EVIDÊNCIAS DO COLOSTRO BOVINO PARA SAÚDE INTESTINAL E PERFORMANCE

Em qualquer circunstância, o entendimento da homeostase orgânica, gerada em função de demandas e ofertas, é de fundamental importância para que haja raciocínio lógico acerca das possíveis condutas nutricionais. Estresse oxidativo, balaço inflamatório, mudança de microbiota são exemplos de respostas adaptativas ou patológicas que podem ser moduladas em função do estado nutricional, suplementação etc. Frente ao exercício, indivíduos sedentários (portanto, inativos) não apresentam as mesmas respostas adaptativas em comparação a pessoas fisicamente ativas. Logo, não há necessidade de buscar adaptações imunológicas e/ou de rendimento, da mesma maneira. O mesmo vale para atletas de alto rendimento amadores e profissionais que, por sua vez, tendem a entrar em curva de “desadaptação” em resposta as altas demandas de treinamento (Drager et al, 2014).

                Porém, para qualquer situação em que se busca resposta adaptativa através da via oral (suplementação), é condição sine qua non que haja uma boa saúde do trato gastrointestinal afim de suportar as demandas a nível de digestão e absorção. Uma vez que o intestino tem se mostrado um órgão “plástico” e adaptável ao exercício e treinamento (Jeukendrup et al, 2017), a busca por estratégias nutricionais que hajam como ergogênicas em tais situações têm sido constante pela literatura e, dentre estas, o colostro bovino vem recebendo atenção há alguns anos.

                Por definição, o colostro bovino também é conhecido como “o primeiro leite”, secretado pelas glândulas mamárias durante as primeiras 24 a 72 horas após o parto, apresentando-se como um líquido espesso, pegajoso e gelatinoso (Bagwe et al, 2015).

Rak e Bronkowska (2014) definem o colostro bovino como um dos imunoestimulantes naturais mais ricos. É composto por fatores de crescimento, imunoglobulinas, citocinas, lactoferrina, lisozima e hormônio do crescimento (Shing et al, 2019). Em termos quantitativos em comparação ao leite de vaca comum, o colostro possui 40 vezes mais o número de compostos bioativos, 100 vezes mais imunoglobulina A (Bagwe et al, 2015), 10 vezes mais lactoferrina e tem o IGF-1 como principal fator de crescimento (Francis et al, 1988).

                As tabelas 1 e 2 resumem os principais componentes e possíveis ações biológicas do colostro bovino, respectivamente.

              

Como descrito na tabela 2, acredita-se que os compostos bioativos presentes no colostro bovino melhoram a integridade da parede celular intestinal, bem como a tolerância à hipóxia, estresse térmico e oxidativo (Marchbank et al, 2011). In vitro, a suplementação de colostro protege contra aumento de apoptose induzido pela temperatura e indução da expressão de proteína de choque térmico em células intestinais humanas (Davison et al, 2016; Marchbank et al, 2011). O calor, além do exercício, amplifica a hipóxia esplênica redistribuindo o sangue para a pele, contribuindo possivelmente para danos adicionais às células endoteliais (Costa et al, 2020). Isso foi demonstrado com concentrações de proteínas intestinais inflamatórias significativamente mais altas pós-exercício em ambientes aquecidos em comparação com ambientes termoneutros (Chantler et al, 2020).

Os estudos que investigaram a suplementação de colostro bovino incluíram colostro sozinho e em combinação com zinco e carnosina. O tempo médio dos estudos varia de 2 a 14 dias. Estudos de dosagem pareada (20 g/dia) avaliando dano endotelial mostraram um efeito positivo do colostro após o exercício a 22°C (March et al, 2017) e 30°C (March et al, 2019), mas não a 40°C (McKenna et al, 2017).

Figura 1 – Concentração de proteína inflamatória intestinal antes e após o exercício, com e sem a suplementação de colostro. Extraído de March et al. (2017).

Figura 2 – Concentração de proteína inflamatória intestinal antes e após o exercício, com e sem a suplementação de colostro. Extraído de March et al. (2019).

Apenas 1 estudo considerou a comparação entre indivíduos treinados e não treinados, mostrando que o nível de treinamento não alterou a resposta à suplementação de colostro bovino em comparação com a condição placebo. Os autores notaram uma maior concentração de proteínas inflamatórias intestinas pós-exercício nos participantes treinados em comparação com os não treinados, mas isso foi independente da suplementação de colostro. Este estudo utilizou uma alta dosagem de colostro bovino (126 a 140g·dia, com base na massa corporal média) sem efeitos negativos relatados (Morrison et al, 2014).

Uma razão que pode justificar a falta de resultados positivos em alguns estudos pode estar na diferença nos componentes bioativos do próprio colostro bovino. Halasa et al. (2020), investigaram o impacto do atraso na ordenha pós-parto na capacidade do colostro bovino de reduzir os marcadores de permeabilidade em atletas amadores. Os autores observaram que o colostro bovino obtido 72 horas após o parto foi menos eficaz do que o colostro de 2 e 24 horas após o parto. Ou seja, a diferença na eficácia pode ser da mudança natural nos compostos bioativos pós-parto. Esta informação também foi confirmada por estudos laboratoriais (Playford et al, 2020).

Referências

1. Bagwe et al, 2015 / 2. Chantler S, Griffiths A, Matu J, Davison G, Jones B, Deighton K. The effects of exercise on indirect markers of gut damage and permeability: a systematic review and meta-analysis. Sport Med. 2020. / 3. Costa RJS, Gaskell SK, McCubbin AJ, Snipe RMJ. Exertional-heat stress-associated gastrointestinal perturbations during Olympic sports: Management strategies for athletes preparing and competing in the 2020 Tokyo Olympic Games. Temperature. 2020;7: 58–88. / 4. Davison G, Marchbank T, March DS, Thatcher R, Playford RJ. Zinc carnosine works with bovine colostrum in truncating heavy exercise-induced increase in gut permeability in healthy volunteers. Am J Clin Nutr. 2016;104: 526–536. / 5. Dreager et al. J Int Soc Sports Nutr (2014) / 6. Francis et al, 1988 / 7. Jeukendrup et al, 2017/ 8. March DS, Jones AW, Thatcher R, Davison G. The effect of bovine colostrum supplementation on intestinal injury and circulating intestinal bacterial DNA following exercise in the heat. Eur J Nutr. 2019;58: 1441–1451. / 9. March DS, Marchbank T, Playford RJ, Jones AW, Thatcher R, Davison G. Intestinal fatty acid-binding protein and gut permeability responses to exercise. Eur J Appl Physiol. 2017;117: 931–941. / 10. Marchbank T, Davison G, Oakes JR, Ghatei MA, Patterson M, Moyer MP, et al. The nutriceutical bovine colostrum truncates the increase in gut permeability caused by heavy exercise in athletes. Am J Physiol—Gastrointest Liver Physiol. 2011;300: 477–484. / 11. McKenna Z, Berkemeier Q, Naylor A, Kleint A, Gorini F, Ng J, et al. Bovine colostrum supplementation does not affect plasma I-FABP concentrations following exercise in a hot and humid environment. Eur J Appl Physiol. 2017;117: 2561–2567. / 12. Morrison SA, Cheung SS, Cotter JD. Bovine colostrum, training status, and gastrointestinal permeability during exercise in the heat: A placebo-controlled double-blind study. Appl Physiol Nutr Metab. 2014;39: 1070–1082. / 13. Playford RJ, Cattell M, Marchbank T. Marked variability in bioactivity between commercially available bovine colostrum for human use; implications for clinical trials. PLoS One. 2020;15: 1–16. / 14. Shing et al, 2019

Fonte: Vitafor

ASPECTOS NUTRICIONAIS NO PARADESPORTO

Ao longo dos últimos anos, embora com crescente visibilidade e participação do Paradesportista em praticamente todas as modalidades esportivas, a literatura científica nesta população ainda é escassa principalmente no campo da nutrição esportiva, podendo ser caracterizado como um grupo de desportistas potencialmente susceptíveis às inadequações na ingestão de alimentos e substâncias importantes para o desempenho atlético, tornando-se essa abordagem necessária para a otimização e adaptação ao treinamento/competições e manutenção da saúde.

