utilização de drogas na alimentação animal, como suplemento de dietas, têm contribuído para a presença de resíduos de antimicrobianos no leite. Outras condições que podem determinar a presença de tais resíduos no leite são a higienização de equipamentos e utensílios da indústria e/ou a adição proposital de drogas para encobrir a deficiência na qualidade higiênica do leite e aumentar seu tempo de vida útil8.

O período de carência de um antimicrobiano é o prazo de eliminação deste no leite, após sua última aplicação. Esse período de eliminação da substância administrada deve ser respeitado para prevenir resíduos de drogas e aditivos alimentares nos alimentos provenientes dos animais tratados, que durante esse período não devem ser utilizados para consumo humano8.

O leite contaminado por resíduos de antibióticos pode criar, ainda, prejuízos para a indústria de laticínios, interferindo principalmente nos processos de fermentação, nos quais utilizam-se culturas acidoláticas na produção de queijos, iogurtes e manteiga. Os antibióticos interferem no crescimento dos cultivos iniciadores durante a elaboração de produtos lácteos9.

Em relação ao consumidor, o leite com antimicrobianos pode provocar reações alérgicas, como urticárias, dermatites ou rinites e asma brônquica, além de risco de choque anafilático em indivíduos sensíveis, teratogenia e desequilíbrio da microbiota intestinal. Tais reações são relacionadas principalmente às penicilinas, mas tetraciclina, estreptomicina e sulfonamidas também podem causar esse tipo de reação6,10,11.

Outro risco a ser considerado é o consumo de leite com altos níveis de resíduos de antimicrobianos por gestantes, tendo em vista que alguns antimicrobianos possuem potencial teratogênico. Além de reações alérgicas e de indução de quadros patológicos como, por exemplo, a anemia aplástica, os resíduos de antimicrobianos possibilitam o risco de indução de resistência bacteriana e, posteriormente, a transferência de multiresistência entre os microrganismos através de plasmídios12.

Em um estudo realizado em Piracicaba, São Paulo, foram detectadas concentrações de até 0,002 UI/mL de penicilina. A variação das concentrações de penicilina variou de 0,013 a 0,94 UI/mL, contendo índices superiores ao recomendado (máximo 0,05 UI/mL). Destaca-se a importância de se determinar níveis reduzidos de penicilina no leite, pelo fato de ser discutível qual a faixa de concentração que pode trazer riscos para o consumidor13.

Resíduos antibióticos em carnes
O aumento da produção, as condições higiênico-sanitárias precárias e a superpopulação de animais tornam as granjas e abatedouros verdadeiros incubadores de bactérias, o que pode levar ao desenvolvimento de enfermidades. Para o controle das mesmas, opta-se pelo uso de antibióticos. O problema surge quando o produtor utiliza o antibiótico em níveis maiores do que o permitido para promover o crescimento do animal em menor espaço de tempo14.

Com isso, surgem as bactérias resistentes aos antibióticos, trazendo grandes preocupações para o consumo humano, acarretando em falhas no tratamento, aumento nos custos dos mesmos e aumento nas taxas de morbidade e mortalidade da população humana. O resultado seria a necessidade de doses mais elevadas de medicamentos antibióticos para tratar infecções, devido ao consumo de carnes, leite ou ovos contaminados15,16.

Os principais antibióticos utilizados em produtos cárneos são: tetraciclina, penicilinas, estreptomicinas, eritromicina, nistatina, tilosina, virginiamicina, sulfonamidas, entre outros17.

Para contornar tal situação, os aditivos fitogênicos, extratos herbais e vegetais, fazem parte de uma classe de produtos que poderá substituir os agentes antimicrobianos. Como opção, destaca-se o extrato de orégano, por ser composto de dois principais fenóis com propriedades antimicrobianas: o carvacrol e o thymol, que agem sobre a membrana celular bacteriana, impedindo sua divisão mitótica, causando desidratação nas células e impedindo a sobrevivência de bactérias patogênicas, apresentando grande efeito como agente antimicrobiano. Tais aditivos podem ser adicionados à ração dos animais. Adicionalmente, o uso de probióticos como agente promotor de crescimento tem mostrado bons resultados, resultando em maior ganho de peso pelo animal, melhor palatabilidade da carne, entre outros benefícios16,18.

Resíduos antibióticos em ovos
Em se tratando de ovos, há a possibilidade da produção dos mesmos contendo resíduos, em função da exposição das aves a diversos contaminantes. Muitos dos resíduos são preferencialmente depositados na gema, devido à sua composição química característica, como a presença de maior fração lipídica19.

