Guia nutricional prático e atualizado para ITU de repetição

Dor de barriga: quais as causas e como combatê-la?

As infecções urinárias do trato urinário (ITUs) é uma das mais comuns infecções bacterianas em mulheres, sendo uma doença recorrente neste público, o que afeta de forma expressiva a qualidade de vida, além de ser uma das principais causa par auso de antibióticos.

Por que é mais frequentes nas mulheres?

A literatura científica aponta que cerca de 20 a 30% das mulheres terão ITU de repetição, as quais são definidas como 2 ou mais episódios nos últimos 6 meses ou 3 ou mais episódios nos últimos 12 meses. A chance de ocorrer no público feminino é o dobro do que no masculino, sendo que essa prevalência aumenta com a idade. Esse fato relaciona-se principalmente em razão da anatomia do trato urinário das mulheres, que possuem a uretra mais curta e, também, pelo fato dos homens terem um maior fluxo urinário e a presença do fator antimicrobiano prostático.

Além da anatomia, a microbiota vaginal desempenha um papel importante na patogênese das ITUs. O passo inicial na patogênese da ITU é a colonização do introito vaginal e periuretra com os uropatógenos infectantes, seguida pela ascensão dos uropatógenos através da uretra até a bexiga e, às vezes, até os rins, para causar infecção.

Assim, a compreensão dos fatores que afetam a microbiota da vagina é a chave para compreender a patogênese da ITU e projetar intervenções para prevenir as ITUs. A presença de disbiose vaginal, causada, por exemplo, pela redução dos níveis de estrogênio, tratamentos com antibióticos e, potencialmente, o uso de produtos com espermicida, pode levar à redução do gênero Lactobacillus, o qual gera proteção ao ambiente vaginal, pode aumentar a chance do desenvolvimento de ITU (STAPLETON, 2016).

O papel da nutrição nas ITUs de repetição

Pensando no impacto do bem-estar feminino que esta desordem causa, principalmente devido ao uso frequente de antibióticos, é necessário pensar em estratégias alternativas e até mesmo preventivas das ITUs de repetição, como a prescrição de suplementos nutricionais!

Cranberry + própolis
Diversos estudos já demonstraram os benefícios da suplementação com cranberry (Vaccinium macrocarpon) na prevenção de ITUs. Isso provavelmente devido à ação das proantocianidinas presentes nesta fruta, que parecem inibir a adesão da E. coli ao epitélio do trato urinário, assim, dificultando a sua colonização e, consequentemente, a infecção. Porém, recentemente, a literatura científica vem apontando a eficácia da suplementação combinada entre o cranberry e a própolis, em que este composto parece intensificar os benefícios do cranberry (RANFAING et al., 2018). Bruyère et al. (2019), em um estudo multicêntrico, randomizado e controlado por placebo, avaliaram os efeitos da suplementação combinada entre própolis e cranberry em mulheres com ITU recorrente. O grupo de intervenção contou com 42 mulheres; e o placebo, 43, sendo a idade média 53 anos e uma média de 6 episódios de cistite ao ano. O grupo de intervenção teve número significantemente menor de ITU recorrente e número médio de infecções foi menor no grupo própolis + cranberry, além do tempo médio para o início da primeira ITU também ter sido significativamente maior no grupo própolis + cranberry.

Probióticos
Das (2020) reúne evidências de que a suplementação com probióticos na prevenção de ITU de repetição, como Lactobacillus rhamnosus GR-1, Lactobacillus fermentum RC-14 ou mix de probióticos (L. rhamnosus, B. lactis e B. longum) é uma estratégia eficaz para reduzir a frequência de ITU. Além disso, o consumo de produtos lácteos fermentados contendo bactérias probióticas também é capaz de reduzir a recorrência de ITU.

Ácido hialurônico + condroitina
Para manter o epitélio da bexiga íntegro, de forma a conservar sua capacidade de combater infecções, essas células produzem glicosaminoglicano polissacarídeo sulfatado (GAG), que recobre o epitélio e forma um fator de antiaderência não específico e é formado majoritariamente por ácido hialurônico e sulfato de condroitina. Alguns fatores secretados por E. coli e outros patógenos são capazes de danificar a camada de GAG para preparar sua adesão e potencialmente, a suplementação combinada desses dois nutracêuticos, associada com cúrcuma e quercetina, é capaz de auxiliar na prevenção de ITUs de repetição.