O espectro das deficiências pode ser subdividido em duas categorias principais: aquelas que são congênitas (ex. malformações) ou presentes em idade muito precoce (ex. deficiência visual total) e aquelas que foram adquiridas (ex. amputações, lesões medulares traumáticas, …)

Determinar as necessidades de energia para Paradesportistas pode ser bastante desafiador, principalmente devido à falta de dados científicos sobre a variedade de deficiências e especificidade dos estímulos com o exercício. Os referenciais de comparação partem dos protocolos e padrões estabelecidos para desportistas convencionais (“não portadores de necessidades especiais”).

Dependendo da classificação de necessidades especiais do atleta, a mobilização de diferentes grupamentos musculares determina níveis de gasto energético e depleção de glicogênio muscular em comparação com desportistas convencionais.

Há relatos na literatura de que a redução nos custos metabólicos possa variar de 30 a 60% em vários paradesportos e em sua maioria, esses estudos foram realizados com paradesportistas amadores. Já em paradesportistas com deficiências mínimas, como portadores de deficiência visual, espera-se que as demandas metabólicas sejam semelhantes para a mesma carga de estímulos que em desportistas convencionais.

Os dados sobre a prevalência de Baixa Disponibilidade Energética (LEA) em Paradesportistas, uma das mais utilizadas classificações para adequação no suporte nutricional energético e de macronutrientes, são escassos e inconclusivos. No entanto, para fins práticos a ocorrência de inadequações energéticas deve ser mensurada com suporte na avaliação de sinais e sintomas clínicos e metabólicos, composição corporal, análise das variáveis de rendimento e suas correlações com exames bioquímicos e funcionais.

Deve-se considerar a avaliação do gasto energético basal (GER) por calorimetria indireta, composição corporal por DEXA ou soma de dobras cutâneas para determinação da massa muscular e capacidade de armazenamento de glicogênio, informações sobre o funcionamento muscular (por exemplo, nível de lesão/limitação funcional ou diagnóstico médico para grau de deficiência), dados ergoespirométricos de desempenho ajudem ainda mais a estimar as demandas metabólicas e funcionais.

Ainda sobre a estimativa das necessidades energéticas, um aspecto importante a ser considerado é que limitações como malformações de membros, amputações e deficiências neuro-motoras podem ser observadas e levar à redução da massa muscular e redução do gasto energético de repouso, alterações no sistema urinário e intestino, promovendo impacto metabólico negativo durante o exercício e maior risco de deficiência de macro e micronutrientes, exceto para atletas com deficiência visual.

As menores distâncias e durações na prática de modalidades para-desportivas estabelecidas por comitês e federações podem justificar, por exemplo, menores gastos energéticos em para-ciclistas profissionais quando comparados com para-ciclistas portadores de deficiência mínima tanto durantes as sessões de treinamento quanto em competições.

Quanto aos micronutrientes, devem ser considerados em paradesportistas as mesmas recomendações para desportistas convencionais, como por exemplo o ferro, que é necessário para o transporte de oxigênio e sua deficiência poderia comprometer o desempenho nas modalidades de resistência ou longa duração.

Estima-se que paradesportistas possam ter maior risco de baixa densidade mineral óssea devido à menor pratica de atividades contra resistência e menos impacto. Nesse sentido, a ingestão de vitamina D e cálcio são ainda mais importantes em comparação com desportistas convencionais.

Como fonte energética, o armazenamento e a oxidação de carboidratos (CHO) são extremamente importantes para as sessões de treinamento, especialmente para desempenho nos exercícios de alta intensidade, onde a via glicolítica através do armazenamento de glicogênio muscular e hepático continuam a ser a fonte de energia primária. As reservas de glicogênio em atletas amputados podem ser menores devido à menor massa muscular. Portanto, parece razoável que as diretrizes do CHO para esses atletas sejam adaptadas com base em sua massa muscular ativa, demanda energética e massa livre de gordura.

A ingestão de proteínas é importante pelos mesmos motivos de um desportista convencional, com funções relacionadas ao processo de reparo/remodelação tecidual e adaptação ao treinamento de força.

Nesse sentido, as proteínas de origem animal podem ter um melhor perfil de aminoácidos essenciais e podem ser mais benéficas quando se trata de síntese e adaptação de proteínas musculares. O Whey protein, como exemplo, é muito bem definido com eficácia na dose de 20 a 25 g/dose ou 0,3 a 0,4 g/kg/refeição para estimular a síntese de proteína muscular quando consumida após um treinamento de força ou uma sessão de estímulos intensos.

Há na literatura publicações que recomendam a ingestão total de proteínas seja de até menos 1,2 g/Kg/dia em atletas com lesão na espinha dorsal e entre 1,2 até 2,2 g/Kg/dia em atletas com deficiência mínima (Ex. ausência congênita ou adquirida da mão e de dedo(s)). É importante fazer uma ressalva quanto ao aumento na ingestão de proteica em programas para redução de peso e restrição energética.

O funcionamento do sistema digestivo merece atenção especial, pois dependendo do tipo de limitação funcional e estrutural, pode-se observar menor capacidade de esvaziamento gástrico e tempo de trânsito intestinal prolongado. Destaca-se que as recomendações no consumo de probióticos, polifenóis e demais substancias necessárias à uma adequada modulação na saúde intestinal são as mesmas para desportistas convencionais.

Em caso de alterações no funcionamento intestinal, os paratletas devem ser cautelosos com a ingestão de proteínas. Atletas com lesão na espinha dorsal e amputação podem sofrem com úlceras de pressão ou feridas também podem aumentar sua ingestão diária de proteínas para 2,0 g/kg/dia. Estes atletas devem aderir às normas comuns das principais Instituições (Comitê Olímpico Internacional, Colégio Maicano de Medicina Esportiva, dentre outras) como diretrizes para o uso de suplementos e recursos ergogênico nutricionais.

Para outros paradesportistas que apresentem limitações mais extensas (ex. lesão medular, paralisia cerebral) deve ser realizada uma abordagem individual por meio de avaliação de demandas secundárias (ex.  problemas renais, gastrointestinais, interação medicamentosa, …) e orientação com um visando a tomada de decisão pelo nutricionista esportivo baseada em evidências, sinais/sintomas para evitar danos de ordem clínica nesses indivíduos.

Sendo assim, o conhecimento de aspectos fisiológicos e demandas do paradesporto, juntamente com a literatura existente sobre intervenções nutricionais gerais para a o esporte devem nortear as considerações nutricionais para intervenções em paradesportistas garantindo adequada ingestão de macronutrientes, hidratação, suplementação, adequações na composição corporal e demandas fisiológicas adaptados às necessidades específicas de cada tipo de deficiência.

Referências:

1. JOAQUIM, Daniel P et al. Diet quality profile of track-and-field Paralympic athletes. International journal of sport nutrition and exercise metabolism, v. 29, n. 6, p. 589-595, 2019. / 2. JEOUNG, Bogja et al. Analysis and evaluation of nutritional intake and nutrition quotient of Korean athletes with disabilities in the Tokyo paralympic games. Nutrients, v. 13, n. 10, p. 3631, 2021. / 3. SCARAMELLA, Jacque et al. Key nutritional strategies to optimize performance in para athletes. Physical Medicine and Rehabilitation Clinics, v. 29, n. 2, p. 283-298, 2018. / 4. MANN, David L. et al. Classifying the evidence for evidence-based classification in Paralympic sport. Journal of Sports Sciences, v. 39, n. sup1, p. 1-6, 2021. / 5. FELLEITER, Peter et al. Post-traumatic changes in energy expenditure and body composition in patients with acute spinal cord injury. J Rehabil Med, v. 49, n. 7, p. 579-584, 2017. / 6. FLUECK, J. L. et al. Supplement use in swiss wheelchair athletes. Schweiz. Z. Sportmed. Sporttraumatologie, v. 65, p. 22-27, 2017.