Os antibióticos mais comuns utilizados em frangos são as penicilinas, estreptomicinas, diidroestreptomicinas, neomicinas e tetraciclinas. Já em ovos, os mais comuns são a oxitetraciclina e a espectinomicina. Uma vez que resíduos de antibióticos ofertados às aves conseguem ser transferidos às gemas, torna-se fundamental manter-se vigilante quanto a todos os tipos de medicamentos veiculados. No entanto, muitos dos níveis de tolerância ou o Limite Máximo de Resíduos em ovos não são conhecidos/regulamentados para os antibióticos que são comumente utilizados na avicultura comercial17,19.

Os efeitos colaterais à saúde humana são os mesmos observados com o consumo de leite e carnes contaminados por antibióticos.

Conclusão
O uso de antibióticos como promotores de crescimento foi banido por países da Comunidade Europeia. Apresentando-se como um dos maiores produtores e exportadores mundiais de carnes, o Brasil precisa estar preparado para atender às exigências de exportações, desenvolvendo novas tecnologias e pesquisas que possibilitem alternativas para a substituição dos antibióticos18.

Embora o uso excessivo de antibióticos na medicina humana seja a principal causa da crise atual da resistência a antibióticos, especialistas em saúde pública concordam que o uso excessivo e o mau uso destas substâncias na produção animal intensiva são também fatores importantes, uma vez que cerca de metade da produção de antibiótico do mundo é direcionada para animais de fazenda20.

Assim sendo, os medicamentos veterinários aplicados aos animais devem ser somente aqueles adequados e apenas o estritamente necessário para os efeitos terapêuticos ou profiláticos desejados, em relação aos quais deve-se sempre respeitar o intervalo de segurança prescrito, de forma a evitar a presença de resíduos de medicamentos veterinários e salvaguardar a segurança alimentar e a saúde pública21.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2. HANCE, J.; Meat consumption jumps 20 percent in last decade with super-sized environmental impacts. Disponível em http://news.mongabay.com/2011/1011-hance_meateating_rise.html Outubro, 2011. Acessado em 24 de novembro de 2011.
3. AGROCARNES. Disponível em http://www.agrocarnes.com.br/carnes.htm. Acessado em 24 de novembro de 2011.
4. REGITANO, J.S.; LEAL, R.M.P.; Comportamento e impacto ambiental de antibióticos usados na produção animal brasileira. R. Bras. Ci. Solo; 34:601-616, 2010
5. PENA, A.L.S.; SILVEIRA, M.I.N.; CASTILLO, B.; Antibióticos em alimentos: determinação e quantificação por HPLC com detecção fluorimétrica. Ars Pharmaceutica; 38:27-37, 1997.
6. SILVA, M.V.M.; SARMENTO,A.M.C.; FRANCA, A. P.; Resíduos de antibióticos no leite e seus efeitos na saúde pública: uma preocupação constante. In: 35ºCongresso Brasileiro de Medicina Veterinária, 2008. Gramado. Anais do 35ºCongresso Brasileiro de Medicina Veterinária, 2008.
7. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Programa Nacional de Análise de Resíduos de Medicamentos Veterinários em Alimentos Expostos ao Consumo – PAMVet. Brasília, 2003. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/alimentos/pamvet/pamvet.pdf. Acessado em 26 de novembro de 2011.
8. TENÓRIO, C.G.B.; Avaliação da eficiência do teste COPAN (microplate e single) na detecção de resíduos de antimicrobianos no leite. Belo Horizonte, UFMG, 2007, 59 p. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, 2007.
9. SOUSA, F.C.; OLIVEIRA, E.N.A.; SANTOS, D.C.; SILVA, E.F.M. Ocorrência de resíduos de antibióticos em leites pasteurizados comercializados no estado do Ceará- Brasil. Rev Verde (Mossoró – RN – Brasil); 5(4):10-14, 2010.
10. PAIVA E BRITO, M.A.V.; LANGE, C.C.; Comunicado técnico 44: Resíduos de antibióticos no leite. Disponível em: http://people.ufpr.br/~freitasjaf/artigos/antibioticoleite.pdf. Acessado em 26 de novembro de 2011.
11. MACEDO, L.C.S.; FREITAS, J.A.Ocorrência de resíduos de antimicrobianos em leite. Rev. Ciênc. Agrar; 52:147-157, 2009.
12. BORGES, G.T.; SANTANA, A.P.; MESQUITA, A.J.; et al. Ocorrência de resíduos de antibióticos em leite pasteurizado integral e padronizado produzido e comercializado no estado de Goiás. Rev Ciência Animal Brasileira; 1(1), 2000.
13. NASCIMENTO, G.G.; MAESTRO, V.; CAMPOS, M.S.P. Ocorrência de resíduos de antibióticos no leite comercializado em Piracicaba, SP. Rev. Nutr., Campinas, 14(2): 119-124, 2001.
14. DALKE, V.S. Análise de Resíduos de antibióticos em carne de frango. Novo Hamburgo, 2006. Centro Universitário FEEVALE. Monografia. Universidade Feevale, 2006.
15. BOURSCHEIT, A. Consumo de carnes com antibióticos podem fazer mal à saúde. Agência Envolverde. Disponível em http://www.secom.unb.br/unbcliping2/2006/cp060426-15.htm.
16. CORRÊA,G. et al; Utilização de antibiótico e probióticos como promotores de crescimento na alimentação de frangos de corte. Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida; 22(2):75-81. 2003.
17. GOMES, M.D. Resíduos de antibióticos promotores de crescimento em produtos de origem animal, Brasília. UnB. Dissertação (mestrado) – Universidade de Brasília. 2004.
18. FUKAYAMA, E.H.; BERTECHINI, A.G.; GERALDO, A.; et al; Extrato de orégano como aditivo em rações para frango de corte. R. Bras. Zootec.; 34(6): 2316-2326. 2005.
19. MAZUCCO, H. Resíduos contaminantes em ovos comerciais. Avicultura Industrial; 1:12-20,2006.
20. COMPASSION IN WORLD FARMING. Antibiotics in animal farming: Public health and animal welfare. 2011. Disponível em http://www.ciwf.org.uk/includes/documents/cm_docs/2011/a/antibiotics_in_animal_farming.pdf.
21. MINISTÉRIO DA ECONOMIA E DA INOVAÇÃO. Autoridade de Segurança e economia (ASAE). Perfil de risco dos principais alimentos consumidos em Portugal. Portugal, 2009.

