A diversidade alimentar é uma das principais fonte de saúde. É o ponto inicial para que, em conjunto com a atividade física, o sono de qualidade e a gestão do estresse, consigamos nos desenvolver e nos manter saudáveis. Por isso, devemos sempre buscar uma dieta variada e equilibrada.
Por outro lado, quando rejeitamos diversos tipos de alimentos, podemos privar nosso organismo de categorias de nutrientes importantes. É o caso de pessoas que “não comem frutos do mar” ou rejeitam qualquer tipo de “salada”. Esta prática é denominada seletividade alimentar.
Nesses casos, para ampliar nossa dieta é preciso vencer barreiras e restrições, muitas vezes iniciadas na infância. Saiba neste texto mais sobre a seletividade alimentar e como é feito o tratamento para superar essas barreiras.
O que é seletividade alimentar
A seletividade alimentar é atualmente classificada como Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE). Mais do que apenas ser um comedor exigente, a pessoa com seletividade alimentar costuma ter aversão sensorial a certos sabores, texturas ou cores, chegando a desenvolver fobia de determinados alimentos. Como resultado, se alimentam com uma dieta muito restrita, afetando principalmente a ingestão de micronutrientes, como vitaminas e minerais.
Seletividade é diferente de alergia alimentar
É importante ressaltar que o desenvolvimento de reações alérgicas a alimentos como frutos do mar, por exemplo, não se enquadra como Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo. Nesse caso, e também quando há rejeição a alimentos com glúten e lactose, por exemplo, trata-se de uma reação anormal do sistema imunológico, que, no intestino, confunde esses alimentos com ameaças ao organismo.
Características das pessoas com seletividade alimentar
Os transtornos alimentares seletivos podem afetar adultos e crianças, que apresentam sintomas psicológicos como ansiedade e depressão, bem como convívio social prejudicado. Além disso, há outras características em comum:
- Comer apenas alimentos que são vistos como seguros ou aceitáveis, evitando alimentos com um sabor, textura ou cor particular;
- Normalmente a escolha é sempre pelos mesmos alimentos;
- Sentir aversão a grupos alimentares inteiros, como frutas, vegetais ou leguminosas;
- Ficar angustiado quando é encorajado a experimentar alimentos diferentes, seja por causa de uma fobia ou medo de engasgar ou vomitar;
- Apresentar náusea e vômito ao se deparar com a necessidade de comer novos alimentos;
- As crianças fecham a boca para evitar de qualquer maneira a ingestão de um alimento diferente.
É importante destacar que a maioria das pessoas com seletividade alimentar não tem problemas de peso e geralmente está dentro da faixa normal de índice de massa corporal (IMC). Também é comum que não apresentem carência de macronutrientes, sofrendo, no entanto, de falta de micronutrientes.
Possíveis causas da seletividade alimentar
Os estudos indicam que, na maioria das vezes, o transtorno alimentar seletivo tem início na infância. Confira alguns pontos importantes no processo de formação do paladar da criança:
- A amamentação é um facilitador para aceitação de novos alimentos, já que as variações na dieta da mãe se refletem nas características sensoriais do leite materno. Assim, quanto mais variada a dieta da mãe, mais variado tende a ser o paladar da criança;
- Por outro lado, é recomendado que não se atrase na introdução gradual de alimentos sólidos na dieta do bebê. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, este processo deve ter início aos 7 meses. Nesse período é ainda mais importante alternar as formas de preparação e textura dos alimentos oferecidos;
- A maneira de oferecer alimentos também deve ser variada, como alternar entre dar comida na boca ou deixar comer sozinho, assim como oferecer os alimentos em diferentes locais da casa;
- A família e os cuidadores devem prezar pelo ambiente onde a criança de alimenta. Se um ambiente é agradável e novos alimentos são oferecidos sem coação, a criança fica muito mais disposta a desenvolver preferência por eles.
Transtorno alimentar em pessoas com autismo
A maioria das pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo apresenta também diagnóstico de Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo. Isso porque os diferentes cores, cheiros e sabores dos alimentos podem tirá-las de suas zonas de conforto. Como esses pacientes apresentam comportamentos restritivos, seletivos e ritualísticos, essas variações tendem a resultar em desinteresse e recusa para determinados alimentos.
Como tratar a seletividade alimentar
A confirmação do diagnóstico de transtorno alimentar deve ser feita por um nutricionista ou médico, com base em exames e na história clínica dos sintomas. Esse profissional poderá verificar a presença de outros problemas que possam levar à rejeição da alimentação, como alergia, dificuldades para mastigar e deglutir ou problemas gastrointestinais.
Por ser um distúrbio de classificação relativamente recente (2017), ainda não existe um protocolo estabelecido para tratamento do Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo. O que vem sendo praticado é uma abordagem multidisciplinar, com participação de nutricionista, psiquiatra ou psicólogo e clínico geral ou pediatra. Neste contexto, algumas práticas vêm demonstrando bons resultados.
O ponto de partida do tratamento do transtorno alimentar está na aceitação do diagnóstico pelo paciente, que toma consciência dos efeitos da seletividade alimentar para a saúde do seu organismo e para suas relações sociais. Neste momento também é importante que os pais ou companheiros do paciente tomem consciência e se engajem ativamente no tratamento.
Tendo em mente que este é um tratamento de avanço lento, o profissional pode sugerir e acompanhar algumas ações:
- Todos devem prezar por um bom ambiente de refeições, seguindo conceitos como o mindful eating, que descarta o uso de eletrônicos à mesa e defende uma ligação maior com a comida. Devem ser evitadas discussões ou cobranças no momento da alimentação, deixando o paciente livre para escolher e quantificar o que vai comer;
- Combinar com o paciente a introdução pontual de cada novo alimento ou forma de preparo, ressaltando as semelhanças com alimentos aceitos e sua importância para a saúde. A dieta do paciente deve ser a mesma dos outros moradores da casa;
- Administrar a ansiedade por resultados por parte do paciente e de seus pais ou companheiros, evitando que a cobrança por avanços venha a prejudicar o engajamento e a própria continuidade do tratamento;
- Monitorar a carência de micronutrientes e, quando houver necessidade, receitar suplementos alimentares que supram essas necessidades.
Fonte: Essential Nutrition