Fonte: Vitafor

EFEITOS DA CÚRCUMA LONGA SOB A DISFUNÇÃO ENDOTELIAL EM DIABETES MELLITUS TIPO 2.

Segundo a International Diabetes Federation (2019), dentre os dez principais países ou territórios com maior número de adultos diabéticos, na faixa etária entre 20 e 79 anos, a quinta posição está ocupada pelo Brasil com as seguintes estimativas para os anos de 2019, 2030 e 2045: 16,8 milhões, 21,5 milhões e 26 milhões, respectivamente. O aumento nos casos possui associação com diversos fatores, como: rápida urbanização, transição epidemiológica e nutricional, sedentarismo, excesso de peso, aumento da expectativa de vida e de sobrevida dos indivíduos diabéticos (SBD, 2019).

No DMT2 o estado de hiperglicemia crônica pode levar à níveis aumentados de produtos finais de glicação avançada (AGEs) que atuam diretamente nas células, causando efeitos pró-inflamatórios e estresse oxidativo. O mecanismo envolvido está relacionado a ativação da proteína quinase C que altera o metabolismo dos eicosanoides, pode levar a indução de auto oxidação da glicose resultando em espécies reativas de oxigênio (EROs). Muito agravos podem ser ocasionados pelas EROs no quadro de diabetes devido diminuição dos canais de transporte de glicose e da secreção de insulina, fragmentação e oxidação de proteínas, danos ao DNA, formação de ácidos graxos livres e aumento da permeabilidade vascular, além de contribuir para o aumento na formação de AGEs, disfunção endotelial e desenvolvimento de complicações microvasculares e macrovasculares (Marton, Pescinini-e-Salzedas, Camargo, Barbalho, Haber, Sinatora et al, 2021).

Curcuma longa L. (açafrão da terra) é uma espécie vegetal da família Zingiberaceae originária do sudeste da Ásia, sendo a parte utilizada para fins medicinais e culinários, o rizoma. Os principais compostos fenólicos encontrados são os curcuminóides: curcumina, bisdemetóxicurcumina e demetóxicurcumina, que apresentam moderada solubilidade em ambiente aquoso, sendo este um empasse para sua biodisponibilidade que pode ser melhorada quando associados à Piper nigrum (pimenta preta) ou gorduras (Brad e Dallas, 2015; Brasil, 2015).

Para a Curcuma longa são atribuídos benefícios no DMT2 devido sua ação antioxidante, anti-inflamatória, relatos de sua capacidade em reduzir níveis glicêmicos, marcadores de disfunção endotelial, e melhorar o perfil lipídico (Marton, Pescinini-e-Salzedas, Camargo, Barbalho, Haber, Sinatora et al, 2021). A curcumina apresenta atividade antioxidante capaz de eliminar EROs, controlar danos ao DNA, redução da peroxidação lipídica mediada por radicais livres, aumento de glutationa e superóxido dismutase (El-Bahr, 2013; Rahmani, Alsahli, Aly, Khan, Aldebasi, 2018). A curcumina se mostra efetiva na prevenção do processo inflamatório via inibição de várias vias moleculares à exemplo da ciclooxigenase (COX), fator de necrose tumoral alfa (TNF-?), fator nuclear ?b (NF- ?b) e interleucina 6 (IL-6) (Rahmani, Alsahli, Aly, Khan, Aldebasi, 2018).

Devido ao exposto, o aumento da rigidez arterial central e endotelial é característico em quadro de diabetes. Um ensaio clinico randomizado controlado por placebo, com o objetivo de avaliar a intervenção com 400 mg de Curcuma longa na rigidez arterial e endotelial, em 114 pacientes com DMT2, pelo período de 3 meses, encontrou que o grupo intervenção reduziu significativamente, comparado à linha de base, a velocidade da onda de pulso carotídeo-femoral (p = 0,002), velocidade da onda de pulso braquial-tornozelo esquerdo (p = 0,001), aumento da pressão da aorta (p = 0,007), índice de aumento da aorta (p = 0,007) em comparação com o grupo de placebo, concluindo que três meses de tratamento com o fitoterápico diminuiu significativamente a rigidez arterial em comparação com placebo, se apresentando como seguro e sem efeitos adversos importantes relatados nesta pesquisa (Srinivasan, Selvarajan, Kamalanathan, Kadhiravan, Lakshmi, Adithan, 2019).

Resultados de outro ensaio clinico randomizado e controlado por placebo, após intervenção com açafrão da terra na dose de 2,1g em 75 pacientes, por oito semanas, indicaram redução significativa do peso corporal, triglicérides, LDL-c, colesterol total, sem mudanças em PCR ultrassensível, no estado glicêmico e capacidade antioxidante total, possivelmente pelo curto tempo de segmento da pesquisa (Adab, Eghtesadi, Vafa, Heydari, Shojaii, Haqqani, Arablou et al, 2019).

Atualmente os estudos conduzidos com Curcuma longa são heterogêneos no tocante a doses, tempo de intervenção e tipo de extrato utilizado que podem impactar nos achados acerca do uso em DMT2. É indiscutível que se apresenta como alternativa segura, com eventos adversos fracos e promissora para esses pacientes, porém mais estudos são necessários.

Referências:

1. Adab Z, Eghtesadi S, Vafa M-R, Heydari I, Shojaii A, Haqqani H, Arablou T, et al. Effect of turmeric on glycemic status, lipid profile, hs?CRP, and total antioxidant capacity in hyperlipidemic type 2 diabetes mellitus patients. Phytotherapy Research. p.1-9, 2019. DOI: 10.1002/ptr.6312. / 2. Brad JD, Dallas L. Beyond yellow curry: Assessing commercial curcumin  absorption technologies. Journal of the American College of Nutrition. v. 34, n. 4, p.347–358, 2015. Doi: 10.1080 / 07315724.2014.950392. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4536942/. Acesso em: 10 de agosto de 2022. / 3. Brasil. Ministério da Saúde. Anvisa. Monografia da espécie Cúrcuma  longa  L.  (CURCUMA). Brasília. 2015. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/22/Monografia-Curcuma-CP-corrigida.pdf. Acesso em: 05 de agosto de 2022. / 4. International Diabetes Federation. IDF Atlas. 9ª ed. Bruxelas: International Diabetes Federation, 2019. Disponível em: https://www.diabetesatlas.org/upload/resources/material/20200302_133351_IDFATLAS9e-final-web.pdf. Acesso em 30 de agosto de 2022. / 5. Marton LT, Pescinini-e-Salzedas LM, Camargo MEC, Barbalho SM, Haber JFdosS, Sinatora RV, et al. The Effects of Curcumin on Diabetes Mellitus: A Systematic Review. Frontiers in Endocrinology.  v.12, 2021. Doi: 10.3389/fendo.2021.669448. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fendo.2021.669448/full. Acesso em: 10 de julho de 2021. / 6. Rahmani AH, Alsahli MA, Aly SM, Khan MA, Aldebasi YH. Role of Curcumin in Disease Prevention and Treatment. Advanced Biomedical Research. p. 7-38, 2018. Doi: 10.4103/abr.abr_147_16. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5852989/. Acesso em: 29 de agosto de 2021. / 7. Sociedade Brasileira de Diabetes. SBD. Diretrizes Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020. São Paulo: Clanad, 2019. Disponível em: https://diabetes.org.br/.  / 8. Srinivasan A, Selvarajan S, Kamalanathan S, Kadhiravan T, Lakshmi NCP, Adithan S. Effect of Curcuma longa on vascular function in native Tamilians with type 2 diabetes mellitus: A randomized, double?blind, parallel arm, placebo?controlled trial. Phytotherapy Research. v.33, p.1898–1911, 2019. DOI: 10.1002/ptr.6381.