Utilização de antioxidantes na prática esportiva

O estresse oxidativo resulta de um desequilíbrio entre a produção e a neutralização de radicais livres e espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. O exercício físico leva a um aumento transitório do estresse oxidativo, podendo ocasionar lesões celulares e redução do rendimento esportivo. Os antioxidantes estão entre os suplementos mais utilizados por atletas e praticantes de atividade física e têm sido muito estudados como um possível meio de reduzir a injúria e melhorar o rendimento. Entretanto, os dados da literatura são controversos, e há trabalhos mostrando que a suplementação de antioxidantes pode reduzir, não interferir ou até mesmo aumentar marcadores de estresse oxidativo. Adicionalmente, trabalhos mais recentes sugerem que o estresse oxidativo induzido pelo exercício possui um papel essencial na resposta adaptativa ao organismo, sendo, portanto, necessário para que o exercício exerça seus efeitos benéficos. Desse modo, até que existam mais dados na literatura, parece mais seguro recomendar que indivíduos fisicamente ativos ingiram uma dieta rica em antioxidantes ao invés de suplementá-los isoladamente.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional – Abril 2011

Nutrição e Ciclo circadiano: conceitos e perspectivas

As células, tecidos e órgãos estão sob o comando do sistema circadiano, cuja arquitetura extremamente complexa é capaz de sincronizar o funcionamento do organismo em todos esses níveis em função da integração de sinais ambientais e endógenos, com o objetivo de otimizar a fisiologia celular. O interesse da Nutrição Funcional pelo conhecimento do sistema circadiano se justifica por alguns motivos: o ciclo circadiano influencia o ritmo endócrino de secreção de alguns hormônios; alguns nutrientes participam direta ou indiretamente nos mecanismos regulatórios desse sistema; a alimentação funciona como zeitgeber (time giver ou sinal do tempo) para a sincronização de relógios periféricos com o relógio central; a destoxificação de xenobióticos estar sob modulação circadiana; e os estudos de cronofarmacologia podem contribuir para futuras discussões e estudos na área de suplementação nutricional. O objetivo desta revisão é discutir algumas abordagens nutricionais como restrição calórica, fracionamento e composição das refeições e suplementação, considerando o ritmo circadiano. Os estudos em modelos animais de deleção (knockout) ou mutação de clock genes indicam que as funções do sistema circadiano têm grande impacto na função metabólica, e o inverso também é verdadeiro. Quando pensamos na nutrição sob a ótica circadiana, talvez haja mais perguntas do que respostas. O entendimento do ritmo circadiano complementa o direcionamento de delineamentos de estudos futuros na área de Nutrição.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional – Junho 2011

Distúrbios de atenção e déficit de memória: como melhorar nossa memória nos tempos atuais?

