A coenzima Q10 (Coq10) é um componente presente em grande quantidade nas membranas celulares, especialmente dos lisossomos, do complexo de Golgi e das mitocôndrias, onde é capaz de controlar as reações bioquímicas de óxido-redução (ação antioxidante), modulação da permeabilidade mitocondrial e indução da apoptose, controle do pH, geração de ATP e modulação da expressão de vários genes (Barcelos, 2019).
Estudos indicam que com o passar do tempo e o aumento natural da idade, o conteúdo de Coq10 nos diversos tecidos tende a reduzir de forma sistemática. Para dar alguns exemplos, chegamos a perder em média 83% do conteúdo de Coq10 nas células pancreáticas dos 20 aos 80 anos, reduzimos 72% do conteúdo de Coq10 no músculo cardíaco entre os 58 e 76 anos, e pelo menos 50% do conteúdo de Coq10 nas células adrenais também são reduzidos dos 20 aos 80 anos (Crane, 2001). Isto é muito relevante, pois altera toda a capacidade de funcionamento celular dos diversos órgãos, o que reduz a nossa vitalidade e favorece o surgimento de doenças. A seguir, veremos algumas aplicações do uso da suplementação de Coq10 em diversas patologias, no esporte e na estética.
Doenças inflamatórias crônicas:
A grande maioria das doenças associadas ao envelhecimento celular tem um caminho fisiológico que passa pelo desenvolvimento da inflamação crônica, especialmente, as doenças da síndrome metabólica (diabetes, hipertensão, obesidade, dislipidemias, hiperuricemia), as cardiopatias, câncer e doença renal crônica. Uma meta-análise recente publicada em 2017 por Fan et al, confirmou uma redução nos biomarcadores inflamatórios plasmáticos, especialmente das citocinas e da proteína C- reativa, após suplementação com Coq10 (60 a 500 mg/dia) durante 1 semana a 4 meses, em diferentes desordens inflamatórias (doença cardiovascular, esclerose múltipla, obesidade, insuficiência renal, artrite reumatoide, diabetes e doença hepática).
Outro ponto importante no uso da Coq10 são os pacientes que fazem uso de estatinas. Meta- análise publicada por Banach et al (2015) confirmou que o uso de diferentes formas de estatinas a partir de 10mg/dia por período superior a 1 mês, reduz significativamente os níveis de coenzima Q10 nos pacientes. Desta feita, outra meta- análise publicada em 2018 mostrou que em 294 pacientes suplementados com Coq10 houve melhora dos sintomas musculares associados a estatinas, tais como dor muscular, fraqueza muscular, cãibras musculares e cansaço muscular, mesmo sem alterações nos níveis de creatina quinase plasmática (Qu H, 2018).
Grupo populacional que apresenta alterações metabólicas importantes são as mulheres com síndrome de ovário policístico (SOP). Estudo comandado por Izadi et al (2019), ofereceu 200mg de coenzima Q10 por 8 semanas para 86 mulheres com SOP e demostrou redução significativa da resistência a insulina (HOMA-IR) e melhora nos índices de SHBG e testosterona total, reforçando a importância do uso da coenzima Q10 para o controle hormonal destas pacientes. Também já existem evidências da relação entre alguns tipos de câncer e níveis reduzidos de Coq10 no sangue, notadamente o câncer de mama (Jolliet, P. et al. 1998), mieloma (Folkers K, 1997), melanoma (Rusciani L, 2007) e tireoide folicular e papilar carcinomas (Mano T, 1998). Há também evidências de que a suplementação de Coq10 modula o fosfolipídio de expressão gênica da hidroperóxido glutationa peroxidase, produção de radicais livres e pode desacelerar o crescimento de células tumorais em uma linha de câncer de próstata (Quiles, 2003).
Esporte:
A suplementação de coenzima Q10 também parece ter aplicabilidade no âmbito esportivo. Emami A et al (2018 e 2019) selecionaram 36 nadadores de elite e promoveram suplementação de 300mg/dia de Coq10 por 14 dias e observaram redução significativa dos marcadores inflamatórios e de estresse oxidativo bem como do cortisol, epinefrina e noraepinefrina e da contagem total de leucócitos, assim como redução dos danos ao músculo cardíaco. Segundo os autores, os benefícios foram evidentes na medida em que atletas que apresentam estresse oxidativo e inflamação exacerbada de forma crônica tem maior risco de lesão miofibrilar esquelética, danos no coração, imunossupressão e perda de rendimento.
Estética:
Zmitek et al (2017) realizaram um experimento duplo-cego, controlado por placebo, com 33 indivíduos saudáveis e após 12 semanas de suplementação diária com 50 e 150 mg de Coq10 observaram melhora da viscoelasticidade e redução significativa de rugas já na dose de 50mg.
Os efeitos benéficos da suplementação de Coq10 na estética se devem especialmente aos efeitos antioxidantes em manter os níveis de energia celular em queratinócitos humanos (Schniertshauer, 2016), da regeneração acelerada dos níveis de ATP em fibroblastos humanos (Kaci, 2018), e da segurança e entrega eficaz da coenzima Q10 na epiderme para melhorar a saúde da pele humana (Schniertshauer, 2016; Kaci, 2018).
Efeitos adversos e segurança de uso:
Até o presente momento não há estudos que demonstrem efeitos colaterais na suplementação de Coq10, sendo segura e bem tolerada. Estudo bem conclusivo de fase 3, randomizado, controlado com placebo, duplo-cego usando doses de até 2.400mg/dia de Coq10 confirmaram a segurança desta dosagem (Beal et al, 2014). Além disso, há evidências de que a produção endógena de Coq10 não é afetada pela suplementação (Gutierrez et al, 2018).
Doses para suplementação:
Uma tendência recente nos últimos anos tem sido suplementar pacientes adultos com doenças mitocondriais com altas doses de Coq10 oral variando de 800mg até 1.400 mg/dia (casos raros de 2.400mg/dia) ou 20 a 25mg/Kg/dia, especialmente nas disfunções mitocondriais primárias como cardiomiopatias e acidemia glutárica, e doses menores variando de 100 a 300mg/dia em doenças mitocondriais secundárias, crônico degenerativas, resultados do estilo de vida inadequado, do envelhecimento acelerado ou da exigência metabólica supra fisiológica, como doenças neurológicas, síndrome metabólica, osteoporose, doenças renais, doenças autoimunes, prevenção e correções estéticas, atletas, e câncer. Para a população pediátrica, doses entre 5 e 10 mg / kg / dia de Coq10 são recomendadas (Quinzii, 2011; Barcelos, 2019).
Referências bibliográficas:
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Fonte: Vitaforscience