Fonte: Vitafor

PROBIÓTICOS: UM OLHAR ANSIOLÍTICO

A microbiota intestinal é correspondida por trilhões de microorganismos hospedados ao longo do trato gastrointestinal sendo eles bactérias, fungos, vírus, protozoários e outros. A proporção dessa disposição em conjunto com diversos outros fatores pode caracterizar um intestino com disbiose, ou seja, desiquilíbrio entre as bactérias constituintes da flora.

O eixo cérebro- intestino diz respeito a sinalização de forma bidirecional que envolve o Sistema Nervoso Entérico (SNE) para modulação dos sistemas mantendo sua homeostase. Estudos demonstram que a combinação de múltiplas cepas probióticas quando utilizadas nos transtornos psicológicos tendem à redução da sintomatologia e isso se dá por diversos mecanismos como efeito anti-inflamatório intestinal, aprimoramento da resposta imunológica, redução de marcadores de inflamação, comunicação por meio do nervo vago, dentre outros.

Em 17 de julho de 2022 a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou sua maior revisão mundial sobre saúde mental do último século em que é enfatizada a necessidade de medidas significativas em direção ao cuidado mental. Também é apresentada no documento que em 2019 aproximadamente um bilhão de pessoas viviam com transtorno mental, além disso, nos últimos tempos é vista uma curva de ascendência aos distúrbios psicológicos como após a pandemia do COVID-19 onde apresentou-se aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão em todo o mundo.

As causas para ansiedade, estresse, depressão e demais distúrbios psicológicos são multifatoriais e com isso, a alimentação bem como suplementação de forma isolada não são apresentadas como “cura”, contudo, advêm como mecanismos de melhora nos quadros bem como fatores preventivos.

Dentre essa perspectiva, vê-se como interessante a utilização de probióticos (microrganismos vivos capazes de gerar efeitos benéficos a saúde) e prebióticos (fibras que tem ação fertilizante e estimulante ao crescimento de bactérias benéficas ao intestino) para melhora do quadro de ansiedade, depressão e demais transtornos. Entretanto, são necessários mais estudos afins de estabelecer protocolos de tratamento.

Referências:

1. Berk, M., Williams, L.J., Jacka, F.N. et al. So depression is an inflammatory disease, but where does the inflammation come from?. BMC Med 11, 200 (2013). https://doi.org/10.1186/1741-7015-11-200. / 2. Goh, KK, Liu, Y.-W., Kuo, P.-H., Chung, Y.-CE, Lu, M.-L., & Chen, C.-H. (2019). Effect of probiotics on depressive symptoms: A meta-analysis of human studies. Psychiatry Research, 112568. doi:10.1016/j.psychres.2019.112568. / 3. OMS- ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. OPAS – Organização Pan- Americana da Saúde. OMS destaca necessidade urgente de transformar saúde mental e atenção. In: OMS destaca necessidade urgente de transformar saúde mental e atenção. ISBN: 9789240049338. ed. [S. l.]: World Health Organization, 2022. / 4. WHO- WORLD HEALTH ORGANIZATION. Mental Health and COVID-19: Early evidence of the pandemic’s impact – Scientific brief, 2022.Disponível em: WHO/2019-nCoV/Sci_Brief/Mental_health/2022.1 / 5. WHO- WORLD HEALTH ORGANIZATION. World mental health report: transforming mental health for all. / 6. Geneva: World Health Organization; 2022. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.

BENEFÍCIOS DO ÔMEGA 3 NA ACNE

A acne é uma doença inflamatória crônica da unidade pilossebácea de etiologia multifatorial (1). É considerada uma das doenças mais frequentes em adolescentes e adultos jovens, acometendo 85% dos indivíduos entre 12 e 24 anos e comprometendo 9,4% da população mundial (2).

Além dos tradicionalmente descritos, as evidências atuais sobre a patogênese da acne mostram que determinados fatores influenciam o desenvolvimento e a exacerbação das lesões, como genética, estresse e, principalmente, dieta (3).

Dietas contêm altos níveis de ácidos graxos poli-insaturados 6 (PUFAs), que são mediadores essenciais da inflamação e impactam positivamente a acne. Alguns estudos mostram que a ingestão regular de peixe pode reduzir a acne, pois contém altos níveis de ácido n-3 eicosapentaenóico (EPA), que atua como um inibidor competitivo da conversão de ácido araquidônico (AA) em mediadores inflamatórios, como a prostaglandina E2 (PGE2) e leucotrieno B4 (LTB4), reduzindo a inflamação associada à acne (4).

Dois estudos examinaram a gravidade da acne em resposta a suplementação de ômega 3. Em um grupo de 45 pacientes com acne leve a moderada, Jung e cols. (5) observaram redução na contagem de lesões inflamatórias após 5 semanas de 2.000mg/dia de EPA + DHA. Da mesma forma, uma melhora significativa na avaliação subjetiva do paciente foi observada após 5 semanas quando comparado ao controle.

Um estudo de coorte prospectivo precoce de 13 pacientes saudáveis ??do sexo masculino com acne inflamatória não tratada foi realizado por Khayef e cols. (6) usando uma dose semelhante de ômega 3 (930mg de EPA e 720mg de DHA). Embora não tenham encontrado estatísticas com relação a contagem de lesões inflamatórias quando em comparação com a linha de base em 12 semanas, quando os pacientes foram estratificados pela gravidade da acne na linha de base, uma melhora significativa foi encontrada naqueles com acne moderada a grave no início do o estudo, com 7 de 8 pacientes melhorando.

Dietas ricas em ácidos graxos saturados aumentam a expressão do receptor TLR2/IL-1B, promovendo a diferenciação das células TH17 e aumentando a secreção de IL-17A. O aumento de IL-1B e IL-17A pode ser encontrado em todas as lesões de acne. A IL-17A contribui para a hiper proliferação dos queratinócitos e diminui a sua diferenciação. Desta forma precisamos também reduzir a ingestão de gordura saturada em pacientes com acne.

Alguns estudos relataram que a baixa ingestão de vegetais e frutas pode agravar a acne. Em contraste, a dieta mediterrânea – rica em vegetais, frutas, antioxidantes, ácidos graxos insaturados e alimentos com baixo índice glicêmico – tem um efeito protetor contra o desenvolvimento dessa condição (7).

Orientações para pacientes com acne:

– Aumentar a ingestão de alimentos fontes de ômega 3

– Suplementação de ômega 3

– Reduzir a ingestão de gordura saturada

– Aumentar o consumo de frutas e verduras

– Dieta com alimentos anti-inflamatórios

Referências Bibliográficas:

1. Thiboutot D, Dréno B, Abanmi A, Alexis AF, Araviiskaia E, Barona Cabal MA, et al. Practical management of acne for clinicians:an international consensus from the Global Alliance to Improve Outcomes in Acne. J Am Acad Dermatol. 2018;78:S1-S23.e1. / 2. Tan JK, Bhate K. A global perspective on the epidemiology of acne. Br J Dermatol. 2015;172:3-12. / 3. Hazarika N. Acne vulgaris:new evidence in pathogenesis and future modalities of treatment. J Dermatolog Treat. 2021;32:277-85. / 4. Jung JY, Yoon MY, Min SU, Hong JS, Choi YS, Suh DH. The influence of dietary patterns on acne vulgaris in Koreans. Eur J Dermatol. 2010;20:768-72. 5. Jung JY, Kwon HH, Hong JS, et al. Effect of dietary supplementation with omega-3 fatty acid and gamma-linolenic acid on acne vulgaris: a randomised, double-blind, controlled trial. Acta Derm Venereol. 2014;94(5):521-525. doi:10.2340/ 00015555-1802 17./ 6. Khayef G, Young J, Burns-Whitmore B, Spalding T. Effects of fish oil supplementation on inflammatory acne. Lipids Health Dis. 2012;11(1):165. doi:10.1186/1476-511X-11-165 / 7. Skroza N, Tolino E, Semyonov L, Proietti I, Bernardini N, Nicolucci F, et  al. Mediterranean diet and familial dysmetabolism as factors influencing the development of acne. Scand J Public Health. 2012;40:466-74.