A memória é um processo que naturalmente sofre alterações no decorrer da vida. Fatores como estresse, exposição a metais pesados, como chumbo, arsênio e mercúrio, bifenilas policloradas (PCBs), consumo de ácidos graxos trans e hiperpermeabilidade intestinal, podem prejudicar a memória e cognição. Por outro lado, a saúde intestinal e nutrientes como colina, taurina e compostos bioativos como flavonóides, curcumina, L-teanina e cafeína atuam em processos celulares e mecanismos moleculares, diminuindo os efeitos deletérios causados por fatores ambientais e propensão genética. Assim, uma alimentação equilibrada, rica nesses compostos, e mudanças no estilo de vida de modo a diminuir a exposição aos fatores que prejudicam a memória e a cognição, são medidas eficientes para melhorar o desempenho cognitivo nos tempos atuais.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional – Setembro 2011

A leptina reverte as quedas na sensação de saciedade em humanos obesos que apresentam redução de peso

 

Indivíduos apresentando redução de peso ou deficiência de leptina possuem um menor gasto energético combinado a uma maior sensação de fome e/ ou saciedade atrasada,em comparação com indivíduos sem redução de peso. Devido ao fato de que a leptina exógena inibe a alimentação em humanos com deficiência congênita de leptina, a sinalização reduzida de leptina pode diminuir a expressão do controle da ingestão alimentar em seres humanos. Este estudo objetivou-se a testar a hipótese de que a redução da sinalização da leptina pode reduzir a expressão de saciedade em seres humanos, através da examinação dos efeitos da reposição da leptina sobre o comportamento alimentar após a perda de peso. Assim, dez indivíduos obesos (4 homens, 6 mulheres) participaram deste estudo e, hospitalizados, receberam a administração de uma fórmula líquida para manutenção de peso. A saciedade foi estudada através da mensuração da ingestão e classificações das disposições de apetite, relacionados 3 horas após a ingestão de 300 kcal da fórmula líquida. Os participantes foram estudados em cada um dos períodos de tempo de 3 horas: 1) enquanto mantiveram o seu peso usual (P inicial) e, em seguida, após a redução de peso e estabilização de 10% abaixo do peso inicial e enquanto receberam 5 semanas da fórmula ou placebo; 2) duas vezes ao dia quando receberam a administração de injecções de placebo (Pi-10% para o placebo); ou 3) “doses de reposição” de leptina (Pi-10% de leptina) em um estudo cruzado duplo-cego com um período de 2 semanas entre os tratamentos. O gasto energético também foi medido em cada período de estudo. Foi encontrado que tanto o gasto de energia e a pontuação na escala analógica visual que refletem saciedade foram significantemente menores nos participantes recebendoplacebo Pi-10%, do que aqueles do grupo 1 e 2. Os autores concluem que os resultados são consistentes com a hipótese de que a ausência de sinalização da leptina após a perda de peso podem atenuar a expressão da inibição da alimentação em seres humanos.

Referência bibliográfica:

KISSILEFF, H.R.; THORNTON, J.C.; TORRES, M.I.; et al. Leptin reverses declines in satiation in weight-reduced obese humans. Am J Clin Nutr; 95: 2 309-317, 2012.

Modulação nutricional do aumento da massa muscular através de alimentos e fitoterápicos

As taxas de síntese muscular proteica (SMP) são reguladas de acordo com os níveis de atividade física, a disponibilidade de nutrientes e o estado de saúde do indivíduo. O exercício de resistência e a ingestão de proteína são conhecidos estimuladores desse processo em humanos. Dentre os componentes proteicos envolvidos na SMP, os aminoácidos essenciais (AAE) destacam-se por estimular o processo sem afetar a proteólise. A insulina, por sua vez, reduz a degradação proteica com pequeno ou nenhum efeito significativo na SMP. Dentre os AAE, a leucina é o representante mais potente. Fontes dietéticas ricas em leucina (carne, leite, ovos, peixe) são capazes de aumentar a concentração de AAE plasmáticos, provocando uma forte resposta anabólica na SMP. A ação dos aminoácidos se dá, provavelmente, de maneira dose-dependente. Indivíduos com alto consumo de proteínas têm uma eficiência de utilização proteica reduzida. Desta forma, não há benefícios na ingestão de grandes quantidades desse nutriente na tentativa de aumentar o ganho de massa muscular. Diferentes tipos de proteínas (rápidas e lentas) podem modular diferentemente a resposta anabólica. O whey protein é digerido rapidamente e leva a um aumento grande, mas transitório, das proteínas sanguíneas, estimulando a SMP. Por outro lado, a caseína é considerada uma proteína lenta e não estimula a SMP, mas suprime a proteólise. Outros nutrientes como a creatina e o ômega-3 também têm demonstrado efeitos positivos no anabolismo do músculo esquelético. Estudos que confirmam a aplicação de fitoterápicos como o Tribulus terrestris no ganho de massa muscular são escassos ou não comprovam sua utilização.

Fonte: Revista Brasileira de Nutrição Funcional – 2012

Aminoácido de Cadeia Ramificada BCAA

Os aminoácidos de cadeia ramificada conhecidos como BCAA (Branched Chain Amino Acids), compreendem três aminoácidos essenciais: valina, leucina e isoleucina. De todos os aminoácidos isolados consumidos, apenas os aminoácidos essenciais apresentam uma sustentação teórica para a sua administração. Eles não são sintetizados no organismo humano devendo, por isso, ser ingeridos na dieta ou na forma de suplementos dietéticos, os quais são apresentados na forma de cápsulas, comprimidos, pó, tabletes e na forma líquida. Nos alimentos, podem ser encontrados nas carnes e outros produtos de origem animal, ricos em proteínas.