Fonte: E4 Nutrition

REFERÊNCIAS

GUGLIETTA, A. Recurrent Urinary Tract Infections in Women: Risk Factors, Etiology, Pathogenesis and Prophylaxis. Future Micobiology, v. 12, p. 239-246, 2017.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA. Notícias. https://sbn.org.br/verao-aumento-dos-casos-de-infeccao-urinaria/

FLORES-MIRELES A.L.,et al. Urinary tract infections: epidemiology, mechanisms of infection and treatment options. Nat Rev Microbiol. v.13, n.5, p.269–284, 2015.

STAPLETON, A.E. The Vaginal Microbiota and Urinary Tract Infection. Microbiol Spectr., v.4, n.6, p.10, 2016.

DAS, S. Natural therapeutics for urinary tract infections-a review. Futur J Pharm Sci, v.6, n.1, p.64, 2020.

LOUBET, P. et al. Alternative Therapeutic Options to Antibiotics for the Treatment of Urinary Tract Infections. Front Microbiol, v.11, p.1509, 2020.

FU, Z. et al. Cranberry Reduces the Risk of Urinary Tract Infection Recurrence in Otherwise Healthy Women: A Systematic Review and Meta-Analysis. The Journal of Nutrition, v.147, v.12, p.2282-228, 2017.

BRUYÈRE, F. et al. A Multicenter, Randomized, Placebo-Controlled Study Evaluating the Efficacy of a Combination of Propolis and Cranberry (Vaccinium macrocarpon) (DUAB®) in Preventing Low Urinary Tract Infection Recurrence in Women Complaining of Recurrent Cystitis. PLoS One. v.13, n.8, 2018.

RANFAING, J. et al. Propolis potentiates the effect of cranberry (Vaccinium macrocarpon) against the virulence of uropathogenic Escherichia coli. Sci Rep., v.8, p.10706, 2018.

SCHIAVI, M. C. et al. Orally Administered Combination of Hyaluronic Acid, Chondroitin Sulfate, Curcumin, and Quercetin in the Prevention of Postcoital Recurrent Urinary Tract Infections: Analysis of 98 Women in Reproductive Age After 6 Months of Treatment. Female Pelvic Med Reconstr Surg., v.25, n.4, p.309-312, 2019.

TORELLA, M. et al. Efficacy of an orally administered combination of hyaluronic acid, chondroitin sulfate, curcumin and quercetin for the prevention of recurrent urinary tract infections in postmenopausal women. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol, v.207, p.125-128, 2016.

SELETIVIDADE ALIMENTAR: O QUE É E COMO TRATAR

Seletividade alimentar na criança – Como lidar? – Clínicas Integradas

A diversidade alimentar é uma das principais fonte de saúde. É o ponto inicial para que, em conjunto com a atividade física, o sono de qualidade e a gestão do estresse, consigamos nos desenvolver e nos manter saudáveis. Por isso, devemos sempre buscar uma dieta variada e equilibrada.

Por outro lado, quando rejeitamos diversos tipos de alimentos, podemos privar nosso organismo de categorias de nutrientes importantes. É o caso de pessoas que “não comem frutos do mar” ou rejeitam qualquer tipo de “salada”. Esta prática é denominada seletividade alimentar.

Nesses casos, para ampliar nossa dieta é preciso vencer barreiras e restrições, muitas vezes iniciadas na infância. Saiba neste texto mais sobre a seletividade alimentar e como é feito o tratamento para superar essas barreiras.

O que é seletividade alimentar

A seletividade alimentar é atualmente classificada como Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE). Mais do que apenas ser um comedor exigente, a pessoa com seletividade alimentar costuma ter aversão sensorial a certos sabores, texturas ou cores, chegando a desenvolver fobia de determinados alimentos. Como resultado, se alimentam com uma dieta muito restrita, afetando principalmente a ingestão de micronutrientes, como vitaminas e minerais.

Seletividade é diferente de alergia alimentar

É importante ressaltar que o desenvolvimento de reações alérgicas a alimentos como frutos do mar, por exemplo, não se enquadra como Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo. Nesse caso, e também quando há rejeição a alimentos com glúten e lactose, por exemplo, trata-se de uma reação anormal do sistema imunológico, que, no intestino, confunde esses alimentos com ameaças ao organismo.