Fonte: Vitafor

VEGANISMO E PERFORMANCE NO ENDURANCE

O veganismo tem ganhado cada vez mais atenção no campo da nutrição, sobretudo no âmbito da Nutrição Esportiva. Esse estilo de vida – marcado pela ausência de consumo de alimentos e produtos, alimentícios ou não, com origem e teste em animais – e uma das vertentes, o vegetarianismo, desperta muitas dúvidas comuns, como em relação à possibilidade de o adepto manter uma boa performance na prática de endurance, por exemplo.

De acordo com Nebl et. al (2019) a prevalência de corredores vegetarianos e veganos está aumentando, e isso pode ser positivo para esses atletas, visto que é característica dessas dietas ser à base de carboidratos – os quais contribuem com o fornecimento de energia para a prática de tais atividades. Entretanto, ainda segundo os estudiosos, já é sabido que “vegetarianos e especialmente veganos apresentam níveis de ferritina mais baixos, enquanto que os níveis de hemoglobina e a ocorrência de anemia são quase indistinguíveis dos de onívoros” (NEBL et al., 2019, traduzido pelo autor). O mesmo estudo ainda destaca que “a dieta vegana normalmente tem ingestão reduzida de proteínas, creatina e carnitina, o que poderia impactar negativamente a performance” (NEBL et al., 2019, traduzido pelo autor).

Sendo assim, é evidente que a fonte do problema está no desequilíbrio das dietas – veganas ou não – pois, somente assim, elas podem prejudicar o atleta na prática da atividade física, como o endurance. No caso de dietas veganas desequilibradas, há um risco maior para algumas deficiências, tanto de macronutientes, como as proteínas, quanto de micronutrientes, como vitamina B12, vitamina D, e minerais como ferro, zinco, cálcio e iodo (ROGERSON, 2017), de grande importância para uma boa performance.

Todavia, se houver a distribuição adequada de macro e micronutrientes, atingindo a energia necessária de cada atleta individualmente, há estudos, segundo Rogerson (2017), que defendem que essas dietas podem, inclusive, ser benéficas para a perfomance. Isso ocorreria devido a sua caracerística antioxidante, ao maior consumo de alguns micronutrientes – como vitamina C e E – e também à maior ingestão de carboidratos, o que, além dos efeitos positivos na própria prática da atividade, contribui para uma recuperação mais rápida.

Percebe-se então que com os cuidados adequados quanto ao aporte energético e à presença de macro e de micronutrientes em quantidades específicas e suficientes para cada atleta, é possível que atletas sejam veganos e mantenham alto rendimento, desde que seja estabelecida uma boa estratégia de reposição de aminoácidos, com destaque para os BCAA’s – do inglês, Branched-Chain Amino Acids, ou aminoácidos de cadeia ramificada – e vitamina B12, por exemplo, garantindo uma recuperação adequada.

Referências bibliográficas:

1. COUCEIRO, Patricia et al. Padrão alimentar da dieta vegetariana. Einsten, São Paulo, ano 2008, v. 15, p. 365-373, 17 jul. 2018. Disponível em: http://apps.einstein.br/revista/arquivos/PDF/518-v6n3aRW518portp365-73.pdf. / 2. NEBL, Josefine et al. Exercise capacity of vegan, lacto-ovo-vegetarian and omnivorous recreational runners. Journal of the International Society of Sports Nutrition, v. 16, 20 maio 2019. Disponível em: https://jissn.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12970-019-0289-4. / 3. ROGERSON, David. Vegan diets: practical advice for athletes and exercisers. Journal of the International Society of Sports Nutrition, v. 14, 13 set. 2017. Disponível em: https://jissn.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12970-017-0192-9.

Fonte: Vitafor

SUPLEMENTAÇÃO PROTEÍNAS VEGANAS E PROTEÍNAS DE ORIGEM ANIMAL: EFEITOS NO METABOLISMO PROTEICO

Suplementos proteicos e aminoácidos são considerados, dentro do cenário da nutrição esportiva/estética, os produtos de maior interesse, procura e consumo por atletas e praticantes de atividade física. Independente do objetivo ser a melhora do desempenho esportivo, o aumento de massa muscular ou o emagrecimento, sempre há grande atenção e discussão em torno do consumo proteico diário. Algumas dúvidas quanto a melhor forma de consumo/suplementação como qual a quantidade ideal, o momento mais indicado para consumo, a fonte de proteína mais apropriada e a combinação ou não com demais nutrientes vem evoluindo bem em termos de evidências científicas nos últimos anos (Cintineo et al, 2018; Samal & Samal, 2018). Contudo, com a constante busca por mudanças no estilo de vida da população, um dos assuntos que ganhou repercussão foi acerca do padrão alimentar vegetariano/vegano sobre o metabolismo proteico. Com isso, os suplementos proteicos veganos surgem como alternativa. Porém, resta a dúvida: em termos de metabolismo proteico muscular, vegetarianos/veganos e carnívoros podem apresentar o mesmo resultado?

Se tratando de alimentação, proteínas se resumem a carnes, frango, peixes e ovo. Alimentos de origem vegetal como leguminosas e cogumelos possuem uma carga de proteína em sua composição, porém, não podem ser considerados como fonte de proteína. Por exemplo, 100 g de peito de frango possui aproximadamente 30g de proteína. Para termos o mesmo teor proteico, seria necessário consumir cerca de 1,2kg de shimeji ou 340g de grão de bico. O problema é que 100g de filé de frango não acrescentaria nada ao teor de carboidratos da dieta, enquanto que o shimeji e o grão de bico somariam 20 e 85g de carboidratos, respectivamente, ou seja, 80 e 340kcal a mais no plano dietético. Não podemos esquecer que, para quem tem por objetivo a perda de gordura, essas calorias a mais podem atrapalhar no delineamento da estratégia que preza pelo balanço energético negativo. Em função disso, suplementos proteicos veganos que agreguem valor no quesito proteína sem comprometer a ingestão calórica são considerados de alta aplicabilidade para quem deseja adotar um padrão vegano/vegetariano.

Comparando duas fontes proteicas distintas (whey protein isolado e proteína isolada do arroz), não necessariamente veremos diferença no teor de macronutrientes. Porém, ao olharmos o aminograma dos mesmos, certamente veremos que a proteína de origem vegetal possui menor quantidade de alguns aminoácidos em relação ao whey e vice-versa. A tabela abaixo ilustra a comparação entre os aminogramas destas fontes proteicas. Um dos maiores alvos de crítica sobre as proteínas veganas é a limitação na quantidade de leucina, aminoácido essencial conhecido como “gatilho biológico” para o estímulo da síntese proteica muscular.


De fato, se compararmos o efeito do consumo de 30g de whey protein isolado com 30g de proteína isolada do arroz, veremos que a síntese proteica muscular será superior frente ao consumo do soro do leite. Entretanto, a comparação não é justa uma vez que a composição destas doses é distinta em termos de aminoácidos essenciais. Para solucionar tal deficiência, Joy et al. (2013) propôs a comparação entre 25g de whey protein isolado com 36g de proteína isolada do arroz. Em outras palavras, os autores aumentaram a dose de consumo de proteína vegetal para compensar a deficiência de aminoácidos essenciais. Durante 12 semanas, 24 homens jovens e saudáveis foram submetidos ao treinamento de força progressivo e supervisionado e suplementaram as doses acima descritas no período pós-treino. O painel abaixo ilustra os resultados. Ambas as fontes proteicas promoveram aumento de volume e força muscular sem qualquer diferença entre elas. Em conclusão, é possível equivaler advindos de proteínas veganas aos de origem animal desde que a deficiência de aminoácidos essenciais da primeira seja compensada por meio do aumento da dosagem.

