Ao longo de anos as substâncias termogênicas vêm sendo utilizadas nas mais diversas condutas nutricionais com o objetivo de controle de massa corporal total, adequação de composição corporal, aumento da taxa de oxidação de gordura corporal, melhora no desempenho físico, dentre outras.
Termogênese pode ser definida como o aumento da produção de calor (Figura 1) através da energia liberada por reações químicas controladas pelo sistema nervoso e que promovem a ativação de vias metabólicas específicas, bem como liberação hormonal, com impacto direto no aumento da taxa metabólica basal, promovendo maior gasto energético (GE) e consequentemente maior mobilização de gordura corporal como substrato para suportar esse maior gasto.
Funcionamento da UCP1 nas mitocôndrias. A UCP1 dissipa o gradiente de prótons gerado pela cadeia respiratória durante a oxidação de nutrientes, levando à liberação de energia como calor
Esse processo ocorre principalmente no tecido adiposo, que pode ser classificado em dois principais tipos (Figura 2): o Tecido Adiposo Marrom, composto por adipócitos que são altamente eficazes na transformação de energia química em calor, recebe esse nome devido ao seu alto número de mitocôndrias contendo ferro, são especializados para dissipar energia na forma de calor, um processo chamado termogênese sem tremor. Tecido Adiposo Bege (depósitos de adipócitos brancos), em certas condições, pode adquirir essa mesma ação do tecido adiposo marrom, aumentando o gasto energético de todo o corpo (Jun Wu et al, 2013).
Tipos diferentes de tecido adiposo
Existem diversas substâncias e possibilidades de combinações de ingredientes utilizadas pela indústria que atingem esse objetivo de aumento na termogênese, seja através de uma proposta de ação direta em vias metabólicas (ex.: cafeína, catequinas, …) seja por uma proposta de ação indireta (ex.: tipos específicos de ácidos graxos, polifenóis ou outros compostos ativos). Essas substancias isoladas ou associadas entre si podem tanto potencializar diferentes vias de mobilização e oxidação de gordura corporal quanto atuar em outras vias para aumentar a eficácia na sua ação, com funcionalidades em outras frentes, proporcionando efeito sinérgico e/ou potencializador no processo de adequação e/ou controle de peso e composição corporal via da termogênese.
A cafeína é um dos agentes estimulantes mais consumidos em todo o mundo, sendo o seu uso assegurado e estabelecido como pacífico por várias instituições como por exemplo, o Comité Olímpico Internacional (COI) (Maughan, 2018). Pesquisas científicas sugerem que a cafeína pode facilitar a perda e a manutenção do peso corpóreo pelo aumento da termogênese, oxidação de gordura e lipólise:
- aumento da secreção da enzima lipase, uma lipoproteína que mobiliza os depósitos de gordura para utilizá-los como fonte de energia em substituição ao glicogênio muscular, tornando o corpo mais resistente à fadiga (GREENWAY, 2001).
- inibe a enzima fosfodiesterase, que é responsável pela degradação do mediador químico intracelular adenosina monofosfato cíclico (AMPc), convertendo-o em adenosina, aumentando dessa forma sua meia-vida e levando a um aumento da lipólise (Reza Tabrizi, et al., 2018).
Belza et al. (2007) avaliaram durante oito semanas, 80 homens obesos com idade média de 46,2 anos. A amostra foi dividida em dois grupos que consumiriam de forma randomizada um suplemento bioativo com liberação simples ou placebo. O suplemento bioativo foi consumido em forma de comprimidos e tinha cafeína anidra (150 mg) em sua composição. Verificou-se que a redução da massa corporal gorda foi mais expressiva no grupo que consumiu o suplemento em comparação ao placebo.
Compostos fenólicos como as catequinas presentes no óleo de cartamo (Carthamus tintorius) podem agir sinergicamente à cafeína no processo de indução à termogênese (Seok-Yeong, 2013). Mais recentemente, Lynes (2019) demonstrou ainda que o ácido linoleico presente no óleo de cártamo pode ser convertido em uma lipocina (2,13-diHOME), molécula proposta como um importante mediador na oxidação de gorduras no tecido adiposo marrom, funcionando portanto como um agente termogênico.
A combinação dos ingredientes que compõe um produto termogênico é de suma importância para conferir maior eficácia na sua ação. Em publicação recente, Willoughby (2018) cita que o cromo desempenha um papel importante no metabolismo de glicose e lipídios por seus efeitos potencializadores na ação da insulina. Seus efeitos são demonstrados também no controle da ansiedade e compulsão alimentar (DiNicolantonio, 2017). Entretanto, devido à sua ingestão alimentar ser tipicamente baixa via dieta, sua suplementação parece ter impacto direto na taxa de oxidação de gordura e composição corporal. Do mesmo modo, o uso da niacina (vitamina B3), como ressalta Gasperi (2019) em sua publicação, pode potencialmente estimular a atividade e biogênese mitocondrial, local onde ocorre grande parte da termogênese no tecido adiposo marrom.
Outro importante ativo, cujo efeito coadjuvante no processo de controle da gordura corporal, é amplamente conhecido, é o óleo de semente de uva (Grape seed). Em publicação recente, Garavaglia et. al (2016) apresentou as diversas aplicabilidades dos compostos presentes nesse óleo e seus benefícios para a saúde, destacando-se efeitos anti-inflamatórios, cardioprotetor e anticâncer, além de poderem participar de vias celulares e moleculares. Esses efeitos têm sido relacionados aos constituintes do óleo de semente de uva, principalmente polifenis, ácido linolênico e fitoesterois.
Além do resveratrol e da quercetina, polifenois presentes no óleo de semente de uva, podemos dar destaque para as procianidinas, cuja ação na cascata de produção hormonal se destaca como ponto importante na sinergia dos ingredientes com ação termogênica. Como pode ser observado na figura abaixo, a conversão de androstenediona e testosterona, respectivamente em estrona e estrogênio é diretamente dependente da atividade da enzima aromatase. Kijima (2006) demonstrou que as procianidinas tem efeito direto na redução da atividade enzimática, agindo como um inibidor dessa via, facilitando portanto maior ação da 5-alfa-redutase, enzima que catalisa a conversão de testosterona em dihidrotestorsterona.
As substâncias utilizadas são selecionadas para proporcionar sinergismo e eficiência máximos para as mais diversas situações na prática clínica.
Referências Bibliográficas:
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Fonte: Vitaforscience.