Características das pessoas com seletividade alimentar

Os transtornos alimentares seletivos podem afetar adultos e crianças, que apresentam sintomas psicológicos como ansiedade e depressão, bem como convívio social prejudicado. Além disso, há outras características em comum:

  • Comer apenas alimentos que são vistos como seguros ou aceitáveis, evitando alimentos com um sabor, textura ou cor particular;
  • Normalmente a escolha é sempre pelos mesmos alimentos;
  • Sentir aversão a grupos alimentares inteiros, como frutas, vegetais ou leguminosas;
  • Ficar angustiado quando é encorajado a experimentar alimentos diferentes, seja por causa de uma fobia ou medo de engasgar ou vomitar;
  • Apresentar náusea e vômito ao se deparar com a necessidade de comer novos alimentos;
  • As crianças fecham a boca para evitar de qualquer maneira a ingestão de um alimento diferente.

É importante destacar que a maioria das pessoas com seletividade alimentar não tem problemas de peso e geralmente está dentro da faixa normal de índice de massa corporal (IMC). Também é comum que não apresentem carência de macronutrientes, sofrendo, no entanto, de falta de micronutrientes.

Possíveis causas da seletividade alimentar

Os estudos indicam que, na maioria das vezes, o transtorno alimentar seletivo tem início na infância. Confira alguns pontos importantes no processo de formação do paladar da criança:

  • amamentação é um facilitador para aceitação de novos alimentos, já que as variações na dieta da mãe se refletem nas características sensoriais do leite materno. Assim, quanto mais variada a dieta da mãe, mais variado tende a ser o paladar da criança;
  • Por outro lado, é recomendado que não se atrase na introdução gradual de alimentos sólidos na dieta do bebê. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, este processo deve ter início aos 7 meses. Nesse período é ainda mais importante alternar as formas de preparação e textura dos alimentos oferecidos;
  • maneira de oferecer alimentos também deve ser variada, como alternar entre dar comida na boca ou deixar comer sozinho, assim como oferecer os alimentos em diferentes locais da casa;
  • A família e os cuidadores devem prezar pelo ambiente onde a criança de alimenta. Se um ambiente é agradável e novos alimentos são oferecidos sem coação, a criança fica muito mais disposta a desenvolver preferência por eles.

Transtorno alimentar em pessoas com autismo

A maioria das pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo apresenta também diagnóstico de Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo. Isso porque os diferentes cores, cheiros e sabores dos alimentos podem tirá-las de suas zonas de conforto. Como esses pacientes apresentam comportamentos restritivos, seletivos e ritualísticos, essas variações tendem a resultar em desinteresse e recusa para determinados alimentos.

Como tratar a seletividade alimentar

A confirmação do diagnóstico de transtorno alimentar deve ser feita por um nutricionista ou médico, com base em exames e na história clínica dos sintomas. Esse profissional poderá verificar a presença de outros problemas que possam levar à rejeição da alimentação, como alergia, dificuldades para mastigar e deglutir ou problemas gastrointestinais.

Por ser um distúrbio de classificação relativamente recente (2017), ainda não existe um protocolo estabelecido para tratamento do Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo. O que vem sendo praticado é uma abordagem multidisciplinar, com participação de nutricionista, psiquiatra ou psicólogo e clínico geral ou pediatra. Neste contexto, algumas práticas vêm demonstrando bons resultados.

O ponto de partida do tratamento do transtorno alimentar está na aceitação do diagnóstico pelo paciente, que toma consciência dos efeitos da seletividade alimentar para a saúde do seu organismo e para suas relações sociais. Neste momento também é importante que os pais ou companheiros do paciente tomem consciência e se engajem ativamente no tratamento.

Tendo em mente que este é um tratamento de avanço lento, o profissional pode sugerir e acompanhar algumas ações:

  • Todos devem prezar por um bom ambiente de refeições, seguindo conceitos como o mindful eating, que descarta o uso de eletrônicos à mesa e defende uma ligação maior com a comida. Devem ser evitadas discussões ou cobranças no momento da alimentação, deixando o paciente livre para escolher e quantificar o que vai comer;
  • Combinar com o paciente a introdução pontual de cada novo alimento ou forma de preparo, ressaltando as semelhanças com alimentos aceitos e sua importância para a saúde. A dieta do paciente deve ser a mesma dos outros moradores da casa; 
  • Administrar a ansiedade por resultados por parte do paciente e de seus pais ou companheiros, evitando que a cobrança por avanços venha a prejudicar o engajamento e a própria continuidade do tratamento;
  • Monitorar a carência de micronutrientes e, quando houver necessidade, receitar suplementos alimentares que supram essas necessidades.

Fonte: Essential Nutrition