Outros estudos apontam para a alternativa de fortificar a fonte proteica com o aminoácido limitante. Como exemplo, Casperson et al. (2012) avaliou o efeito do consumo de uma dieta enriquecida com leucina (4g por refeição) em idosos que consumiam dieta hipoproteica (deficiente em aminoácidos essenciais). Como resultado, a dieta fortificada com leucina promoveu aumento de síntese proteica muscular e de marcadores pós-traducionais como mTOR e p70S6k.

O fato de optar pela adoção de um padrão alimentar vegetariano/vegano não é sinônimo de deficiências ou ineficiência proteica. Porém, é necessário que alguns pontos sejam considerados na intenção de adequar os fatores limitantes. Em primeiro lugar, considerar o contexto dietético de modo a garantir que, para o objetivo proposto, haja adequação calórica (balanço energético) e de carboidratos e gorduras. Segundo, considerar que alimentos vegetais com teor de proteína também carregam consigo uma concentração de carboidratos. Em terceiro, considerar o uso de suplementos proteicos veganos que, embora sejam deficientes em alguns aminoácidos essenciais, fornecem um bom aporte proteico sem comprometer a ingestão dos demais macronutrientes. Por fim, estudar o aminograma do produto e em função das limitações encontradas considerar a possibilidade de aumentar a dose de consumo ou complementar a suplementação com os aminoácidos essenciais deficientes.

Referências bibliográficas:

Casperson SL, Sheffield-Moore M, Hewlings SJ, Paddon-Jones D. Leucine supplementation chronically improves muscle protein synthesis in older adults consuming the RDA for protein. Clin Nutr. 2012 Aug;31(4):512-9. / Cintineo HP, Arent MA, Antonio J, Arent SM. Effects of Protein Supplementation on Performance and Recovery in Resistance and Endurance Training. Front Nutr. 2018 Sep 11;5:83. / Joy JM, Lowery RP, Wilson JM, Purpura M, De Souza EO, Wilson SM, Kalman DS, Dudeck JE, Jäger R. The effects of 8 weeks of whey or rice protein supplementation on body composition and exercise performance. Nutr J. 2013 Jun 20;12:86. / Samal JRK, Samal IR. Protein Supplements: Pros and Cons. J Diet Suppl. 2018 May 4;15(3):365-371.

Fonte: Vitafor

SUPLEMENTAÇÃO DE LEUCINA E ASSOCIAÇÕES

Leucina é um dos aminoácidos de cadeia ramificada (os outros são isoleucina e valina), e se destaca pela capacidade de promover a síntese proteica via estímulo de PI3k/akt/mTOR (sinalizadores intracelulares) para maior incorporação de aminoácidos nas fibras musculares, assim como estímulo de células satélites para garantir não só hipertrofia, mas hiperplasia e regeneração tecidual. (Nie C 2018).

Alguns trabalhos sugerem a suplementação com leucina como forma de terapia importante para promoção do anabolismo e regeneração do tecido muscular lesado, inclusive com a oferta de outros nutrientes que possam exercer ação sinérgica.

Uma preocupação constante em relação a saúde humana é com a perda de massa muscular associada ao envelhecimento. Trabalhos sugerem que indivíduos que ao envelhecerem conseguem manter ou aumentar a massa muscular, tem maior longevidade e melhor qualidade de vida. (Srikanthan P, 2014).

Trabalho recente publicado por Devries MC et al (2018) em mulheres idosas com média de 69 anos submetidas a exercício resistido na perna, promoveu suplementação com whey protein isolado 25g (sendo 3g de leucina presentes na dose de whey) em um grupo, e no outro grupo, 10g de proteína de leite sendo também com 3g de leucina, por 6 dias. Os resultados demonstraram que a síntese proteica miofibrilar foi maior no grupo que tomou 3g de leucina com apenas 10g de proteína do leite, concluindo que o mais importante para evitar a perda de massa muscular e garantir o anabolismo não é o total proteico, mas a oferta dos aminoácidos essenciais e não essenciais e a dose de leucina presente.

Alguns estudos recentes têm reforçado o conceito da suplementação de whey protein associado a uma dose maior de leucina para garantir a síntese proteica e evitar a sarcopenia em idosos praticantes de atividade física. Os autores tem indicado doses de 3 a 5g de leucina. (Kramer et al, 2017; Chanet A et al, 2017).

Pessoas que podem se beneficiar com a suplementação de leucina são pacientes em uso de crônico de corticoides, como os asmáticos, portadores de doenças autoimunes, alérgicos e algumas formas de câncer (ex, leucemias), já que estes são medicamentos capazes de inibir a síntese proteica. A leucina pode evitar a proteólise e a sarcopenia por bloquear a AMPK (adenosina monofosfato kinase) e estimular o mTOR. (figura 1) (Wang XJ et al, 2016).

Figura 1

Modelo proposto dos glicocorticoides (GCs) e ação da leucina na síntese proteica em mioblastos C2C12 (? estimulatório; ? inibitório) (Wang XJ et al, 2016)

Uma associação interessante de ser feita na prática clínica é a suplementação de leucina com glutamina, conforme descrito por Waldron M et al (2018). Os autores testaram a leucina na dose de 0,087g/Kg associado com 0,3g/kg de glutamina, e observaram redução significativa da Creatina Kinase e da dor muscular tardia (DOMS) em relação ao grupo que usou apenas maltodextrina (controle), após exercício excêntrico.

Uma outra possibilidade de utilização da leucina é em dietas cetogênicas visando tratamento de epilepsia ou mesmo perda de gordura corporal para garantir a massa magra. Leucina é um aminoácido cetogênico, porém sua utilização requer cuidado pois sua capacidade de liberação de insulina poderia atrapalhar a cetose fisiológica do jejum ou mesmo induzida pelo consumo de triglicerídeos de cadeia média (TCM). Harvey C et al (2018) descreve em sua revisão que dosagens de até 9g de leucina induzem a cetose, mesmo reduzindo a proporção gordura para proteína de 4:1 para 2,5:1.

Portanto, conclui-se que a suplementação de leucina tem suas indicações para prevenção do catabolismo muscular, especialmente em situações clínicas descritas no texto, devendo ser bastante valorizada para o público idoso, bem como fazer suplementação associada a TCM (pré-treino) ou glutamina, ou mesmo com Whey Protein visando um ganho extra ao anabolismo e a síntese miofibrilar.

Referências Bibliográficas:

Chanet A, Verlaan S, Salles J, et al. Supplementing Breakfast with a Vitamin D and Leucine-Enriched Whey Protein Medical Nutrition Drink Enhances Postprandial Muscle Protein Synthesis and Muscle Mass in Healthy Older Men. J Nutr. 2017 Dec;147(12):2262-2271. / Devries MC, McGlory C, Bolster DR, et al. Leucine, Not Total Protein, Content of a Supplement Is the Primary Determinant of Muscle Protein Anabolic Responses in Healthy Older Women. J Nutr. 2018 Jul 1;148(7):1088-1095. / Harvey CJDC, Schofield GM, Williden M. The use of nutritional supplements to induce ketosis and reduce symptoms associated with keto-induction: a narrative review. PeerJ. 2018 Mar 16;6:e4488. / Kramer IF, Verdijk LB, Hamer HM, et al. Both basal and post-prandial muscle protein synthesis rates, following the ingestion of a leucine-enriched whey protein supplement, are not impaired in sarcopenic older males. Clin Nutr. 2017 Oct;36(5):1440-1449. / Nie C, He T, Zhang W, et al. Branched Chain Amino Acids: Beyond Nutrition Metabolism. Int J Mol Sci. 2018 Mar 23;19(4). / Srikanthan P, Karlamangla AS. Muscle mass index as a predictor of longevity in older adults. Am J Med. 2014 Jun;127(6):547-53. / Wang XJ, Yang X, Wang RX et al. Leucine alleviates dexamethasone-induced suppression of muscle protein synthesis via synergy involvement of mTOR and AMPK pathways. Biosci Rep. 2016 Jun 17;36(3). / Waldron M, Ralph C, Jeffries O, et al. The effects of acute leucine or leucine-glutamine co-ingestion on recovery from eccentrically biased exercise. Amino Acids. 2018 May 16. doi: 10.1007/s00726-018-2565-z. [Epub ahead of print].

