ASPECTOS NUTRICIONAIS NO PARADESPORTO

Ao longo dos últimos anos, embora com crescente visibilidade e participação do Paradesportista em praticamente todas as modalidades esportivas, a literatura científica nesta população ainda é escassa principalmente no campo da nutrição esportiva, podendo ser caracterizado como um grupo de desportistas potencialmente susceptíveis às inadequações na ingestão de alimentos e substâncias importantes para o desempenho atlético, tornando-se essa abordagem necessária para a otimização e adaptação ao treinamento/competições e manutenção da saúde.

O espectro das deficiências pode ser subdividido em duas categorias principais: aquelas que são congênitas (ex. malformações) ou presentes em idade muito precoce (ex. deficiência visual total) e aquelas que foram adquiridas (ex. amputações, lesões medulares traumáticas, …)

Determinar as necessidades de energia para Paradesportistas pode ser bastante desafiador, principalmente devido à falta de dados científicos sobre a variedade de deficiências e especificidade dos estímulos com o exercício. Os referenciais de comparação partem dos protocolos e padrões estabelecidos para desportistas convencionais (“não portadores de necessidades especiais”).

Dependendo da classificação de necessidades especiais do atleta, a mobilização de diferentes grupamentos musculares determina níveis de gasto energético e depleção de glicogênio muscular em comparação com desportistas convencionais.

Há relatos na literatura de que a redução nos custos metabólicos possa variar de 30 a 60% em vários paradesportos e em sua maioria, esses estudos foram realizados com paradesportistas amadores. Já em paradesportistas com deficiências mínimas, como portadores de deficiência visual, espera-se que as demandas metabólicas sejam semelhantes para a mesma carga de estímulos que em desportistas convencionais.

Os dados sobre a prevalência de Baixa Disponibilidade Energética (LEA) em Paradesportistas, uma das mais utilizadas classificações para adequação no suporte nutricional energético e de macronutrientes, são escassos e inconclusivos. No entanto, para fins práticos a ocorrência de inadequações energéticas deve ser mensurada com suporte na avaliação de sinais e sintomas clínicos e metabólicos, composição corporal, análise das variáveis de rendimento e suas correlações com exames bioquímicos e funcionais.

Deve-se considerar a avaliação do gasto energético basal (GER) por calorimetria indireta, composição corporal por DEXA ou soma de dobras cutâneas para determinação da massa muscular e capacidade de armazenamento de glicogênio, informações sobre o funcionamento muscular (por exemplo, nível de lesão/limitação funcional ou diagnóstico médico para grau de deficiência), dados ergoespirométricos de desempenho ajudem ainda mais a estimar as demandas metabólicas e funcionais.

Ainda sobre a estimativa das necessidades energéticas, um aspecto importante a ser considerado é que limitações como malformações de membros, amputações e deficiências neuro-motoras podem ser observadas e levar à redução da massa muscular e redução do gasto energético de repouso, alterações no sistema urinário e intestino, promovendo impacto metabólico negativo durante o exercício e maior risco de deficiência de macro e micronutrientes, exceto para atletas com deficiência visual.

As menores distâncias e durações na prática de modalidades para-desportivas estabelecidas por comitês e federações podem justificar, por exemplo, menores gastos energéticos em para-ciclistas profissionais quando comparados com para-ciclistas portadores de deficiência mínima tanto durantes as sessões de treinamento quanto em competições.

Quanto aos micronutrientes, devem ser considerados em paradesportistas as mesmas recomendações para desportistas convencionais, como por exemplo o ferro, que é necessário para o transporte de oxigênio e sua deficiência poderia comprometer o desempenho nas modalidades de resistência ou longa duração.

Estima-se que paradesportistas possam ter maior risco de baixa densidade mineral óssea devido à menor pratica de atividades contra resistência e menos impacto. Nesse sentido, a ingestão de vitamina D e cálcio são ainda mais importantes em comparação com desportistas convencionais.

Como fonte energética, o armazenamento e a oxidação de carboidratos (CHO) são extremamente importantes para as sessões de treinamento, especialmente para desempenho nos exercícios de alta intensidade, onde a via glicolítica através do armazenamento de glicogênio muscular e hepático continuam a ser a fonte de energia primária. As reservas de glicogênio em atletas amputados podem ser menores devido à menor massa muscular. Portanto, parece razoável que as diretrizes do CHO para esses atletas sejam adaptadas com base em sua massa muscular ativa, demanda energética e massa livre de gordura.