Pouco se sabe a respeito das dosagens diárias recomendadas. Dessa forma, foram encontradas pesquisas envolvendo crianças e adultos que sugerem proporções que vão de 77 a 154 mg/kg/dia, bem como estudos que sugerem a não utilização de suplementação de BCAA para atletas, devido a carência de evidências consistentes a respeito do tema. (Mager, Wykes, Ball, Pencharz, 2003; Kurpad, Regan, Raj, Gnanou, 2006; Kazapi e Tramonte, 2003; Alves, 2005; Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, 2003).

Estudos realizados com indivíduos fisicamente ativos ou não, sugerem que a suplementação com BCAA, antes ou imediatamente após o exercício, pode estimular a síntese proteica e diminuir danos ao tecido muscular, devido ao fato de a suplementação suprir as necessidades dietéticas destes aminoácidos, preservando os estoques musculares. Resultados encontrados permitem supor que a ingestão de BCAA estimularia a liberação de hormônios como a testosterona, o hormônio de crescimento (GH) e a insulina, aumentando, assim, a síntese de proteínas (Bacurau, 2003).

Os BCAA, particularmente a leucina, podem apresentar efeitos anabólicos no metabolismo de proteínas, aumentando significativamente a taxa de síntese e diminuindo a taxa de degradação de proteína na musculatura em repouso, após o exercício. Os BCAA apresentam efeitos anabólicos no músculo humano durante a fase de recuperação, após exercícios de resistência, porém durante os exercícios os respectivos efeitos não são claros.

Os BCAA são desaminados no tecido muscular formando a alanina, que por sua vez, deixa o músculo e vai para o fígado onde é convertida em piruvato e, posteriormente, em glicose (ciclo glicose-alanina) contribuindo para a manutenção da glicemia durante exercícios prolongados. Os BCAA atuam no ciclo da alanina-glicose servindo de substratos para a produção de glicose (Lancha Jr., 1996, Marquezi e Lancha Jr., 1997; Alves, 2005);

Durante exercícios de resistência, há uma diminuição dos níveis plasmáticos de glutamina, cuja função principal é servir de fonte de energia para importantes células do sistema imunológico. Já que os BCAA servem de substrato para a síntese de glutamina, sua administração após o exercício aumentaria as concentrações da mesma, diminuindo assim a incidência de infecções nos atletas (Zamberlan, 2001; Alves 2005);

Sabe-se que os BCAA e o triptofano-livre competem entre si, em situações em que os níveis plasmáticos de BCAA se encontram reduzidos (exercícios prolongados); isto facilitaria a entrada de triptofano-livre no cérebro (SNC), levando à geração de 5 hidroxi-triptamina, precursor da serotonina, que por sua vez é um mediador potencial da fadiga central. Portanto, acredita-se que a suplementação de BCAA poderia reduzir a formação da serotonina, retardando assim a fadiga e conseqüentemente, melhorando o desempenho esportivo (Newsholme e Blomstrand, 2006;

A suplementação com os aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA) observa-se que o consumo pode ser benéfico, ingerido sozinho ou associado a outros nutrientes, se confirmada necessidade e, desde que com acompanhamento do profissional nutricionista.

Alimentos que você deve consumir para ter uma saúde melhor em 2012

1. Kiwi: O domador da pressão

De origem chinesa, o kiwi cruzou terras e mares até ser colocado à prova em um comparativo feito com a população escandinava. Pesquisadores do Hospital Universitário de oslo, na noruega, recrutaram 118 pessoas na faixa dos 55 anos com a pressão arterial levemente alterada e as dividiram em dois grupos: o primeiro comia uma maçã por dia — seguindo aquela velha máxima de que uma unidade diária da fruta é suficiente para manter distância do médico — e o segundo ingeria três kiwis. dois meses depois, avaliaram os voluntários e descobriram que a turma do chinês verdinho exibia uma pressão mais próxima do ideal. essa vantagem parece estar nos seus altos níveis de luteína, uma substância antioxidante que, além de proteger os olhos, reduziria a inflamação nos vasos sanguíneos. “o consumo de kiwi sozinho não vai controlar a hipertensão, mas ele pode ser incluído na dieta como um lanche ou sobremesa”, diz o nutricionista Sérgio Rosa, de São Paulo.