Fonte: Vitafor

CARBOIDRATO PRÉ-EXERCÍCIO: EVITAR OU CONSUMIR?

Atletas raramente participam de competições (performance) no estado pós-absortivo (jejum) por conta do comprometimento sobre os estoques de energia, essenciais para otimização e manutenção da tarefa esportiva. Os estudos publicados nas últimas décadas indicam que as intervenções nutricionais mais benéficas para performance são aquelas que aumentam ou preservam os estoques de carboidratos, nas formas de glicogênio muscular e hepático. Em outras palavras, consumir carboidratos horas antes de um evento esportivo competitivo é uma das condutas capaz de maximizar os estoques de glicogênio e modular sua utilização durante o exercício.

Em termos gerais, o consumo de carboidratos resulta em aumento da glicemia que, por sua vez, resulta em liberação de insulina pelo pâncreas e bloqueio captação de glicose hepática (Marmy-Conus & Fabris, 1996; DeFronzo et al, 1983). A insulina age como um “gatilho biológico” no tecido muscular que resulta na translocação de GLUT4 e consequente captação e oxidação de glicose (Costill et al, 1977; Coyle et al, 1997; Febbraio et al, 1996). Simultaneamente, a insulina pode reduzir a oxidação de gordura e a disponibilidade de ácidos graxos circulantes (Horowitz et al, 1997). Entretanto, o aumento da captação de oxidação de glicose diminui a oxidação lipídica mesmo na presença de altas concentrações intracelulares de ácidos graxos livres (Coyle et al, 1997). Possivelmente, isto ocorre por conta da diminuição do transporte de ácidos graxos para a mitocôndria (McGarry et al, 1977).

Os efeitos da ingestão de carboidratos antes do exercício sobre o desempenho esportivo foram estudados pela primeira vez por Foster et al. (1979). Os autores observaram redução da capacidade aeróbia (ciclismo a 80% do VO2 máximo até a exaustão) na comparação entre carboidratos e água. Este artigo tornou-se a base de uma recomendação que duraria muitos anos: “evitar carboidratos 1 hora antes do exercício”. Alguns anos depois, Koivisto et al. (1981) publicaram um estudo reforçando a mensagem de que o consumo de carboidratos deveria ser evitado 1 hora antes do exercício. Nesta última publicação, concluiu-se que a ingestão de glicose 45 minutos antes do exercício resultou em hiperglicemia e hiperinsulinemia no início do exercício, seguido pelo quadro de hipoglicemia durante o exercício. Foi sugerido que esses efeitos poderiam ser evitados com o uso de um carboidrato de baixo índice glicêmico (IG). Nos anos seguintes, muita atenção foi dada a esse fenômeno que ficou conhecido como “hipoglicemia reativa” ou “hipoglicemia de rebote”. Em termos gerais, assumiu-se que a ingestão de carboidratos antes do exercício poderia causar hipoglicemia, supressão do metabolismo lipídico, degradação do glicogênio e, portanto, redução de desempenho esportivo.

Após estes estudos iniciais das décadas de 1970-80, diversos estudos investigaram os efeitos da ingestão de carboidratos antes do exercício sobre o metabolismo e desempenho esportivo. Os resultados de todos esses estudos são variados, fato que muito provavelmente se atribui aos diferentes tipos de carboidratos utilizados, protocolos de exercício, intensidade de treinamento variada, amostra (treinados vs. não treinados) e diferentes protocolos de consumo. Como todos esses fatores podem afetar os resultados, torna-se muito difícil comparar os achados e determinar a causalidade exata dos diferentes efeitos.

Com o intuito de esclarecer esses resultados, foi realizada uma sequência de estudos com o objetivo de investigar os efeitos do consumo de carboidratos antes do exercício (Jentjens & Jeukendrup, 2003; Moseley et al, 2003; Jentjens et al, 2003; Jentjens & Jeukendrup, 2002; Achten & Jeukendrup, 2003). Todos os estudos tinham um desenho semelhante e apenas 1 variável sendo alterada de cada vez (por exemplo, o tempo de ingestão ou tipo de carboidrato). Cada estudo tinha uma condição de controle na qual 75 g de glicose foi ingerida 45 minutos antes do exercício. O protocolo de exercício era constituído de 20 min em estado estacionário a 70% do VO2 máximo seguido de um teste de desempenho contrarrelógio com duração de aproximadamente 40 minutos. Todos os voluntários eram treinados. A conclusão geral desses estudos foi que, embora em alguns casos a hipoglicemia tenha se desenvolvido, não houve relação entre baixas concentrações de glicose sanguínea com queda de desempenho esportivo.

Portanto, com base nas evidências disponíveis, parece não haver razão para não consumir carboidrato antes do exercício, pois não há qualquer efeito deletério sobre o desempenho esportivo. Indivíduos propensos a desenvolver hipoglicemia reativa e/ou sintomas frequentemente associados a ela podem encontrar soluções para evitá-la no ajuste dietético e na suplementação intra-treino. Além disso, fica claro que em se tratando de carboidratos e desempenho esportivo, o glicogênio muscular é muito mais determinante que a refeição pré-treino. Em outras palavras, é mais recomendando garantir a reserva de energia do que esperar o momento antes do exercício.

Referências Bibliográficas:

Achten J, Jeukendrup AE: Effects of pre-exercise ingestion of carbohydrate on glycaemic and insulinaemic responses during subsequent exercise at differing intensities. Eur J Appl Physiol 2003;88:466–471. / Costill DL, Coyle E, Dalsky G, Evans W, Fink W, Hoopes D. Effects of elevated plasma FFA and insulin on muscle glycogen usage during exercise. J Appl Physiol 1977;43:695–699. / Coyle EF, Jeukendrup AE, Wagenmakers A, Saris W. Fatty acid oxidation is directly regulated by carbohydrate metabolism during exercise. Am J Physiol Endocrinol Metab 1997;273;E268–E275. / DeFronzo RA, Ferrannini E, Hendler R, Felig P, Wahren J. Regulation of splanchnic and peripheral glucose uptake by insulin and hyperglycemia in man. Diabetes 1983;32:35–45. / Febbraio, M.; Stewart, K. CHO feeding before prolonged exercise: Effect of glycemic index on muscle glycogenolysis and exercise performance. J Appl Physiol 1996;81:1115–1120. / Foster C, Costill DL, Fink WJ: Effects of preexercise feedings on endurance performance. Med Sci Sports 1979;11:1–5. / Horowitz JF, Mora-Rodriguez R, Byerley LO, Coyle EF. Lipolytic suppression following carbohydrate ingestion limits fat oxidation during exercise. Am J Physiol 1997;273:E768–E775. / Jentjens RL, Jeukendrup AE: Prevalence of hypoglycemia following pre-exercise carbohydrate ingestion is not accompanied by higher insulin sensitivity. Int J Sport Nutr Exerc Metab 2002;12:398–413. / Jentjens RL, Jeukendrup AE: Effects of preexercise ingestion of trehalose, galactose and glucose on subsequent metabolism and cycling performance. Eur J Appl Physiol 2003;88:459–465. / Jentjens RLPG, Cale C, Gutch C, Jeukendrup AE: Effects of pre-exercise ingestion of differing amounts of carbohydrate on subsequent metabolism and cycling performance. Eur J Appl Physiol 2003;88:444–452. / Koivisto VA, Karonen SL, Nikkila EA: Carbohydrate ingestion before exercise: comparison of glucose, fructose, and sweet placebo. J Appl Physiol 1981;51:783–787. / Marmy-Conus N, Fabris S. Preexercise glucose ingestion and glucose kinetics during exercise. J Appl Physiol 1996; 81:853–857. / McGarry JD, Mannaerts GP, Foster DW. A possible role for malonyl-CoA in the regulation of hepatic fatty acid oxidation and ketogenesis. J Clin Invest. 1977 Jul;60(1):265-70. / Moseley L, Lancaster GI, Jeukendrup AE: Effects of timing of pre-exercise ingestion of carbohydrate on subsequent metabolism and cycling performance. Eur J Appl Physiol 2003;88:453–458.