A ingestão de proteínas é importante pelos mesmos motivos de um desportista convencional, com funções relacionadas ao processo de reparo/remodelação tecidual e adaptação ao treinamento de força.

Nesse sentido, as proteínas de origem animal podem ter um melhor perfil de aminoácidos essenciais e podem ser mais benéficas quando se trata de síntese e adaptação de proteínas musculares. O Whey protein, como exemplo, é muito bem definido com eficácia na dose de 20 a 25 g/dose ou 0,3 a 0,4 g/kg/refeição para estimular a síntese de proteína muscular quando consumida após um treinamento de força ou uma sessão de estímulos intensos.

Há na literatura publicações que recomendam a ingestão total de proteínas seja de até menos 1,2 g/Kg/dia em atletas com lesão na espinha dorsal e entre 1,2 até 2,2 g/Kg/dia em atletas com deficiência mínima (Ex. ausência congênita ou adquirida da mão e de dedo(s)). É importante fazer uma ressalva quanto ao aumento na ingestão de proteica em programas para redução de peso e restrição energética.

O funcionamento do sistema digestivo merece atenção especial, pois dependendo do tipo de limitação funcional e estrutural, pode-se observar menor capacidade de esvaziamento gástrico e tempo de trânsito intestinal prolongado. Destaca-se que as recomendações no consumo de probióticos, polifenóis e demais substancias necessárias à uma adequada modulação na saúde intestinal são as mesmas para desportistas convencionais.

Em caso de alterações no funcionamento intestinal, os paratletas devem ser cautelosos com a ingestão de proteínas. Atletas com lesão na espinha dorsal e amputação podem sofrem com úlceras de pressão ou feridas também podem aumentar sua ingestão diária de proteínas para 2,0 g/kg/dia. Estes atletas devem aderir às normas comuns das principais Instituições (Comitê Olímpico Internacional, Colégio Maicano de Medicina Esportiva, dentre outras) como diretrizes para o uso de suplementos e recursos ergogênico nutricionais.

Para outros paradesportistas que apresentem limitações mais extensas (ex. lesão medular, paralisia cerebral) deve ser realizada uma abordagem individual por meio de avaliação de demandas secundárias (ex.  problemas renais, gastrointestinais, interação medicamentosa, …) e orientação com um visando a tomada de decisão pelo nutricionista esportivo baseada em evidências, sinais/sintomas para evitar danos de ordem clínica nesses indivíduos.

Sendo assim, o conhecimento de aspectos fisiológicos e demandas do paradesporto, juntamente com a literatura existente sobre intervenções nutricionais gerais para a o esporte devem nortear as considerações nutricionais para intervenções em paradesportistas garantindo adequada ingestão de macronutrientes, hidratação, suplementação, adequações na composição corporal e demandas fisiológicas adaptados às necessidades específicas de cada tipo de deficiência.

Referências:

1. JOAQUIM, Daniel P et al. Diet quality profile of track-and-field Paralympic athletes. International journal of sport nutrition and exercise metabolism, v. 29, n. 6, p. 589-595, 2019. / 2. JEOUNG, Bogja et al. Analysis and evaluation of nutritional intake and nutrition quotient of Korean athletes with disabilities in the Tokyo paralympic games. Nutrients, v. 13, n. 10, p. 3631, 2021. / 3. SCARAMELLA, Jacque et al. Key nutritional strategies to optimize performance in para athletes. Physical Medicine and Rehabilitation Clinics, v. 29, n. 2, p. 283-298, 2018. / 4. MANN, David L. et al. Classifying the evidence for evidence-based classification in Paralympic sport. Journal of Sports Sciences, v. 39, n. sup1, p. 1-6, 2021. / 5. FELLEITER, Peter et al. Post-traumatic changes in energy expenditure and body composition in patients with acute spinal cord injury. J Rehabil Med, v. 49, n. 7, p. 579-584, 2017. / 6. FLUECK, J. L. et al. Supplement use in swiss wheelchair athletes. Schweiz. Z. Sportmed. Sporttraumatologie, v. 65, p. 22-27, 2017.

Fonte: Vitafor

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