Após a amamentação, nenhum mamífero consome leite (e muito menos de outra espécie). Este padrão também foi seguido, durante 2,4 milhões de anos, pelos vários hominídeos que habitaram a terra. Os primeiros dados do consumo de laticínios datam de 6100 a 5500 anos atrás, sendo o leite considerado um alimento relativamente recente na alimentação do ser humano, o que explica porque é que cerca de 75% da população adulta mundial apresenta hipolactasia após o desmame, o que pode resultar em intolerância à lactose. Esta recente introdução deste grupo de alimentos, os laticínios, provocou alterações na dieta que moldou o genoma humano no paleolítico, o que tem implicações diversas na saúde, que vão além da intolerância à lactose. Os laticínios, apesar de possuírem um índice Glicêmico (IG) baixo aumentam muito a liberação da insulina pelo pâncreas, o que pode causar resistência à insulina, que está relacionada à origem de várias patologias, como a síndrome metabólica. Além disso, há estudos epidemiológicos e experimentais que associam o consumo desse grupo de alimentos com alguns tipos de cânceres (de ovário, testículo e próstata), à doença de Parkison e à Doença das Artérias Coronárias. O consumo de leite bovino tem sido associado também à diabetes tipo 1, especialmente quando a exposição a este alimento se dá nos primeiros meses de vida. Outros estudos ainda estabeleceram uma correlação muito forte entre o consumo do leite e a prevalência de esclerose múltipla. A noção de que o leite é essencial para prevenir a osteoporose provém do fato de ser uma das fontes de cálcio mais bem absorvidas e por vários estudos terem mostrado que o consumo do leite aumenta a densidade mineral óssea, no entanto, alguns estudos demonstram o contrário. Uma linha que desmistifica a ligação entre o leite, cálcio e a osteoporose provêm de registros fósseis, que indicam que os hominídeos do Paleolítico, apesar de não beberem leite após a amamentação, apresentavam uma densidade mineral óssea igual ou superior à de atuais adultos saudáveis e ativos. Face ao exposto, é difícil considerar o leite de outra espécie um alimento adequado ao ser humano. Contudo, obviamente que um indivíduo saudável que não sofra nenhuma das patologias associadas ao consumo do leite e que sigam um estilo de vida saudável poderá consumir pequenas quantidades de laticínios fermentados de agricultura biológica, desde que este não produza reações adversas.
Nutrição Clínica Funcional
Ano 8 – Edição nº37 – Junho de 2008