Fonte: Vitafor

APLICABILIDADES NA SUPLEMENTAÇÃO DE ARGININA E ASSOCIAÇÕES

Arginina é um aminoácido condicionalmente essencial, ou seja, o corpo é capaz de produzir, mas em determinados pacientes, conforme a necessidade metabólica, é preciso oferecer fonte exógena deste nutriente para suprir a demanda. O consumo estimado de arginina é da ordem de 3g a 6g/dia. (Shao A et al, 2008).

Em termos bioquímicos, a função mais conhecida da arginina é sua capacidade em ser convertida em Óxido Nítrico, um gás produzido nas células endoteliais responsável pela vasodilatação e toda saúde vascular. Entretanto, arginina é necessária para síntese de colágeno (via prolina), creatina, agmatina, poliaminas, manutenção do ciclo da uréia e liberação de hormônios (figura 1). Estudos apresentados na última década relatam ações da arginina nas áreas imunológica, gastrointestinal, estética, reprodutiva, gestacional e endocrinológica.

Figura 1

Funções metabólicas da arginina
Fonte: Holecek M, 2016

Em relação à produção de óxido nítrico e capacidade vasodilatadora, Chen J (1999) testou a suplementação diária de 5g de arginina em homens com disfunção erétil, por 6 semanas, e demonstrou melhora da função sexual.

Outra propriedade importante da arginina via produção de óxido nítrico, é sua capacidade de promover biogênese mitocondrial, reduzindo cansaço e fadiga nos pacientes, bem como ajudando na oxidação de gordura e redução do peso corporal. Além disso, o óxido nítrico é um potente agente estimulante da fosforilação da enzima Adenosina Monofosfato Kinase (AMPK), que induz a translocação de GLUT4, ajudando a reduzir a glicemia de pacientes diabéticos, como também melhorando a sensibilidade a insulina. (figura 2) (Ueda K, 2017; Hu S, 2017).

Figura 2

Modulação do metabolismo da glicose e dos lipídios a partir da arginina
Fonte: Hu S et al, 2017

Arginina é um aminoácido que pode ser prescrito via suplementação também no período gestacional pois está associado a melhora do desenvolvimento e crescimento intrauterino do feto. (Tenório MB et al, 2018) Neste aspecto poder-se-ia indicar a sua suplementação associada a taurina (doses de 3g a 6g tanto de arginina quanto de taurina), já que esta também é bastante efetiva na prevenção do diabetes gestacional e pre-eclampsia, assim como no estimulo ao crescimento intrauterino do feto. (Thaeomor A, wang Y, Roysommuti S, Barker RG) Além disso, o sinergismo destes dois aminoácidos já foi testado em ratos e demonstrado sua eficácia quanto a redução da resistência a insulina, da glicemia e da pressão arterial após 4 semanas ( Feng Y 2013), como também da melhora da massa óssea. (Choi MJ et al 2013).

Um achado importante da arginina é sua capacidade de promover reconstrução e cicatrização de tecido, seja para feridas, escaras, pacientes queimados, pós-radioterapia ou mesmo para reduzir permeabilidade intestinal, além da melhora da imunidade intestinal (Naderpour M, 2008; Pinto FC, 2016; Kong S, 2018). Estudo realizado em camundongos demonstrou que a suplementação de arginina foi capaz de prevenir o aumento da permeabilidade intestinal e da translocação bacteriana nos animais submetidos ao exercício físico sob estresse térmico ambiental. (Costa KA et al, 2014).

Visto que alguns trabalhos mostram a capacidade da arginina em promover cicatrização e ter ação analgésica, seu uso pode ser indicado para praticantes de atividade física possivelmente associado a glutamina e taurina, visando recuperação da permeabilidade intestinal e recuperação da dor pós treino, melhora da distribuição de oxigênio e nutrientes pela vasodilatação, até a melhora da glicemia, pressão arterial e redução de peso.

Neste aspecto, o profissional prescritor pode fazer uso da suplementação para alcançar os objetivos traçados com seu cliente, com doses entre 3g a 6g/dia, com ação ainda mais efetiva quando associada a suplementação de taurina e glutamina, especialmente em pacientes gestantes, obesos, hipertensos, diabéticos, atletas, em risco de osteoporose, com disfunção erétil, apresentando cansaço crônico, imunodeprimidos e hiperalgésicos.

Referências Bibliográficas:

Barker RG, Horvath D, van  der Poel C Benefits of Prenatal Taurine Supplementation in Preventing the Onset of Acute Damage in the Mdx Mouse. PLoS Curr. 2017 Sep 22;9. / Chen J, Wollman Y, Chernichovsky T et al Effect of oral administration of high-dose nitric oxide donor L-arginine in men with organic erectile dysfunction: results of a double-blind, randomized, placebo-controlled study. BJU Int. 1999 Feb;83(3):269-73. / Choi MJ, Chang KJ Effect of dietary taurine and arginine supplementation on bone mineral density in growing female rats. Adv Exp Med Biol. 2013;776:335-45. / Costa KA, Soares AD, Wanner SP et al. L-arginine supplementation prevents increases in intestinal permeability and bacterial translocation in male Swiss mice subjected to physical exercise under environmental heat stress. J Nutr. 2014 Feb;144(2):218-23. / Feng Y, Li J, Yang J et al Synergistic effects of taurine and L-arginine on attenuating insulin resistance hypertension. Adv Exp Med Biol. 2013;775:427-35. / Holecek M, Sispera L. Effects of Arginine Supplementation on Amino Acid Profiles in Blood and Tissues in Fed and Overnight-Fasted Rats. Nutrients. 2016 Apr 8;8(4):206. / Hu S, Han M, Rezaei A et al L-Arginine Modulates Glucose and Lipid Metabolism in Obesity and Diabetes. Curr Protein Pept Sci. 2017;18(6):599-608. / Kong S, Zhang YH, Zhang W. Regulation of Intestinal Epithelial Cells Properties and Functions by Amino Acids. Biomed Res Int. 2018 May 9;2018:2819154. / Naderpour M, Rad JS, Ayat E, et al. Dietary L-arginine and cutaneous wound healing. Ital J Anat Embryol. 2008 Jul-Sep;113(3):135-42. / Pinto FC, Campos-Silva P, Souza DB et al. Nutritional supplementation with arginine protects radiation-induced effects. An experimental study. Acta Cir Bras. 2016 Oct;31(10):650-654. / Roysommuti S, Wyss JM. Perinatal taurine exposure affects adult arterial pressure control. Amino Acids. 2014 Jan;46(1):57-72. / Shao A, Hathcock JN. Risk assessment for the amino acids taurine, L-glutamine and L-arginine. Regul Toxicol Pharmacol. 2008 Apr;50(3):376-99. / Tenório MB, Ferreira RC, Moura FA et al Oral antioxidant therapy for prevention and treatment of preeclampsia: Meta-analysis of randomized controlled trials. Nutr Metab Cardiovasc Dis. 2018 Sep;28(9):865-876. / Thaeomor A, Teangphuck P, Chaisakul J et al. / Perinatal Taurine Supplementation Prevents Metabolic and Cardiovascular Effects of Maternal Diabetes in Adult Rat Offspring. Adv Exp Med Biol. 2017;975:295-305. / Ueda K, Sanbongi C, Takai S. Combination of aerobic exercise and an arginine, alanine, and phenylalanine mixture increases fat mobilization and ketone body synthesis. Biosci Biotechnol Biochem. 2017 Jul;81(7):1417-1424. / Wang Y, Li XW, Liu J, Fu W. Antenatal taurine supplementation in fetal rats with growth restriction improves neural stem cell proliferation by inhibiting the activities of Rho family factors. J Matern Fetal Neonatal Med. 2018 Jun;31(11):1454-1461.

Fonte: Vitafor