2. Carne de porco: Mais magra e saudável

Nas últimas décadas, os porcos passaram por uma espécie de dieta e seu teor de gordura caiu. os cuidados com a criação se aperfeiçoaram e hoje é difícil comprar um corte no supermercado correndo o risco de pegar um parasita. nessa onda contra o preconceito, a carne suína mostra que às vezes é uma melhor opção para quem quer manter o peso ou as taxas de colesterol adequadas. Basta lembrar que o lombo, por exemplo, carrega menos gordura que uma picanha bovina. “Cortes suínos magros são ricos em proteína e em vitaminas do complexo B, que zelam pela pele, fígado e sistema nervoso”, contao nutricionista Sérgio Rosa, de São Paulo.
Dicas de consumo
Há cortes suínos magros e outros bem gordos. Se deseja manter a linha, prefira a bisteca e o lombo ao pernil e à costela. Assim você leva menos calorias e gordura saturada, aquela que faz mal ao coração, para o prato. E, em vez da fritura, opte pelo preparo no forno.

3. Rúcula: Folha antigastrite

A rúcula é cultuada há séculos pelos povos do mediterrâneo por seus poderes digestivos e até afrodisíacos. Pois em matéria de estômago a hortaliça merece mesmo o crédito. Cientistas da Universidade King Saud, na Arábia Saudita, testaram o extrato do vegetal em ratos e notaram que ele tem um potente efeito contra gastrites e úlceras. Isso sugere, especialmente a quem sofre daquela queimação, que a rúcula ajuda a apagar o problema. Segundo os árabes, a folha trabalha modulando a inflamação no estômago. “Além de vitaminas e minerais, ela tem ômega-3, gordura de atividade anti-inflamatória”, diz o nutricionista Sérgio Rosa, de São Paulo. Aproveite a rúcula em saladas de uma a duas vezes ao dia. “Só evite picá-la, porque assim ela perde mais rápido suas propriedades”, orienta Sérgio. A quem bate o pé para o seu gosto forte, que tal degustá-la sobre uma pizza?

4. Acerola: Pequena guardiã de genoma

A acerola é famosa por ser um reduto de vitamina C e outros compostos que fazem a segurança das nossas células. Em laboratório, uma equipe da Universidade Luterana do Brasil, em Canoas, no rio Grande do Sul, decidiu mensurar seus componentes e seu efeito sobre o nosso dna comparando as frutas verde e madura. “Embora a verde tenha mais vitamina C, encontramos mais flavonoides, que também são antioxidantes, na madura”, conta o nutricionista Sérgio Rosa, de São Paulo. “Essas substâncias protegem o genoma de alterações causadas pelos radicais livres”, diz. Isso se traduz, em tese, em menor risco de uma série de doenças ligadas ao envelhecimento. Como ninguém come acerola verde, aposte na vermelha especialmente nos sucos — uma forma de driblar a acidez. Também dá para lançar mão da polpa congelada, já que as doses de vitamina C não caem muito.

5. Aveia: Cereal multiprevenção

A aveia foi catalogada como um dos primeiros alimentos funcionais da história, porque, além de dar energia ao organismo, fornece substâncias capazes de evitar doenças. o grande diferencial desse grão é ser carregado de uma fibra solúvel, a betaglucana, que reduz o colesterol ruim, auxilia a controlar a carga de açúcar no sangue e até diminuiria o risco de alguns tumores. Com o objetivo de maximizar esse poder preventivo, estudiosos da Universidade Federal do rio Grande do Sul estão modificando o alimento para elevar a quantidade desse nutriente. “Queremos ampliar o teor de betaglucana de 4,5 para 8%, sem afetar os demais componentes nem alterar seu sabor”,o nutricionista Sérgio Rosa, de São Paulo, assim, será possível comer menos aveia no dia a dia para conquistar seus múltiplos benefícios.
Dicas de consumo
Esse cereal é extremamente versátil. Pode ser misturado a frutas, iogurtes e vitaminas, assim como incorporado a receitas de pães, tortas e bolos. Dá para salpicá-lo não apenas sobre doces mas também em saladas e pratos salgados. Está disponível nas formas de farinha, farelo e flocos.

6. Romã: Sorte para os vasos

Algumas famílias cultivam o hábito de saborear sementes de romã na virada do ano para serem abençoadas com sorte e fortuna na nova temporada. essa superstição pode ser levada a sério e adotada ao longo do ano se você quiser dar uma força ao controle da pressão e dos níveis de gordura no sangue. em um estudo israelense com pessoas em tratamento de insuficiência renal, o suco da fruta ajudou a relaxar os vasos e livrá-los de lesões. ao que tudo indica, a romã in natura apresentaria efeito parecido graças a seus antioxidantes. “notamos que ela diminui os triglicérides e aumenta o colesterol bom”, conta o nutricionista Sérgio Rosa, de São Paulo.

