O transtorno depressivo maior (depressão) e as síndromes associadas, a exemplo do distúrbio distímico e da depressão bipolar, afetam significativamente indivíduos de todas as faixas etárias em todo o mundo e comprometem diretamente na qualidade de vida, humor e bem-estar desses indivíduos. Devido à elevada prevalência dessa patologia, a utilização de antidepressivos convencionais, como inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) e inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (ISRSNs) é bastante comum. No entanto, nem todos os pacientes que utilizam esses medicamentos respondem tão bem ao tratamento, levando em consideração que grande parte desses antidepressivos altera a liberação ou recaptação dos neurotransmissores: serotonina, noradrenalina e dopamina. Diante da eficácia limitada dos antidepressivos convencionais, novas estratégias antidepressivas precisam ser adotadas com diferentes mecanismos de ação para promover uma melhor qualidade de vida para esses pacientes (KIOUS et al, 2019; SACKEIM, 2017).
Diversas linhas de pesquisa envolvendo epidemiologia, genética, neuroimagem e bioquímica, apontam que anormalidades bioenergéticas, ou seja, alterações no armazenamento, transporte e utilização de energia cerebral, contribuem significativamente para o desenvolvimento de sintomas depressivos. Esses mesmos estudos, sugerem que compostos que atuam melhorando disfunções mitocondriais e bioenergéticas, como é o caso da creatina, podem contribuir acentuadamente para o tratamento da depressão (KATO, 2017; MORRIS et al., 2017; SCAINI et al., 2016).
A creatina (ácido metilguanidina acético) é uma amina sintetizada no fígado a partir dos aminoácidos arginina, glicina e metionina, através da ação da enzima l-arginina-glicina-amidinotransferase (AGAT), bem como, pode ser derivada de alimentos como carnes e peixes (SAHLIN, K. et al. 2011; KIOUS et al, 2019).
A creatina se destaca por ser um suplemento bastante utilizado para fins ergogênicos, no entanto, atuais evidências relacionam o seu consumo com a promoção de ações neuroprotetoras com potencial para tratar ou mitigar uma ampla gama de doenças do sistema nervoso central, incluindo depressão. A ingestão oral de creatina monohidratada pode aumentar as concentrações cerebrais de creatina e fosfocreatina em humanos, sugerindo que a suplementação pode atenuar anormalidades bioenergéticas, através do fornecimento de substrato adicional para produção de ATP (PAZINI, 2019).
No estudo de Ahn e Colaboradores (2016) eles avaliaram os efeitos da suplementação de creatina monohidratada e/ou do exercício físico durante 4 semanas no comportamento antidepressivo em camundongos deprimidos. Os animais foram divididos aleatoriamente em 5 grupos: (1) grupo controle sem estresse, (2) grupo controle com estresse, (3) grupo com estresse e consumo de creatina, (4) grupo com estresse e exercício e (5) grupo com estresse combinado com exercício e creatina. A dose de creatina inserida na alimentação teve como base o volume de ingestão de 4% da dieta normal. Ao final do estudo, eles observaram que o tratamento com suplementação de creatina combinada com o exercício, bem como, apenas a suplementação de creatina, diminuiu significativamente os comportamentos depressivos nos camundongos, em comparação com o grupo (2). Concluindo que o tratamento com creatina monohidratada apresenta efeitos antidepressivos parciais em camundongos com depressão crônica induzida por estresse leve.
Referências Bibliográficas:
AHN, N. et al. Effects of creatine monohydrate supplementation and exercise on depression-like behaviors and raphe 5-HT neurons in mice. Journal of exercise nutrition & biochemistry, v. 20, n. 3, p. 24, 2016. / KATO, Tadafumi. Bases neurobiológicas do transtorno bipolar: hipótese da disfunção mitocondrial e além. Schizophrenia Research , v. 187, p. 62-66, 2017. / KIOUS, B. M. et al. Creatine for the Treatment of Depression. Biomolecules, v. 9, n. 9, p. 406, 2019. / MORRIS, G. et al. Um modelo da base mitocondrial do transtorno bipolar. Neuroscience & Biobehavioral Reviews , v. 74, p. 1-20, 2017. / PAZINI, F. L., et al. The possible beneficial effects of creatine for the management of depression. Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry, v. 89, p. 193-206, 2019. / SACKEIM, H. A. Modern electroconvulsive therapy: vastly improved yet greatly underused. JAMA psychiatry, v. 74, n. 8, p. 779-780, 2017. / SAHLIN, K. et al. A reação da creatina quinase: uma reação simples com complexidade funcional. Aminoácidos , v. 40, n. 5, p. 1363-1367, 2011. / SCAINI, G. et al. Disfunção mitocondrial no transtorno bipolar: evidências, fisiopatologia e implicações traducionais. Neuroscience & Biobehavioral Reviews , v. 68, p. 694-713, 2016.
fonte: Vitaforscience