A individualização do tratamento nutricional é uma estratégia cada vez mais comprovada como assertiva para qualquer paciente. E isso se expande também aos atletas, uma vez que a performance esportiva depende do funcionamento adequado do organismo e das respostas adaptativas ao esporte.
O desempenho atlético é considerado um fenótipo complexo, multifatorial e influenciado pela nutrição. As variantes genéticas afetam a forma como absorvemos e metabolizamos os nutrientes e compostos ativos, na qual as interações gene-dieta modificam as vias metabólicas relevantes para o rendimento esportivo e a saúde como um todo. Longe de ser um conceito novo, a nutrição personalizada baseada no genótipo individual do atleta é a conduta mais eficiente para trazer resultados positivos na prática esportiva.
A avaliação genética mais fidedigna está relacionada aos efeitos biológicos que determinados genes podem alterar as medidas como massa magra, resistência muscular e densidade óssea, além de minimizar a ocorrência de lesões decorrentes dos treinamentos e competições. Sendo assim, estudos genéticos identificaram alguns genes que contribuem para a modulação esportiva.
O uso da cafeína como recurso ergogênico é vantajoso para potencializar o desempenho esportivo, mas deve ser incluso na rotina de atletas de acordo com as características individuais e genéticas. Um recente trabalho (2018), feito com 101 atletas masculinos, avaliou os efeitos que a suplementação de cafeína promoveria no desempenho esportivo, de acordo com as variantes genéticas e a resposta do corpo em relação aos genes avaliados e o esporte. Dos participantes, incluíram maratonistas, ciclistas, triatletas, esportes mistos (futebol, basquete e natação), levantamento de peso, entre outros. Em uma intervenção randomizada, os voluntários receberam doses de cafeína (0, 2 e 4 mg/kg) ou placebo submetidos a um teste contrarrelógio de 10km. Os autores avaliaram a presença ou ausência do polimorfismo no gene CYP1A2, com a seguinte classificação: metabolizadores rápidos da cafeína (genótipo AA); metabolizadores lentos heterozigotos (genótipo AC) e metabolizadores lentos homozigotos (genótipo CC).
Ao avaliar de forma isolada, os achados do trabalho demonstraram que metabolizadores rápidos de cafeína (genótipo AA) otimizaram o desempenho em aproximadamente 5% com a menor dose de cafeína, no valor de 2mg/kg e de 6,8% com a dose de 4mg/kg. Já atletas que foram classificados com metabolismo lento (genótipo AC) não obtiveram nenhum benefício ergogênico. Por fim, nos participantes com genótipo AC de metabolização lenta, houve uma diminuição do desempenho em 13%. A suplementação de cafeína, portanto, deve ser avaliada de forma individual na prática esportiva.
Um estudo (2015) investigou o DNA genômico de jogadores de futebol americano e a presença de polimorfismo específico que poderia melhorar ou prejudicar o desempenho atlético. O perfil genético de DNA preditivo para o desempenho foi utilizado com intuito de elaborar programas personalizados de treinamento e nutrição. A importância de se considerar a genética dos atletas foi comprovada no estudo, no qual se apontaram evidências de que é preciso avaliar o perfil genético para maximizar o desempenho dos jogadores.
Em qualquer tipo de atendimento nutricional, seja para atletas ou para pessoas com condições clínicas específicas, um programa dietético bem-estruturado deve considerar o perfil genético a fim de traçar condutas assertivas e promissoras para obter os resultados esperados. Os avanços da ciência e da tecnologia vêm permitindo com mais facilidade esse tipo de avaliação na prática do nutricionista.
Fonte: Vitafor