7. Melância: Vai uma fatia para o coração?

Um trabalho da Universidade de Kentucky, nos estados Unidos, revela que a melancia presta um belo serviço à circulação sanguínea. em um experimento com o seu suco administrado a cobaias, os especialistas perceberam que o preparo fez diminuir a massa gorda e a formação de placas nos vasos. “a própria fruta também deve exercer esse desempenho”, diz o o nutricionista Sérgio Rosa, de São Paulo, ora, a melancia é rica em citrulina, substância que, dentro do corpo, aciona um mecanismo de relaxamento das artérias. de acordo com o nutricionista, ela se encontra tanto na parte vermelha quanto na branca. “Como a fruta tem bastante açúcar, é melhor consumir entre as refeições para evitar picos glicêmicos”, recomenda.

8. Feijão: Grão de fibra

O último vigitel — enquete telefônica realizada em todo o país pelo Ministério da Saúde — constatou que o brasileiro está comendo cada vez menos feijão. Se você é integrante desse movimento, trate de reconvid-lo à rotina. o grão — e isso vale para todas as variedades — guarda proteína, fibras e minerais como o ferro, que afasta a anemia. “Mesmo quem está de regime pode consumilo, uma vez que ele contribui para a saciedade e ajuda a preservar a massa magra”, aconselha o nutricionista Sérgio Rosa, de São Paulo.
Dica de consumo
Para aproveitar melhor o feijão, deixe-o de molho por 12 horas, jogue a água fora, lave mais uma vez os grãos e cozinhe-os com água nova. “Isso elimina substâncias que atrapalham a absorção dos nutrientes e ainda ajuda, mais tarde, a reduzir os gases”, diz Sérgio. Há indícios de que botar folhas de louro na hora do cozimento também minimizaria flatulências.

9. Café: Goles que espantam o câncer

O cafezinho não afugenta só aquela preguiça. Bastante investigado nos últimos anos, ele vem demonstrando que defende o coração, afasta a depressão e, agora sim, lá vem notícia: até ajuda a impedir o surgimento de certos tumores. a chancela vem de um estudo da respeitada Universidade Harvard, que averiguou dados de cerca de 67 mil americanas. entre aquelas que bebiam mais de quatro xícaras por dia, observou-se um risco 25% menor de ter um câncer no endométrio, tecido que reveste o útero. Muito café? Pois saiba que as mulheres que tomaram duas xícaras tiveram um risco 7% menor. “a bebida tem um alto poder antioxidante e anti-inflamatório, o que justificaria sua proteção contra alguns tipos de câncer”, afirma a nutricionista Youjin je, uma das autoras do trabalho, que não levou em conta o tipo de café nem o preparo.
Dica de consumo
Procure sempre tomar o café logo depois de pronto — e isso vale tanto para a bebida coada quanto para o expresso. Evite deixá-lo em garrafas térmicas, principalmente se estiver adoçado. Aliás, para tirar proveito dos seus compostos protetores, maneire no açúcar ou adoçante e nunca coloque cremes ou chantilly.

10. Pêssego: Bonito, não só na aparência

Quando a gente pensa em pêssego, vem à cabeça uma fruta linda e suculenta. Só que a realidade nem sempre é a mesma: por vezes deparamos com exemplares mirrados, sem cor, ácidos e que ainda estragam em pouco tempo. a empresa Brasileira de Pesquisa agropecuária desenvolveu novos cultivares com pêssegos mais vistosos, carnudos e doces, algo que ajuda a driblar de vez as resistências ao alimento. “essas mudanças são ótimas porque estimulam o consumo de uma fruta pouco calórica e repleta de antioxidantes e fibras”, opina o nutricionista Sérgio Rosa, de São Paulo.

11. Ovo: Da galinha para cuca

Os ovos já foram resgatados do ostracismo na culinária saudável, mas ganham ainda mais reconhecimento com uma descoberta da professora de neurologia Rhoda Au e colegas da Universidade de Boston, nos Estados Unidos. Eles decifraram um elo entre a ingestão de colina, substância encontrada sobretudo na gema, e uma maior proteção do cérebro contra o avançar da idade. “Ela é precursora da acetilcolina, essencial à transmissão dos impulsos nervosos”, explica Rhoda. Sabe-se que portadores de Alzheimer possuem uma menor concentração desse mensageiro químico.
Dica de consumo
Pessoas com diabete ou alto risco cardíaco devem se limitar a três unidades de ovo por semana. Mas mesmo livre de problemas vale evitar o abuso no dia a dia, por causa do colesterol e da gordura. Em vez de fritar, dê preferência ao ovo cozido ou pochê, feito com água. No preparo de ovos mexidos e omeletes, use pouquíssimo óleo.

