CREATINA NO ATLETA VEGETARIANO

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A creatina é uma amina sintetizada no fígado e rins a partir dos aminoácidos arginina, glicina e metionina, pela ação da enzima l-arginina-glicina-amidinotransferase (AGAT). Sua principal e mais estudada função acontece na participação do processo de contração muscular. Atualmente a creatina é uma das principais substâncias usadas no esporte com finalidade ergogênica agindo como doador de fosfato para ressíntese da molécula ATP (Lemos Pinto, 2015) (Blancquaert L, et al, 2018) (McArdle. Et al. 2016).

Síntese e ressíntese de ATP – Sistema ATP-CP

Cerca de 95% do total de creatina existente no organismo humano, está localizada no músculo esquelético e, dentre as fontes alimentares, as carnes (carne vermelha, frango e peixe) são as únicas ricas em creatina (Gualano, 2008). Entretanto, vale a reflexão de que alimentação destes animais é de origem vegetal e garante bons níveis de creatina em seus tecidos, o que nos permite considerar as fontes alimentares de origem vegetal (Blancquaert L, et al, 2018).

Neste contexto, um estudo recente comparou o comportamento metabólico pré e pós treino de 3 grupos de corredores: vegetarianos estritos, ovolacto-vegetarianos e onívoros. Houve aumento de 10 e 12% no nível de guanadinoacetato plasmático nos dois grupos vegetarianos (ovolacto e estritos, respectivamente) ao passo que a amostra onívora apresentou redução de 13% (Nebl, et al 2019). O guanidinoacetato, molécula oriunda da reação entre L-arginina e L-glicina, catalisada pela enzima AGAT, é precursor direto de creatina e predominantemente localizado nos rins e fígado. Apesar do resultado não ter sido estatisticamente significante, os autores destacam a tendência ao aumento da concentração muscular da enzima AGAT nos vegetarianos (Nebl, et al 2019).

É unanime na literatura que os níveis de creatina intramuscular são diretamente proporcionais à demanda de intensidade a que o músculo é exposto, consequência da adaptação fisiológica gerada pelo exercício, principalmente no treino de força. Dessa forma o estímulo ambiental aliado ao consumo via alimento ou suplemento, compõe a mais eficiente estratégia para aumento e manutenção da creatina intramuscular (Rogerson D. 2017). Porém, a diferença no comportamento metabólico pós exercício indica que, possivelmente, o padrão dietético pode oferecer aos não consumidores de creatina uma ressíntese mais rápida quando comparados com organismos que recebem creatina via exógena onde priorizam a ressíntese nos rins e fígado (Nebl, et al 2019).

Conclui-se que o efeito ergogênico da suplementação de creatina em vegetarianos pode ser mais relevante que em onívoros, entretanto recente estudo mostra uma tendência na adaptação funcional, sugerindo ser tão eficiente quanto a suplementação de precursores arginina, glicina e metionina para aumento de creatina, uma vez que a atividade da AGAT intramuscular é maior na população vegetariana. Mais estudos são necessários para confirmar o indicio levantado pelo estudo de que a ressíntese intramuscular de creatina no pós treino é mais rápida nos indivíduos vegetarianos do que em onívoros.

Referências bibliográficas:

BLANCQUAERT L, BAGUET A, BEX T, VOLKAERT A, EVERAERT I, DELANGHE J, PETROVIC M, VERVAET C, DE HENAUW S, CONSTANTIN-TEODOSIU D, GREENHAFF P, DERAVE W. Changing to a vegetarian diet reduces the body creatine pool in omnivorous women, but appears not to affect carnitine and carnosine homeostasis: a randomised trial.  Br J Nutr. 2018. / GUALANO, B,; UGRINOWITSCH, C.; SEGURO, A.C.; JUNIOR, A.H.L. A suplementação de creatina prejudica a função renal Rev Bras Med Esporte – Vol. 14, No 1 – Jan/Fev, 2008. / LEMOS PINTO. Efeito de suplementação de creatina associada a um programa de treinamento físico resistido sobre massa magra, força e massa óssea em idosos, 11-23 p. 2015. Tese (Mestre em Nutrição e Saúde) – Universidade Federal de Goias, Goiânia. / McArdle, Katch F., Katch V. Fisiologia do execício e nutrição, exercício e desempenho humano . 8ª edição 2016. / NEBL, JOSEFINE ,KATHRIN DRABERT, SVEN HAUFE, PAULINA WASSERFURTH, JULIAN EIGENDORF, UWE TEGTBUR, ANDREAS HAHN AND DIMITRIOS TSIKAS. Exercise-Induced Oxidative Stress, Nitric Oxide and Plasma Amino Acid Profile in Recreational Runners with Vegetarian and Non-Vegetarian Dietary Patterns. Nutrients 2019. / ROGERSON D.  Vegan diets: practical advice for athletes and exercisers – Journal of the International Society of Sports Nutrition volume 14, Article number: 36. 2017.

Fonte: Vitaforscience

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