12. Iogurte: Hóspedes especiais

Não param de sair pesquisas esmiuçando a importância dos probióticos, bactérias benignas presentes em iogurtes e leites fermentados, na prevenção e no controle de males que vão de constipação a obesidade. Nessa linha, cientistas da Universidade de Washington, em solo americano, flagraram em ratos que o consumo de probióticos interfere no aproveitamento de nutrientes no intestino, o que pode ajudar a entender o impacto desses micro-organismos na regulação do corpo e na manutenção do peso. “Isso precisa ser avaliado em seres humanos, mas já sabemos que os probióticos melhoram a nossa flora e a imunidade”, diz o o nutricionista Sérgio Rosa, de São Paulo.
Dica de consumo
Nem todo iogurte tem bactérias probióticas. Por isso, trate de verificar o rótulo dos produtos, que informa se eles pertencem ou não a essa categoria. Para obter seus benefícios, eles devem ser consumidos diariamente.

Potenciais Efeitos Adversos do Consumo de Leite e Derivados

Após a amamentação, nenhum mamífero consome leite (e muito menos de outra espécie). Este padrão também foi seguido, durante 2,4 milhões de anos, pelos vários hominídeos que habitaram a terra. Os primeiros dados do consumo de laticínios datam de 6100 a 5500 anos atrás, sendo o leite considerado um alimento relativamente recente na alimentação do ser humano, o que explica porque é que cerca de 75% da população adulta mundial apresenta hipolactasia após o desmame, o que pode resultar em intolerância à lactose. Esta recente introdução deste grupo de alimentos, os laticínios, provocou alterações na dieta que moldou o genoma humano no paleolítico, o que tem implicações diversas na saúde, que vão além da intolerância à lactose. Os laticínios, apesar de possuírem um índice Glicêmico (IG) baixo aumentam muito a liberação da insulina pelo pâncreas, o que pode causar resistência à insulina, que está relacionada à origem de várias patologias, como a síndrome metabólica. Além disso, há estudos epidemiológicos e experimentais que associam o consumo desse grupo de alimentos com alguns tipos de cânceres (de ovário, testículo e próstata), à doença de Parkison e à Doença das Artérias Coronárias. O consumo de leite bovino tem sido associado também à diabetes tipo 1, especialmente quando a exposição a este alimento se dá nos primeiros meses de vida. Outros estudos ainda estabeleceram uma correlação muito forte entre o consumo do leite e a prevalência de esclerose múltipla. A noção de que o leite é essencial para prevenir a osteoporose provém do fato de ser uma das fontes de cálcio mais bem absorvidas e por vários estudos terem mostrado que o consumo do leite aumenta a densidade mineral óssea, no entanto, alguns estudos demonstram o contrário. Uma linha que desmistifica a ligação entre o leite, cálcio e a osteoporose provêm de registros fósseis, que indicam que os hominídeos do Paleolítico, apesar de não beberem leite após a amamentação, apresentavam uma densidade mineral óssea igual ou superior à de atuais adultos saudáveis e ativos. Face ao exposto, é difícil considerar o leite de outra espécie um alimento adequado ao ser humano. Contudo, obviamente que um indivíduo saudável que não sofra nenhuma das patologias associadas ao consumo do leite e que sigam um estilo de vida saudável poderá consumir pequenas quantidades de laticínios fermentados de agricultura biológica, desde que este não produza reações adversas.

Nutrição Clínica Funcional

Ano 8 – Edição nº37 – Junho de 2008

Toxinas ambientais e a influência na saúde humana

Diariamente, entramos em contato com cerca de 60 mil compostos tóxicos, também conhecidos como xenobióticos. Um dos principais objetivos da destoxificação é o aumento da polaridade do xenobiótico, possibilitando que o mesmo seja eliminado do organismo. Existem muitas evidências que nos permitem afirmar que a nutrição influencia de forma determinante em como destoxificamos, sendo a ingestão dietética de frutas e verduras muito importante para esse processo. Um grande número de xenobióticos foi investigado durante muitos anos, e foi evidenciado que alguns pesticidas e produtos químicos industriais possuem comprovada atividade hormonal, sendo então chamados de interferentes endócrinos (IEs) por interferirem na produção, liberação, transporte, metabolismo, ligação ao receptor, ação ou eliminação de todos os hormônios naturais.Evidências recentes sugerem que os IEs podem alterar os mecanismos envolvidos na homeostase do peso corporal, com conseqüente ganho de peso pelo aumento do volume do tecido adiposo. Sendo a obesidade um fator de risco para o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2 3, um crescente número de estudos tem sugerido que a exposição a baixas concentrações de poluentes inalantes pode estar associado com a propensão da doença, bem como de outras doenças crônicas. A maneira mais segura para a saúde seria a redução do consumo dessas substâncias, reduzindo o consumo de produtos industrializados e dando preferência aos alimentos orgânicos; reciclando e reutilizando materiais cuja decomposição no meio ambiente é lenta e fonte de liberação dos tais poluentes.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional

Ano 11 – Edição nº 46 – Agosto de 2010